CAÍ NO POÇO

-Caí no poço!

-Quem te tira?

-Meu bem!

-Seu bem é esse? É esse?

-Que você quer dele? Maçã, pera, uva ou salada mista?

E as crianças brincavam na rua, felizes, escolhendo seus “pares”

Ganhando beijos, abraços, apertos de mão

Sem saber que a brincadeira era “preconceituosa e sexista”

Que formava pessoas dependentes, inseguras e frágeis

Hoje, para ser politicamente correto, seria mais ou menos assim:

– “Caí no poço!”

– Tem certeza? Ninguém cai assim! Quem te jogou? Não aceite! Denuncie!

– “Quem te tira?”

– Seu “bem” que nada! Não dependa de ninguém, aprenda a se virar, empodere-se!

– “Seu bem é esse?”

– Nada isso! Você é seu próprio bem! Abra os olhos! Veja bem onde está se metendo! Não se iluda!

– “Que você quer dele?”

– O quê? Ninguém dá nada para ninguém! Devemos conquistar o que queremos e não esperar nada do outro, além de respeito!

Assim, o mundo vai ficando cada dia mais sem graça

Cessam as brincadeiras de rua, com amigos reais, que nos divertiam

Nos faziam crescer, nos ensinavam a lidar com diversidades e adversidades

E nos preparavam para enfrentar um mundo, cada dia mais chato e cruel

E não recebemos nada melhor em troca…

Com pretensões de não ser excludente, de se tornar mais justo e igualitário

O “novo mundo” exclui, e muito, nossa capacidade de lidar com ele

E com aqueles que o habitam, independente de gênero, cor, raça, cultura ou sexo…

-Caí no poço! Quero ajuda! Quem me tira?

E quero salada mista!

Alda M S Santos