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Caixinha de lembranças

CAIXINHA DE LEMBRANÇAS

Aquela caixinha tão bem guardada
De doces lembranças recheada
Parece sempre tão bela e atraente
Convidativa a um mergulho, envolvente

Tirar um tempo para essa revisita
Alguns momentos a gente hesita
Demanda estar preparado, forte coração
Para não criar nenhuma confusão

Há luz, sorriso, alegria e muito amor
Há tempos escuros, frios, sem calor
Em todos aprendizados, grandes lições
Lembranças de vitórias, derrotas, emoções

Para estar em paz com nossas memórias
Ainda que não tenham sido só de glórias 
Necessário é saber ser bom guardião
De tudo que foi vivido, também ser perdão

Bom mesmo mesclar passado e presente
Somos um todo de vida, simplesmente
Para essa viagem ter futuro, bom destino
Urge fazer as pazes com qualquer desatino

Alda M S Santos

Nas gavetas da memória

NAS GAVETAS DA MEMÓRIA

Mexo, remexo, procuro, vasculho
Nas gavetas de minha memória há entulho
Mas com jeitinho, esperança e carinho
Encontro também doçura, cuidado, desalinho

Nas gavetas repletas da minha mente
Há muitos fatos, histórias, muita gente
Mas gosto de revirar as gavetas do coração
Lá encontro a poesia, a boa sensação

Uma lágrima, um sorriso, um jeito especial
É o que está registrado em meio ao temporal
Não preciso ir fundo, ali há emoção, afinal
Nas gavetas bem guardado, o amor é imortal

Arrumo as gavetas, reorganizo espaços
Jogo fora coisas que já não fazem laços
Mas o amor sempre terá seu lugar
Na alma de quem não desiste de sonhar

Alda M S Santos
ENCONTRO PÔR DO SOL
TEMA: NAS GAVETAS DA MEMÓRIA, UM AMOR

Difícil esquecer?

DIFÍCIL ESQUECER?

Que é por aqui mais difícil de esquecer
O que faz chorar, faz sofrer
O que mais faz feliz, faz sorrir
Ou o que declinou, quis partir?

É difícil esquecer as dores
Causadas por (des)afetos, (des)amores
Ou os carinhos, cuidados, sem enfado
De quem sempre esteve ao seu lado?

Se é difícil esquecer a criança que fomos
Também o é a pessoa que nos tornamos
E todos aqueles a quem amamos

Se pudéssemos escolher deixar desvanecer
Apagar da memória, fazer desaparecer
O que gostaríamos de em nós deixar morrer?

Alda M S Santos
Tarde de Poesias: Difícil de esquecer

Chafariz

CHAFARIZ

Nada me remete tanto à infância
Quanto a visão de um chafariz
Numa praça ou numa ruela sem grande relevância
Essa fonte de água cristalina é tudo que se diz
Bela, nostálgica, simples e encantadora
Traz para dentro da gente uma sensação perturbadora
De já ter estado ali antes… seria verdade?
Matava a sede, a vontade
O desejo de qualquer idade
Quando criança caminhar até o chafariz
Com a mãe e irmãos, com quem se quis, pura liberdade
Era um modo de sair de casa no fim de tarde
Tudo era festa, alegria
Lavar o rosto, molhar os calçados
Jogar água uns nos outros
Ouvir os sermões meio embaraçados
E seguir sorrindo,  despreocupados 
Onde ficou essa magia, essa emoção
De ser feliz com tão pouco, doce sensação?
Chafariz me faz crer que minha vida tem raiz…

Alda M S Santos

Quando eu era…

QUANDO EU ERA…

Quando eu era infância, criança
Tempo de sorvetes, doces, lambança
Eu era pura levadeza, sapequice, brincadeira
Subia em árvores, nadava no rio, sem canseira

Quando eu era criança, pureza me definia…

Quando eu era adolescência, juventude
Era ansiedade, sonhos, inquietude
Um mundo inteiro para conquistar
Um coração cheio, pronto para amar

Quando eu era jovem, esperança me movia…

Quando adulteci, a vida falou por si
Família, trabalho, estudo, em mil ocupações me envolvi
Paradoxalmente, quase sem tempo para mim
Foi onde a vida se impôs, deixei assim

Vida adulta, em realização me envolvia…

Na maturidade ainda sou eu
A criança levada ressignificada
Em novas árvores dependurada
A jovem de alma sonhadora, lavada
Quer amor, novas esperanças, quietude,
Ora companhia, ora solidão, ora solitude

Maturidade sou eu, na maior amplitude…

Alda M S Santos

Lembranças futuras

 LEMBRANÇAS FUTURAS
Todos os dias construindo, abrindo caminhos
Plantando uma flor, aparando os espinhos
Tentando espalhar perfume, distribuir carinhos
Procurando ser a brisa que refresca
O vento que leva pra longe os maus fluidos
Ao olhar para trás, se possível, não quero ter arrependimentos
Quero me ver na fé e na oração buscando entendimentos
Quero saber que fui frágil, fui forte
Que não fiquei parada contando com a sorte 
Quero me ver acolhendo o outro, sendo abrigo
Abraçando a vida, sendo ouvido amigo
Chorando ou sorrindo, nunca desistindo
Nas minhas lembranças futuras quero saber que tentei
De todas as formas ser o bem
Que me doei e não me neguei ao amor por medo da dor
Que errei, caí, me arrependi, levantei, segui
Que fui capaz de falhas alheias desculpar
Mas, principalmente, que fui capaz de me perdoar
Que lutei contra o que de negativo carreguei
Procurei melhorar,  evoluir, encontrar um bom lugar
Até o momento de para casa poder voltar
Nesse gigantesco mar mergulhar
Se não for possível, quero voltar para cá e consertar…
Alda M S Santos

Memórias

MEMÓRIAS

Aquela lembrança que não sai da cabeça

Coisas tristes, decepções, angústias, mágoas

Desamores que gostaríamos de apagar

Que no final das contas fazem -nos ser o que somos

Se pensássemos o quanto pode ser triste esquecer

Simplesmente apagar da nossa história, nosso HD

Qualquer coisa que já vivemos

Talvez aceitássemos melhor todos os capítulos de nossa história

O Alzheimer vai apagando aos poucos a memória recente

Aquela que ainda não se firmou o bastante em nossa estrutura

Não se solidificou, não criou raizes ou troncos protetores

E vai voltando gradativamente, até nos apagar por completo

Um livro cujas páginas vão sendo arrancadas

Capítulos e personagens sendo rabiscados

Cenas e cenas sendo borradas

Não, não é bonito demolir assim uma pessoa…

Felizmente nossa história tem pequenas cópias por aí

Ela também estará gravada em cada personagem desse livro

Espalhada por aí em forma de vivências

Que seja mais de amor que de dor…

Onde estão nossas cópias mais fiéis?

Alda M S Santos

Antiguidades

ANTIGUIDADES

Vivemos entre o novo e o antigo

Transitando num mundo nem sempre amigo

Daí tanta saudade, nostalgia

De uma época com menos tecnologia

Onde havia muito mais magia…

Faltavam máquinas e motores

Mas a força vinha de nossos corpos

Nossas mentes também trabalhavam

E os amores, esses sim nos comandavam…

Os amigos estavam por perto, eram reais

Nossas famílias eram grandes, especiais

Cantávamos, brincávamos, dançávamos, era demais

E nas lutas, vitórias e derrotas, éramos mais iguais…

O amor era para sempre

Tudo durava, não se acabava tão facilmente

Nada era tão descartável

Viver era coisa que se fazia naturalmente…

Sentimos saudades!

Alda M S Santos

Um casarão

UM CASARÃO

A sede de uma fazenda

Um casarão antigo, tão nostálgico

Remete a lembranças reais ou imaginárias

Histórias de outros tempos

Assoalhos de madeiras, fotos antigas nas paredes

Móveis de madeira de lei

Pesadas como certas dores

Cheiro de fumaça, de fumo de rolo

As banquetas em torno do fogão a lenha

As pimentas em conserva, os doces nos tachos

Gordura animal nas latas, cães bravos

Uma fresta no assoalho que se vê lá embaixo

Telhados com forros de sisal

Frutas e verduras numa cesta colhidas na horta

Galinhas e patos pelo quintal

Roupas dependuradas no varal

Uma escada de madeira, uma portinhola

A varanda na frente onde se põe a conversa em dia ao entardecer

O pomar carregado de frutas

Algumas fotos de familiares que já foram para o céu

Ou morar na capital…

Ali o moderno e o antigo se misturam

O celular sobre o móvel antigo

Ao lado de uma vitrola que ainda funciona…

Assim a vida parece lenta e longa

Mas porque a gente sente que tudo passou tão rápido?

Nostalgia…

Um casarão carrega toda uma história

Casarões trazem nossas histórias impregnadas

Vivida por nós ou pelos nossos

Histórias que se misturam

Num casarão….

Alda M S Santos

Há quem deixe…

HÁ QUEM DEIXE…

Há quem deixe o brilho do sorriso

Também há quem deixe a sombra escura do olhar

Há quem deixe um jeito especial de ouvir e se calar

Também há quem deixe uma língua afiada ao criticar

Há quem deixe o calor de um ombro acolhedor

Há também quem deixe a dor de modo ensurdecedor

Há quem deixe uma alegria, uma brincadeira

Também há quem deixe uma rabugice, uma implicância, uma bobeira

Há quem deixe um perfume, cores e um jeito sensual de ser

Há também quem deixe a indiferença prevalecer

Há quem deixe belas palavras, carinhos e versos

Também há quem nada diga, apenas deixa a fadiga

Há quem deixe marcas de um amor que se fez

Também há quem deixe medos e inseguranças

Há quem deixe o sonho do amor em seu esplendor

Também há quem fique e dê ao sonho um caráter de realidade, animador

Todos deixam suas marcas nos outros quando se vão

Quais marcas andamos imprimindo por aí?

Alda M S Santos

Que te faz lembrar de mim?

QUE TE FAZ LEMBRAR DE MIM?

“Estava limpando o quintal

E ao ver os vasos de flores

Lembrei-me de você”- ela disse

Que delícia ser lembrada assim…

Maravilhoso seria se vivêssemos sempre desse modo

Deixando nos outros somente doces e belas lembranças

Flores, perfume, sorrisos, poesias e livros

Uma gargalhada, uma brincadeira, uma sapequice qualquer

Imprimindo nos outros marcas eternas

De carinhos, beijos, cuidado, abraços, delicadeza

Se ao se lembrarem da gente um sorriso saudoso vier à mente

Terá sido válida essa passagem por aqui…

Que te faz lembrar de mim?

Alda M S Santos

Pessoas

PESSOAS

Lembrar das pessoas de nossas vidas

E perceber o que cada uma fez ou deixou em nós

Deixa-nos ora saudosos, ora aliviados

É trabalho catártico, terapêutico

Vêm à mente palavras ou ações

Boas ou ruins, algumas já esmaecidas ou quase apagadas

Outras ainda marcantes como digitais

Muitas vezes nos esquecemos do cheiro, da voz, das palavras, do olhar

Mas sempre nos lembraremos

Da sensação que nos causaram

Dos sentimentos despertados

De como nos acordaram para a vida

Ou do modo que nos apagaram ou jogaram para baixo

Focar nos sentimentos bons que ficaram em nossa alma

É um modo inteligente de seguir em frente…

Pessoas são pessoas, errando ou acertando

Ser marcante positivamente

Deixar boas lembranças registradas nos corações dos outros

Deve ser um propósito de vida…

Alda M S Santos

Coretos

CORETOS

Para mim, coretos remetem a interior

Interior de cidades,

Interior da gente…

Qualquer cidadezinha tem ao menos um

Qualquer pessoa já subiu em um!

Todos temos num coreto uma história

Em cada história uma saudade

Sempre são pontos turísticos,

Nas praças das igrejas, nos centros, nos jardins,

Músicas, festivais, passeios de casais de mãos dadas,

Revisitamos e nos esbaldamos nas lembranças

Olhares, paqueras, romance, namoro…

E uma foto no coreto…

Olha o passarinho!

Alda M S Santos

Guanhães MG

Eu te diria

EU TE DIRIA

Olho para você e sinto saudade

Não é que aqui não seja um bom lugar

Apenas sua inocência e expectativa de felicidade

Me fazem nostálgica e levam-me a divagar

Olho para você e sinto arrependimentos

Pela coragem que não tive em alguns momentos

Ou pelos atropelos decorrentes do excesso de ousadia

Que nem sempre me trouxeram sabedoria

Olho para você e sinto orgulho

Apesar de tantas quedas e espinhos

Não nos perdemos uma da outra nos pedregulhos

Você e eu sempre traçamos juntas nossos caminhos

Olho para você e sinto alegria

Mas se pudesse, uma coisa eu te diria

Desculpe por algumas vezes ter te deixado para trás

Se tivesse deixado você agir mais

Tudo estaria mais em paz…

Olho para você, a criança que fui um dia

E sei que poderia muitas coisas te dizer

Mas é desnecessário, você me entende, há sintonia

Estivemos juntas ao nascer, no viver

E assim estaremos até morrer…

Alda M S Santos

Voltar no tempo

VOLTAR NO TEMPO

Deliciosa sensação de voltar no tempo

Renascer noutra década, lá atrás

Refazer caminhos, cantar alto músicas gravadas na memória

Estilo e figurinos de época

Dançar, dançar e dançar

Não por desprezar a década de hoje

Mas por valorizar aquela que fez de nós o que somos

E que fixou morada em nosso coração

Valorizar o passado, inclusive o que não foi tão bom

Fazer as pazes com nossas misérias

É imprescindível para o bem viver no hoje

E para as expectativas que criamos para o amanhã

Somos a soma de um ontem saudoso

Um hoje meio ansioso, ainda que prazeroso

E um futuro desejado e (in)certo…

Isso se chama vida!

Alda M S Santos

The winner takes it all

THE WINNER TAKES IT ALL

“O vencedor leva tudo

E o perdedor fica menor, tem que cair”

Diz, romanticamente, ABBA

E vencedores aqui são aqueles capazes de acionar um botão

Mergulhar na máquina do tempo

E voltar…voltar…

E, jovens novamente, sentir intensamente a mesma emoção

A música, a alegria, o coração acelerado

A louca vontade de amar, de viver, de dançar

Ser e fazer parte desse universo, dessa energia

Rejuvenescer…

”The winner takes it all”

Vencer ou perder?

“E os deuses podem jogar os dados e alguém querido ser perdido aqui”

Tudo uma questão de tempo ou lugar

Destino?

Vencer é voltar sem se perder

É valorizar o antes sem perder o agora

Ora vencendo, ora perdendo

Sempre levando algo…

E hoje vencemos!

Alda M S Santos

Esquecer ou lembrar?

ESQUECER OU LEMBRAR?

Você já se esqueceu?

A vida continuou, não parou

Ao menos não parou para todo mundo

Mas para aqueles que sofreram a perda de alguém

Dor, angústia, lágrimas, revolta, tristeza, medos

Às vezes precisamos esquecer

Para seguir vivendo…

Noutras, exatamente ao contrário,

Precisamos lembrar de quem partiu e vive em nós

Para não nos sentir morrendo…

Uns precisam de 30 dias, meses ou anos para esquecer

Outros se lembrarão e serão lembrados

Mesmo que passe uma vida inteira

Algo sempre estará rompido em quem perdeu alguém

Que representou no mínimo 50% de seu viver

Esquecer ou se lembrar continuamente

São modos similares de ativar novamente a válvula da vida…

Alda M S Santos

All the time…

ALL THE TIME…

É sempre assim, todos que estiveram conosco

Que fizeram parte de nossas vidas

Sempre estarão conosco

All the time…

Não importa de que modo

Se estarão ao nosso lado conversando

Num abraço apertado, aquele sorriso gostoso

Reclamando do atraso, do barulho

Fazendo piadas com as situações difíceis

Nos animando ou encorajando

Entregando um presente, sendo presença

Brincando com as crianças ou quietinho num canto

Falante como sempre ou num silêncio de paz

Sempre haverá pessoas distantes que são próximas

Assim como haverá pessoas próximas que são distantes

All the time…

Quer a gente queira ou não, estarão aqui ao lado

Ou estarão nas boas ou más lembranças

Numa mensagem de texto, numa foto

Naquela saudade que ainda dói ou machuca

Ou talvez já tenha se tornado uma lembrança gostosa de reviver…

Todos nós iremos embora um dia

O que deixamos e o que levamos é o que importa…

Isso acontece todo o tempo

Apenas no Natal se evidencia mais…

Alda M S Santos

Cargas extras

CARGAS EXTRAS

Carrego comigo muitas coisas, bagageiro cheio

Ora leves e bonitas como borboletas no jardim, difíceis de seguir

Ora pesadas e dolorosas como pesadelos quase “subterrâneos”, difíceis de escapar

Carrego comigo muitas coisas

Uma vontade de sempre sorrir, ser e fazer feliz

Também, às vezes, um desejo de me recolher, acalmar e nada fazer, aguardar

Carrego comigo muitas coisas

Um desejo de me banhar nas águas que brotam de fontes inesgotáveis de ânimo e fé

Ou de me deixar ficar nas emoções áridas quando a fonte seca

Carrego comigo muitas coisas

Alegrias e esperança com o realizado e o porvir

Tristeza, mágoa e decepção com investimentos vãos

Carrego comigo muitas coisas

A satisfação e orgulho com bênçãos buscadas e alcançadas

A culpa, desculpa e trauma por erros e falsas expectativas

Carrego comigo muitas coisas

A incansável responsabilidade de buscar a felicidade a todo custo

E a constante necessidade de cuidar da felicidade dos outros, daqueles que me são caros

Entre cargas ora leves, ora pesadas

Embarco nessa viagem com bagagem extra

Procurando não sofrer muito quando alguma precisar ficar para trás…

Alda M S Santos

Delírios

DELÍRIOS

Em poucos minutos, flashs de imagens nos invadem

Dolorosas, sofridas, assustadoras

Amedrontam a alma da gente

Em poucos minutos, flashs de imagens nos invadem

Carinhosas, ternas, quentes, apaixonadas

Encantam a alma da gente

Acendem e apagam, chegam e se vão

Alternam-se desejos e delírios, bons e ruins

Mas deixam um rastro iluminado de esperança no caminho

Fazendo bater mais forte o coração…

Alda M S Santos

Nublado

NUBLADO

Quero um dia inteirinho de chuva

Daqueles cujo céu fique totalmente encoberto

Chuvinha constante, ora fininha, ora mais intensa

Daqueles que nos “autorizem” a ficar o dia todo sob as cobertas

Sem precisar justificar, sem precisar de um porquê

A nostalgia e introspecção comuns desses dias nos liberam para tal

Eles são, por si só, a razão do recolhimento

Sentindo o friozinho úmido lá de fora, as gotas da chuva escorrendo na janela

Cheirinho de terra molhada, flores agradecidas, pessoas correndo

Escondendo-se sob as marquises, dividindo guarda-chuvas

Umas felizes, outras praguejando, esbravejando

Os abraços molhados, os encontros, os reencontros

O amor, a saudade de infância que sempre fica no ar…

Crianças sempre amam, andam nas enxurradas, nada temem

Adoro observar as pessoas em dias assim

O cinza molhado ativa as cores ou ausência delas nas pessoas

Os cães sequer saem das casinhas

O bem-te-vi por certo também está em “casa”

Um pijama macio, uma meia velha, cabelos revoltos, uma xícara de chá

Um livro, um filme ou uma música

Uma história para escrever…

Sei lá…

Dias nublados e chuvosos são dias muito produtivos

Ainda que o produto seja apenas interno e invisível aos olhos de fora…

Alda M S Santos

Memórias em cinza

MEMÓRIAS EM CINZA

Um descuido, uma pequena distração

E uma casa pega fogo, literalmente

E tudo que se tem é consumido pelas chamas

Colchão, cama, móveis, roupas, calçados

Documentos, livros, fotografias, artigos pessoais

Memórias registradas em papel, pendrive, computadores

A cada minuto percebe-se algo que se foi

Levado para sempre, consumido pelo calor do fogo

Tudo é fumaça, fuligem, sujeira, dor, culpa, desespero

Aí percebemos o quanto de valioso possuíamos

E se tornou cinzas…

Passada a fase aguda do susto, do choque

Nota-se que algo valioso sempre fica

Aquilo que não se reconstrói quando se perde: a vida

Mantendo-a, é possível reconquistar o que foi perdido

Amigos verdadeiros e falsos serão revelados

Saberemos quem não nos abandona e podemos contar sempre

Novas memórias serão gravadas, misturadas às antigas

E, mais tarde, tudo estará de pé novamente…

O mesmo não se dá quando o “fogo” da doença ou da maldade destrói a mente, a alma

Quando apaga os circuitos cerebrais que registram em nós o que vivemos

Isso só recuperaremos nas mentes daqueles que conviveram conosco

Que nos amaram, ou não

E que têm de nós boas ou más lembranças registradas…

O amor é a borracha que apaga o mal

Mas também é o lápis que reescreve uma nova história…

Vamos reescrever!

A vida num instante pode se apagar

Ou se acender feito sol no horizonte…

Alda M S Santos

Boa ou doída lembrança?

BOA OU DOÍDA LEMBRANÇA?

Que despertamos na memória das pessoas:

Boa, ruim, doída ou gostosa lembrança?

Uma tia baiana que nos “cedeu” sua cama de casal numa visita

E que vi apenas uma vez, faz aniversário hoje…

Lembrar dela é lembrar dessa delicadeza

Com toda sua simplicidade, deixou marca boa, de cuidado, há mais de 25 anos

Temos em nós diferentes marcas, boas ou ruins

Impressas na alma tal ferro em brasa, tal digital

Que nos fazem gratos, saudosos, tristes ou resignados

Qual será a marca que temos deixado na alma dos outros

Daqueles que passaram por nós e ficaram para trás por variados motivos?

Será que são agradecidos ou inconformados?

Será que se lembrarão das delicadas ações

Das “camas” que cedemos, da amizade, do amor, do sorriso, do carinho

Do pouco que tínhamos ou podíamos, e cedemos, como tia Maria Helena fez

Ou da sovinice, maus tratos, críticas, reprovações, lágrimas?

Deixamos como lembrança algo amargo que querem apagar,

Ou doce, digno de ser lembrado e saboreado?

Qual a marca que deixamos naqueles que conosco conviveram?

Alda M S Santos

Eternidades que fazem de nós sua morada

ETERNIDADES QUE FAZEM DE NÓS SUA MORADA

Uma suave canção de ninar, braços suaves a nos embalar

Um brinquedo inseparável, cheiro de segurança quase palpável

Uma turma de amigos malucos, uma força a mais ao arrombar as portas pesadas do mundo adulto

Um primeiro amor impossível, uma paixão a nos ensinar as primeiras dores do coração

Um olhar, uma sintonia, almas que se encontram, se beijam, se afinam em deliciosa harmonia, parceria para a vida

Um choro, um pequeno ser, uma vida a nós entregue para cuidar e dia a dia nos refazer

Uma amizade, uma mão que se oferece, um olhar de apoio, aceitação que nos envaidece

São marcas, lembranças, memórias, saudades

Infância, adolescência, relacionamentos, maternidade, amizades

Pequenas grandes delícias que se eternizam em nosso ser

E nos fazem estar vivos quando tudo parecer morrer…

Alda M S Santos

Casa bagunçada

CASA BAGUNÇADA

Em nossa casa nos acostumamos com nossas bagunças e desordens

Quase sempre nos encontramos, com alguns tropeços, nas coisas esparramadas

É onde podemos ser nós mesmos, sem necessidade de impressionar ninguém

Onde nos sentimos bem, independente da simplicidade ou confusão

Conhecemos cada teia de aranha, cada móvel fora de lugar

Aqueles desgastados pelo uso ou empoeirados pelo desuso

Os que de nada valem mais, exceto pela lembrança de quem os usou

As toalhas molhadas sobre a cama, o perfume nas roupas no armário

Os chinelos sob os móveis, os pés de meia perdidos

A torneira da pia que pinga sem cessar, a trempe do fogão com defeito

A temperatura oscilante do chuveiro que não impede o banho demorado

O barulho estranho da geladeira como um alerta de sobrevida

Aquela quina onde sempre acertamos os dedos dos pés descalços

A poltrona preferida, o lugar marcado na mesa

O jeito secreto de girar a chave na fechadura que só nós sabemos

O livro lido e relido na rede, a estante cheia, a despensa quase vazia por distração

A cortina que pouco escurece, o vidro da janela manchado pela última chuva

A TV sempre ligada sem ninguém ouvir, o sol que entra pela fresta de tardinha e cria imagens mágicas

O tapete escorregadio, as roupas amarrotadas no varal

A lâmpada que pisca como boate, o cheiro de saudade grudado no travesseiro

O silêncio frio da noite em contraste com nossos barulhos

A manhã que traz esperança, sol e calor sob os lençóis…

Seja como for, essa “casa” é nossa…

Somos responsáveis por ela, cuidamos como podemos

Não queremos ter que “esconder” nada de visitantes

Precisamos ficar à vontade com quem chega

Sem nos sentirmos envergonhados por ser o que somos

Visitas com pretensões de se tornar moradores precisam fazer parte desse caos

E só nos sentiremos bem com alguém que aceite nossas bagunças

Ou, no mínimo, nos ajude a arrumá-las sem descaracterizá-las…

Alda M S Santos

Como não deixar se apagar?

COMO NÃO DEIXAR SE APAGAR?

Como não deixar se apagar em nós a imagem de quem se foi?

Como não nos apagarmos do coração dos outros quando formos embora?

Como conservar na memória a voz doce na tranquilidade ou a ofegante na irritação

A insegurança contida, o medo de nos decepcionar

O desejo constante de agradar, de manter nosso amor

Os ciúmes bobos, os calundus desnecessários

As brigas tolas, o amor nem sempre declarado

Como manter vivo na lembrança o olhar terno de admiração e cuidado, ou o faiscante de frustração

Como não deixar se apagar o sorriso sincero e atraente, a gargalhada gostosa

O andar ora inseguro e trôpego, ora confiante e sensual

Como não deixar ir embora o cheiro bom, o perfume tão único e especial

Como não deixar de sentir o calor de um abraço terno

O conforto de palavras sábias e de apoio, oferecidas ou recebidas

A doçura de um beijo amoroso

O suave peso da cabeça que chorou em nossos ombros

A força a nós ofertada, em diversos momentos, apenas por existir

Como não deixar se apagar em nós

O que foi impresso em cores tão fortes e quentes?

Preocupação desnecessária: o essencial, importante e verdadeiro não se apagam

Foram registrados em nós como marca feita pelo ferrete

Pela brasa incandescente do amor, mas singela como uma flor

Paradoxalmente dolorida e prazerosa…

Isso não se apaga tão facilmente

Nem em quem foi, tampouco em quem ficou…

Amor de qualquer tipo é eterno

Em qualquer dimensão! 🙏😇

Alda M S Santos

Que aroma tem sua história?

QUE AROMA TEM SUA HISTÓRIA?

Comida de fogão a lenha tem cheiro de casa de vó, de infância na roça

Plástico novo tem cheiro de surpresa, de expectativa, de brinquedo no Natal

Fumo de rolo tem cheiro do vovô, com seu lindo sorriso e olhos verdes por detrás da fumaça

Cachaça e rapadura têm cheiro da venda do meu tio, de homens cansados e suados

Velas queimando cheiram à igreja, ritos e celebrações

Terra molhada tem aroma de brincadeiras na rua até tarde

Alfazema tem aroma de sonhos da adolescência, de banho recém-tomado

Hortelã tem aroma e gosto de beijo, de timidez

Almíscar tem aroma de amor, de abraço, de entrega

Cheiros, perfumes, aromas e fragrâncias fazem nossa história

Nada fica tão marcado na memória como o que se assimila pelo olfato

Tudo isso remete a pessoas, lugares, tempos ou situações,

E atinge direto a emoção, boa ou ruim.

Ativa o coração, a alma.

São memórias, são histórias, são saudades,

Que a gente revive, querendo ou não…

Que aroma tem sua história?

Alda M S Santos

Esquecimento

ESQUECIMENTO

Esquecer…

Um alívio que muitos procuram

Apagar o que machuca, deixar para trás

Esquecer…

Necessidade real, do que às vezes parece tão irreal

Cargas pesadas, difíceis, dolorosas, mágoas

Esquecer…

O que deixou de fazer por covardia, o que fez sem querer, os medos

O que fizeram consigo, com ou sem permissão

O que você fez com os outros sem pensar bem

Esquecer…

Para isso, muitos buscam drogas, alucinógenos, leveza para o que pesa

Esquecer…

A verdade é que na tentativa de esquecer, busca-se entorpecimento

Cria-se, muitas vezes, mais lembranças dolorosas a serem esquecidas…

Esquecer…

Sem resolver dentro de si o que machuca

É como suturar uma ferida infeccionada que ainda sangra…

Alda M S Santos

Saudades

SAUDADES

Não sentimos saudades de algo ou alguém

O que nos angustia é a saudade de nós mesmos

Daquilo que éramos, do que sentíamos, da leveza

Do que dávamos conta, do que produzíamos, da energia

Da alegria espontânea, do amor, da proteção

Do encantamento perante a vida

Da sensação agradável e preciosa

Em relação a algo ou alguém que passou, que ficou lá atrás, mas deixou um laço em nós

E vez ou outra volta e nos lembra do que vivemos

Saudades da infância, da terra Natal, dos avós, dos filhos pequenos, dos amigos do colégio, da faculdade, dos amores…

Nostalgia, saudades de nós mesmos em outras épocas

Em outras situações mais amenas, mais ilusórias, mais esperançosas

E que se foram belas e rápidas como águas de uma cachoeira

Saudades…

Alda M S Santos

Queria voltar àquele tempo

QUERIA VOLTAR ÀQUELE TEMPO

Queria voltar àquele tempo

Onde os desejos eram simples e facilmente satisfeitos

Chupar bala puxa-puxa, subir em árvores, andar descalça, brincar na rua, tomar banho de bacia, dividir a cama com o irmão

Tempo de sentimentos puros e perfeitos…

Queria voltar àquele tempo

Onde os amigos eram menos virtuais, mais reais

Estavam do outro lado da cerca de bambu

A apenas um abraço de distância

Tempo de amigos leais…

Queria voltar àquele tempo

Onde os amores eram mais verdadeiros

Confidências, sorvete na pracinha, beijos roubados, “pegas” no portão

Tempo de amores mais parceiros…

Queria voltar àquele tempo

Onde as músicas eram pura poesia

Dançantes ou não, tocavam corpo e alma

Tempo de melodias que refletiam o que a gente sentia…

Queria voltar àquele tempo

Onde até sofrer era uma forma “doce” de viver

Sem precisar recorrer a antidepressivos

Tempo de magia, encanto e prazer…

Queria voltar àquele tempo,

E me sentir plenamente reviver…

Alda M S Santos

Dia da Saudade

DIA DA SAUDADE?

Dia da saudade não existe

Existe motivo da saudade

E esse é apenas viver

Quem vive sente saudades

Deixa saudades,

E isso acontece dia após dia

Até sermos apenas saudade…

Alda M S Santos

Saudade é bichinho intrometido

SAUDADE É BICHINHO INTROMETIDO

Saudade é bichinho meio intrometido

Sempre acha um lugarzinho para entrar

Mesmo que você o afaste firmemente

Ele costuma achar buraquinhos ou brechas

E ali se acomodar…

Se é num livro, ele torna-se personagem

Se for num filme, ele faz parte da cena

Num poema é a rima que falta

Numa canção é a harmonia da melodia

No sorriso é a dor camuflada

Nas lágrimas é o alívio desejado

Saudade é bichinho meio intrometido

Sempre acha um lugarzinho para entrar

E ali se acomodar…

Nas companhias, às vezes é a ausência

Nas ausências faz-se presença

No jardim é o mais suave perfume

No barulho é o silêncio dolorido,

No silêncio é o grito contido,

Saudade é bichinho meio intrometido

Sempre acha um lugarzinho para entrar

E como borboleta, ali se aboletar…

Cansado de tanto se impor,

Esse bichinho de nome saudade

Nas orações torna-se pedido

De ali ficar e morar para sempre…

Alda M S Santos

Caminho da roça

CAMINHO DA ROÇA

Uma estradinha de terra serpenteando por aí

Morro acima, ladeira abaixo, tanto faz

Árvores, flores, pasto, vegetação até onde a vista alcança

Insetos e pássaros cantando ritmicamente

Gado mugindo ao longe, cachorros a nos encontrar a meio caminho, receptivos

Cheiro de mato, de bichos, de flores, de vida

E nós, contando casos, relembrando histórias

Até chegar à fazenda dos tios queridos,

Gente boa até “encostar no barranco”

Onde tudo é encanto e magia…

Mudamos para a capital, pais e dois filhos, há 49 anos

Mas nossas raízes estão fincadas aqui

Esse caminho da roça sempre iremos fazer

Inverno ou verão, sol ou chuva

Até quando formos chamados para outra travessia…

Alda M S Santos

Minha avó

MINHA AVÓ

Pequena, magrinha, miudinha mesmo

Um abraço parece que irá quebrá-la

Minha avó, cabeça branquinha até onde minha memória alcança

Ela tem 95 anos, 6 filhos, 19 netos, 18 bisnetos e uma tataraneta

Olhos fundos, uma vida de força escondida ali!

Geniosa, contadora de casos, vida sofrida, cismada

Sempre trajando saia e blusa de mangas compridas, trabalhadeira

Faça frio ou calor, sol ou chuva

Mora sozinha por opção, sempre na janela a olhar quem passa,

Cuida da horta, das galinhas, da casa

Deita-se junto com o sol e levanta-se com ele

Nunca tira fotos, dificilmente sai de casa

Não usa perfume, tem cheiro gostoso de vó, aroma da minha infância!

Econômica na demonstração de afetos, de emoções

Mas quem a conhece reconhece o brilho no olhar

Quando estão perto quem ela ama

E a opacidade que toma conta quando vão embora

Até a janela da frente se fecha em protesto

Junto com o semblante e o coração

Fala muito na morte para espantar o medo que sente dela, do desconhecido

Bem humorada, diz que tem três coisas: velhice, feiúra e ruindade recolhida

Pra mim tem outras: força, fé, coragem e muito amor contido

Nas minhas lembranças mais antigas de vida, ela está

E ficará para sempre…

Te amo, vó!

Alda M S Santos

Minha terrinha

MINHA TERRINHA

Se um dia eu me perder

Aqui sempre será um bom lugar para juntar pedaços de mim

Olho para minha avó, 95 anos, suas rugas, sua frágil força, seu carinho contido,

Quantas histórias!

Tios, primos, parentes e amigos vários

“Troquei suas fraldas, curei seu umbigo, cuidei muito de você”

“Brincamos muito juntos, tenho saudades”

“Já exploramos uma boa parte disso tudo aqui”

“Você não mudou nada, mesmo sorriso, mesma carinha”

Todos têm algo a lembrar, a contar, a saudar

Cada cantinho, cada casa, cada espaço natural, cada montanha, mina d’água,

Aromas, o jeitinho de ser de cada um

Ver que todos envelhecemos, mas que nossa essência permanece

A despeito, ou até mesmo por causa, dos tropeços e entraves da vida

Dizem que uma parte de nós sempre fica onde se enterra nosso umbigo

E que irá ajudar a nos lembrar quem somos, nossos valores

A não nos esquecermos de nós,

Independente do que o mundo lá fora tenha feito conosco.

Sempre é bom voltar…

Alda M S Santos

Quem é ela?

QUEM É ELA?

Ela olha aqueles carros que se vão rua abaixo e acena

Levam consigo dois seres amados

Há pouco tempo desciam essa rua “quebrados” numa bike

Hoje seguem seu caminho sozinhos e ela fica

Coração apertado, lágrimas nos olhos

Tenta conciliar o orgulho pelos filhos bem criados e encaminhados

E a saudade da época em que estavam consigo todo o tempo

Pertinho, sendo cuidados, amados, protegidos…

É o caminho natural da vida, ela sabe bem

Difícil separar o que é, que sempre foi e está dentro de si

Do que ficou dentro deles e eles levam embora…

Sempre foi tantas mulheres, tantas coisas, que não sabe mais quem é de verdade!

Tenta não se abater, concentrar-se no orgulho de vê-los bem.

Não é mais tão necessária!

Precisa confiar, esperar e aceitar novos tempos

Eles sabem que sempre serão amados, protegidos e cuidados quando precisarem

A vida tem sua maneira de encaixar tudo em seus devidos lugares…

Alda M S Santos

Saudades

SAUDADES…

Saudades…

Sentimento ambíguo, pois só se tem saudade do que é ou foi bom

Mas que dói, maltrata, machuca

Nostalgia, tristeza, desejo do reencontro

Bom mesmo é quando podemos saciá-la

Aí é euforia, prazer, êxtase!

Caso contrário, as lembranças tentam suprir a falta

Saudade vive da expectativa do reencontro

Saudade rima com esperança

Esperança rima com amor!

Alda M S Santos

Apelidos

APELIDOS
Apelidos podem ser marcantes
Quase sempre o são, sejam os carinhosos, pela delicadeza
Sejam os depreciativos, pela crueldade
Tanto faz se colocados pelos pais, amigos ou amores
Inimigos ou desafetos quaisquer
Doçura, princesa, gata, sapeca, anjinha, fadinha
Expedita, encrenca, pequena, “aldaciosa”
Baixinha, pretinha, branca, vida…
Príncipe, gato, amor, rei, anjo, tesouro, preto…
Sempre nos remeterão a alguém ou alguma situação
E nos levarão para lugares revisitados dentro de nós…
Alda M S Santos

Que imagem carrega consigo?

QUE IMAGEM CARREGA CONSIGO?

Qual imagem carrega consigo na tela do celular,

Na carteira, no bolso, na bolsa, na mochila, tatuada na pele,

Entre as páginas de um livro como uma rosa eternizada?

Aquela que ao encarar sorri para você, por você,

Que tira você do eixo, do prumo, do esquadro,

Que fez da sua vida uma bagunça, sinalizou com uma reviravolta

Te ensinou a fazer malabarismos, a viver na corda bamba

Te fez acreditar que tudo pode ser melhor,

Te colocou numa via, tantas vezes, de mão-dupla, perigosa

Outras, mão-única, sem retorno

Que você deixou em casa, no trabalho, na escola,

Ou simplesmente jogada por aí em qualquer lugar?

Aquela imagem que não precisa de celular,

De carteira, bolso, bolsa, mochila ou livro,

Pois essa imagem você carrega gravada na mente,

No coração, na alma…

Qual imagem carrega consigo e é sua fonte vital?

Alda M S Santos

Histórias

HISTÓRIAS

Onde moram as histórias?

Numa praça em uma cidade centenária,

Numa obra de arte, numa música,

Numa fonte luminosa, num rio corrente,

Numa escultura, num livro, num poema,

Numa estrada, num caminho tantas vezes trilhado?

Parece que sim! Mas não!

As histórias moram dentro das pessoas!

Pessoas que as criaram,

Que as escreveram, que as viveram.

Esses espaços, objetos e ambientes,

É que têm o poder de ativar as lembranças, boas ou ruins.

Ao olhar para qualquer um deles,

Algo desperta dentro da gente.

Somos recheados de histórias, de saudades,

De desejo de reviver, de nostalgia…

Nós somos a história!

Alda M S Santos

Nossas casas

NOSSAS CASAS

Casas trazem em si as marcas dos que ali viveram

Uma foto antiga dos patriarcas na parede

Um assoalho surrado, uma porta gasta e encerada pela gordura da pele

Marcos das portas com linhas sinalizando alturas medidas ali

Uma toalha de crochê antiga na mesa

Batentes de janelas escritos a canivete sob o tom cinzento do fumo

Um crucifixo sobre um oratório com Nossa Senhora e uma vela acesa 

Uma Bíblia sempre aberta nos Salmos  

Uma gangorra que já muitos balançou

Numa árvore centenária muito querida

Caixas antigas com fotos e cartas amareladas

Um livro com uma rosa especial desidratada entre as páginas…

Somos uma casa de muitas moradas

Infinitas marcas trazemos em nós

A começar com o rosto sulcado de rugas 

Quantas histórias, quanta vida! 

Valorizemos as marcas deixadas em nossa “casa”.

Alda M S Santos

Camadas de nós

CAMADAS DE NÓS
Peles sobre peles, pelos sobre pelos,
O barro que esconde o brilho do ouro,

Ou do poder da garrafa de Aladim,

Os resíduos que recobrem a pedra não lapidada,

A poeira que se aloja na madeira de lei,

As lembranças que uma casa antiga carrega,

A química escura que gruda na prataria,

Os líquens que vivem nos troncos das árvores,

As camadas de tecidos que recobrem nossa pele

A fuligem que adere a todo ser vivente, ou não.

As camadas de emoções que escondem outras emoções…

São necessárias, são proteção, são autodefesa,

Uma vez retiradas, cuidadosamente, no tempo certo,

Tudo volta a brilhar….

Alda M S Santos

Janela de madeira 

JANELA DE MADEIRA

Na rua, uma casa simples

Na casa simples, uma janela de madeira,

Debruçada na janela de madeira, 

Uma pessoa a olhar a rua,

Onde passam muitas pessoas,

Quase todas queridas e aparentadas,

Que cumprimentam com um aceno, algumas palavras,

Muitas vezes, entram para tomar uma xícara de café recém-coado,

Comer uma bolacha ou uma quitanda.

E a vida transcorre simples, tranquila, feliz…

Até que alguém se vai…

E as saudades passam a apertar o peito de quem se foi, 

E a entristecer os olhos de quem ficou, 

A olhar pela janela de madeira…

Alda M S Santos

Quando a saudade bater 

QUANDO A SAUDADE BATER

Quando a saudade bater, não se deixe abater!

Busque consolo naquela foto bonita e de sorriso feliz.

Quando a saudade bater, 

Busque abrigo nas lembranças de uma boa prosa.

Quando a saudade bater,

Busque acolhimento na memória daquele abraço quente e macio.

Quando a saudade bater, 

Busque aquela refeição saborosa que partilharam

Quando a saudade bater,

Busque ouvir a música que os marcou. 

Quando a saudade bater, faça tudo isso…

Mas quando a saudade bater,

Pra não se abater,

Bom mesmo é ouvir a voz, sentir o cheiro,

Admirar o sorriso, abraçar apertado, tocar as mãos,

Conversar muito, afastar qualquer mal estar, 

Sorrir junto, estar junto…

Há coisas que só a presença 

É capaz de resolver…

Vamos lá?

Alda M S Santos

Se um dia eu me perder

SE UM DIA EU ME PERDER

Se um dia eu me perder 

Procure-me onde haja muito verde, muita mata, ar puro,

Se um dia eu me perder

Procure-me onde as águas sejam límpidas a refletir o céu,

Se um dia eu me perder

Procure-me num roseiral, em meio às borboletas azuis,

Se um dia eu me perder

Procure-me na alegria inocente de um grupo de crianças,

Se um dia eu me perder

Procure-me nos grãos de areia da praia ao pôr do sol,

Se um dia eu me perder,

E ainda assim não me encontrar,

Não busque em mim, olhe dentro de você, 

Se me procuras, é porque me amou,

Se me amou de verdade, eu também te amei,

Certamente uma parte bonita de mim estará gravada em você, 

Uma parte grande de você estará presa em mim, 

E poderá levar-me a me encontrar…em você, em mim,

Comigo, com você! 

Se um dia eu me perder de mim…

Alda M S Santos

A criança que eu fui (sou?)

A CRIANÇA QUE EU FUI (SOU?)

Flashs de um tempo passado

Com cheiro de suor, de pega-pega na rua,

Com sabor de bala Jujuba e som das cantigas de roda,

Curta duração dos dias que pareciam longos,

De amigos para sempre e brincadeiras na enxurrada, 

De joelhos esfolados e brigas “de mal pra sempre”, que duravam 2 horas…

“Caindo no Poço” e nosso bem,

Ao sabor de pera, uva ou maçã,  

Sempre nos tirando de lá…

Sempre…

Namoradinhos de mãos dadas, amigos de pacto de sangue…

De bem com o corpo e livre das armadilhas da mente…

Bom lembrar da infância,

Melhor ainda é ser uma criança de qualquer idade…

Alda M S Santos

Vestida para matar

VESTIDA PARA MATAR
Acordou, levantou-se, tirou trajes de dormir, banhou-se
Lavou pensamentos negativos
Deixou ir pelo ralo o medo e a covardia
Esfregou-se com a bucha da coragem e ânimo
Aqueceu sua pele do desejo de amar e vencer
Vestiu o mais lindo sorriso no rosto
Cobriu o corpo da estampa mais leve
Calçou sandálias macias para acompanhar qualquer passo
Maquiou-se com o amor que trazia no peito
Pendurou no pescoço o amuleto da esperança
Perfumou-se de lembranças doces
Encheu a boca de palavras de encorajamento e fé.
Ao vestir-se para matar, percebeu que queria viver,
Na terra, no ar, em jardins, em qualquer lugar…
E queria trazer vida a todos!
Alda M S Santos

No parque

NO PARQUE
Descem de mãos dadas aos gritos no tobogã
Um tiro ao alvo certeiro, ursinho conquistado, um beijinho recebido
Aquele abraço juntinho na roda-gigante
O frio na barriga no balanço
Gargalhadas no carrossel,
Uma lambida para desgrudar o algodão-doce da bochecha,
Uma pipoca doce roubada e compartilhada,
Tranquilidade na paz do por-do-sol no pedalinho,
Uma foto apertadinhos no lambe-lambe.
A volta pra casa no quadro da bicicleta.
Amor de domingo, amor antigo,
Amor dos sonhos…
Alda M S Santos

Como saber?

COMO SABER?
Vidas que caminharam juntas, em paralelas, se entrelaçaram.
Como saber significados que deixaram uma para a outra?
Como saber a importância que tiveram entre si?
Basta olhar o que ficou em cada uma delas, o que foi deixado no outro.
Vidas que se tocam, se amam, não se entrelaçam, e se vão, sem deixar sua marca.
Fica um jeito de ser do outro, um sorriso, um carinho, um conselho, uma palavra, uma lembrança…
Algo de pessoas que se amaram ficará sempre impregnado uma na outra, como um perfume suave…
Mas o melhor jeito de saber a importância que tiveram,
É a capacidade de se fazerem presentes, sempre, de alguma forma, principalmente nas adversidades,
Guardadinhas no coração…
Alda M S Santos

FOTOGRAFIAS

Uma foto, uma longa história escrita ali!
Sem textos, palavras ou letras quaisquer.
A vida numa imagem, acrescida da imaginação.
Real ou fictícia, sempre emocionante!
Umas falam, outras gritam, outras ainda sussurram.
Todas dizem algo, ativam algo, despertam algo,
Sorrisos, lágrimas, lamentos, saudades, alegrias…
Criam/recriam uma nova história no coração de quem as “lê”.
Eternas…
Inclusive aquelas “reveladas” apenas em nossas mentes.
Alda M S Santos

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