INTIMIDADE
É bom ter intimidade
Faz bem, cria afinidade
Intimidade intelectual ativa o pensar
As ideias, o conversar, fazem-nos avançar
É bom ter intimidade
É gostoso, gera autenticidade
Intimidade física dá liberdade
De tocar, abraçar, beijar, se achegar
Fazer amor, seduzir, o outro conquistar
É bom ter intimidade
É prazeroso, mesmo na simplicidade
Intimidade de alma, coração, emocional
Conosco mesmos, com o outro
Como essa não tem igual
Ela carrega a paz consigo
Confiança, segurança, empatia
Poucos a têm, todos a querem encontrar um dia
Alda M S Santos
SOLIDÃO
Solidão não é ausência do outro ao seu lado
Pessoas vão e vêm todo o tempo
Solidão é não encontrar-se consigo mesmo
Quando mais precisa de si
É buscar-se nas batidas frágeis de seu coração
Na infinitude da grandeza de sua alma
E não se ver, não se achar
Encontrar apenas escombros
Solidão mais doída não é ausência de pessoas
Solidão dolorosa mesmo é ausência de si mesmo
Porque a partir do momento que nos encontramos
Nos enxergamos e nos resgatamos
De nossos próprios escombros
É que passamos a enxergar quem está perto
E não notávamos, sequer percebíamos a presença
Para enxergar e valorizar a presença do outro
É preciso vermos a nós mesmos primeiro
Aí a solidão será escolha
E apenas um momento de paz…
Alda M S Santos
DEPENDE…
Um manhã ensolarada e morosa ou uma tarde longa e chuvosa
Uma noite na roça ao luar ou uma tarde na areia à beira-mar
Um inverno congelante ou um calor sufocante
Diante de uma sofisticada lareira ou em volta de uma simples fogueira
Uma cidadezinha do interior formosa ou uma grande metrópole famosa
Uma cachoeira na floresta ou uma praia deserta
Um sábado numa boate lotada ou um filme debaixo do edredom na madrugada
Um traje de gala sofisticado ou um vestido de flores delicado
Depende…
Tudo vai depender da companhia que se tem
Mais vale a escuridão de um caminho com um alguém
Que a iluminação de outro, na solidão, sem ninguém…
Alda M S Santos
ESTAR PERTO
Quando algo incomodar a quem se ama
Nem sempre é preciso expor, falar, dialogar
Um simples silenciar pode ajudar
Às vezes nada concreto falta
Talvez apenas uma angústia no existir
Uma saudade de não se sabe o quê
Uma mágoa qualquer do viver, do porvir
Uma esperança por um sonho difícil
Pode ser uma preocupação excessiva
A fé que esqueceu de se fortalecer
Algo bom que deixou de acontecer
Ou apenas uma fase de muito cansaço
Dores emocionais, carência pessoal
Para qualquer uma dessas coisas
Basta ficar pertinho, estar ali, bem sentimental
Um toque, uma presença, um carinho especial
É um remédio sem erro, de eficácia total!
Alda M S Santos
SINTONIZANDO
Estar em sintonia perfeita
Ouvir a estação sem interferências, claramente
Curtir aquela música suave
Nem sempre é fácil!
Por vezes a vida se assemelha
A uma estação de rádio mal sintonizada
A comunicação não flui, há chiadeira
Entender a música que toca é tarefa complicada
A mensagem sai truncada, barulhenta, sem nexo
Muitas vezes o silêncio, o toque, o olhar dizem mais
E a gente segue tentando cantar o que gosta
Expressando a vibração que sente nos versos
Dançando em falso no escuro, buscando acertar o passo com o outro, parear
Mexendo e girando para lá e para cá nesse viver complexo
Tentando, ao menos conosco mesmos, sintonizar…
Alda M S Santos
NÃO ESTAMOS SOZINHOS
Somos humanos cercados por outros humanos
Numa casa rodeada por outras casas
Numa cidade fronteiriça de outra cidade
Dentro de uma nação que se avizinha de outras nações
Habitantes do planeta Terra, ao lado de outros planetas e astros
Membros de uma galáxia gigantesca
Não estamos sozinhos!
Mesmo quando não nos sentimos mais que pequeninos grãos de areia
E parecemos estar muito sós, não estamos
Em nossa mais intensa introspecção temos a nós mesmos
E quando encontramos a nós mesmos
Somos capazes de identificar o outro tão perto de nós
E estender a mão, pegar uma mão…
Alda M S Santos
MUITAS MORADAS
“Há muitas moradas na casa de Meu Pai”
Nossos corações são uma casa de muitas moradas
Neles cabem os mais diversos moradores
Em diferentes graus de necessidade e profundidade
Em diversos níveis e capacidade de ensinamento e aprendizado
Nem sempre sabemos ou conseguimos controlar quem chega e quem se vai
Apenas tentamos organizá-los melhor, mais confortavelmente
Distribuindo melhor cada espaço
Evitando que alguns tomem posse de tudo
Estamos aprendendo a lidar com nossos inquilinos e proprietários
Aceitando tranquilamente os donos cativos por usucapião
E enfrentando as dores do eterno entra e sai
Apenas Ele sabe lidar bem com Seus moradores
Há perfeição, sabedoria e amor bastantes
Talvez um dia a gente aprenda melhor a morar e ser boa morada…
Alda M S Santos
AURA MULTICOR
Enquanto a massa é cinzenta,
A aura é multicor, arco-íris, brilhante
Cabe à massa cinzenta fazer o papel tirano, rabugento
A alma, pela aura, faz o papel da alegria, do contentamento
A razão é quase sempre cinzenta e sisuda
A emoção é colorida e, muitas vezes, alegre, absurda
Nosso bem estar necessita da organização do cinza
Mas precisa também do encanto vibrante das cores,
Não podemos abrir mão do tom cinza, neutro,
É ele que possibilita às cores sua existência
É a tela receptiva na qual pintamos nosso mundo
Uma vida mesclada de cinzas, negros, cores, brancos e encantos
Fazer um bonito colorido nem sempre é tão simples
Mas é o que dá prazer ao viver…
Alda M S Santos
TRAPAÇAS
Trapaças no trabalho, na rua, no trânsito, no esporte
Na fila do banco, na escola, nos hospitais
Trapaças na política, na igreja, até nas famílias
A palavra de ordem é levar vantagem
Toma-se o que não lhe pertence
Justifica-se de qualquer modo
Quem foi trapaceado?
Ah, isso é mero detalhe…
Quem se importa?
De tanto trapacear o certo tornou-se relativo
Raizes sólidas não mais existem em nada
O errado evaporou, não mais existe
Sequer nota-se quando alguém é trapaceado
Ou quando se é o autor da falcatrua
Exceto quando sofre a trapaça
Aí tudo muda de figura…
Sentir na pele o mal que alguém sofre
É o melhor meio de entender a dor do outro
E procurar evitá-la…
Alda M S Santos
QUE SEJAMOS PRAIA
Um grão de areia sozinho fica perdido
Levado pelo vento forte ou arrastado pelas águas
Sequer é visto ou notado
A não ser que esteja entre nossos dedos no sapato, incomodando
Ou que o vento o leve para nossos olhos, irritando
Um grão de areia sozinho desconhece seu poder
Sua capacidade de construção, beleza e importância
Um grão de areia para cumprir sua missão, valorizar-se
Precisa se juntar a outros grãos de areia
Um grão de areia não deixa de ser um grão de areia por estar sozinho
Mas só pode ser casa, lar ou praia
Quando se juntar a outros tantos grãos de areia
Aí entenderá seu propósito por aqui
Humanos sozinhos são grãos de areia
Humanos juntos são praia
E muitas praias formam a linda, complexa e controversa humanidade
Capaz de ser, ao mesmo tempo, construtiva ou autodestrutiva
Que possamos ser praia linda, encantadora e acolhedora…
Alda M S Santos
ATÉ A VIDA ANOITECER…
Há quem nos sugue
O vigor, a energia, a força
Há quem nos abasteça
De coragem, esperança e fé
Há quem nos dê, há quem nos tire
Há quem nos leve de nós mesmos
Há quem nos ajude a nos encontrar
Há quem fique, há quem se vá
Mas o que quer que façam conosco
Só o fazem com nosso aval
Assim dizem os sábios mais evoluídos
Que se mantêm intactos dentro de si mesmos
Meros mortais seguem a sugar e a abastecer
A serem sugados e abastecidos
Até a vida anoitecer…
Alda M S Santos
DEGUSTAÇÃO
Numa analogia com um grande restaurante
A vida teria uma quantidade diversa de clientes
Glutões, famintos, anoréxicos, bulímicos
Aqueles que comem de tudo sem critério ou medida
Os que não ingerem quase nada por medo de peso extra
Os que engolem de tudo desenfreadamente e logo vomitam, descartam
Aqueles cujo organismo não dá conta de processar muito bem o alimento
Os que querem apenas variedade, sem qualidade
Os que ficam pegando rebarbas dos pratos alheios
Os que preferem somente a degustação, não pagam o preço do “prato”
Passam fome…
E aqueles sábios e experientes que sabem o que querem
Buscam exatamente o que precisam para se alimentar
Não se encantam mais só pela apresentação ou aroma do prato
Buscam prazer e valor nutritivo num prato que seja seu
Que tenham plantado ou pescado
Querem alimento para o corpo e para a alma
Estão sempre bem alimentados
Sabem que degustação por degustação não traz satisfação…
Alda M S Santos
NEXT!
A vida, muitas vezes, parece com aqueles cadastros online
Onde há lacunas obrigatórias a serem preenchidas
Não adianta ignorar, fingir que não viu
Recusar-se a cumprir a tarefa
Não há como prosseguir!
Sempre aparecerão os erros que impedem “a próxima página”
Ou os resolvemos, ou empacamos ali
São “problemas” cuja solução são a senha para o próximo passo
São erros(!) cujo alerta sinaliza que há algo impedindo a passagem
Que é preciso voltar atrás, corrigir, consertar, preencher
Ou, simplesmente, ficar ali estacionado
Não é vergonha pedir ajuda
Há erros e lacunas que não resolvemos sozinhos
Vergonha é repetir o mesmo erro até ser bloqueado
Next! Em frente! Enfrente!
Alda M S Santos
ISSO É SE ETERNIZAR…
Pode ser que um dia nosso nome esteja gravado por aí
Pode ser que esteja escrito noutros lugares
Além da pedra de nossa lápide
Pode estar gravado nos documentos de filhos e netos
Nas escrituras de imóveis, nos registros de bens diversos
Pode estar gravado em letras garrafais e douradas
Dando nome a uma empresa importante
Ou a uma rua, escola, viaduto ou teatro
Pode estar impresso nos diários da vida de alguém
Na capa de um livro, na porta de uma sala ou consultório
Mas se não estiver gravado feito tatuagem nos corações daqueles que ficaram
Que fizeram parte de nossas vidas
Que amamos, que nos amaram
Marcado como digital firmada dia a dia nas delicadezas
Nenhuma gravação em letras douradas terá valia
E nossa passagem por aqui estará apagada para sempre
Pode ser que eu esteja gravada em vocês
Com as letras suaves da doçura e do amor
E vocês certamente estarão gravados em mim
E seremos eternos a cada vez que a lembrança de nosso nome
De nosso sorriso, abraço ou carinho
Fizer pulsar mais forte um coração
Isso é se eternizar…
Alda M S Santos
GOSTO DE GENTE
Gosto de gente
De barulho de gente silenciosa
De silêncio de gente barulhenta
De ter gente por perto
Ainda que não interaja com elas
Gosto de observar, de aprender com o que vejo
Gente me inspira, me faz refletir, me atrai
Gosto de gente que acerta, que erra
Sobretudo que aprende com os erros, que se desculpa
Gosto de gente malucona, fora dos padrões
Gosto de conversar com gente de verdade
Gente que é real, instável ou insegura
Gente imperfeita como eu, meio fora de órbita
Mas conectada em outras “gentes”
Gosto de imaginar uma história para cada um que vejo
Tenho até vontade de confrontar dados
Ou seja, gosto de gente que não se envergonha de ser gente
Gosto de gente que se comunica com o olhar
Gosto de imaginar o que o olhar diz
Gosto de gente que não passa por cima de gente em hipótese alguma
Gosto de gente que respeita gente, que dá as mãos
Gosto de um pouco de solidão também
De caminhar sozinha à beira-mar ou no meio do mato
E ruminar tudo que vejo e sinto
Assim fica mais fácil lidar com gente que mora dentro da gente
Inclusive as muitas de nós…
Gosto de gente!
Alda M S Santos
QUEM NÃO ENTENDE
Quem não entende um olhar
Tampouco entenderá uma longa explicação,
Diz Mário Quintana.
Um olhar é capaz de dizer praticamente tudo
Para pessoas dotadas de sensibilidade
Ainda que não possam ler tudo escrito naquelas “linhas” do olhar
Que muitas vezes se desvia
Podem sentir, imaginar, calcular, intuir
Particularmente se é um olhar já conhecido
Um coração que dividiu consigo sonhos, esperanças e medos
E, a partir daí, conversar, agir, sorrir, chorar
Brigar, cobrar, orientar, sofrer junto
Estar perto, oferecer o ombro, o colo, a compreensão
Quem no olhar, ou no tom de voz, identifica uma dor
Num “tudo bem” vê um “to sofrendo”
Num silêncio ouve gritos
Nos gritos ouve a alma despedaçada que silencia
Numa meia palavra entende todo o texto
Num sorriso alegre para muitos
Percebe a sombra dolorosa que tira o brilho
É quem sequer precisaria de palavras para ajudar
Apenas abraça, se não for possível, protege na oração
Almas afins…
Alda M S Santos
CHAVE E FECHADURA
Sonho de cem entre cem pessoas:
Encontrar alguém que lhes “complete” em todos os aspectos:
Físico, emocional, espiritual…
O que muitos desconhecem, e sofrem, é que isso não é imediato
Talvez apenas o físico, mas é, sim, uma construção diária.
Trabalho para toda a vida!
Para cada fechadura, o seu segredo
Para cada segredo, a sua chave
A chave e a fechadura podem muitas vezes emperrar
Perder o jeito, o lado certo, o modo de encaixar
Não casar adequadamente
Mas se for limada com jeito e perseverança
O encaixe poderá se dar, sem machucar
As portas da felicidade e da paz serão abertas
Se de todo modo não encaixa, a fechadura não é essa
A chave é outra, pertence a outro.
O amor é a chave universal.
A única que sabe qual porta pode ser aberta.
Infelizmente, alguns a esquecem no chaveiro, perdida entre tantas outras
Ou estragam chaves e fechaduras em impróprias, erradas e vãs tentativas!
Alda M S Santos
UM GRANDE EVENTO
A vida se faz de pequenos grandes eventos
Da nossa habilidade de eternizar momentos
Gravá-los no disco rígido de nossa memória
Tatuá-los na pele delicada de nossa alma
E ativá-los a qualquer tempo
Uma caminhada tranquila num fim de tarde
Uma conversa no banco da praça admirando o por-do-sol
Um mergulho no mar de nossas emoções mornas, quentes, calmas ou agitadas
Um choro de alegria e alívio depois de fortes emoções
Um lanche no carrinho de cachorro-quente
Um piquenique à beira de uma cachoeira gelada
Um abraço de carinho e saudade de alguém amado
Daqueles que te levantam do chão nas pontas dos pés
Um “eu te amo”, tão verdadeiro e desejado
Um beijo quente, de amor, de entrega, de confiança
Uma “taquicardia” de prazer diante de alguém que é importante para nós
Uma bala trocada que adoça a boca do outro
Um jantar na grama sob o céu salpicado de estrelas
Sonhos, desejos e planos antecipando alegrias
Um filme abraçadinhos no tapete comendo pipocas com batom
Um simples sorriso, um cumprimento ou beijo soprado de longe que a tudo contagia
Uma vida repleta de pequenos grandes eventos
Grandes, maravilhosos e eternos eventos…
Alda M S Santos
NÃO VALE A PENA
Não vale a pena vitória sem dignidade
Beleza sem conteúdo, palavras sem verdade, força sem fragilidade
Não vale a pena amor sem reciprocidade
Amizade sem lealdade, paixão sem sensualidade, sorriso sem ingenuidade
Não vale a pena inteligência sem sensibilidade
Alegria sem profundidade, união sem sinceridade, fé sem bondade
Não vale a pena prazer sem intimidade
Lágrimas sem aprendizado, loucura sem afinidade, sonhos sem realidade
Não vale a pena maturidade sem liberdade, viver sem vontade
Amor sem uma dose de insanidade, aceno sem proximidade, vida que não deixa saudade…
Alda M S Santos
O QUE RETÉNS DE MIM EM VOCÊ
O que reténs de mim em você
Passa por dois filtros, mais ou menos poderosos: meu e seu
O que reténs de mim em você
Depende do que eu deixo transparecer do meu modo de ser
E do que você foi capaz de enxergar com sua alma receptiva ou não
O que reténs de mim em você
Depende do que, de acordo com suas capacidades, necessidades e limitações, deixou passar por seu filtro
O que reténs de mim em você
Depende do muito ou pouco que pude ou fui capaz de te dar
O que reténs de mim em você
Depende do que foi capaz de entender, aceitar e absorver
O que retemos dos outros em nós
Depende muito deles, mas depende mais ainda de nós mesmos…
O que retemos dos outros em nós é um terceiro elemento: o que eles são, misturado ao que nós somos.
Alda M S Santos
ENQUANTO ISSO…
Enquanto o rio não corre para cima
Vou descendo nas suas loucas corredeiras
Enquanto não conseguimos tirar leite de pedras
Vou amaciando uns corações mais flexíveis e receptivos
Enquanto vamos brigando por um mundo mais justo e fraterno
Vou estendendo a mão, desviando dos buracos, ajudando, sendo ajudada
Enquanto procuro pela rosa mais cheirosa, bonita e perfeita
Vou cuidando das lindas flores do meu jardim
Enquanto a escuridão da noite cai sobre todos
Busco uma estrela cadente e faço um pedido
Enquanto o amor não vence todos os obstáculos
Percebo que o impossível é especialidade Dele
Enquanto a tempestade assustadora não passa
Observo sua beleza, seu poder de destruição e reconstrução
E escrevo um poema…
Alda M S Santos
CAIU, QUEBROU…E AGORA?
Bela, frágil, delicada
Caiu, quebrou, vários pedaços cortantes
Entornou, molhou, feriu, machucou, sangrou
E agora?
Junta tudo, enrola num jornal, põe para o lixeiro
Cristal quebrado não tem conserto!
Caiu, quebrou…e agora?
Guarda todos os cacos num cantinho como lembrança, revisita, faz um concerto dentro de si
Afinal, teve seus dias de glória, conta uma história especial e bonita
Caiu, quebrou…e agora?
Segue faltando pedaço, adapta-se ao que restou, meio vazio, meio cheio, entornando por aí
Caiu, quebrou…e agora?
Cola cada pedacinho como der, com cuidado para não mais se ferir
E continua a servir o doce vinho, o amargo Campari
Ou a borbulhante champanhe
Celebrando a vida…
Cada “cicatriz” a torna única, original, ímpar
Sinal de queda, mas também de vitória, aprendizado e sobrevivência…
Caiu, quebrou…e agora?
Cole! Seja o cristal ou a vida!
Alda M S Santos
CAÍ NO POÇO
-Caí no poço!
-Quem te tira?
-Meu bem!
-Seu bem é esse? É esse?
-Que você quer dele? Maçã, pera, uva ou salada mista?
E as crianças brincavam na rua, felizes, escolhendo seus “pares”
Ganhando beijos, abraços, apertos de mão
Sem saber que a brincadeira era “preconceituosa e sexista”
Que formava pessoas dependentes, inseguras e frágeis
Hoje, para ser politicamente correto, seria mais ou menos assim:
– “Caí no poço!”
– Tem certeza? Ninguém cai assim! Quem te jogou? Não aceite! Denuncie!
– “Quem te tira?”
– Seu “bem” que nada! Não dependa de ninguém, aprenda a se virar, empodere-se!
– “Seu bem é esse?”
– Nada isso! Você é seu próprio bem! Abra os olhos! Veja bem onde está se metendo! Não se iluda!
– “Que você quer dele?”
– O quê? Ninguém dá nada para ninguém! Devemos conquistar o que queremos e não esperar nada do outro, além de respeito!
Assim, o mundo vai ficando cada dia mais sem graça
Cessam as brincadeiras de rua, com amigos reais, que nos divertiam
Nos faziam crescer, nos ensinavam a lidar com diversidades e adversidades
E nos preparavam para enfrentar um mundo, cada dia mais chato e cruel
E não recebemos nada melhor em troca…
Com pretensões de não ser excludente, de se tornar mais justo e igualitário
O “novo mundo” exclui, e muito, nossa capacidade de lidar com ele
E com aqueles que o habitam, independente de gênero, cor, raça, cultura ou sexo…
-Caí no poço! Quero ajuda! Quem me tira?
E quero salada mista!
Alda M S Santos
UMA BRISA LEVE
Saudade só é boa quando a lembrança não dói mais
Quando traz alegria e não tristeza
Quando fazemos as pazes com quem ou o que foi embora
Quando a partida do outro ou de um tempo bom
Nos irriga de alegria, de gratidão, faz-nos bem por ter existido
Enquanto alimentarmos raiva, tristeza, revolta ou decepção
A saudade será como um desastre ambiental dentro de nós
Daquele tipo que percebemos a chegada
Mas não temos forças para evitar…
Saudade não pode ser uma tempestade destruidora
Saudade deve ser como uma brisa leve e suave
A balançar nossos cabelos, aquecer nossos corações
Arrepiar de prazer nossa pele, iluminar nosso sorriso de amor
Fazer brilhar nos olhos o reflexo de uma alma em paz…
Alda M S Santos
NÃO PRECISA SER…
Não precisa ser tão grande, basta que nos preencha
Não precisa ser tão forte, basta que envergue sem quebrar
Não precisa ser luxuoso, basta que nos faça sentir especial
Não precisa ser rico, basta que seja precioso
Não precisa ser engraçado, basta que nos faça sorrir
Não precisa impedir nossas lágrimas, basta que nos ajude a enxugá-las
Não precisa ter ombros tão musculosos, basta que caiba nossa cabeça
Não precisa ter sorriso de comercial de creme dental, basta que ilumine os olhos ao nos ver
Não precisa ser perfeito, basta que nos dê o melhor de si
Não precisa ser o príncipe do sonho de todas, basta que seja nossa realidade
Não precisa ser só alegria, basta que seja amor mesmo na dor
Não precisa ser amor de novela, basta que seja verdadeiro
Não precisa ser o mais inteligente, basta saber priorizar o que é importante
Não precisa ser o mais romântico, basta ser sensível e carinhoso
Não precisa ser super-herói, basta que nos livre dos monstros e não nos cause medos
Não precisa ser espetacular e louco, basta que seja mágico e leve como borboleta
Não precisa ser infinito, basta que seja eterno e intenso enquanto for amor…
Basta ser você e eu!
Alda M S Santos
PINGOS NOS “IS”
Racionalizar tudo que nos acontece, esclarecer
Colocar todos os pingos nos “is” da nossa história
Começo, meio e fim, se possível com “felizes para sempre”
A conta precisa bater, um mais um precisa ser dois, noves fora
Ler tudo, interpretar, fazer uma releitura dos fatos
Das faltas cometidas, das bolas fora, dos gols
Dos amores, desamores, mágoas causadas e sofridas
Histórias interrompidas antes do fim, pendentes
Mal explicadas, não compreendidas, não aceitas
Essa é nossa tendência: matematizar tudo
Mas nem tudo é débito ou crédito, ônus ou bônus
Podemos estar bem no vermelho, mal no azul
E há belas histórias sem nexo, sem fim, perdidas no tempo
Valorosas, sofridas ou tristes, alegres ou saudosas
Como aquelas em que o livro termina
E a história continua dentro da gente
Criando, inventando, mudando cenários, imaginando, sonhando…
Nem todo ponto final sinaliza um fim
Talvez seja apenas uma nova página, um novo recomeço…
Alda M S Santos
METADES?
Eles caminhavam de mãos dadas na avenida movimentada numa manhã ensolarada e fria.
Andavam devagarzinho entre apressados, agasalhos quentinhos quase tanto quanto a cena.
Cabelos brancos como neve brilhavam sob a luz forte.
Uma bengala numa das mãos dele, uma sombrinha grande fechada na dela.
Corpos meio encurvados somando umas quinze décadas…
Vez ou outra trocavam uma palavra, mas os olhares se comunicavam melhor.
Um bueiro aberto à frente, aquele cuidado de desviá-la do cone sinalizador do perigo.
Quantas vezes desviaram um ao outro do caminho interrompido?
Quantas vezes limparam as feridas das quedas nos bueiros da vida ou frustraram-se por não poderem fazê-lo?
Quantos segredos compartilhados ou guardados para proteção?
Quantos momentos de dor superados, fraturas coladas, perdão oferecidos, lágrimas misturadas?
Quantas marcas trazem nos joelhos, nos corações, nas almas?
São metades complementares, despareadas?
Não, são inteiros afins, falhos, com cicatrizes!
Contudo, dispuseram-se a caminhar juntos, a aceitarem-se e diminuírem essas falhas.
Quem vê conclui: “que lindo, que vida perfeita”.
Não, não são perfeitos e, por isso, ajudam-se em suas imperfeições e crescem.
Perfeitos não precisam do outro, de ninguém, não toleram imperfeições.
Lindo, sim! Não pela perfeição, mas pelo amor que cultivaram, que sobrevive às imperfeições.
Se estão unidos ainda assim, de mãos dadas, como a dizer “te aceito”, é exatamente por saberem-se imperfeitos!
Quantos de nós almejamos tudo isso, seguimos no barco da vida, remando sozinhos sem saber nos expressar?
Um viva às nossas imperfeições, melhorando a cada dia,
Sem desgastadas pretensões de alcançar a perfeição…
Alda M S Santos
REAÇÕES EM CADEIA
Uma lagoa tranquila, águas praticamente paradas
Uma pedrinha que se joga e várias ondas se formam em cadeia
Até o lago voltar novamente ao repouso do início
Muitos movimentos são despertados e se propagam
Todos os nossos movimentos nessa vida provocam “ondas”
Quer sejam ações físicas ou emocionais,
Ondas se formam… nos outros, dentro de nós mesmos…
Mau humor, rispidez, desânimo geram reação em cadeia, causa e efeito
A boa notícia é que um sorriso, uma gargalhada, um abraço
Um beijo, um gesto qualquer de bondade e carinho, de confiança, repercute também em muitas ondas
Somos nós que escolhemos qual lago movimentar
Quais ondas provocar, quais ondas interromper…
Somos responsáveis pela “pedra” que jogamos, pelas ondas que despertamos…
Se somos a causa, respondemos pelos efeitos: bons ou ruins!
Alda M S Santos
ONDE EU POSSA SER MAIS EU
A casa mais receptiva do mundo não é a mais luxuosa ou bem localizada
Mas aquela que me permite sentar no sofá ou no chão
Andar de saltos ou descalça
Descabelada ou bem penteada, com ou sem maquiagem
Sorrir, chorar, cantar ou gargalhar sem receios
Onde eu possa ser mais eu…
As vestes mais cobiçadas e mais lindas que existem
Não são aquelas de marca nobre ou tecidos caros, modelos sensuais
Mas aquele vestido leve, de tecido simples, colorido e rodado que me faça leve e bela
Onde eu me sinta mais eu…
O passeio mais divertido do mundo não é aquele realizado em lugares de luxo
Mas o que nos leva a um lugar simples, natural e belo e haja conexão entre corpo, mente e alma
Onde eu possa ser mais eu…
A companhia mais desejada do universo
Não é a daquela pessoa famosa e importante, forte e bela, rica ou poderosa
Mas aquela que se alegra com minhas singularidades
Que possa sorver minhas lágrimas, despertar meus sorrisos, incentivar meu crescimento
Aquecer meu coração, irrigar minha alma, aceitar-me assim, imperfeita, amar-me e deixar-se amar
Onde eu possa ser mais eu…
Alda M S Santos
SOLIDÃO
Solidão não é ausência de companhia
Solidão é ausência de conexão entre os próprios pensamentos e sentimentos
Ou presença de uma conexão tão ímpar que exclua qualquer outra pessoa além de si mesmo
Solidão não se terceiriza, não é responsabilidade do outro solucioná-la
Solidão só tem solução no interior de nossa alma
Assim, o outro pode entrar e ficar…
Alda M S Santos
ATROFIADOS
Tudo aquilo que não usamos atrofia, enferruja, torna-se obsoleto, perde a utilidade, a validade, o brilho
O mesmo vale para objetos, eletrônicos, máquinas, alimentos, músculos, cérebro, sentimentos, emoções …
Não usar uma máquina, um veículo não os preserva
Não ingerir um alimento não o conserva ou eterniza
Não trabalhar músculos faz com que se atrofiem, percam tônus
A utilização é que faz correr o óleo, o sangue, o oxigênio, o fluido da vida…
Motor em uso mantém a máquina ativa
Sentimentos e emoções são o óleo, o fluido vital que gira o motor da vida
Coração partido tem mais vida que coração intacto, atrofiado por falta de uso…
Alda M S Santos
PREFERÊNCIAS
Há quem olhe para a poeira e feiúra das ruínas
Mas há quem veja nelas a possibilidade de encontrar um baú de tesouros
Há quem se assuste com os barulhos e destruição das tempestades
Mas há os que aguardem ansiosos o arco-íris que a elas se segue
Há quem veja naufrágio, sombra, afogamento e terror nas ondas revoltas do mar
Mas há quem veja sossego e paz em suas águas verdes e espuma branca que lavam e levam embora o indesejado
Há quem veja numa árvore frondosa muitas folhas a sujar o quintal ou a rua
Mas há quem veja galhos para subir, flores e pássaros para admirar, frutos para se alimentar
Há quem se enfeze com os espinhos, pragas e ervas daninhas dos jardins,
Mas há quem se alegre e sinta o perfume, as cores e músicas encantadores
Há quem reclame do cansaço do trabalho ou dos estudos
Mas há quem se fixe no bem que essa dedicação pode trazer
Há quem se põe, rabugento, inerte, a criticar os corajosos, alegres e afoitos
Mas há aqueles que, apesar de joelhos esfolados, cara quebrada, mantêm o sorriso pedalando sua bicicleta
Há quem evite amar, confiar, por medo de ter o coração partido
Mas há os que amam, se arriscam, ganham ou perdem, sorriem, choram, sofrem, têm saudades, vivem…
E há aqueles que percebem-se de coração partido por falta de uso, de vida.
Todos podemos ter medos, nos assustar, nos acovardar, desconfiar, entristecer, fraquejar, reclamar das dificuldades…
Mas o que fazemos com esses sentimentos tão humanos,
É que dá o tom diferencial de nossas vidas….
Alda M S Santos
LADRÕES
Vivemos nos escondendo, de ladrões nos protegendo
Dos mais variados tipos, a nos levar muito além de bens materiais
Nos trancamos em casa, tetra-chaves, senhas, alarmes, cercados de segurança eletrônica
Mas deixamos nosso coração e emoções desprotegidos
Ignoramos as senhas violadas, blindagem rompida, alarmes a soar
“Ladrões” se disfarçam, chegam sem percebermos
Mudam trajes, modos, invadem, arrombam com luva de pelica
Ou usam as chaves que nós mesmos oferecemos
Nem sempre totalmente negativos, oferecem algo que precisamos em troca
Atendem a algumas carências ou necessidades
Mas levam bem mais do que deixam
Um carro, casa ou celular roubado substitui-se
A saúde física, emocional e mental, a paz, a tranquilidade familiar, a vida
Não se recupera tão facilmente…
Cuidar de nossa emoção é valorizar a vida!
Alda M S Santos
PROMESSAS
Promessas…
Quantas ouvimos na vida, quantas fizemos?
Quantas vezes fomos decepcionados, quantas decepcionamos?
Quantas feitas em benefício próprio, para se proteger, ainda que de si mesmo?
Quantas para proteger aos que amamos, sem sequer saberem?
Tantas delas feitas em benefício da vida
E que, ao não cuidarmos, acabamos por reduzi-la a uma meia-vida?
Promessas quase sempre envolvem sacrifícios, força de vontade:
Parar de fumar, de beber, praticar regularmente uma atividade física, cuidar da emoção
Alimentar-se bem, fazer dietas, dormir 8h, obedecer o médico, curtir férias revigorantes,
Manter-se longe de emoções perigosas
Não trabalhar demais, não amar de menos
Ou o contrário, sei lá!
Se fossem coisas fáceis não haveria necessidade de promessas…
Deveríamos poder viver com uma única promessa
Melhor, com um único objetivo,
Ser e fazer feliz, sem depender demais dos outros…
Ainda assim, não estaríamos isentos de decepções!
Alda M S Santos
A ÚLTIMA CARTA
Lembra-se do que escreveu naquela última carta
Sem saber que seria a última?
Lembra-se daquele abraço, daquele sorriso
Sem ter consciência que não haveria outros?
Lembra-se de um simples tchau, um até mais, sem saber que eram um adeus?
Lembra-se das gargalhadas perdidas, brigas tolas
Sem considerar que poderia se arrepender, sentir tanta falta?
Se não houver mais chance
Dizemos o que queríamos ao escrever,
Abraçar, sorrir, brigar, nos despedir, amar?
A marca derradeira foi a que gostaríamos de ter deixado?
A memória pode falhar, o outro faltar, empecilhos mil surgirem
A vida se esvair como fumaça no céu
Quantos “últimos” e saudosos momentos temos vivido?
Haverá tempo de reviver alguma coisa?
Oportunidade para uma última carta?
Bom mesmo seria não esperar pela última carta
Mas sempre “escrever” como se fosse a última…
Alda M S Santos
QUE SOU PRA VOCÊ?
A brisa suave que refresca e acalma, a água que gela
Ou o fogo que aquece, mas a tudo consome
Que sou pra você?
O colo que acolhe, o abraço que acalenta e apascenta
Ou a presença que agita, movimenta, preocupa, enerva
Que sou pra você?
A companhia, a amizade, o amor, a confiança, o cuidado
Ou a ausência dolorosa e saudosa, porém, necessária
Que sou pra você?
Um presente desejado, querido e amado
Ou aquele “objeto” a mais que tens a entulhar seus móveis
Que sou pra você?
A fraqueza, o calcanhar de Aquiles, o ponto nevrálgico
Ou a rocha firme, a raiz, a força onde se apoias nas crises
Que sou pra você?
Um passado saudoso, um presente tolerável e um futuro incerto
Ou apenas aquilo sem o qual você não se imagina viver
Que sou pra você?
Posso ser um pouco de tudo isso
Em momentos diferentes…
Assim como você pode ser tudo isso para mim também
Como somos quase todos uns para os outros
Somos humanos, falhos, aprendizes,
E co-dependentes do amor, da doação, dos erros para crescer…
Alda M S Santos
E A VIDA ACONTECE…
Uns deixam ir tão facilmente quanto deixaram chegar
Esquecem na mesma medida em que foram capazes de lembrar
Sofrem por pouco tempo, descartam tudo que venha para doer
Vivem na mesma proporção em que deixam viver
Preferem cultivar o momento à nostalgia de uma saudade
Muitas vezes têm seu jeito displicente confundido com maldade
Pode ser apenas uma maneira de se cuidar, de se autoproteger
Lições que com a vida e seus tropeços aprendeu aos poucos conviver
Outros, têm dificuldade de abrir mão, deixar ir, são intensos
Também incompreendidos, apontados como moles, são densos
Sofrem mais de saudades, de tristezas, de ausências
Que não se aliviam com razão, consolo, alertas, avisos ou advertências
E a vida se constrói no silêncio de cada coração …
Alda M S Santos
CONDICIONAMENTO
Nossa vida é feita de muitos condicionamentos
Somos “treinados” todo o tempo: corpo e mente
Disciplina, rotina, ordem, para tornar a vida mais “fácil”, mais segura
Temos horário para tudo: dormir, acordar, alimentar, trabalhar…
O corpo fica condicionado e “pede” sono, alimento, descanso, atividade, repouso
Nossa mente é um pouco mais complicada para treinar
Pudéssemos manter apenas bons pensamentos ou lembranças
Barrar entrada de pessimismo, tristeza e medos
Conservar bons sentimentos, apagar os ruins, afastar o que machuca…
Nossa mata interna fica, por vezes, escura, fria, sem vida
Abrir frestas para entrada do sol é importante, criar trilhas de fuga
A mente mantém ativo aquilo que não está resolvido
Enquanto não for trabalhado e solucionado
Inútil tentar condicionar!
Alda M S Santos
O AMOR NA AUSÊNCIA
O amor é sentimento tão ímpar
Que é sempre identificado
Ainda que na sua ausência.
Onde ele encontra morada
Tudo é luz, brilho, resplandecer
Cor, forma, contágio, alegria
Visível até aos mais incrédulos
Onde ele não é percebido
Notamos as pegadas de sua ausência:
Secura, tons acinzentados, amargor
Opacidade, escuridão, tristeza
Lágrimas, espaços vazios, vácuos
Mas ele está lá, em forma de semente
Pronta para germinar à primeira gota d’água
Ao calor do primeiro raio de sol
Ao cuidado de um mínimo gesto de reciprocidade
Vira broto, desenvolve raiz, cresce
Torna-se flor, árvore frondosa
Sem precisar fazer sombra ou derrubar outras “árvores”…
Alda M S Santos
QUANTO VALE UMA VIDA?
Uma pergunta difícil : quanto vale uma vida?
Uma vida vale tudo, mas não há nada que pague.
Também não vale nada, visto que não há valor material que possa sustentá-la
E tantas vezes parece estar presa a um único fio…e perdura
E outras, parece forte… e se perde
Vale o tamanho do nosso amor, da dor que fica
Da ausência deixada, da lacuna não preenchida
Como amor não tem medida, a vida também não tem…
Qualquer vida que se perde
Que permitimos que se vá
Que não conseguimos impedir a partida
É uma perda irreparável,
Independente de quem foi
Sexo, idade, classe social, instrução, religião, profissão…
É sempre um projeto de Deus interrompido…
E uma vida nunca pode substituir a outra
Cada vida é única e especial
Algumas são mais preciosas para a gente que outras
São aquelas que Deus nos entregou nas mãos e disse
“Cuida, confio em você”!
São aquelas pelas quais seremos cobrados
São aquelas que trazem tudo de bom que temos
Que fazem a nossa própria vida ser preciosa
Que nos alimentam de sorrisos e lágrimas
Que nos fazem acender, manter e fazer valer nossa porção divina…
Alda M S Santos
CAMINHOS BUSCADOS
A certeza de trilhar o caminho certo
Torna a travessia mais leve, prazerosa
A brisa suave torna-se carinho
Barulhos diversos tornam-se música
Tons acinzentados ganham cor
Sol forte é animador, chuva é refrescante
Companhias são bênçãos
Pedras são apenas obstáculos a nos fazer mais fortes
Ao contrário, no caminho errado tudo torna-se difícil
Mesmo que pareça brilhante e cheio de luz
Nos cega, é cinzento, doloroso, amargurante
Cedo ou tarde, sai caro, a conta chega, e alta…
E mais que saber desviar das pedras,
É fundamental não se tornar uma pedra
A emperrar o próprio caminho ou o caminho dos outros
Muitas vezes é difícil saber qual o trajeto certo
Ele não faz propaganda, não se impõe como o melhor
Muitas vezes exige sacrifícios, pode doer
Mas traz prazeres inigualáveis…
Precisamos buscá-lo dentro de nossa consciência…
Alda M S Santos
ATÉ O INFINITO
Encontra-se em embalagens biodegradáveis
Grandes ou pequenas, de qualquer cor ou idade
Gênero, raça, etnia, religião, cultura ou instrução
Resistente às lágrimas, frágil perante sorrisos
Desmancha-se diante da sinceridade
Encoraja-se frente às boas ações
Admira-se ao topar com gentilezas
Encanta-se com a beleza exterior
Deslumbra-se com a riqueza interior
Opta pela simplicidade e generosidade
Ganha forças num abraço, derrete-se num beijo
Confia e protege o outro, mesmo que em detrimento de si
Doa-se inteiramente por e com prazer
Aumenta com o tempo e, se real e verdadeiro
Dura até o infinito… O que é?
Quem sente, identifica-se, não precisa de resposta!
Alda M S Santos
O QUE SOBRA DE MIM?
O quanto há dos outros em mim
E o quanto há de mim nos outros?
Quando alguém amado ou bem próximo morre ou se afasta
Sabemos que ali com eles foi uma boa parte de nós…
Morremos um pouco na morte ou afastamento de entes queridos: familiares, amigos, mentores
E porque não dizer também dos desafetos?
O que sobra de mim,
Sem a parte de mim que os outros carregam?
O quanto de mim é, na verdade, baseado no que sou para os outros,
No que eles são para mim?
Minha história seria a mesma
Se fossem retiradas pessoas que a ajudaram a compor?
Nossas vidas são entrelaçadas a outras vidas
Se um fio é retirado, todo o novelo se modifica!
O fio original já não sabemos mais qual é
Está emaranhado no todo.
Seria como retirar o ovo de um bolo pronto.
O que é ovo, leite, farinha, e o que é bolo?
Alguns fios são como o fio base que sustenta toda a estrutura do novelo
Somos fios estruturais na vida de algumas pessoas
E a recíproca também é verdadeira
Cada qual tem o seu: pais, filhos, amores, amigos…
Daí o tanto que balançamos com as perdas da vida…
Morremos um pouco ao morrer cada ser que amamos
O que sobraria de mim sem você?
O que sobraria de você sem mim?
Um novelo, que falta fios, talvez sem cor, frágil
Mas, ainda assim, um novelo…
Alda M S Santos
UM AMOR E UMA CABANA?
Com amor basta uma cabana!
Uma cabana torna-se palacete
Quando há nos olhos o filtro dos bons sentimentos
No teto há estrelas, no chão há “pedrinhas de brilhantes”
Um palacete torna-se uma prisão de ouro
Se nos corações não há alegria
Se a alma não reflete o amor
Há cabanas e cabanas, palacetes e palacetes
Mas, cabanas e palacetes à parte
O que torna verdadeiramente valioso um lugar
São as companhias que carregamos conosco
Aquelas que fazem parte de nós,
Que “são” verdadeiramente da gente, que gostam de ser da gente
E trazemos conosco e nos levam com elas
Na mente, na alma, no coração…
Alda M S Santos
EMPARELHAR
Andar lado a lado, sintonizar
Emparelhar com alguém
Tarefa tão difícil quanto desejada
Encaixar, harmonizar,
Buscar pontos comuns é tão importante
Quanto valorizar o que é diferente
Preto ou branco, grande ou pequeno
Audaz ou receoso, falante ou introvertido
Carinhoso ou contido, animado ou quieto
Aceitar e respeitar o diferente é ser humano
Nas diferenças há também harmonia
Se o coração sintonizar no amor…
Alda M S Santos
QUE EU ME IMPORTE…
Que eu me importe com o outro
O bastante para ajudá-lo nas tristezas, nas dores, nas necessidades mais prementes
Sem sufocá-lo ou parecer superior…
Que eu me importe com o outro
O bastante para me alegrar com suas alegrias
Sem invejar ou me enciumar, se possível,
Ainda que a felicidade dele não mais me inclua…
Que eu me importe com o outro
O bastante para valorizar bons momentos, guardar no coração, respeitar
Aquilo que hoje já não é mais como antes…
Que eu me importe com o outro
O bastante para dar a ele aquilo que não consigo dar nem pra mim mesma
Pois é algo que a gente só encontra fora de nós…
Que eu possa ser assim para o outro: verdadeira, inteira, amorosa
E que ele também possa ser desse grau e magnitude para mim,
Pois para isso fomos feitos: nos fazer bem…
Que nos importemos o bastante!
Alda M S Santos
MAIS AMOR, POR FAVOR!
Entre tantas as falhas humanas
Entremeados das contradições a que nos submetemos todos
A pior de todas elas seria julgar o comportamento, o “erro”alheio,
Sentados no trono dos santos, encastelados na torre dos puros a julgar os mortais pecadores.
Enquanto isso, sabemos bem citar as escrituras quando nos convém:
“Aquele que for livre de pecados que atire a primeira pedra”.
Justificamos, assim, nossa companhia no erro, no pecado!
Porém, muitas vezes nos esquecemos do complemento
“Ninguém te condenou? Vá e não peques mais”.
Somos humanos, por essência falhos, contraditórios,
Mas também, por essência, dotados de inteligência para não repetir um erro.
Julgar o outro, carregar pedras nas mãos, não nos faz menos pecadores,
Apenas um pecador ocupado com a vida alheia!
O que nos faz menos pecadores é ser mais humanos e menos “deuses”!
Mais amor, por favor!
E pra quem gosta das escrituras
Eu prefiro essa: “Ame a Deus sobre todas as coisas e a teu próximo como a ti mesmo”!
Alda M S Santos
QUEM SOFRE MAIS?
Eu era ouvinte involuntária de um debate
Quem sofre mais:
Aquele que, sabendo-se culpado, paga sua pena
Ou o que paga uma pena sendo inocente?
Em defesa do inocente: nada é pior que sofrer por algo que não fez!
Em defesa do culpado: nada é pior que o peso da própria consciência acusadora!
O primeiro sente-se injustiçado, mas a alma está leve
O segundo tem o de fora e o de dentro a martirizá-lo
Que pesa mais, a injustiça ou a consciência?
Quem sofre mais?
E o debate seguia…
Alda M S Santos