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XÔ TRISTEZA!

XÔ TRISTEZA!

Há momentos em que ela quer tomar conta
Nos joga num canto, faz feio, apronta
Quer ganhar espaço, castigar a alma
Vencer pelo cansaço, afastar a calma

Como agir para dela não padecer?
Uma lista de atitudes dá até para fazer
Brincar, dançar, cantar, uma série maratonar
Ler, conversar, namorar, lágrimas deixar rolar

Bom saber que ela faz parte do viver
Se chegou, puxe a cadeira, dê atenção
Avalie o que trouxe de novo, sua emoção
Mas não dê morada definitiva não

Aprender o que ela veio para ensinar
Deixar lavar o caminho para a alegria entrar
Fomos feitos para ser felizes, para amar
Sorria, agradeça, o Sol sempre volta a brilhar

Alda M S Santos

Aqueles dias

AQUELES DIAS

Aqueles dias dos quais ninguém está livre
Cuja vontade é achar um cantinho para hibernar
Sem ninguém para incomodar
Nada ou tudo falar, pensar, repensar, adormecer
Quando não conseguimos o quebra-cabeças montar
E tudo que queremos é sair desse mal-estar
Onde será esse lugar?
Será preciso num avião decolar
Ou num barco alcançar o alto mar
Ao volante dirigir sem rumo até cansar
Ir até o céu com as estrelas e a Lua conversar
Num foguete à via láctea chegar
Ou será que está mais perto e bastaria apenas
Mergulhar nos recônditos secretos de nosso ser
Sorrir, chorar, brigar, apaziguar, debater
E ali ficar até desfalecer ou renascer…

Alda M S Santos

Lágrimas

LÁGRIMAS

Há quem diga que só choro alto alivia
Mas de todo tipo pode ser um pranto
Aquele apertado na cama macia
Ou o que quietinho se esconde num canto

Há choro doloroso debaixo das águas do chuveiro
Ou aquele que incha o rosto inteiro
Também pode ser caminhando na chuva
Para com ela se misturar sem guarda-chuva

Todo choro, escandaloso ou contido
Nunca deixará de ser sofrido
O que todo pranto busca é um abrigo

Quem muito viveu essa lição aprendeu
Todo mundo um dia um choro escondeu
Mas, cedo ou tarde, um sorriso apareceu…

Alda M S Santos

Aqueles dias

AQUELES DIAS

Aqueles dias dos quais ninguém está livre
Cuja vontade é achar um cantinho para hibernar
Sem ninguém para incomodar
Nada ou tudo falar, pensar, repensar, adormecer
Quando não conseguimos o quebra-cabeças montar
E tudo que queremos é sair desse mal-estar
Onde será esse lugar?
Será preciso num avião decolar
Ou num barco alcançar o alto mar
Ao volante dirigir sem rumo até cansar
Ir até o céu com as estrelas e a Lua conversar
Num foguete à via láctea chegar
Ou será que está mais perto e bastaria apenas
Mergulhar nos recônditos secretos de nosso ser
Sorrir, chorar, brigar, apaziguar, debater
E ali ficar até desfalecer ou renascer…

Alda M S Santos
Mais no meu blog vidaintensavida.com

É melhor

É MELHOR

Às vezes é melhor ficar quietinho em nosso canto

Aboletada lá naquele espaço nem sempre aconchegante de nossa alma

Quando olhamos para um lado e vemos silêncio

Para o outro indiferença ou pranto

Para a frente só desânimo ou desencanto

Nem todo dia é brilho ou luz

Nem todo caminho está sempre aberto

Nem todo o tempo somos alegria, energia

Às vezes é tudo tão cru, frio, incerto

Melhor entrar para dentro da gente

Fechar a porta, trancar, passar a chave, a corrente

Rezar, nos abraçar, sorrir ou chorar, extravasar

E esperar essa corrente negativa passar

Quando ela se for, a gente sai devagar

Mais fortalecidos e dispostos a tudo enfrentar…

Nem todo dia o sol brilha

E precisamos aceitar nossos nublados

Nossas garoas e chuviscos

São eles que fazem florescer a trilha

E nos tornam dispostos, menos ariscos

É melhor…

Alda M S Santos

Olhem para mim!

OLHEM PARA MIM!

Olhem para mim!

Gritava o jovem sequestrador no ônibus

Gritava a garota morta pelo namorado

Gritavam os jovens LGBTs surrados até morte

Olhem para mim!

Gritavam os idosos torturados em lares

Gritavam os indígenas outra vez roubados

Gritavam as crianças abusadas por familiares

Olhem para mim!

Cada qual com seu jeito de gritar, de protestar

De querer ser visto, respeitado

Mesmo que na depressão, no silêncio, na solidão

Descaso mata, indiferença mata, exclusão mata

Olhem para mim!

Agora grita um país de medos

Grita um país que queima suas matas

Que mata seus jovens, suas mulheres, seus negros

Seus homossexuais, suas crianças e idosos

Grita um país que mata o futuro da humanidade

Olhem para mim!

Quando iremos ouvir???

Quando iremos agir???

Socorro!!!

Alda M S Santos

Um dia de cada vez…

UM DIA DE CADA VEZ

Quando a felicidade estiver muito próxima da tristeza

Quando a força exigida para manter-se de pé

Estiver fragilizando ainda mais as pernas

Melhor deixar-se “cair”, reconhecer-se frágil

Talvez até impotente naquele momento

Sentar-se à beira da estrada, descansar de tantas dores e cobranças

Dos outros, de si mesmo, principalmente

Abastecer-se de fé e coragem, reconhecer-se humano

E quando a força for chegando aos poucos, se renovando

Levantar, voltar a seguir, um passo de cada vez, degrau por degrau

Lembrando do aprendizado que ficou para não cair ou derrubar novamente

Construindo pacientemente um novo caminho para si

Nem tão longo, nem tão difícil ou penoso

Abrindo os olhos para a luz que se apresenta à frente

Enxergando e vencendo apenas um dia de cada vez…

Alda M S Santos

Sons do silêncio

SONS DO SILÊNCIO
Há muito silêncio aqui
Os galhos das árvores valsando ao sabor do vento
A chuva fina a tamborilar uma canção nostálgica no telhado
Canarinhos piando a disputar por espaço no comedouro
Enquanto outros se banham na poça d’água no chão e voam em revoada
Uma vaca muge reclamando ao longe no pasto
As asas vibrantes de um lindo beija-flor a sugar o néctar doce da vida
Indiferente a minha presença, encantada
Um machado fazendo ranger a madeira que cede com um choro de resistência
O fogo a crepitar no fogão a lenha onde o cozido borbulha e aromatiza o ambiente
Uma família de tucanos grasna no alto das árvores e saúda a vida
Um cachorro late pedindo carona atrás de um fusquinha conhecido
Um galo canta alto dizendo as horas, a galinha responde que tem ovo
Um abacate cai com um barulho surdo do alto do abacateiro e se racha ao chão
A tosse seca de um fumante que parece sufocar
As risadas das crianças descendo a rua de bicicleta, felizes, ignorando o chuvisco
Macacos gritam bem perto na mata
Uma saracura afoita passa correndo no quintal
Uma espectadora da vida ouve todos esses sons do silêncio
Em contraste com todos os barulhos que gritam dentro de si
Querendo fazer parte, ser parte desse mundo “animado”…
O mundo parece estar estacionado, mas há vida em tudo…
Qual o barulho que ela faz em seu silêncio?
Qual o grito que ela transmite?
Alguém ouve?
Alda M S Santos

Pedidos de socorro

PEDIDOS DE SOCORRO

O mundo pede socorro

Quem é capaz de ouvir?

Pedidos tão barulhentos quanto uma sirene

Ou tão silenciosos como uma lágrima que cai

Crianças precoces sempre de agenda lotada e irritadiças

Jovens perdidos em tantas “opções” de vida moderna

Trancados em seus quartos, “góticos”, marcas roxas debaixo de lenços

Idosos “protegidos” em suas fantasias e remédios

Sorrisos, lágrimas, saudades, abandono

Adultos espremidos entre a infância e a velhice

Solitários entre tantas obrigações e cobranças, entre tanta gente necessitada

Escondidos em suas tarefas, fugindo em seus smartphones

Atrás de amigos virtuais nas telas dos PCs na solidão da madrugada

Todos “gritando” por socorro

Quem é capaz de ouvir?

Cada qual gritando sua dor de um modo

No andar, no olhar, no se esconder, no se mostrar

Na solidão autoimposta, nas atividades excessivas

Nas rebeldias constantes, nas drogas lícitas ou ilícitas

Na irritação desmedida, nos vícios diversos

Quem é capaz de ouvir?

A dor atinge a todos, o grau é variável, de “normal” a patológico

No sentir e no demonstrar

Mas há sempre uma “droga” a nos salvar

Até que não haja mais salvação

Quem é capaz de ouvir?

“Ouvir” a dor do outro é um modo de nos enxergarmos também

E, talvez, conseguirmos nos salvar…

É preciso olhar devagar, demorar-se na dor do outro

Mergulhar fundo na própria dor

Até não mais temê-la, até conseguir diluí-la…

É preciso a pureza e confiança de uma criança para “herdar o reino do céu”

O mundo pede socorro

Quem é capaz de ouvir?

Alda M S Santos

Medo da morte

MEDO DA MORTE

Morte, tão desconhecida e tão temida

Aquela que, mesmo sendo perda de tempo, por natureza, lutamos contra

É destino certo de todos nós

Ao menos a morte física

Mas mal sabemos que morremos todos os dias

Que tiramos vida de nós e dos outros

Quando não confiamos, quando fugimos, quando traímos

Quando acreditamos em mentiras,

Quando não nos tocamos com o sofrimento do outro

Quando alimentamos discórdias e tristezas

Quando criamos muralhas em torno de nós

Quando ignoramos a luz brilhante que se apresenta

Tantas vezes por temer a morte nós a atraímos mais e mais

Morremos quando evitamos a vida para não morrer

Morremos quando lamentamos a vida que não temos

Morremos quando invejamos ou desejamos a vida do outro

Ignorando a vida que está presente em nós

Morremos quando deixamos de amar, de nos entregar para não sofrer

De enxergar a vida que nos cerca por todos o lados

Em forma de pessoas, de seres vivos, de natureza, de sentimentos…

A vida pulsa no centro de nós como um milagre diário, não nos isolemos

A morte, apesar de certa, não precisa nos levar antes da deterioração do corpo

Não precisamos desejá-la!

Muitas vezes morremos por dentro, muito antes do corpo

Morremos diante de nosso corpo vivo

Essa morte é assustadora!

Alda M S Santos

Ensaio de guerra

ENSAIO DE GUERRA

Nada “melhor” que um ensaio de guerra para percebermos o que tínhamos

E, por cegueira temporária, não enxergávamos

Bastou parar caminhões, faltar combustível

Para faltar tudo aquilo que pensávamos “não ter”

Brasileiros, ao menos boa parte deles,

Vive na carência material, de saúde, educação, transporte, segurança …

Mas o medo de vir a minar o básico dos básicos

Levou os cidadãos à corrida para estocar alimentos, água, a economizar

Temos muita corrupção e roubalheira, submissão, inércia e letargia

Mas também temos, bem ou mal, alimentos, água, moradia, transporte…

Sem levar em conta os oportunistas e aproveitadores

Que olham do alto e se enxergam como únicos numa multidão de famintos

E, além do jeitinho malandro de sobreviver, temos bom humor para enfrentar o caos

Criatividade para buscar o que precisamos

Tudo isso nos fez focar no que ainda temos

Não apenas no que nos falta…

Crises despertam o que temos de mais animal e irracional em nós: o instinto de sobrevivência

Atiçam nossas características mais fortes, boas ou ruins

O grande paradoxo é que é com elas que acordamos e lutamos

E também nos matamos…

Alda M S Santos

Insanas produções

INSANAS PRODUÇÕES

Sofrer é um modo louco, insano de viver

Foge ao controle de qualquer ser humano

Cada qual lida como consegue, como suporta

Compulsivamente, muitas vezes, amargamente, noutras

Fechando-se em si mesmos, usando alucinógenos variados

Exigindo muito de si, fisicamente, em atividades esportivas

Hibernando, mergulhando no mais escuro e profundo do ser

Criando, desenhando, pintando, compondo

Plantando ideias de amor, de fé, de compaixão

Sofrimento insano gerando obras de artes

Plásticas, da literatura, da música…

O quanto de lindo deixado para a posteridade não é fruto de sofrimento produtivo

Como ostra produzindo lindas pérolas

Como lagartas em casulo transformando-se em borboletas leves e coloridas?

Não temos como fugir ao sofrimento

Inclusive ao sofrimento de quem amamos, que dói muito também em nós

Mas podemos usá-lo como combustível, inspiração, força

Escolher o que queremos fazer com ele:

Insanas e lindas produções artísticas

Ou loucas produções bélicas, destruições próprias e alheias…

Na verdade, fingir que o sofrimento não existe

É que é o modo mais insano, doloroso e improdutivo de sofrer…

Alda M S Santos

Na própria pele

NA PRÓPRIA PELE

Não dá para dimensionar o que se passa com o outro

Se sensíveis formos, apenas podemos especular, ter uma ideia

Mas, saber mesmo, só sentindo na própria pele

Só chorando as mesmas lágrimas

Só pisando e se cortando nos mesmos cacos de vidro

Só queimando sob o mesmo sol ou frio

Só desanimando na mesma queda ou escorando nas mesmas porteiras entreabertas da esperança

Só ardendo o peito com as mesmas angústias

Só aguentando as mesmas faltas, lidando com as mesmas falhas

Só sofrendo as mesmas perdas

Só estando sob o jugo das mesmas ameaças

Só tendo suportado o peso doloroso da mesma arma

Só sufocando pelos mesmos medos ou aflições…

Só assim sabemos, só assim não permitimos aos outros o mesmo mal

Só assim protegemos a quem amamos

Só assim nos humanizamos mais e mais…

Alda M S Santos

A dor mais doída

A DOR MAIS DOÍDA

A dor mais doída é certamente a que sentimos no momento

Podemos até com certa sensibilidade imaginar a dor do outro

Mas, se nunca a sentimos, não dá para mensurar com precisão

Porém, penso ser unanimidade:

A dor mais doída é aquela que remédio não cura

Uma ida à farmácia e uma cesta de medicamentos não amenizam

Para as dores do corpo há remédio: agudas ou crônicas

Mas para as dores da emoção, da alma, do coração

Não há ida à drogaria que cure!

Aquela mágoa com o outro que aperta o coração

Aquela decepção que inunda olhos e alma

Aquela culpa ou frustração que minam a autoconfiança

A saudade daqueles que se foram sem volta

As dores mais doídas dentro da gente ninguém mensura

As dores mais doídas são as da tristeza e mágoa

Escurecem os olhos, apagam o sorriso, afastam-nos de nós mesmos

A ida à farmácia deve ser substituída por um passeio longo dentro de nós, todos os recantos…

E acreditar que encontraremos um caminho claro e bonito

E seguir…

“A tristeza é como um rio

Se estancada, ela aprofunda.(Pe Fábio de Melo)

Alda M S Santos

Medos

MEDOS

Medo do escuro, medo do desconhecido, medo de água

Medo de perder a luta, medo de perder-se

Medo de sofrer, medo de causar sofrimento

Medo de perder tudo que valha ter medo da perda

Medo de tornar-se indiferente a qualquer medo

Medo de não mais saber o que valorizar

Medos que movem ou que travam a humanidade

Medos que são usados e abusados

Por aqueles que não têm medo

Por aqueles que já não têm nada de valioso a perder

Ou por não saberem o que tem real valor

Medos todos temos,

Mas escolhemos quais nos mover quais nos paralisar…

Alda M S Santos

Socorro

SOCORRO

“Socorro! Help-me!”

Quantos pedidos de socorro ouvimos, atendemos

Quantos ignoramos, não entendemos?

Nem sempre tão traduzidos assim em palavras

Uns muito óbvios, gritados, implorados, verbalizados claramente,

Telefonemas, mensagens, bilhetes, lágrimas

Outros calados nos lábios, gritados nos olhos, nas ausências, no silêncio, nos vícios

Nas mudanças de comportamento, na depressão…

E notamos apenas em retrospectiva, quando algo grave ocorre

Como uma tempestade que dá muitos sinais antes do aguaceiro desabar e inundar tudo

Nuvens negras, raios, trovões, vendavais

E corremos a procurar abrigo…

Sabemos dos estragos de outros tsunamis!

Tempestades internas se formam perto de nós

Dentro daqueles que amamos, dentro de nós

E não somos tão astutos para fechar as janelas, recolher as roupas, desviar, fugir, nos preparar

Muitas vezes, sem perceber, nos expomos, deixamos que se exponham a elas

Não nos atentamos para os pedidos de socorro, os alertas do tempo…

A meteorologia pode ser uma boa aliada se quisermos salvar vidas!

Alda M S Santos

Foto: Everaldo Alvarenga

Naquele banco da praça

NAQUELE BANCO DA PRAÇA

Um banco convidativo numa praça, paisagem linda, calmante

E você sentado ali sozinho, saudoso, amargurado, pesando sua vida

Lágrimas insistentes, peito apertado

Vontade imensa de ter alguém com quem dividir suas dores…

Haveria alguém com quem tivesse coragem de se abrir totalmente

Despejar tudo, fazer uma faxina interna, confiar?

Imagine se Ele sentasse ao seu lado, te abraçasse longamente

Olhos nos olhos, face a face, sem julgamentos

Que você faria?

Choraria, ficaria feliz, contaria a Ele tudo num desabafo

Mesmo tendo consciência de que Ele tudo sabe, compreende

Seus medos mais infantis e tolos, e os mais sérios também

Suas fraquezas e angústias, dores profundas

Os erros conscientes e inconscientes cometidos

As lutas, as vitórias, os desejos

Os caminhos errados, as más escolhas,

Males que causou a si e aos outros

O amor que viveu, o que não valorizou, não soube viver, oportunidades perdidas

Todas as lágrimas derramadas em seu travesseiro, angústias sufocadas

Cobraria algo Dele, algum esclarecimento, dívidas

Seria maduro o bastante para assumir suas responsabilidades na desordem em que se encontra?

Que teria a dizer em sua “defesa”,

Se Ele se sentasse ao seu lado?

Ele está conosco todo o tempo

Apenas à espera que busquemos por Ele

Que possamos nos abrir com Ele, confiar

E, assim que o fizermos, sentiremos Seu abraço demorado e terno

Seu amor infinito e especial

E seguiremos mais fortes, nunca mais sozinhos…

Alda M S Santos

Muitas maneiras de estar sozinho

MUITAS MANEIRAS DE ESTAR SOZINHO

Um dos grandes temores de todos nós: a solidão

Tantas são as maneiras de se estar só

Cercados de gente, numa festa ou num bar

No trabalho, na academia, no lar ou na igreja

Pode-se estar mais só que sozinho no quarto,

No alto de uma montanha, num hospital, numa casa de repouso ou numa praia deserta

Solidão é estado interior, é negação da própria presença

Se dentro estiver vazio ou mal preenchido

Se não houver amor próprio e boas lembranças

Consciência limpa e fé no caminhar, no porvir

Podemos nos cercar de tudo e de todos

Que a sensação de solidão persistirá

Antes de buscar superar a solidão com companhias

Transferir para o outro a responsabilidade de nos preencher, que é nossa

Precisamos estar bem com nossa própria pessoa,

É com ela que sempre poderemos contar…

Alda M S Santos

Angústia

ANGÚSTIA

Peito apertado, vontade de ficar apenas deitado

Ou sair de cena, desligar por uns tempos, hibernar

Sensação de angústia, vontade de chorar…

Quantas vezes nos sentimos assim

Sem sequer saber exatamente quais os reais motivos, as razões?

Os modos de lidar conhecidos não funcionam

Ler, escrever, assistir filme, dormir, ouvir música…

Quando conversar com alguém, rezar, ajudar os outros, pouco auxiliam.

Tudo parece fora de lugar, desconectado!

Lá fora parece tão grande, mas não nos cabe

Cá dentro está apertado e nos machuca…

Queremos apenas um cantinho na nossa medida

Que tenha chuva e tenha sol,

Que tenha lágrimas, mas também tenha sorrisos

Que tenha Deus, prazer de viver

Que tenha quem nos ame,

Que tenha quem amamos

Que a gente se encontre de novo nessa nau…

Alda M S Santos

Chuva e lágrimas

CHUVA E LÁGRIMAS

Escorria ininterruptamente no para-brisas sem cessar

O limpador passava rapidamente, meio furioso e limpava

Escorria intermitente no rosto dela o tempo todo

Ela sequer pensava em limpar, deixava escorrer…

Chuva e lágrimas, o carro e ela

Embaçando o vidro, embaçando dentro dela

O mundo lá fora seguia seu curso

Uma linda canção parecia traduzir tudo

Que se passava no exterior e no interior

Do carro e dela…

Combinação cinzenta harmônica e perfeita

Chuva e lágrimas insistentes lavando, limpando, irrigando

Na esperança de desembaçar e trazer novo brilho

Nova vida…

Alda M S Santos

Quando foi a última vez que chorou?

QUANDO FOI A ÚLTIMA VEZ QUE CHOROU?

Qual a última vez que as lágrimas foram suas companheiras?

Muita gente sequer lembra, pois quase não chora.

Não porque não tenham motivos ou sejam insensíveis,

É porque costumam lidar de modo diferente com as dores e frustrações.

Alguns choram escondido, ou porque não querem preocupar o outro ou não confiam o bastante neles.

Outros já choram por quase tudo, emocionam-se e choram muito!

Não precisam estar infelizes, é um meio de expressar a emoção.

Choram por emoções boas: uma vitória, um amor correspondido, uma gentileza, um pôr do sol, uma tempestade,

Uma amizade reencontrada, um desejo satisfeito, um carinho gratuito, uma lembrança boa…

Ou pelas emoções tristes mesmo: decepções, saudades, desamor, dores diversas,

Perda de algo ou alguém, problemas de saúde…

Há ainda as que choram pelas dores e males dos outros, das pessoas queridas e amadas

Ou até mesmo pelos males da humanidade.

Lágrima também é vida!

Acho que tenho vivido muito ultimamente!

Alda M S Santos

Vida Nublada

VIDA NUBLADA

Quem gosta de chuva e dias cinzentos

Tende à depressão- ouvi certa vez.

O tempo lá fora costuma influenciar dentro da gente.

Sol “exige” energia, animação, alegria, festa

Chuva “exige” introspecção, nostalgia, quietude…

Não necessariamente!

O sol ou a chuva apenas conectam o que já há em nós

Potencializam, trazem à tona, tornam visíveis.

Se houver animação, não há chuva que aquiete

Se houver introspecção, não há sol que dê energia

A verdade é que o sol ou a chuva estão dentro da gente

Uns são mais sol, outros são mais chuva

E quem disse que não precisamos de ambos?

Amo dias de sol, mas nada se compara a um

Nostálgico e lindo dia de chuva!

Alda M S Santos

Vida e Morte

VIDA E MORTE

Nascer e morrer, morrer e nascer

Extremos de uma mesma história,

Ou parceiros nessa caminhada?

Partes comuns de uma mesma vida,

Ou pontos antagônicos?

Por que temos tanta dificuldade em lidar com a morte?

Ela está perto de nós todo o tempo

Quase tanto quanto a vida!

A vemos na natureza: plantas e bichos, água, ar, fogo, terra

E vezes demais entre os humanos também: renovação

A diferença é que morte entre plantas e bichos quase sempre vemos como “natural”.

Aceitar a ideia da morte não significa, necessariamente, desvalorizar a vida!

Acostumar com a morte pode nos fazer ter uma vida plena

Da qual sabemos que terá fim a qualquer momento,

Independente de nossas vontades ou desejos.

O que não é natural é desejá-la mais que a vida.

A morte não deveria nos meter mais medo

Mas a vida nos meter mais coragem!

Alda M S Santos

Meu Sol me abandonou

MEU SOL ME ABANDONOU

Meu Sol hoje não me acordou

Não me chamou carinhosamente para a vida

Não me mostrou a beleza que há lá fora

Não me garantiu que essa dor passará

Que essa parte do caminho é válida

Não admirou meu sorriso ou secou minhas lágrimas

Não me convidou a passear no jardim

Não sinto seu calor a me aquecer lentamente

Não vejo seus raios dourados

Não percebo sua energia brotando dentro de mim

E ainda ontem se punha tão lindo em meu horizonte

E irradiava de manhã num maravilhoso alvorecer interno

Não quero me levantar enquanto não senti-lo!

Quero o escuro debaixo de meus cobertores

A segurança de minha cama

O apoio de meus travesseiros

Se não vejo cores, não sinto o calor

Não percebo a beleza, fico aqui

Até que ele possa me acordar de novo todas as manhãs

Abrir as janelas de minha alma

Ou que consiga me mostrar

Que a nebulosidade e a chuva

E a vida em cinza

Também podem ser vida…

Alda M S Santos

À beira do abismo

À BEIRA DO ABISMO

Todos podem, por vezes, sentirem-se à beira do abismo

Andando na corda bamba

Sob o fio da navalha

Pisando em ovos…

Qualquer pisada em falso

Um momento de distração

Uma brisa mais forte

E tudo vai para o brejo

Cai-se para o fundo do abismo,

A corda se parte, a navalha corta

Os ovos se quebram…

Nem sempre é adrenalina, quase nunca é divertido

Desgaste que vai cansando,

Levando ao recolhimento, à introspecção,

E tantos caem no escuro da depressão!

Quantos pertinho de nós podem estar assim?

Saberíamos se fôssemos nós a ficar assim?

Alda M S Santos

Quantas vezes?

QUANTAS VEZES?
Quantas vezes nos doamos?
Quantas vezes sorrimos para o outro para alegrá-los
Abraçamos alguém para acalentá-los
Dizemos palavras encorajadoras para animá-los
Damos atenção, carinho, silenciamos, para compreender a dor
Cedemos ao outro nossos ombros, nosso colo, nossa presença para secar lágrimas,
Se tudo que queremos e precisamos é de alguém
Que nos sorria, nos abrace, nos diga palavras sábias
Nos encoraje, nos dê atenção, colo, presença, amor…
Ou apenas silencie e acalme nossas angústias?
Quantas?
Exatamente o mesmo número de vezes
Que, ao nos doarmos, acabamos por receber muito em troca…
Quantas vezes?
Não sei! Sei que todas valeram cada segundo!
Alda M S Santos

Quase morrer

QUASE MORRER

Não se expor, não falar, não demonstrar, não pedir ajuda,

Não se expressar, se fechar, se calar, se esconder, ser forte…

Ficar cada um na sua! Bem pequenino, quase invisível!

Recolher-se para dentro de si mesmo!

Essa é a ordem! Que nos impõem, que nos impomos.

Até quando?

Até esquecermos como é ser autêntico.

Ou até esse mundo insano entender que vida não se oprime,

Que vida oprimida é quase morrer, ou matar!

Quantas mortes são necessárias para se valorizar uma vida?

Alda M S Santos

Leitura: Braille

LEITURA: BRAILLE

Há uma leitura que exige decodificação especial

Que não basta decodificar o alfabeto

Ler frases e compreender textos e contextos

É uma leitura que exige ler com o toque, como o Braille

É uma leitura que exige a percepção do brilho ou sombra do olhar

É uma leitura que exige ler sentimentos

É uma leitura que se faz no silêncio

É uma leitura que conecta dois olhares,

É uma leitura de almas!

Alguns são tão mestrados nessa área

Que leem de longe ou de perto

Não se enganam, não interpretam mal

Sentem!

Alda M S Santos

Lápis e borracha

LÁPIS E BORRACHA

Histórias escritas, desenhadas

Grafitadas, coloridas!

A cada dia um novo traço, um novo risco

Uma palavra mal escrita, um traçado mal feito

Ou até tudo bem feito, mas no livro errado

E lá surgem lágrimas a borrar toda a obra!

Borrachas tornam-se necessárias

Apagar o que deixou de ser parte da história,

Ou que não pode continuar sendo…

Borrachas deixam marcas, sombras

Mas tudo pode ser reaproveitado

Uma palavra mal dita pode ser inserida noutro contexto

Uma frase noutro capítulo

Um capítulo noutro momento

Uma pedra pode se transformar numa flor

Uma flor numa borboleta no roseiral

Uma lágrima numa gota a regar o novo jardim.

Que será sempre revisitado no fundo de nós.

Nesse livro da nossa vida

Podemos, precisamos, ter muitos críticos,

Editores deverão ser ouvidos,

Mas somos nós que selecionamos as palavras, os riscos, os rabiscos

Que farão os capítulos dessa história

Somos nós que daremos cor ao que for importante

E deixaremos em escala de cinza o que precisa sair de cena,

Ou ficar nos bastidores desse espetáculo chamado vida.

Alda M S Santos

Quando tudo dói

QUANDO TUDO DÓI

Há dias em que tudo dói

Até cabelos e ossos

Partes que dizem ser desprovidas de sensibilidade

Por não terem terminações nervosas

Mas quando sentimos dores que não identificamos,

Tudo parece doer!

Normalmente são dores que vêm lá de dentro

Alguma questão mal resolvida dentro de nós.

Qual o remédio? Qual a cura?

Silêncio e oração, família e amigos,

Independente da ordem em que apareçam para nós,

Ou que tenhamos que buscá-las!

Simplesmente, precisamos…

Alda M S Santos

Onde me encontro?

ONDE ME ENCONTRO?

Não importa onde eu esteja

Quer seja em casa, na rua, na academia, numa festa

Na visita a amigos, a um asilo ou hospital, na igreja,

Em alto mar, num voo internacional, num trem

No meio do mato, no lombo de um cavalo,

Posso estar onde estiver, com quem estiver

Independente de todos os caminhos que percorra

Só vou me encontrar dentro de mim mesma.

E esse caminho só eu posso traçar

Só eu posso percorrer

Seja qual for o “transporte”,

Passando por atalhos ou não,

Regada a sorrisos ou lágrimas,

Sozinha ou acompanhada,

Só eu posso me encontrar,

E somente depois, talvez me encontre dentro de outro alguém…

Alda M S Santos

Perdas

PERDAS

Sempre sabemos lidar com perdas: as perdas alheias.

Para elas sempre temos algo a dizer, a aconselhar.

Mas quando a perda é com a gente, tudo muda de figura.

Não importa que tipo de perda seja: material, pessoal, humana…

Sempre irá doer, sempre irá machucar!

Perde-se emprego, casa, saúde, animais de estimação,

Amigos, familiares, amores…

Perde-se a paz, o sossego, a fé, a alegria!

Por que nunca somos ensinados a perder?

A família, a escola, a igreja, todos nos ensinam a conquistar.

Isso porque a teoria da perda de nada vale!

E, quase sempre, é essa teoria que passamos para os amigos “perdidos”.

Mas somente quem vivencia a perda é capaz de aprendê-la na prática.

Aprende-se a perder, perdendo: chorando, gritando, se recolhendo, sofrendo.

Não é lição que se ensina, é lição que se aprende só!

E o tempo que leva para se recuperar,

Depende do modo de ser de cada um.

Alguns rapidamente superam, esquecem, e a vida segue normal.

Outros demandam muito mais tempo, muitas lágrimas, muita tristeza…

Respeitar o próprio jeito, a própria dor, é fundamental no processo de cura!

Alda M S Santos

Dias difíceis

DIAS DIFÍCEIS

Para dias difíceis, pessoas fáceis.

Na falta, fique consigo mesmo!

Ainda que você não seja muito fácil,

É alguém que conhece há mais tempo que se pode lembrar,

Que aturou cada sorriso, cada lágrima, cada dor ou prazer,

Mesmo que não esteja uma boa companhia,

Sempre será alguém com que se pode contar!

Não se abandone!

Alda M S Santos

É preciso permitir-se!

É PRECISO PERMITIR-SE!

É preciso se permitir sorrir para o bem propagar, o bem atrair

Mas também é preciso se permitir chorar,

Para a tristeza extravasar, a alma lavar.

É preciso se permitir amar para a vida ser plena, o coração não ser pequeno,

Mas também é preciso se permitir não gostar, se afastar do que faz mal,

Para respeitar a si e ao outro.

É preciso ser permitir falar, dizer tudo que agrada ou incomoda,

Mas também é preciso se permitir calar, silenciar, segredar,

Para não magoar, não magoar-se!

É preciso se permitir ser o que é, viver a própria essência,

Mas também é preciso saber aceitar a essência dos outros.

É preciso se permitir viver,

Mas de um modo que não fira ou impossibilite a vida alheia.

É preciso permitir e permitir-se!

Alda M S Santos

Minando

MINANDO

Algumas coisas têm o dom de nos minar as forças

De sugar nossas energias, de nos deixar no caos:

Dores físicas nos tiram o foco, o raciocínio,

Sustos nos atropelam, nos lançam fora de órbita,

Sorrisos excessivos nos mantêm na “alegria” forçada,

Lágrimas intensas ou represadas nos deixam secos, apagados,

Dores da alma são capazes de nos lançar no fundo do poço.

Mas, tudo isso, se bem trabalhado e respeitando o tempo de cada um,

Pode ser extremamente benéfico e trazer nova luz e alento.

Afinal, somos baldes nessa vida: um eterno descer e subir de poços.

Alda M S Santos

Bomba-relógio

BOMBA-RELÓGIO
Vida contada, morte anunciada
O que é viver sob uma espada
Na expectativa do fim, e nada temer?
Tantos vivem assim, esperando apenas 
Que o relógio chegue a 00:00:00
Se dói, a dor irá embora.
Não temer o fim é sinal que a vida valeu
Ou que de nada vale?
Alívio total!
Alda M S Santos

Quarto vazio

QUARTO VAZIO

Um quarto vazio a mais na casa

Um espaço “desocupado” na alma

Daqueles desocupados que ocupam muito espaço

E que parecem estar mais cheios que os demais.

Um quarto vazio a mais na casa

Um quarto vazio dentro de mim

Olho para ele, fecho a porta, prefiro não ver.

Dói menos.

Olho novamente, sou atraída,

Abro a porta, entro, sento na cama,

Relembro, sorrio, é bom, saudades…

E choro. Dói também.

Qualquer espaço vazio é muito ocupado

Preenchido por inúmeras lembranças.

Tatuadas na alma da gente

No quarto vazio dentro de nosso coração.

Alda M S Santos

Abandono

ABANDONO

Qualquer abandono é compreensível

Até mesmo aceitável com o tempo,

Pais, filhos, amigos, familiares,

Aqueles nos quais mais confiou na vida.

Apenas um abandono não é aceitável nunca,

Sob pena de morte em vida:

O abandono de si mesmo!

Alda M S Santos

Decepções

DECEPÇÕES

Decepções são como nuvens escuras, carregadas

Passam, deixam uma tempestade de lágrimas

Vão embora, o Sol volta a brilhar

Mas nunca mais sobre as mesmas criaturas!

A tempestade lava a inocência

O Sol vem para secar as má(aguas)

E manter a vida em curso…

Alda M S Santos

E se…

E SE…

E se pudéssemos escolher

Entre o poder e o dever

Entre o ficar e o partir?

E se pudéssemos escolher

Entre o parar e o andar

Entre o chorar e o sorrir?

E se pudéssemos escolher

Entre estar só ou acompanhado

Entre viver ou deixar-se viver,

Ativo ou passivo, autor ou personagem?

E se pudéssemos escolher?

Sempre podemos, mas a cada escolha, uma renúncia

A cada renúncia, uma possível dor…

Alda M S Santos

Labirintos

LABIRINTOS

Não encontrar a saída

Não conseguir voltar ao início

Andar em círculos, avaliar

Revisitar espaços, tontear

Buscar a infância perdida

Ora estar feliz, ora triste

Até esse labirinto se tornar

A única realidade palpável

A morada mais próxima de um lar

Que existe dentro de si mesmo!

Alda M S Santos

Nave-mãe

NAVE-MÃE

Quando tudo que se nota ou percebe

É a sensação de não pertencimento

De não fazer parte dessa nau

De estar além de algumas coisas

Aquém de tantas outras

De não ser compreendida em muitas emoções

Não compreender infindas outras

Não corresponder a tanta “normalidade”

Resta esperar que a qualquer momento

Uma luz se abra em cone sobre si

E perceba na chegada da “nave-mãe”

Que uma abdução se realizará

E tudo ficará, enfim, em seus devidos lugares! 

Alda M S Santos

Tristeza

TRISTEZA

Tristeza vem naqueles momentos 

Nos quais percebemos que a vida pode ser, às vezes, 

Como algumas cacimbas,

Por mais fundo que se dê, 

Não são capazes de produzir água,

Estaremos sempre com sede!

Alda M S Santos 

Sentimentos líquidos

SENTIMENTOS LÍQUIDOS

Diz a sabedoria popular que chorar lava a alma

Essa afirmativa pode ser questionável,

Mas sei que chorar alivia muitas dores

Físicas, emocionais, mentais,

Superficiais ou profundas…

Conter as lágrimas, prender os soluços, segurar o choro

É sufocar as emoções que necessitam de vazão

É represar sentimentos que precisam de manifestação

Lágrimas são sentimentos líquidos

E líquidos sempre encontram uma maneira de extravasar

Abrem caminhos, arrebentam comportas, acham uma saída,

Naturalmente, ou não…

Alda M S Santos

Tudo bem?

TUDO BEM? 

Oi, tudo bem? 

Sim, e você?

Quanto sentimento há escondido nessa resposta? 

Quanto interesse verdadeiro há nessa pergunta? 

Pode-se estar exultante de alegria contagiosa.

Pode-se estar realmente bem, em paz, problemas corriqueiros, mas passageiros.

Pode-se estar triste, olhos rasos de lágrimas, querendo colo e o outro já partiu.

Pode-se estar carregando um mundo de dores atrás do sorriso, e o interlocutor dizer, “você está tão bem”! 

Seria tão bom se quando perguntássemos “tudo bem?”, estivéssemos mesmo dispostos a ouvir.

Seria maravilhoso se pudéssemos ter alguém para nos acolher quando respondêssemos, “tudo bem”. 

Mas melhor mesmo, seria ter alguém que nos olhasse, sem precisar perguntar nada, dizer:

Vem cá, você precisa de um abraço… 

Alda M S Santos

Indo…

INDO…
Indo…

Sem saber para onde, sem saber o porquê

Apenas aquela vontade louca de seguir

Sempre em frente, sem retornos ou marcha à ré

Indo…

Cabelos ao sabor do vento, música que embriaga,

E uma estrada que parece pouca

Para a distância que se quer percorrer

Indo…

Olhos à frente, mãos distraídas, óculos escuros

Que escondem as lágrimas claras que insistem

Em descer e se alojar no peito que sobe e desce…

Indo…

Sem saber o caminho, sem conhecer o destino

Sempre em frente, engolindo quilômetros e soluços,

Construindo a própria estrada, abrindo espaços,

Na certeza que chegará onde deveria estar

Desde sempre…

Indo…

Alda M S Santos

Contaminação

CONTAMINAÇÃO

Que qualquer gota de alegria remanescente

Que um mínimo de boas lembranças e fé

Sejam capazes de nos inundar

E nos afogar numa enxurrada de amor e paz. 

Neutralizando qualquer mágoa ou tristeza, 

Enxugando lágrimas,

Em qualquer tempo, em qualquer lugar

Por qualquer motivo…

Alda M S Santos

Abandonados

ABANDONADOS

Sensação ruim entrar num lugar onde tudo está coberto,

Fechado, seco, inerte.

Até as cores parecem ter se acinzentado.

Como nos filmes de catástrofes da natureza, cenas apocalípticas.

Impressão que nada restou, sequer oxigênio.

Cheira a tristeza, a cinzas.

Se o lugar for conhecido, íntimo, pior se torna.

Lembranças de momentos de vida, de barulho, agitação, alegria.

Certa vez um amigo definiu assim a depressão,

E eu disse a ele:

Qualquer cor combina com cinza,

Vá colocando uma cor de cada vez, sem pressa, e tudo voltará a se colorir novamente.

Um sorriso, por exemplo, é azul como o céu,

Sorri pra ele. E ele sorriu…

Tudo pode melhorar, basta acreditar, investir e aceitar ajuda.

Alda M S Santos

Cansaço

CANSAÇO

Tudo bem que há pessoas e pessoas, modos diferentes de ser, 

Mas, às vezes, cansa…

Ser a pessoa que sempre engata a primeira marcha,

A que gira a chave na fechadura,

Ser a pessoa que abre a porta, escancara as janelas,

A que dispara o saque, que dá o primeiro pontapé,  

Aquela que busca, que vai atrás, que se empenha, dedica,

Ser sempre a primeira a dar o bom dia,

Aquela que lança os sorrisos,

Ser aquela que diz “tudo bem”?

Aquela que propõe passeios ou aconchegos,

Ser aquela que inicia uma conversa, 

A primeira pessoa que estende a mão, que oferece o abraço.

Sensação de que se fechar a boca, para palavras e sorrisos,

Não abrir portas, deixar a vida no ponto morto,

O mundo pararia à sua volta,

Cheira a descaso, a desvalorização…

A primeira a sempre fazer tudo pode se cansar,

E ser a primeira a chutar o balde!

Alda M S Santos

Dores

DORES

Uma sombra escura, uma luz que não clareia,

Um sorriso que não ilumina, uma palavra que nada diz,

Uma fome insaciável, uma sede não identificada,

Um silêncio inoportuno, uma distância forçada,

Uma mágoa contida, um olhar apagado,

Um amor não correspondido, um desejo represado,

Um sonho tão sonhado, não realizado,

Um tempo tão longo, tão improdutivo,

Uma realidade dura, crua, não digerível,

Uma esperança que morre, por fim.

Ausências, ausências, ausências…

Uma energia que se esvai e se esgota,

De onde tudo deveria brotar…

Alda M S Santos

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