MORRI!
Sonhei que eu tinha ido embora
Havia morrido para esse mundo
Andava entre todos e não era notada
Fazia de tudo, me sentia só, desligada
Ouvia tudo que diziam, lamentavam
O que poderiam ter feito, choravam
Outros apenas a notícia espalhavam
“Soube que ela morreu, assim do nada?”
“Virou poesia, está por aí, espalhando magia”
“Sinto tanta saudade, não entendo tanta maldade”
Eu estava em paz, só não entendia
A razão de sentir o que toda a gente sentia
A morte não é ausência de dor – indagava
Queria me sentir presente em algum lugar
Resolver pendências, poder tudo organizar
Abraçar a todos que por mim choravam
Dizer que os amava, que em mim moravam
Parecia estar entre um mundo e outro
Esse daqui seguia dia a dia sem mim
Uns corações doloridos, outros nem aí
E eu só queria poder seguir…
Sentir que não existe, existindo, é meio esquisito
O coração bate sem bater, parece aflito
Entrei numa paróquia onde todos rezavam
Ali me ajoelhei, agradeci, Deus em mim eu sentia
Meu coração batia, a vida ainda existia
Acordei…
Alda M S Santos
NÃO TENHO MEDO!
Não tenho medo da morte
Tenho medo de viver sem norte
Não tenho medo de enfrentar o fim
Mas tenho medo de me perder de mim
Não me amedronta a vida do outro lado
Mas me assusta não a ter aproveitado
Tenho medo de sofrer ou machucar alguém
Mas o medo pode me paralisar também
Tenho medo de uma vida sem propósito
De fazer dessa viagem só um depósito
De coisas e mais coisas conquistadas
Sem perceber as almas abençoadas
Temo um viver sem que e nem pra quê
De não saber realizar o que vim fazer
Não tenho medo de não ser valorizada
Sei que estou por Ele bem assessorada
Alda M S Santos
E SE…
E se a vida nos ditasse melhor o compasso
Que talvez aquele fosse o último abraço
Como seria, teria feito diferença
Saber que não haveria mais aquela presença?
E se fosse a última noite, o último sono
Sem imaginar que o amanhã não teria dono
Um beijo quente, um amor envolvente
Haveria despedida mais eficiente?
Tantas possíveis últimas vezes vivemos
Sem imaginar a que sobrevivemos
Gostaria de me alongar mais nos momentos
Poder me demorar no que traz contentamentos
E se fosse o último sorriso, o último olhar
Quero abraçar forte, descansar nesse lugar
E se fosse por aqui a última, a derradeira luta
Peço a Deus que tenha sido válida tanta labuta
Alda M S Santos
VOU INSISTIR
Vou insistir na vida, não posso desistir
Foi-me dada, não sei se fui eu que pedi
Na dúvida, sei que preciso seguir
Até onde, sei não, ainda irei descobrir
Vou insistir, pode haver luz e escuridão
Mas posso pedir e estender a mão
Quando doer vou chorar, vou desabafar
Vou encontrar um colo para me aconchegar
Vou insistir e, se possível, ao cair vou sorrir
Da situação, do outro, de mim, deixar fluir
Mesmo que pareça que estou só
Se tiver a mim mesma desfaço qualquer nó
Não vou desistir, não quero essa opção
E não basta só sobreviver, quero amor, emoção
E quando tudo parecer que chegou ao fim
Ter a ousadia de dizer que “valeu” para mim
Alda M S Santos
VIVER PODE SER DIFÍCIL
A vida em si carrega tantos desafios
Muitos deles que angustiam e chacoalham nossos brios
Um mexer e remexer com a vida e a morte
Transitando nesse caminho em busca de luz, de sorte
Tantas vezes queremos brecar, botar um freio
Ou nos livrarmos de algumas prisões, anseios, arreios
Quisera que só conseguíssemos ver belezas
Ah, mas não… também há tanta tristeza!
Percebemos que a vida pode ser bem ferina, dolorosa
Mesmo quando se parece delicada e suave como uma rosa
Sentimos tanta falta de poder expressar tudo isso
Desmembrar esses sentimentos que parecem algo maciço
Ver no outro, sentir nele a compreensão
Sabendo que também é outro humano onde bate um coração
Percebemos que por aqui tudo é mais difícil na solidão
Faz falta ter com quem partilhar tanta emoção
Somos seres humanos, carregamos essa condição
Por que é tão difícil, então, equilibrar o coração e a razão?
Será que fica mais fácil se todos nos dermos as mãos?
A vida para se manter pede mais empatia e união…
Alda M S Santos
SÓ QUERIA SABER…
Só queria saber o que é que há
Do outro lado da vida que vamos atravessar
Será que vou me acostumar, me adaptar
Quando meu momento de ir embora chegar?
Queria saber se tem o Sol a brilhar
Ou a beleza de uma noite de luar
Se poderei nas cachoeiras me banhar
Quem sabe ter um alguém para namorar?
Ainda não sei se aceitarei bem
Está certo que diferença não tem
Minha aceitação ou não de nada valerá
Depois da travessia que uma hora chegará
Ah, mas queria saber o que é que há
Será que se eu pedir posso negociar
Uma lista do que não quero deixar faltar
Natureza, leveza, paz, amor quero levar
Monto a minha playlist final assim:
Um jardim florido cheirando a jasmim
Rio, mar, cachoeira, mata para me embrenhar
Pássaros a cantar e pessoas para amar…
Assim posso logo me acostumar…
Alda M S Santos
IMORTAIS?
Qual o peso ou a leveza da imortalidade
Pensar nisso nos traz alguma capacidade
De sermos melhores, sem grandes vaidades
Ou nos debilita, ressalta fragilidades?
Se tudo que existe é o hoje e o agora
Se não nos preocupa o fato de irmos embora
Será que vale investir tudo no que se tem
Sempre em busca do que nos convém?
Se uma marca bonita pudermos desenhar
No coração de alguém poder morar
Uma memória boa, suave lembrança
Há de nos manter fiéis nessa balança
Quero e me imagino ser uma criatura imortal
Cravada por aqui, tatuada em cada sinal
Cada ato meu me alimenta, me eterniza
Seja bom ou mau, se por amor, ameniza
Alda M S Santos
REVELAÇÃO
Um dia iremos acordar
Abrir não só os olhos para o dia
Abrir a alma para realmente despertar
Ser luz, paz, o amor que a todos contagia
Nesse dia tudo irá fazer sentido
Tudo que por aqui foi sofrido
Os percalços, as companhias, a solidão
Os momentos em que ouvimos um não
Quando esse dia de revelação chegar
Ou a gente irá chorar ou muito se alegrar
Pelo tempo que soubemos usar ou desperdiçar
Quiséramos nada ter a lamentar
Poder apenas agradecer, abraçar
E, feliz, ter a certeza que valeu a pena amar
Alda M S Santos
UM DIA NOS VEREMOS DE NOVO
Por aqui, sabemos, é só uma fase da vida
Ela continua noutro plano ou dimensão
Perdemos tanta gente, nossa alma fica sofrida
E dói não poder ver, tocar com a mão
Nascemos aqui, morremos, renascemos acolá
Por que não aprendemos a não sofrer do lado de cá?
A saudade nos consome, o peito aperta
E brota desejo de abraçar, deixarmos a porta aberta
A fé e crença nessa continuidade
Na luz do alto, um ser maior, uma divindade
Nos faz acreditar na nossa capacidade
De nos refazermos e aguardar nova oportunidade
Creio que verei vocês novamente
Amores meus, gente querida, guardada no coração e na mente
Só posso agradecer pelo tempo de convivência
E pedir a Ele muita paciência e resiliência
Ainda verei vocês de novo!
Alda M S Santos
QUAL O TRATO?
Como cheguei até aqui?
Nesse lugar que não sei bem definir
Que ora me faz feliz, me faz sorrir
Ora é um grande equívoco, dói seguir
Que me trouxe até aqui, para quê?
De onde vim, qual foi o trato
Tudo parece ora bem concreto, noutras tão abstrato
Se desistir, há multa por quebra de contrato?
Será que existe um outro lugar, outro “aqui”?
Onde serei acolhida, bem-vinda
Ou serei avaliada, colocada na berlinda
Cumpridora, devedora, quando isso se finda?
Olho em volta para tudo isso aqui
Ora tem tanto por fazer ainda, qual a sentença
Será que sou daqui ou posso sair, pedir licença
Preciso saber para poder fazer a diferença…
Alda M S Santos
SEM SABER O PORQUÊ
Quando o peito aperta sem saber o porquê
Se tudo parece nublado sem razão de ser
A energia fica seca como areia no deserto
E nem se sabe se quer alguém por perto
Que se pode fazer?
Falta uma conexão importante, especial
Desejo de embrenhar no fundo do quintal
Em meio às folhas e galhos pós-vendaval
Ali parece ser acolhedor, nada convencional
Que se pode fazer?
Um vazio que, paradoxalmente, é pesado
Uma angústia que nos deixa à parte, de lado
Questiona-se a razão de tudo isso aqui
E bate um desejo grande de partir
Que se pode fazer?
A vida vai sempre ensinando o caminho
Mostrando por onde seguir, mesmo sozinho
Abrindo trilhas em nossas matas fechadas
Se possível, levando boas almas aliadas
Assim, talvez, se encontre a razão de ser
E, finalmente, se saiba o que fazer…
Alda M S Santos
A PASSEIO?
Não viemos por aqui a passeio
Temos uma missão, tarefas, anseios
Não significa que não possamos nos divertir
Há muitas maneiras de no bem agir
Temos dons, viemos abastecidos
Todos têm finalidade, dão nosso colorido
O tempo deve ser bem aproveitado
Para seguirmos juntos, mais lado a lado
Podemos ser a luz num caminho
A coreografia que une num passinho
A poesia que acolhe com jeitinho
O abraço que expressa muito carinho
O que tenho, o que sou, meu sentir
Vale mais se posso por aí distribuir
Se a vida se acabasse hoje, nesse momento
Teria bom fechamento, sem ressentimento?
Alda M S Santos
NÃO TEM GRAÇA!
Não é só porque ele era famoso
Tampouco por fazer a nação da alegria sorrir
Em momentos de medos, onde tudo é doloroso
Mas por evidenciar que qualquer um pode partir
É por colocar a todos no mesmo patamar
Somos passíveis de sofrimentos, não há como negar
A morte chega e machuca sem avisar
Seus critérios desconhecemos, não dá para adivinhar
Leva quem faz sorrir lá na tela da televisão
Também quem está pertinho do coração
Vidas ceifadas, levadas daqui tão cedo
Somos passageiros por aqui, não há segredo
Paulo Gustavo não era mais importante que ninguém
Era apenas ser humano no topo do coração de alguém
Mas algo nisso mexe com nossa fragilidade
Ninguém está a salvo!
Ele era mestre do humor, fazia sorrir
Hoje faz chorar, não tem graça!
Isso reafirma a única certeza da vida
A qualquer hora podemos ir embora
Urge ser irmão, ser amor, sem demora
E, se pudermos aprender algo com isso
Fazer sorrir é um belo meio
De fazer valer nosso existir por aqui
RIP
Alda M S Santos
COEXISTÊNCIA
Vida e morte, morte e vida
No mesmo espaço, no mesmo cacho
Coexistência…
Fases de um viver, circularidade do existir
Por que tanta resistência em aceitar um partir?
Doloroso, fere fundo
A saudade que fica é paradoxal
Alimenta a ausência, machuca
Mas da vida é prova cabal
Quero a vida que há mesmo na morte
Aquela que nos deixa mais forte
E confiantes num poder maior
Num porvir que justifique esse existir
Saudade…
De tudo que partiu
De tudo que morreu em mim
Para mim
Saudade…
Um dia nos encontraremos
Em qualquer lugar, noutro plano
E, enfim, entenderemos…
Alda M S Santos
PARA ONDE IRÃO ?
Roupas e calçados doados para caridade
Livros lidos e relidos, que estante ocuparão?
Aquelas fotos e CDs antigos, verdadeira raridade
Objetos de apego, perfume especial, animais de estimação
Para onde irão?
Crônicas e textos escritos, poemas e versos
Cartas e cartões, carinhos contidos, afeições declaradas
É a vida em seus direitos e avessos, versos e reversos
Rosas plantadas, flores regadas, ervas arrancadas
Para onde irão?
Versos de amor gravados na alma em doces melodias
Sorrisos e abraços que aqueceram e iluminaram nossos dias
Qualquer tentativa de lidar com a ausência, com a saudade, pura perda de tempo, embromação
Bom mesmo é ficar mesmo depois de ir embora, permanecer pra sempre gerando emoção…
Todo o resto não importa para onde irá, especulação
Se o que importa de verdade estiver tatuado no coração…
Alda M S Santos
JARDIM (DES)HUMANO
Um dia Deus quis encher a Terra de jardins
Num colocou rosas, cravos, violetas e jasmins
Tantas flores lindas, coloridas, perfumadas
Todas elas por beija-flores e abelhas apreciadas
Num outro jardim gigante colocou pessoas, humanos
Pretos, brancos, amarelos e vermelhos
Mas o que aconteceu foi (des)humano
No jardim das flores havia diversidade, harmonia
Quanto mais perfume, maior a magia
Quanto mais cores, mais insetos atraía
Mas no jardim dos humanos havia primazia
Brancos se achavam superiores
Excluíam as demais cores, covardia
Matavam, do poder abusavam, picardia
O jardim humano nem parecia divino
Se quiser aprender algo seja das flores inquilino…
Alda M S Santos.
ERA A VIDA
Caminhava devagar numa praia deserta, sozinha
Chutava as águas, descalça, olhar no horizonte
Vez ou outra se abaixava para pegar uma conchinha
Um vestido leve e fino ao sabor do vento
Mexia também com seu pensamento
Sabia que deveria estar ali, mas não entendia
Simplesmente seguiu um desejo, a magia
Faltava algo para tudo se encaixar
Mas por que nada acontecia?
Seguiu sua suave e intrigante caminhada
Avistou alguém ao longe, ficou arrepiada
Seria a brisa, a expectativa ou uma cilada?
Não tinha medo, seguiu o vulto que lhe acenava
Correu, segurou sua mão e sumiram na mata fechada
Coração aos saltos, sorriram, nada importava
Era a vida que numa nova forma se apresentava…
Alda M S Santos
BORBOLETA VOOU
Uma borboleta, linda, suave
Colorida, leve, encantadora
Passou por duras e incompreensíveis penas
Lagarta, casulo, criou asas
Borboleteou por aqui, incansável
Voou amou, flores tocou
Intensa, semeou vida, polinizou
Viveu sua metamorfose, aceitou
Lutou suas batalhas, recuou, avançou
Pediu trégua, venceu…
Ao Criador sempre agradeceu
Enfim, pousou…
Mas toda borboleta sabe que há fases
Logo estará voando do lado de lá
Borboleta tão bela assim de lá irá tudo aqui enfeitar
Saudades imensas no coração deixou
Mas os lugares que aqui voou, pousou, enfeitou
Nunca deixará de estar…
Seu brilho intenso, perfume delicado de flor
Será para todos que ficaram
A prova irrefutável de um grande amor
Vá com Deus, Borboleta
Outras flores precisam de ti…
Alda M S Santos
A MORTE
Sempre parecerá mórbido falar de morte
Enquanto ela for vista como um fim, uma punição
O desconhecimento do porvir causa apreensão
Quando o legado que se tem não traz satisfação
É preciso saber viver, diz a canção
E isso inclui também saber morrer
Ainda que machuque o coração
É a única certeza nesse mundão
Aprender, crescer, encarar tudo como lição
Captar tudo que ela puder nos ensinar
E aproveitar esse momento para evolução
Aceitar a morte como transição
Deve fazer parte de nosso caminhar
Para uma vida que continua noutro lugar
Alda M S Santos
COEXISTÊNCIA
Vida e morte, morte e vida
No mesmo espaço, no mesmo cacho
Coexistência…
Fases de um viver, circularidade do existir
Por que tanta resistência em aceitar um partir?
Doloroso, fere fundo
A saudade que fica é paradoxal
Alimenta a ausência, machuca
Mas da vida é prova cabal
Quero a vida que há mesmo na morte
Aquela que nos deixa mais forte
E confiantes num poder maior
Num porvir que justifique esse existir
Saudade…
De tudo que partiu
De tudo que morreu em mim
Para mim
Saudade…
Um dia nos encontraremos
Em qualquer lugar, noutro plano
E, enfim, entenderemos…
Alda M S Santos
UM INSTANTE
Por um único instante
Por mais fugaz que fosse
Gostaria de ir do outro lado
Aquele que fica além da vida
Apenas dar uma espiada e voltar
Saber se estou na rota certa
Se não desviei do caminho a que me propus
Se falta muito ainda para o game over
Ou se ainda tenho tempo para mudar de fase
Quanto falta ainda para conquistar ou realizar
Mas, principalmente, se não estou deixando ninguém para trás
Só por um instante!
Seria possível ir até lá?
Buscar mais munição, fazer reservas
Estocar suprimentos , sei lá
É que às vezes dá medo, parecemos jogar no escuro
Só por um instante…
Pode ser?
Alda M S Santos
LEVEZA
Sonhei que estava a caminho do céu
Vestes brancas e leves a flutuar
Na cabeça uma tiara de rosas, um véu
Subia, girava, sorria, ia devagar
Vez ou outra parava no caminho
Sentava numa nuvem para baixo a olhar
Quem foi que deixei sozinho
Isso pesava, não me deixava viajar
Era tão bom poder plainar
Cada vez mais longe, mais alturas alcançar
Tal qual águia na imensidão a voar
Tudo ficava leve, pétalas de rosas a carregar
Mas algo não estava bem
Ainda não posso ir, preciso retornar
Aqui tinha ficado alguém
Mas já conhecia o caminho do céu a atravessar
Me despedi de mim mesma
Minha leveza, minha destreza
Quem sabe não chegaria o dia
Que iria com certeza pra lá
Enquanto não é possível
Quero de novo sonhar
E nas asas de uma borboleta
As alturas de novo chegar…
Alda M S Santos
NADA POR VIVER
Não quero deixar nada por viver
Tanta gente indo embora tão cedo, deixando muito por fazer
Que aumenta em nós a necessidade de nada deixar por viver
Com o cuidado de, com isso, nada no outro fazer morrer
Parece que há tanto ainda por aprender
Tantos lugares a passear, a conhecer
Muito ainda a doar, a ajudar, a nos compadecer
Tanto amor ainda por fazer…
Não quero deixar nada aqui para viver
Quero brincar mais, sorrir mais, sem reclamar quando doer
Porque tudo isso faz parte do viver
Extraí da vida tudo o que ela oferecia, quero poder dizer
Quero em tudo intensidade, interação, paixão
A vida do outro lado haverá afazeres diferentes, outra distração
Daqui levarei lembranças, emoção, satisfação
E, se Deus quiser, nada deixarei
Além de marcas boas de saudade em cada coração…
Não quero deixar nada por viver…
Alda M S Santos
FIM
Do princípio ao fim
Ou do fim ao princípio
Tantas questões dentro de mim
Chego só, volto só
Enfim, qual é o propósito
Disso tudo, Serafim
Será o fim?
Aterrisso sem nada saber
Tenho tanto ainda para aprender
E já começo a voltar
Para casa regressar
Perco a mobilidade, a habilidade
A memória e, por vezes, a consciência
Não é uma incongruência
Disso tudo, Serafim?
Tudo que amealhei por aqui
Não mais me pertencerá
O que me acompanhará é aquilo que ganhei ou perdi
Conquistei ou doei, e que poderei também deixar
Com quem esteve comigo do princípio ao fim
Chego nua, volto vestida de Lua, perfume de jasmim
Várias fases, brilho e luz…
Um ciclo que se fecha em mim e me conduz…
Alda M S Santos
LEGADO
Sempre deixaremos um legado por aqui
Passar por esse local, tempo e espaço
Não nos permite ficar incólumes
Algo sempre ficará de nós para os demais
Temos por obrigação deixar o melhor de nós
Deixar mais do que recebemos
Processar tudo que vier para nós
Do ontem e do hoje e construir algo inovador
Transformar dores e angústias em crescimento
Mágoas e desrespeito em esperança
Amor em mais amor…
Não podemos perpetuar o mal, o negativo
Um mundo melhor se constrói
Não desconsiderando o que de ruim nos aconteceu
Mas usando esse aprendizado para não causar o mesmo mal
Naqueles que amamos ou convivem conosco
Ou também nos demais que partilham esse tempo terreno
Somos responsáveis simplesmente por estar aqui
Quanto mais sabemos, maior nossa responsabilidade!
Alda M S Santos
ABORTO: (IN)COERÊNCIA?
Defendes tanto direitos femininos
Igualdade, equidade, equiparação social, profissional
Direitos e deveres iguais e tal
Como pode ser contra o aborto?
O corpo não é dá mulher, afinal?
Não é “meu corpo, minhas regras?”
Não é muito incoerente?- questionaram-me
Usando argumentos em defesa da vida da mãe
Do futuro da criança que é indesejada
Tudo bem, acontece uma distração ou descuido
Mas deve-se arcar com a responsabilidade do ato
Defendo direitos do ser humano: homens ou mulheres
Nenhum é mais ou melhor que o outro
Simplesmente por ser homem ou mulher
Talvez pelas lutas e conquistas …
E a mulher é historicamente inferiorizada e desrespeitada
Injustamente!
Defendo a preservação da vida, de todos, para todos
E aborto é assassinato, pensado e calculado
Uma vida interrompida precocemente
Sem ter direito qualquer de defesa
E não é a mulher que aborta
Todo aborto inclui, no mínimo, pai e mãe
São ambos responsáveis da mesma forma
“Meu corpo, minhas regras”
Não pode ser superior à vida de um inocente
A partir do momento que a manutenção de direitos próprios
Envolve e fere outra vida
Que não pode responder por si
Esses direitos caem por terra
A vida é prioridade! Sempre!
Devemos defendê-la a qualquer custo
Se ela estiver dentro de nós
Somos mais responsáveis ainda!
Eu tive o direito de nascer, gerei vidas que amo
Não tenho o direito de impedir o nascimento de outro ser
Sou coerente com o amor e a vida que prego
A todos os seres humanos!
Por isso digo NÃO a homens e mulheres que abortam
Legalmente ou não…
Alda M S Santos
QUANTOS DEGRAUS?
Quantos degraus até o céu?
A escada é sinuosa, rolante, escorregadia, antiderrapante?
Quem pode subir, há restrições, limites de entrada?
Podemos levar alguém, sermos levados por alguém?
E se nos cansarmos no caminho, tropeçarmos, cairmos?
Podemos voltar a subir ou perdemos a vez?
Os últimos serão os primeiros?
Quantos degraus até o céu?
A entrada é franca? Paga-se com quê?
Qual a “moeda” de troca?
Muitas perguntas… Sei lá!
Enquanto isso vou fazendo do agora o meu céu
Tal qual crianças a brincar, a pular amarelinha
Continuo subindo até o céu…
Alda M S Santos
LINDA AURA
Linda, sorridente, costureira, bordadeira
Lindaura: LINDA AURA
Sempre mexendo, parecia uma formiguinha
Vaidosa, amava se enfeitar de cores e flores
Música, dança, abraços, carinhos e mimos
Ela nos fazia felizes, nos tornava especiais para si
De tudo participava, sempre animada, ignorava limitações
Que vamos fazer hoje? -perguntava
Já passando mal foi para junto de todos nós neste sábado
Um sábado de colorir, um sábado colorido
Um sábado para se despedir…
Que de repente perdeu as cores
Um olhar muito meigo e profundo
Um olhar que sorria…
E que hoje nos desperta lágrimas de saudade
Abracei, beijei, conversei, fiz carinho
Demos o que sabíamos dar: amor, atenção, tempo
Nos despedimos sem querer, sem saber…
Agora foi enfeitar o céu com seu largo sorriso
E seus laços e tiaras coloridas, seu olhar brilhante
Aqui ficamos tristes, mas com a sensação que fizemos sua vida mais colorida
Vá em paz, Lindaura, com sua linda aura, missão cumprida!
Dê aquele seu lindo sorriso e abraço gostoso para Ele em nosso nome
O tempo que pudemos desfrutar de sua companhia foi maravilhoso
Amamos você!
Sentiremos imensas saudades…
Alda M S Santos
UMA BELA MANHÃ PARA VIVER
Uma bela manhã para viver
Céu, sol, brisa, flores e cores
Ou uma bela manhã para morrer
Também de belezas, encantos e perfume
O que diferencia uma da outra
Será que ela sabe flutuando por ali
Vive tão intensamente, tão pouco
Nesse mundo tão assustador
Lagarta, casulo, escuro
Tem medo?
Borboleta, luz, cores, brilho
Tem medo?
Tudo tem seu devido tempo…
Será?
Uma bela manhã para viver
Ou uma bela manhã para morrer
Quem determina?
Voa suave e para nas mãos dela confiante
Quer responder à questão silenciosa
Leve, linda, desliza delicada por seus dedos
E voa serena em torno dela no jardim
Mas deixa sua resposta
Quer seja uma bela manhã para viver
Ou uma bela manhã para morrer
É a paz que reina em cada alma
Que será capaz de fazer…
Alda M S Santos
COMO DETERMINAR?
Por quanto tempo certas perdas irão doer
Por quanto tempo algumas pessoas farão falta
Como determinar?
Por quanto tempo elas serão lembradas sob lágrimas
Quando a lembrança será apenas saudade boa?
Como determinar?
Depende do tempo que se passou juntos
Da profundidade do que foi vivido, das marcas deixadas?
Como determinar?
Doerá menos se não restaram dívidas a quitar
Se não ficaram mágoas ou algo a perdoar?
Como determinar?
Por quanto tempo quem ficou para trás
Ainda se sentirá sem chão ou perdido
Como determinar?
Há como calcular o tempo de cura?
Em quanto tempo os vazios deixados serão novamente preenchidos?
Tantas pessoas se vão todos os dias
Tantas pessoas ficam para trás
Tantas dores que não sabemos se têm fim
Ou se são apenas anestesiadas, amortizadas
Tantas perdas, tantas mortes
Até quando quem as sofreu
Irá querer voltar no tempo para ter de volta quem se foi,
Para consertar algo?
Como determinar?
A vida é um piscar de olhos
Aproveitemos esse intervalo antes do cerrar definitivo das pálpebras!
Alda M S Santos
Instituto Inhotim -Brumadinho
HAJA LÁGRIMAS!
Nem bem uma lágrima seca
Um soluço passa
A descrença começa a perder força
Vem outra tragédia para irrigar a emoção
Puxa vida! Haja lágrimas!
Deus, tenha piedade de nós
Cuide de nosso Brasil
Não nos deixe perder a fé em dias melhores
Em boas pessoas, na capacidade de lutar
E seguir em frente
Mesmo com tudo balançando todo o tempo
Despencando e querendo nos levar daqui
Será que seria tão ruim ir embora?
Vontade de chorar e chorar…
Alda M S Santos
SONHOS QUEIMADOS
“Quem não sonhou ser um jogador de futebol”?
Uma habilidade, um dom especial, um sonho
Os pés tão hábeis com a bola,
E um coração recheado de esperanças
Num novo lugar, novas pessoas, novos amigos
Juventude, futebol, alegria, Flamengo, sacrifícios
“Posso morrer pelo meu time
Se ele perder, que dor, imenso crime”
Longe da família, investindo num sonho:
Ser um jogador famoso, ganhar dinheiro
Ajudar familiares, ser feliz…
Onde estava o erro disso?
Sonhos queimados tão precocemente
Viraram cinzas as esperanças
Dez adolescentes com vidas interrompidas sob fogo
“Bola na área sem ninguém pra cabecear
Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?”
Canto, de luto, muda, com Skank…
Hoje é triste uma partida de futebol
Tantas dores, tantas tragédias, luto
Parem o mundo que eu quero descer!
Alda M S Santos
Foto G1
#flamengo #skank #ninhodourubu
ANTES DE MORRER
Revendo minha lista de coisas a fazer antes de morrer
Já teve pouquíssimos itens, aumentou muitos
Agora sofre perdas e substituições
Uns são simplesmente apagados por inadequação
Por acreditar que o tempo não será suficiente
Por maturidade, decepção e/ou cansaço
Ou por pura covardia mesmo…
Nesse ínterim, outros itens mais “adequados” são inseridos
Menor exigência, maior fé, mais autoconhecimento
Mais autoproteção, menos ansiedade, mais sabedoria
A cada item alcançado, um novo é acrescentado
Afinal, o tempo ainda não parou
A areia desce na ampulheta invisível da vida
Tento acompanhá-la no meu ritmo
E a lista está ali, pedindo para ser completada
Antes de morrer…
Alda M S Santos
TAMBÉM SOMOS RESPONSÁVEIS
Quando não ouvimos os gritos que imploram por socorro
Também somos responsáveis
Quando não entendemos o olhar que nos implora atenção
Também somos responsáveis
Quando nos calamos diante do silêncio sugestivo e de alerta
Também somos responsáveis
Quando ignoramos um pedido de perdão
Também somos responsáveis
Quando fechamos os olhos para a escuridão que se avizinha
Também somos responsáveis
Quando usufruímos do objeto/produto que possa causar dor ao outro
Também somos responsáveis
Quando não gritamos, não entendemos, não agimos
Quando somos tomados pelo comodismo e pela inércia
Também somos responsáveis
Não importa de onde venha a lama ou a tragédia
Ou de onde os escombros caiam
Se ocorre no trabalho, na igreja, na vizinhança
Em nosso próprio lar ou dentro de nós mesmos
Somos, no mínimo, corresponsáveis
Que cada qual possa assumir sua cota de culpa
E mudar…
Alda M S Santos
CONFIANÇA, INGENUIDADE OU PUREZA?
Tão confiante que se aproxima daquele que o alimenta
Ingênuo o bastante para lamber a mão que se estende
Puro o suficiente para não perceber
Que aquele que o alimenta e cuida
Tem outros interesses que ele desconhece
Ambos apenas buscam suas necessidades básicas de sobrevivência
Uma certa empatia, olhar doce, focinho gelado
A mão que o alimenta, outro dia virá para lhe tirar a vida
Para alimentar outras vidas…
Sou meio covarde!
Até como a carne, mas desde que outro tire a vida
Que não precise encarar esse olhar todos os dias
Que não crie laços de afinidade
Não tenho coragem de tirar a vida!
Como se a carne que viesse do açougue
Não representasse uma vida como aquela
Que me olha terna ali…
É estranho pensar que uma vida precise se perder
Para outra poder permanecer…
Quem determina qual vida é mais valiosa?
Será mesmo necessário?
Humanos precisam mesmo disso?
Por que ao olhar dentro desse olhar
Tudo isso parece tão (des)humano?
Alda M S Santos
FINOU-SE?
Dia de Finados, dia dos mortos, dia dos vivos
Dia de todos nós que aceitamos nossas mortes diárias
Aquilo que em nós finou por inanição, por circularidade existencial, por ciclo vital
Somos feitos de nascimentos e mortes todo o tempo
Aprendendo a lidar com o que em nós definha, morre
O que em nós brota, nasce, cresce, se agiganta
Até mesmo o que em nós se transforma ou se recolhe
Para não tirar a luz daquilo que precisa crescer
Fruto que precisa secar, morrer
Para deixar a semente de um novo existir brotar
E manter oxigenado em nós o que precisa viver…
A “melhor morte” de todas é a que serve de adubo para aquilo que vai nascer
Não morre, se transforma e renasce em algo mais lindo e duradouro
Como o que temos em nós de mais maravilhoso
Capaz de permitir que nele nos eternizemos: O AMOR
Alda M S Santos
QUAL A QUESTÃO?
Não é uma questão de vencer a qualquer custo
É uma questão de saber quais “armas” são válidas
Não é uma questão de ter a quem culpar
É uma questão de assumir as próprias responsabilidades
Não é uma questão de vencer ou perder
É uma questão de ficar bem consigo mesmo numa ou noutra situação
Não é uma questão de quem vive ou quem morre
Por quem se vive ou por quem se morre
É uma questão de vida e morte para todos
É uma questão de porquê se vive e porquê se morre
Mas, principalmente, de como se vive ou como se morre
Pois não há quem vença sempre
Não há tampouco quem viva para sempre…
Em cada vitória trazemos uma derrota acoplada
Em cada derrota há sempre algo de positivo e vitorioso a considerar
É tudo uma questão de ir aprendendo a viver
Enquanto houver vida, amor, esperança e confiança…
Alda M S Santos
QUANDO EU FOR EMBORA
Quando eu for embora
Quem de mim sentirá falta?
Aqueles que caminharam comigo
Que tiveram de mim a companhia diária?
Quando eu for embora
Quem de mim sentirá falta?
Aqueles aos quais dei meu melhor, mesmo falha, mesmo nos erros?
Ficará neles a lembrança do meu sorriso, do meu cuidado, do meu amor?
Quando eu for embora
Quem de mim sentirá falta?
Aqueles para os quais trabalhei, ensinei, me dediquei?
Quando eu for embora
Quem de mim sentirá falta?
Aqueles que buscaram em mim a inspiração e energia para continuar?
Quando eu for embora
Quem de mim sentirá falta?
Aqueles que me amaram…
Mas quem me amou de verdade?
Quando eu for embora
Quem de mim sentirá falta?
Aqueles que de mim precisaram, que usufruíram do que pude proporcionar
Que amaram não a mim exatamente, mas o que lhes possibilitei
Esses encontrarão logo substituto quando eu for embora
Sentirão falta de alguém como eu, não de mim…
Nós somos quem amamos e quem nos amou de verdade
Quando formos embora levaremos grande parte deles conosco
Deixaremos muito de nós com eles…
Quando eu for embora
Quem de mim sentirá falta?
Alda M S Santos
DESCULPE!
Eu lutei, me esforcei, enfrentei o que machucava, sem revoltas
Dei tudo de mim, entreguei o que tinha, pedi, perdi
Desculpe!
Não foi o bastante tudo que fiz
As dores que passei, os medos que vivi, eu tentei, perdi
Desculpe!
Amei vocês acima de tudo, briguei comigo mesma
Quis estar aqui, ser a Mulher Maravilha, perdi
Mas nem todos os laços que cultivei conseguiram me salvar
Desculpe!
Fui feliz, sorri, chorei, sofri, fiz vocês sofrerem
Acreditei que seria possível… perdi
Desculpe!
Por não ter aguentado, não ter conseguido ficar mais
Desculpe!
Por ter partido e deixado vocês para trás
Desculpe!
Mas uma promessa eu cumprirei
Amarei vocês para sempre!
Ainda nos encontraremos um dia e abraçarei vocês de novo
Desculpe! Adeus!
Ela teria dito, se pudesse, antes de partir…
Eu teria dito se fosse ela
E ela se foi…
Guerreira, amante e amada…
Alda M S Santos
PARA ONDE IRÃO?
Roupas e calçados doados para caridade
Livros lidos e relidos, que estante ocuparão?
Aquelas fotos e CDs antigos, verdadeira raridade
Objetos de apego, perfume especial, animais de estimação
Para onde irão?
Crônicas e textos escritos, poemas e versos
Cartas e cartões, carinhos contidos, afeições declaradas
É a vida em seus direitos e avessos, versos e reversos
Rosas plantadas, flores regadas, ervas arrancadas
Para onde irão?
Versos de amor gravados na alma em doces melodias
Sorrisos e abraços que aqueceram e iluminaram nossos dias
Qualquer tentativa de lidar com a ausência, com a saudade, pura perda de tempo, embromação
Bom mesmo é ficar, mesmo depois de ir embora, permanecer pra sempre gerando emoção…
Todo o resto não importa para onde irá, especulação
Se o que importa de verdade estiver tatuado no coração…
Alda M S Santos
VIOLÊNCIA, CARREGANDO….
De pouquinho em pouquinho é que tudo se agiganta
Uma greta aberta na porta permite pequenas entradas da leve e desejada brisa
Que logo se alarga e não controla o vendaval
Uma pequena fagulha num terreno seco
Logo se torna um incêndio de proporções incontroláveis e destruidoras
Um pequeno vazamento de água subterrâneo pode jogar casas inteiras ao chão
Pequenas permissões são aval para grandes intromissões
Uma vez esfregada a garrafa a rolha deixa escapar o gênio
Que pode não querer voltar para lá
Um grito, uma agressão verbal ou um “simples” desrespeito
Na vida pessoal, social, religiosa ou política
Que são aceitos, permitidos ou ignorados
São a fresta na porta, a fagulha do fogo, o vazamento subterrâneo em nossas vidas
O gênio da violência que escapa e não quererá voltar
Todo grande evento começa devagarzinho
De modo a ter impedido ou controlado seu crescimento e evolução…
Alda M S Santos
É MACABRO FALAR DE MORTE?
Muitas são as explicações na tentativa de justificá-la
Uma das poucas certezas da vida: a morte
E ainda assim a desconhecemos e tememos
Atinge a todos, sem exceção
Não escolhe idade, raça, gênero, cultura ou condição socioeconômica
Ainda assim tentamos explicar:
“Estava velho e doente, sofrendo, foi melhor assim”
“Tão jovem, uma vida pela frente, não dá para aceitar”
“Lutou contra o destino, mas não teve jeito, era a hora”
“Esse também desafiou a morte todo o tempo”
“Era um anjinho, nada viveu ainda”
“Uma alma boa, nunca fez mal a ninguém”
Ou a mais ouvida de todas:
“Deus chamou de volta para casa!”
Quem Deus chama de volta?
Qual o critério para voltar para casa?
Deu defeito, venceu o período de garantia?
Precisa de “assistência técnica” especializada?
Deu ou causou perda total e precisa voltar para o fabricante?
E se foi mau uso, tem direito a reparos e retorno às vias?
E aqueles que apresentam reiteradamente o mesmo defeito, destruindo ou arriscando a si e aos outros?
Nessa perspectiva Deus seria o mecânico, o técnico especialista em reparar falhas e danos.
Mas será que Ele não saberia fazer isso com o motor funcionando, com o coração batendo?
Será que quem volta para casa não precisa de injeção de carinho, tratamento intensivo de amor?
E aqueles que não apresentam defeito de fábrica,
Por que voltam para a “oficina”?
Será que Ele não leva alguns tão bons para ajudá-lo lá em cima?
Será que simplesmente não venceram seu “estágio” por aqui?
Será que quem é chamado de volta já não veio com data de retorno?
Qual o critério para escolher o quanto viver e quando morrer?
Olhando por um lado positivo
Quem morre já cumpriu seu papel nessa dimensão,
E volta para a eternidade, para o paraíso tão aclamado!
Não é castigo ou punição a morte, apenas mudança de jornada.
Seriam, então, privilegiados aqueles que vão mais cedo…
Difícil é fazer aqueles que foram deixados para trás
Entender, aceitar e aprender a lidar com a ausência e a saudade…
E, não, falar de morte não é macabro!
Alda M S Santos
CULTIVANDO AMIZADES
Amava a terra, a natureza
Cuidar de sua horta, suas galinhas
Plantando árvores, colhendo frutas
Cultivando amizades, distribuindo simpatia
Sempre original com seu bigode e seu chapéu
Cuidadoso e carinhoso com os cachorros de “todo mundo”
Atencioso com todos, carinho sem igual com filhos e netos
Nosso moço da água, responsável, brincalhão
Pegando grama para ninhos das galinhas, matando cobras
Fazia parte daquele lugar
Descendo a rua a passear com a esposa
Subindo seu terreno ao lado do nosso
E sempre um cachorrinho atrás
Um bate papo atencioso com quem encontrava
Como só pessoas de lugares lindos e simples
E de almas grandiosas são capazes…
Foi chamado para cuidar de outras terras, do outro lado
Antônio dos Santos não será o mesmo lugar sem você
Se puder, apareça por lá vez ou outra…
Vá em paz, amigo Walmir!
Se Deus o levou, que possa amparar quem ficou!
ABRAÇOS CARINHOSOS DA FAMÍLIA SANTOS
Alda M S Santos