PROVISÕES
Em tempos difíceis recorremos ao que guardamos como provisões
Aquelas que acumulamos em tempos de vacas mais gordinhas
Sabiamente, muitas vezes nos preparamos para tempos de carestia
Com as reservas que fazemos até mesmo sem perceber
Quer seja na gordura corporal para usar em tempos de frio e doenças
No dinheirinho reservado com sacrifício na poupança
Ou nas boas emoções e lembranças guardadas no coração…
Na hora da dificuldade, da doença, da fome, do desalento ou solidão
Precisamos acessar nossas despensas internas e fazer resgate
Da energia, do dinheiro, do alimento, das lembranças saudáveis
Feliz aquele que soube acumular lindezas e doçuras na alma
Que fez estoque de amor, boas ações e gentilezas
Que guardou um abraço, um beijo, um carinho, um amor
Que traz consigo protegido das tormentas uma reserva de paz
São elas que irão agora nos salvar
Que saibamos usar e compartilhar…
Alda M S Santos
MATURIDADE
A maturidade nos premia com algumas habilidades
Alguns bônus que nos fazem compensar os ônus
A capacidade de ter para o mundo um novo olhar
De poder em cada beleza nos demorar
Enquanto a vida se impõe e nos exige ação até sem pensar
Viver, criar família, correr, trabalhar
Mecanização do viver, do dever, do fazer
A maturidade nos permite mais o refletir, o curtir, o ser
Não é crítica ou olhar de censura à juventude
Tampouco de supervalorização da maturidade
É apenas um repensar, uma mudança de atitude
Aquela que nos faz ter com tudo mais boa vontade
Tudo, no final das contas, depende de onde se olha
O quanto da vida é intensidade ou “chove e não molha”
Para saber aquilo que em cada fase se pode ver
Não há outro jeito a não ser naquele lugar poder viver
Alda M S Santos
MORADA
Gosto de viver a poesia
Que há em cada sorriso
Sentir essa magia que encanta, inebria
Nesse mundo tantas vezes indeciso
A poesia é minha casa, minha morada
Nela posso deitar, rolar, me esbaldar
Viver a vida nem sempre animada
Mas nela buscar um jeito de me encontrar
…
Morada é uma coisa bem abençoada,
Morada é onde a gente é feliz e disposto,
E além de linda e muito bem arrumada,
A poesia, ela sim nos traz gosto.
Isso tudo a gente encontra na poesia,
Ela nos alegra, nos fortalece a cada dia,
Se não fosse a poesia, a vida a graça perdia,
Ah, Deus fez tudo de bom e colocou na poesia.
Alda M S Santos
João Leles Martins
Dueto no desafio num sarau
ENCANTADO
Diz que sabe, que sente, que percebe
Que é algo estranho, incomum, pura intuição
Não sabe de onde vem, se afastar não dá não
Sabe que quando surge mexe com a emoção
Atraente como pôr do sol, envolvente como lua cheia
Imponente como bruxa, fada, mago ou sereia
Mexe com a mente, o corpo, o coração
Ora é sossego e paz, ora é tormento e paixão
É mistério, encanto, feitiço, magia, sedução
Em noite enluarada ou chuva no sertão
É casinha no rancho de madeira
Ou banho em pelo na cachoeira
É amor na areia da praia, nas ondas sorrateira
É um ser mágico de um mundo encantado
Perdido por aqui, louco, apaixonado
Uma hora voltará para casa
Cheio de luz, amor e aprendizado
Nessa hora quero estar ao seu lado…
Alda M S Santos
UM BRINDE
O efeito do álcool pode ser muito relaxante
Mas em exagero pode ser frustrante
Não resolve problema, não apaga nenhum mal
E ainda pode causar vexame sem igual
Mas se vier numa boa dose
Alegra, relaxa, harmoniza, afasta neurose
Vinho, cerveja, champanhe, cachaça
Deixa a alma leve e a vida cheia de graça
Já me disseram que sou alegre e animada
Que se eu bebesse ninguém me seguraria
Afirmam que até sobre a mesa eu dançaria
Não bebo porque não gosto, intriga da oposição
Mas animada sou mesmo, preciso de álcool não
Mas me alegro com quem sabe beber e se diverte de montão
Alda M S Santos
ONDE VOCÊ QUERIA ESTAR?
Feche os olhos do corpo vagarosamente
Abra os olhos da alma suavemente
Inspire fundo, traga algo de bom para a mente
Expire e deixe sair o cansaço lentamente
Sinta a brisa na pele a arrepiar
O coração batendo no ritmo de amar
Onde você gostaria de estar?
Seria capaz de pra lá se transportar?
Inspire novamente, sinta o amor de dentro fluir
Pense em alguém que desejaria que pra lá pudesse ir
Num pensamento pacifico sinta-se para lá partir
Chegando lá tudo é encanto, delicadeza
Reinam a paz, a magia da criação, muita beleza
É o encontro de almas, do amor junto à natureza
Alda M S Santos
QUE BOM SERIA
Que bom seria se pudéssemos
Sintonizar nosso timer interno
Com o Sol que brilha no externo
Harmonizando verão e inverno
Que bom seria se pudéssemos
Num banho de Sol ou de Lua
Deixar ir qualquer coisa que não seja sua
E, em paz, encarar a vida de alma nua
Que bom seria se pudéssemos
Abrir os olhos, a janela, o sorriso
Ao mesmo tempo, sempre que preciso
Mas bom mesmo seria
Se pudesse haver total sintonia
Entre o sonhado, o real, e a fantasia
Alda M S Santos
BANHOS DE LUA
Lua: símbolo dos amantes, símbolo dos namorados
Inspiração de todo apaixonado
Lá do alto a tudo observar, tudo iluminar
Em cada coração planta o desejo de amar
Lua: tema de lendas, de oferendas
Fases que interferem em nós, doces contendas
É a força da vida, tem poder de remover problemas
Seu encanto quebra do coração as algemas
Lua: embriagante, hipnotizante
Objetiva enfeitiçar, banhar os amantes
Mas no amor somos aprendizes, infantes
Lua: por ela somos levados
Não nos importamos, vamos calados
Sabemos que do amor seremos aliados
Alda M S Santos
TALISMÃ
Quero um pequeno talismã comigo carregar
Para fazer minha coragem retornar
Que me faça sorrir quando a vontade for chorar
Ou até que me deixe chorar sem tanto me incomodar
Quero um talismã que tenha boas energias a espalhar
Que me permita sem medos continuar a amar
Que me acompanhe e me impeça de errar
E que faça encontrar no coração do outro bom lugar
Quero um talismã, não só por, às vezes, ser frágil
Mas por nem sempre poder ser forte
Nesse mundo de batalhas entre a vida e a morte
Quero um talismã que me renove a esperança
Num futuro bonito e iluminado em minhas andanças
Com mais alegria, paz, amor, e uma vida de mais alianças
Alda M S Santos
ADIVINHAÇÃO
Sonhei que tinha acordado com o poder de adivinhar
Bastava olhar alguém e sua alma podia enxergar
Rapidinho percebia de quem poderia gostar
Ou no coração de quem eu já tinha bom lugar
Para uns eu olhava e dava vontade de chorar
De outros eu queria apenas me distanciar
Havia aqueles que queria muito abraçar e beijar
E outros, tão ternos, o que fazer melhor nem contar
Parecia coisa boa ter poder de adivinhação
Saber de longe o que se passa em um coração
Mas, afinal, não é assim grande coisa, não
Só valeria a pena se a adivinhação
Viesse acompanhada com poder de ação
Aquela que no coração do outro faz transformação
Alda M S Santos
HUMANIDADE
Uma juventude que morre, que mata
Que luta, que busca, que se maltrata
Que se perde e não mais se acha
Que podemos fazer nesse viver cheio de racha?
Um mundo cheio de ofertas
Daquelas bem enganadoras
Será que dá para estarmos alertas
E escolhermos uma mais pacificadora?
Uma terra fértil, uma semente boa
Regada com carinho, de afeto adubada, não será à toa
Crescerá alma de luz, de amor em pessoa
Uns cuidando dos outros, estamos todos nessa nau
Respondemos pelo bem ou pelo mal em busca do paraíso afinal
Amar, cuidar, tratar para um mundo menos desigual…
Alda M S Santos
ESPAÇO AÉREO
No céu das possibilidades é possível voar
Um voo solo ou acompanhado
Traçar planos de voo, rota
Ou simplesmente seguir despreocupado
No céu das possibilidades a vista é linda
Aquela pensada, imaginada, sonhada
Não há limites, não há medos ou sanções
O voo é pacífico, não há luta armada
Nesse espaço aéreo nunca me perco de mim
Naquela atitude tudo parece tão claro
O que quero, posso, desejo são perguntas ao mesmo sim
No céu das possibilidades voo devagar
Não há pressa, não há destino a alcançar
Largada e chegada são apenas pontos do mesmo viajar…
Alda M S Santos
A MORTE
Sempre parecerá mórbido falar de morte
Enquanto ela for vista como um fim, uma punição
O desconhecimento do porvir causa apreensão
Quando o legado que se tem não traz satisfação
É preciso saber viver, diz a canção
E isso inclui também saber morrer
Ainda que machuque o coração
É a única certeza nesse mundão
Aprender, crescer, encarar tudo como lição
Captar tudo que ela puder nos ensinar
E aproveitar esse momento para evolução
Aceitar a morte como transição
Deve fazer parte de nosso caminhar
Para uma vida que continua noutro lugar
Alda M S Santos
MUDANÇAS
De nada adianta negar, fugir ou temer
As mudanças sempre irão acontecer
Na natureza, no espaço, dentro do ser
Felizmente isso faz parte do viver
A Lua, o vento, as marés são grandes agentes de mudanças
Derrubam, constroem e destroem em suas andanças
Formam dunas de areia, unem ou separam localidades
E atingem a todos nós em qualquer idade
Bom mesmo quando decidimos o que mudar
Ou o que devemos não mais aceitar, permitir
O que vale a pena manter, investir
Ir fundo em nós mesmos, crescer, evoluir
Somos um barco e não devemos ficar à deriva
Assumir o controle para onde ir é essencial
Essa é a mudança mais importante, fundamental
Um ser que muda a si mesmo faz do mundo um lugar bem especial
Alda M S Santos
ESPINHOS
Eles sempre vão existir
Fazem parte da vida, da natureza
Com os espinhos vamos aprendendo
A curtir o que há de encanto, de beleza
Não adianta deles fugir
Sempre estarão por aqui
Estamos de passagem por essa nau
E devemos descobrir o bom em cada mau
Bom é enxergar a luz em cada ponto de escuridão
A pétala macia em cada espinho que machuca a mão
O amor que se esconde em cada coração
Somos privilegiados, abençoados
Tudo isso nos foi doado, presenteado
Não há mal que não possa ser remediado
Alda M S Santos
CONFIANÇA
A confiança funciona assim:
Primeiro você olha, observa
Olha de novo
Se aproxima, não resiste
Tem medo, insiste
Vai assim mesmo
Olha nos olhos
Vai chegando devagar
Um pé, outro pé
Uma asa que bate meio insegura
Mais uns pulinhos
Quando vê já está perto
Está dentro, está entregue
Está nas mãos, no coração
Assim funciona a confiança
Assim funciona o amor
E fica para sempre…
Alda M S Santos
A LÍNGUA DO AMOR
A linguagem do amor é universal
Pode ser sintonizada em qualquer canal
Sempre será falada e entendida
Pelos mais necessitados, gente sofrida
Ela grita no silêncio das carências
Ela se cala na angústia das dependências
Ela se aninha no carinho do acolhimento
Ela se faz entender em cada sofrimento
Abraço fala, beijo fala, colo fala
Falam a linguagem dos anjos, do amor
Todos aqueles que sabem acalentar uma dor
Linguagem inata, mas que pode também ser aprendida
Por toda uma geração tão perdida
Que não encontra em ninguém uma guarida
Alda M S Santos
COMO TUDO COMEÇOU…
Não há ninguém no colo
Tampouco na poltrona da frente ou de trás
Ninguém para eu me preocupar se está bem
Se tem fome, sede, sono ou medo
Se precisarei segurar a mão
Deixar que fique na janela pra apreciar a vista
Negociar os desejos e vontades
Apartar brigas e incentivar a parceria
Parece que a vida deu uma volta quase completa
E retornou ao começo…
Há pouco tempo eles caminhavam conosco
Os sonhos e planos eram similares aos nossos
O ponto de partida e chegada eram os mesmos
Ainda dependiam de nós…
Hoje já fazem seus próprios voos
Solo ou com novas companhias
Felizmente? Certamente!
Pode não ter sido o suficiente
Mas foram abastecidos do que tínhamos de melhor
Acrescentaram o que oferecemos ao que já possuíam
Já podem voar sozinhos, alcançarão novos ares
Conquistarão seus próprios espaços
Farão seus próprios ninhos
Mas por que parece tão estranho?
Por que ainda sentimos um vazio
A sensação de que está faltando alguém?
Precisamos reaprender a viver sozinhos
A viver com o círculo quase se fechando
Início e fim se aproximando
Que acontece quando a volta se completa?
Termina ou recomeça?
Já que não temos acesso a essa informação
Precisamos seguir voando
Mesmo com as asas já gastas, alcançando novos ares
Confiando que tudo acabará como tem que ser
Que esse plano de voo já foi feito noutra dimensão…
Boa viagem a todos os tripulantes e passageiros
Sozinhos ou acompanhados, isso é só um detalhe
Sempre voarão conosco em nossas mentes
Eternamente em nossos corações e orações…
Alda M S Santos
REVELAÇÃO
Um dia iremos acordar
Abrir não só os olhos para o dia
Abrir a alma para realmente despertar
Ser luz, paz, o amor que a todos contagia
Nesse dia tudo irá fazer sentido
Tudo que por aqui foi sofrido
Os percalços, as companhias, a solidão
Os momentos em que ouvimos um não
Quando esse dia de revelação chegar
Ou a gente irá chorar ou muito se alegrar
Pelo tempo que soubemos usar ou desperdiçar
Quiséramos nada ter a lamentar
Poder apenas agradecer, abraçar
E, feliz, ter a certeza que valeu a pena amar
Alda M S Santos
UM CORAÇÃO DE CADA VEZ
Se quisermos mudar o mundo
Devemos começar bem devagar
De pouco em pouco, um coração de cada vez
Não adianta querer apressar
Um coração de cada vez
Oferecemos carinho, tempo, dedicação
Logo não haverá de amor, escassez
Se para com cada um tivermos atenção
De nada adianta vestir o corpo
Pouco vale oferecer o pão
Nossa carência maior alimentar a alma
Uma delicadeza para o coração
Coração bem tratado, bem curado
Espalha amor de montão
E, um coração de cada vez,
Saímos da solidão, vamos mudando esse mundão!
Alda M S Santos
CONTABILIZANDO
Quantos nãos sua felicidade, sem minguar, suporta
Quantos sins sua tristeza precisa para fechar comportas
Quantos talvez sua segurança aguenta sem desfalecer
Quantos tanto faz você aguenta antes de morrer?
Quantos sorrisos te fazem das lágrimas esquecer
Quantos abraços são necessários para a dor desaparecer
Quanta luz você precisa para deixar de escurecer
Quanta saudade você tolera sem enlouquecer?
Quanta fé é necessária para você, das cinzas, renascer
Quanto milagre precisa acontecer para você aprender
Que quanto mais amor doar, mais irá receber?
Quanto?
Alda M S Santos
TRANSIÇÃO
Se você está aqui, você já faz parte
Já terá papel preponderante nessa arte
Já está incluído nas mudanças, no porvir
Fique atento, cuide de suas andanças, seu existir
A transição planetária está aí, é para evoluir
É tempo de fazer algo, não se eximir
Abrace o bem, seja o bem, espalhe o bem
Não seja por aqui apenas mais um alguém
A natureza grita, seres extraterrenos estão na jogada
Crianças já vêm renovadas, intensas, preparadas
Abra-se, fique na parada, deixe sua alma ser lavada
A vida flui e nos convida ao batente
A mudança está ocorrendo, você está contente?
Acorde, lute, vá para a linha de frente!
Alda M S Santos
DEVAGARZINHO
Chegou devagar, entrou, ficou na antessala
Foi avaliando o espaço, se aproximando
Trazia grande bagagem, estava cheia a mala
Ia aos poucos seu lugarzinho conquistando
Não quis saber de nada de falsidade
Seu desejo era de apenas partilhar o viver
Em busca de paz e tranquilidade
E de uma doce e recíproca amizade
Nos sonhos ela entrou, conquistou, ficou
Não quis mais fugir, seu coração se encantou
E daquele lugarzinho se apossou
Uma fada, um anjo protetor
Todos nós precisamos na vida
Na realidade, nos sonhos, seja como for…
Alda M S Santos
SORRIA!
Se a vontade é de chorar
Se já está cansado de tentar
E ainda assim tudo parece sem lugar
Sorria, a alegria coloca tudo no lugar…
Se o amor nem sempre corresponde
Se a dor está pesada como um bonde
Se a felicidade brinca de esconde-esconde
Sorria, o sorriso é luz, não importa de onde
Se tudo está muito sério, sem critério
Se está faltando um refrigério
Se ser feliz é um mistério
Sorria, o sorriso desperta o amor e une dois hemisférios…
Alda M S Santos
CORAÇÃO CALADO
Uma angústia, uma sensação de pesar
Peito apertado, coração calado
Não sei de onde vem esse “inexistir”
Que às vezes dá vontade de sumir
Premonição, certeza de um porvir
Que nem sempre será belo, pode ferir
Mas talvez traga um certo avanço, crescimento
Que nos permita mais rápido evoluir
Sol meio incerto de sua posição
Parece saber que haverá momento de reclusão
Quando o coração for chamado à ação
Céu carregado, nuvens pesadas
Uma alma elevada, às vezes cansada
Mas segura de sua caminhada
Alda M S Santos
QUERO UM BANHO
Quero um banho de cachoeira
Daqueles que lavem a alma inteira
Que provoquem gritos de alegria
E nos permitam ter com a vida melhor sintonia
Quero um banho de mar
Daqueles que nos tirem o ar
Que nos façam sentir noutro mundo
Onde haja um lugar especial para amar
Quero um banho de ducha quentinha
Onde eu possa deixar ir embora pelo ralo
Tudo aquilo que me aperta o calo
Quero um banho de rio
Onde eu possa me deitar num cantinho sob o luar
E junto a uma árvore amiga poder desabafar
Alda M S Santos
TERRENO FECUNDO
Quanto mais coisa ruim eu percebo
Mais me impressiono com pequenas belezas
Se de um lado há dores e brigas de dar medo
Também há beijos e abraços, doces levezas
Para cada idoso abandonado
Penso na vovó que tem o neto ao seu lado
Para cada criança que perdeu a infância
Penso no amor que posso doar em abundância
Se quisemos equilibrar essa balança
É preciso ignorar a tristeza
E chamar a vida para uma contradança
Não dá para salvar o mundo
Mas um pouco de sabedoria
Faz do amor terreno fecundo
Alda M S Santos
ESCALANDO
Um galho de cada vez, se estica
Faz força, gira, apoia o pé
Dependura-se mais em cima
E escala a árvore como chimpanzé
Parece criança, dizem, é muita sapequice
Se tá difícil pede ajuda, insiste
E vai subindo, pura meninice
Senta, lá em cima nada é triste
Plantou aquela árvore, boa sensação
Regou, cuidou, viu crescer, não foi em vão
Agora é acolhida em seus galhos, seu coração
Em cima é encanto, embaixo é paraíso
Sombra que refresca, que acalma
E diverte-se na gangorra que traz leveza à alma
Alda M S Santos
QUEM DE MIM IRÁ CUIDAR?
Mexo para lá, mexo para cá
Cuido de um, cuido do outro
Entre tantas mexidas e cuidados
Fico a pensar: quem de mim um dia irá cuidar?
Não há como saber quem poderá a mim se dedicar
A vida é apenas um constante esperar
Enquanto só posso imaginar
Faço o que me cabe: de mim mesma vou cuidar
Enquanto a pergunta persiste e angustia
Melhor ir seguindo sendo energia
Buscando no viver essa doce magia …
Bom é que aprendendo do outro cuidar
Vou assimilando que a vida é doação
Na hora certa, Deus me mandará anjos cheios de compaixão….
Alda M S Santos
AQUELES DIAS
Aqueles dias em que ela sequer quer levantar
A luz do Sol passa pela janela, invasora
Os pássaros já cantam lá fora
Indiferentes ao que se passa dentro dela
Sonhos estranhos, medos, desejo de proteção
Movimento de gente cuja vida já começou
Seguindo a marcha…
Por que, às vezes, é tão difícil tocar em frente?
Não é preguiça, não é desânimo
É uma angústia estranha, que aperta
Ficar deitada até esse sentimento passar
Ou levantar e a vida enfrentar?
O portão se abre, um carro sai
Uma oração, ela espreguiça como uma gata
Se estica toda na frente do espelho
Tem saúde, tem um caminho pela frente
Sorri, levanta, a vida segue
Eram só pesadelos…
Não é o fim, ela pensa e vai enfrentar os medos
Seguindo a marcha, a própria marcha
“Tocando em frente”…
Alda M S Santos
NUBLADO
O Sol se cobriu, virou pro canto, escondeu seu rosto
Não quer amanhecer, tampouco aparecer
Hoje não estará brilhando em seu posto
Precisa de descanso, se recolher
Nuvens escuras são seu denso cobertor
Recolhido em si tudo está nublado
Ele necessita sossego, por favor
Não adianta insistir, não está animado
Talvez sua reflexão gere lágrimas, doa
E venha a chuva para tudo lavar
Talvez um vento assopre pra longe, devagar
E com um lindo sorriso amarelo abra o véu
E como fogo caloroso volte a brilhar no céu…
Alda M S Santos
IDENTIDADE
Quando a identidade está meio confusa
Não nos enxergamos, está desfocada
Perdemos a essência daquilo que somos
Bons amigos nos trazem de volta, dão uma animada
Sem pedir, nos relembram aquilo que fomos, que somos
Nos devolvem a luz do que nos é essencial
Fazem-nos ver sob o olhar do amor
Aquilo que deixamos se perder no corriqueiro, no trivial
Nada melhor que quem conosco conviveu
De nós trabalho, alegria e amor recebeu
Para nos fazer crer que ainda existimos
Que pelas dificuldades não nos consumimos
O outro é o espelho amigo que reflete o melhor de nós
Quando precisamos reativar nossa identidade
Ser para nós mesmos mais amor, mais bondade!
Alda M S Santos
O QUE ME TOCA FUNDO
O que me toca mais fundo?
A sinfonia de pássaros numa árvore na janela
O desabrochar de um botão de rosa
O som suave no leito de um rio
A força torrencial das águas de uma cachoeira
O constante vai-e-vem das ondas do mar
Uma canção feita de versos singelos
Uma valsa dançada por um par em sincronia
O sorriso puro de uma criança
Uma mãe que amamenta seu filho
Um jovem de joelhos a rezar
O abraço de um casal apaixonado
A saudade nos olhos de um idoso que sofre abandonado pela vida
A bondade no coração de quem se doa?
Não sei…
São muitas as coisas tristes na vida,
Mas são tantas as coisas tocantes e lindas,
Que por elas vale um esforço para viver!
Alda M S Santos
CERTEZAS
Quantas certezas já tivemos
E se desfizeram com o vento
Quantas dúvidas nos consumimos
E ainda assim, seguimos?
Quantas certezas nos sustentaram
E depois nos derrubaram
Quantas dúvidas nos derrubaram
E finalmente nos levantaram?
Quantas certezas nos salvaram
E depois nos enganaram
Quantas dúvidas nos enrijeceram
E, enfim, nos amoleceram?
Certezas e dúvidas…
Na dúvida, melhor não se fiar nas certezas
Nas certezas, um pouco de questionamento é de extrema nobreza…
Alda M S Santos
(RE)ENCONTRO DE ALMAS
Antes de virem para esse mundo
De um outro mundo bem diferente
Onde tudo é claro, nítido, sem subterfúgios
Será que as almas gêmeas ou afins
Fazem algum combinado para se reconhecerem por aqui?
Um olhar mais demorado
Um toque eletrizante, um poema emocionante
Talvez um sorriso sem igual
Ou até mesmo uma piscadela especial?
Um abraço mais demorado, um beijo assustado
Quem sabe uma palavra, como um código, abracadabra
Ou uma senha que só elas saberiam?
Poderia ser também um lugar marcado
Como uma cachoeira, local isolado
Onde se banhariam como no passado…
Saboreando sorvete no banco da praça
Na fila do cinema comprando pipoca, meio sem graça
Num hospital tomando uma injeção
Ganhando bala na festa de Cosme e Damião
Na igreja, na praia, na fazenda montada no alazão
Ou, simplesmente, no último lugar em que deitaram e rolaram
E, apaixonadamente, se amaram?
Penso que há sim esse código, senha
Ou seja lá como se chame
Se ficarmos mesmo atentos
Talvez a gente até possa ouvir os sinos
Ou os anjos dizendo:
“Até que enfim, sinto perfume de jasmim”!
Você já (re)encontrou alguma alma assim?
Alda M S Santos
QUERO A PAZ
Quero a paz de uma manhã de pássaros a cantar
Lembrando que a vida é breve, é bela
E que não vale a pena chorar
Quero a paz que sinto num abraço fraterno
Que diz “te amo” sem palavras
E faz todo meu mundo mais terno
Quero a paz que reina numa cachoeira
Um sorriso doce que ilumina até a alma
E na natureza, intensa à sua maneira
Quero a paz de um amor verdadeiro
Onde haja confiança, prazer, intensidade
Daqueles aos quais nos entregamos por inteiro…
Alda M S Santos
LUTOS
Vivemos uma vida de lutos, de perdas
De despedidas, de adeus, de dores
Choramos, sofremos…
Mas toda morte e despedida trazem consigo um renascer
Um broto de vida, novo, lindo
Um recomeço…
Abrir a janela de nossos corações
Deixar a luz entrar, aquecer a terra fértil de nossa alma
Chorar, se preciso for, para irrigar
Deixar brotar nova flor, novo amor
Luto é fim de uma etapa
Recomeço de outra, nova semente pronta para crescer
Novo jardim florir, perfumar, encantar
Como ela será só depende dos jardineiros envolvidos
Sentir uma perda, viver o luto é natural e até necessário
Aceitar a mudança e cultivar o novo é essencial
Que sempre saibamos nos despedir
E acolher as novas sementes…
Alda M S Santos
BRILHA MAIS
Inspire fundo, expire lentamente
Feche os olhos, afaste todos os pensamentos
Leve sua mente para um lugar de paz e serenidade
Onde haja apenas você consigo mesmo
Você e seu desejo de em nada pensar
Apenas sentir o ar entrando e saindo de si
O sangue circulando em suas veias
Levando oxigenação e vida a todo seu corpo
Irrigando a mente e a alma
O coração pulsando…
Que há em sua mente?
O que permanece ali
Brilhando ainda mais quando os olhos se fecham
Que se mantém a despeito de tudo
Isso que brilha na escuridão de seus olhos fechados
Que se torna mais nítido num mundo calado
É aquilo pelo qual vale a pena viver…
Alda M S Santos
QUANDO DÓI
Quando dói a cabeça, o ouvido
A coluna, o estômago, o joelho
Tomamos um analgésico qualquer e resolve
Mas quando a dor vem de um lugar
Que a gente não identifica qual é
Que fazer?
Investigar os sintomas: angústia, tristeza, desânimo
Raiva, passividade, solidão, medo?
Seja ele qual for a alma precisa de cuidado
Precisa de ter alguém especial ao lado
Em doses homeopáticas ou cavalares
Para a dor do corpo vamos à farmácia
Para a dor do coração recorremos ao abraço de um irmão …
Quer um abraço?
Alda M S Santos
DEIXA
Deixa a luz entrar, devagar
Iluminar teu olhar, a todos encantar
Deixa a vida mexer, remexer
A dor arrefecer pra ninguém esmorecer
Deixa o mal virar pó
Todo ele, sem tempo, sem dó
Deixa o bem fluir, invadir
E a toda gente fazer sorrir
Deixa o amor acontecer
Não importa quando ou quanto
Seja prazer, faça aquecer
Da alvorada ao anoitecer
Deixa!
Alda M S Santos
UMA NOVA CHANCE
Ela ouvia a música no carro. Era noite, vidros semi abertos.
Cantarolava a canção pensando no mundo de coisas a fazer.
Dia seguinte seria o Dia das Mães, almoço, família…
Celular no colo para acionar GPS se precisasse. Ela se perdia facilmente.
O dia tinha sido puxado com a visita ao asilo. O porta-malas estava lotado de roupas para doação.
À noite tudo ficava mais confuso, lugares desconhecidos. Pegou umas fichas para o encontro de jovens na casa de um casal e já retornava para casa, queria descansar.
Descendo a rua o celular escorregou e caiu no chão do carro. Abaixou-se para pegar, reduziu a marcha e quando levantou já tinha uma arma apontada para a sua cabeça.
Foi tudo muito rápido, ele já entrou empurrando-a para o outro banco.
Ela tremia e chorava, enquanto ele gritava para ela calar a boca. Olhos vermelhos, moletom enorme, capuz. Era jovem e muito magro!
Ela implorou para ser deixada para trás. Que poderia levar tudo, mas que a deixasse.
“Cala a boca, cala a boca, cala a boca”- ele gritava enquanto passava as mãos na cabeça soltando o volante e segurando desajeitadamente a arma.
Com um medo enorme e com muita pena dele ela disse:
“Amanhã é Dia das Mães, sou mãe, tenho filhos, tenho mãe, por favor me deixe aqui”.
“Cala a boca, cala a boca”- drogado, ele gritava!
“Por favor, tenho dois filhos, você tem mãe”?
Nessa hora ela sentiu a arma batendo com muita força em sua fronte. Não viu mais nada!
Voltou a si sem saber onde estava ou quanto tempo tinha passado. A cabeça latejava…
Tentou se levantar, tudo escuro, bateu a cabeça, as pernas não conseguiam se esticar. O cheiro de amaciante e uma luzinha por uma pequena fresta fizeram-na perceber que estava trancada no porta-malas.
Claustrofobia e medo tomaram conta dela. Onde estava?
Carros ao longe, cachorros latiam. Estava num lugar deserto.
Esperou um pouco e teve medo de que tocassem fogo no carro. Tinha acontecido isso muito por ali!
Começou a forçar a tranca batendo forte os pés. Chutava o canto dos faróis e gritava por socorro!
“Por favor, alguém me ajude, fui sequestrada, socorro”- gritava e chorava e chutava o carro fazendo muito barulho.
“Quem está aí?- ouviu uma voz lá de fora .
“Fui assaltada, estou trancada no porta-malas, por favor me tira daqui!”
E ela chorava mais ainda, de medo, frustração, dor, agonia…
Mas quando ouviu vozes perto do carro, alguém acionando a polícia, e a porta do carro se abrindo para ela sair por dentro, entre tantos sentimentos prevaleceu o da alegria.
Estava a salvo, ele a tinha deixado sobreviver por algum motivo.
Estava a muitos quilômetros de casa.
As lágrimas rolavam insistentes, mas só pensava na alegria de estar viva para o Dia das Mães.
Uma oração silenciosa: “Obrigada, Senhor”!
Alda M S Santos
O ABISMO
A música tocava, ela seguia
Na estrada longa e vazia
Vez ou outra um carro surgia
E sumia…ela seguia
Pra onde não sabia, apenas ia…
O céu de intenso azul reluzia
Ela olhava, admirava, e a lágrima escorria
Que era aquilo lá longe na via
Algo naquele lugar a atraía
E, então, mais rápido ela seguia
Cansada, parou à margem de um abismo
Ele lá estava, muita agonia
Olhava lá para baixo, tão distante, intensa magia
Um medo estranho ela sentia
Ali ficou sentada, balançando os pés, nada resolvia
Sentindo o peso que o abatia
Olharam-se, um tácito acordo surgia
Por fim, olhou de novo para o sol que se punha no horizonte
Amanhã de novo ele nasceria
Então, decidiram-se: como o sol eles seriam
Todas as noites adormeceriam
Mas na manhã seguinte sempre acordariam
Dispostos a brilhar por mais um dia
E o abismo para trás deixariam…
Alda M S Santos
COM O CORAÇÃO
Quer que dê certo?
Coloque sempre o coração
Se ele se alegra, prossiga
Se ele chora, reavalie
Se faz alguém chorar
Mude de atitude
Se ele está só, dê-lhe atenção
Tantas vezes falta na solidão
É a própria companhia
Aquela da qual nunca podemos abrir mão
Sentar num cantinho qualquer
Vasculhar nossos cantinhos esquecidos
Cutucar mesmo onde dói, limpar as feridas
Deixar a luz entrar, arejar
E conversar conosco mesmos
Fazer as perguntas certas
Ser sincero nas respostas
E novas atitudes tomar:
Nunca desistir de nos amar!
Cuidar de nosso emocional
É fundamental…
Viver com o coração
É ter a melhor razão para nunca desistir de si
É ter munição de sobra para as batalhas cotidianas
Com o coração pode até demorar mais
Mas a vitória é garantida!
Alda M S Santos
IDOSOS: NOSSO PASSADO, NOSSO FUTURO
Carentes de amor, carentes de afeto
Uma memória repleta de passado
Um futuro distante, meio incerto
Um presente às vezes magoado
De quem quer alguém ao seu lado
São idosos, muitos anos idos
Tempo para o o idoso é algo duvidoso
A barra de rolagem está quase no fim
Querem amor, abrigo, amigos
São nosso passado e futuro, enfim…
Dia dos idosos para quê?
Para nos lembrar de que o tempo passa
Para nos fazer as mãos estender
E para finalmente entender
Que essa é parte importante do viver…
Alda M S Santos