CASA BAGUNÇADA
Em nossa casa nos acostumamos com nossas bagunças e desordens
Quase sempre nos encontramos, com alguns tropeços, nas coisas esparramadas
É onde podemos ser nós mesmos, sem necessidade de impressionar ninguém
Onde nos sentimos bem, independente da simplicidade ou confusão
Conhecemos cada teia de aranha, cada móvel fora de lugar
Aqueles desgastados pelo uso ou empoeirados pelo desuso
Os que de nada valem mais, exceto pela lembrança de quem os usou
As toalhas molhadas sobre a cama, o perfume nas roupas no armário
Os chinelos sob os móveis, os pés de meia perdidos
A torneira da pia que pinga sem cessar, a trempe do fogão com defeito
A temperatura oscilante do chuveiro que não impede o banho demorado
O barulho estranho da geladeira como um alerta de sobrevida
Aquela quina onde sempre acertamos os dedos dos pés descalços
A poltrona preferida, o lugar marcado na mesa
O jeito secreto de girar a chave na fechadura que só nós sabemos
O livro lido e relido na rede, a estante cheia, a despensa quase vazia por distração
A cortina que pouco escurece, o vidro da janela manchado pela última chuva
A TV sempre ligada sem ninguém ouvir, o sol que entra pela fresta de tardinha e cria imagens mágicas
O tapete escorregadio, as roupas amarrotadas no varal
A lâmpada que pisca como boate, o cheiro de saudade grudado no travesseiro
O silêncio frio da noite em contraste com nossos barulhos
A manhã que traz esperança, sol e calor sob os lençóis…
Seja como for, essa “casa” é nossa…
Somos responsáveis por ela, cuidamos como podemos
Não queremos ter que “esconder” nada de visitantes
Precisamos ficar à vontade com quem chega
Sem nos sentirmos envergonhados por ser o que somos
Visitas com pretensões de se tornar moradores precisam fazer parte desse caos
E só nos sentiremos bem com alguém que aceite nossas bagunças
Ou, no mínimo, nos ajude a arrumá-las sem descaracterizá-las…
Alda M S Santos
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