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poemas e reflexões da vida cotidiana

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emoções

Choro

CHORO
Choro por aquilo que me magoa, fere
Por aquilo que me aperta o coração
Choro por medos diversos, por ansiedade
Por coisas que fogem ao meu controle
Choro por necessidades e desejos não alcançados
Por extrema sensibilidade e fragilidade
Choro pelas dores e misérias alheias
Nas quais nada posso fazer
Choro por erros cometidos, arrependimentos
Pela mágoa causada aos que me cercam, sofrimentos
Choro por um mundo tão sofrido
Que não encontra uma saída, perdido
Choro por saudade, lembranças, nostalgia
De tempo que passou e não volta mais
Choro por emoções diversas, até mesmo por alegria
Por esperança de que tudo possa ser melhor um dia
Choro para lavar a emoção, a alma, o coração
Choro porque estou viva e quero fazer um mundo melhor, mais irmão
Choro, me renovo, me alegro e vou vivendo
E a vida vai em mim acontecendo…
Alda M S Santos

Sorria!

SORRIA!

Se a vontade é de chorar

Se já está cansado de tentar

E ainda assim tudo parece sem lugar

Sorria, a alegria coloca tudo no lugar…

Se o amor nem sempre corresponde

Se a dor está pesada como um bonde

Se a felicidade brinca de esconde-esconde

Sorria, o sorriso é luz, não importa de onde

Se tudo está muito sério, sem critério

Se está faltando um refrigério

Se ser feliz é um mistério

Sorria, o sorriso desperta o amor e une dois hemisférios…

Alda M S Santos

Terreno fecundo

TERRENO FECUNDO

Quanto mais coisa ruim eu percebo

Mais me impressiono com pequenas belezas

Se de um lado há dores e brigas de dar medo

Também há beijos e abraços, doces levezas

Para cada idoso abandonado

Penso na vovó que tem o neto ao seu lado

Para cada criança que perdeu a infância

Penso no amor que posso doar em abundância

Se quisemos equilibrar essa balança

É preciso ignorar a tristeza

E chamar a vida para uma contradança

Não dá para salvar o mundo

Mas um pouco de sabedoria

Faz do amor terreno fecundo

Alda M S Santos

Aqueles dias

AQUELES DIAS

Aqueles dias em que ela sequer quer levantar

A luz do Sol passa pela janela, invasora

Os pássaros já cantam lá fora

Indiferentes ao que se passa dentro dela

Sonhos estranhos, medos, desejo de proteção

Movimento de gente cuja vida já começou

Seguindo a marcha…

Por que, às vezes, é tão difícil tocar em frente?

Não é preguiça, não é desânimo

É uma angústia estranha, que aperta

Ficar deitada até esse sentimento passar

Ou levantar e a vida enfrentar?

O portão se abre, um carro sai

Uma oração, ela espreguiça como uma gata

Se estica toda na frente do espelho

Tem saúde, tem um caminho pela frente

Sorri, levanta, a vida segue

Eram só pesadelos…

Não é o fim, ela pensa e vai enfrentar os medos

Seguindo a marcha, a própria marcha

“Tocando em frente”…

Alda M S Santos

Quase nada sabemos

QUASE NADA SABEMOS

O que se passa com quem se fecha no quarto

Com quem se esconde atrás de um sorriso

De atitudes que atraem ou afastam

Ou atrás de um comportamento diferente ou “antinatural”

Quase nada sabemos …

Todo excesso carrega em si uma falta

Se nos déssemos ao trabalho de investigar

Se tivéssemos habilidade para apurar, ajudar, sem julgar

Talvez não existissem tantas faltas

Quase nada sabemos…

Tantos mundos fechados nos quartos, claros ou escuros

Nos sorrisos, nos falsos abrigos

Quase nada sabemos…

Alda M S Santos

Lutos

LUTOS

Vivemos uma vida de lutos, de perdas

De despedidas, de adeus, de dores

Choramos, sofremos…

Mas toda morte e despedida trazem consigo um renascer

Um broto de vida, novo, lindo

Um recomeço…

Abrir a janela de nossos corações

Deixar a luz entrar, aquecer a terra fértil de nossa alma

Chorar, se preciso for, para irrigar

Deixar brotar nova flor, novo amor

Luto é fim de uma etapa

Recomeço de outra, nova semente pronta para crescer

Novo jardim florir, perfumar, encantar

Como ela será só depende dos jardineiros envolvidos

Sentir uma perda, viver o luto é natural e até necessário

Aceitar a mudança e cultivar o novo é essencial

Que sempre saibamos nos despedir

E acolher as novas sementes…

Alda M S Santos

Brilha mais

BRILHA MAIS

Inspire fundo, expire lentamente

Feche os olhos, afaste todos os pensamentos

Leve sua mente para um lugar de paz e serenidade

Onde haja apenas você consigo mesmo

Você e seu desejo de em nada pensar

Apenas sentir o ar entrando e saindo de si

O sangue circulando em suas veias

Levando oxigenação e vida a todo seu corpo

Irrigando a mente e a alma

O coração pulsando…

Que há em sua mente?

O que permanece ali

Brilhando ainda mais quando os olhos se fecham

Que se mantém a despeito de tudo

Isso que brilha na escuridão de seus olhos fechados

Que se torna mais nítido num mundo calado

É aquilo pelo qual vale a pena viver…

Alda M S Santos

Água ou fogo?

ÁGUA OU FOGO?

Água ou fogo, calor ou frescor

Calmaria ou tempestade

Doçura, delicadeza e bondade

Ou atitude, agitação, lutas, felicidade

Sem falso pudor?

Água ou fogo?

Em qual deles encontramos o que mais precisamos

Voo livre ou terra firme

Asas ou raizes

Liberdade ou segurança

Troncos ou galhos, flores ou frutos?

Que buscamos?

Almejamos aquilo que nos atiça, energiza

Ou aquilo que nos acalma, tranquiliza

Qual elemento mais nos completa

Água ou fogo?

É preciso ficar alerta

Água que lava, refresca,

Nos leva em seu curso

Ou fogo que nos aquece, alimenta, instiga,

Consome o que nos faz mal

Ativa o bem e apaga toda intriga?

Água ou fogo?

Depende do que mais necessitamos no momento

Ambos podem nos limpar, purificar

Nos permitir recomeçar…

Água ou fogo?

Que saibamos escolher o elemento certo

No momento mais incerto…

Alda M S Santos

Maturidade emocional

MATURIDADE EMOCIONAL

Ela chega no exato momento

Em que passamos a aceitar

Que tudo que nos coube até aqui

Foi fruto de nosso plantar

Já não nos rebelamos tanto

Tampouco ficamos imóveis

Diante do que antes gerava pranto

Hoje respiramos fundo e seguimos a marcha

Sabemos que culpar o outro, a vida, a Deus

Não nos torna menos responsáveis

Pelo caminho que escolhemos trilhar

E pelas conquistas ou derrotas que nos tornaram instáveis

Reconhecer que as batalhas que escolhemos travar

Até mesmo aquelas das quais preferimos declinar

São peças fundamentais desse grande quebra-cabeça

Que faz nossa alma a tudo sustentar

Isso é maturidade emocional!

Alda M S Santos

Reflexo

REFLEXO

Somos reflexo daquilo que vivemos

Das vitórias alcançadas, das batalhas travadas

Das negações recebidas, das derrotas sofridas

Das pessoas que nos cercam

Do amor que conosco compartilham

Sofremos influências do meio todo o tempo

Positivas ou negativas

Mas não precisamos ser esponjas

Não devemos absorver tudo que se apresentar

Podemos repelir o que fizer mal

Tentar ser mais ímã, atrair mais o que nos é afim

Quem olha para nós enxerga apenas parte do que refletimos

A outra parte fica muitas vezes camuflada pelo que ela é ou sente

Por isso o que somos verdadeiramente nunca é visto totalmente

O brilho nos olhos, o sorriso espontâneo

O carinho que se doa, a autenticidade,

Muitas vezes não passa no filtro “carregado” do outro…

Vamos refletir mais amor

Ele atravessa qualquer filtro!

Alda M S Santos

De pele ou de alma?

DE PELE OU DE ALMA?

Uns são música, outros são apenas barulho

Uns são preciosidades, outros são entulho

Uns são mente, outros são emoção

Uns são coração, outros são perdição

Uns são frescor, outros são terror

Uns são atalho, outros são abismo

Uns são realidade, outros são fantasia

Uns são saudade, outros são nostalgia

Uns são luz, outros são escuridão

Uns são amanhecer, outros são entardecer

Uns são poesia, outros são melodia

Uns são sonho, outros pura magia…

Uns são sede, outros são oásis

Uns são paixão, outros são solidão

Uns são de pele, outros são de alma

Uns são ternos, outros são eternos…

O que o outro é para nós

Ou o que somos para o outro

Sempre será uma relação dual

De ser e de permitir-se ser especial…

Alda M S Santos

Amplitude emocional

AMPLITUDE EMOCIONAL

Um pico de extrema alegria, prazer, euforia

Outro de grande tristeza, dor, apatia

Qual a amplitude emocional

A distância média que separa os picos opostos?

Oscilação emocional que causa choques e rachas

Como reduzir a amplitude emocional

O morno que tempera o quente e o gelado

A companhia que é meio termo entre a solidão e a multidão

O amor que quebra o gelo do tanto faz

A paz que equilibra esses extremos

Onde encontrar?

Alda M S Santos

Névoa

NÉVOA

Névoa fina e densa que amanhece

Como aquela que vez ou outra desce e fica dentro da gente

Que invade todos os espaços

Adentra cada cantinho escondido

Não aquece, esfria, não ilumina, escurece

Mas é o sinal de um tempo passado, que esmorece

Prenúncio de chuvas, tempestades

Ou de sol forte mais tarde?

Quem sabe resquícios, sobras, lembranças

Daquilo que um dia foi sólido

E, em forma de nebulosidade, retorna

E logo se condensa em nós

Névoa fina que cai

Em forma de saudade…

Alda M S Santos

Gerenciando emoções

GERENCIANDO EMOÇÕES
Controlar o que sai, manter reservas
Repor gastos, ficar sempre no azul
Manter a balança financeira positiva
Equilibrando ônus e bônus
Isso é gerenciar bem a vida econômica
Mais importante que isso
É saber gerenciar nossas emoções
Não depositar em nós qualquer “valor”
Escolher bem nossas prioridades de retiradas
Ser seletivo com emoções que causem grandes déficits
A curto ou longo prazo
Aquelas que oneram nosso corpo e mente
Dar prioridade para emoções boas
Que preencham bem nossos vazios
Que nossos sorrisos ou lágrimas de giro sejam especiais
Que não causem danos aos outros
Que gerem lucros e dividendos
E não nos levem a abrir falência emocional
Que nosso gerenciamento das emoções seja tão bom
Que mantenha nossa alma sempre ativa
Sujeita sempre a bons investimentos
Isso é ser um bom gerente de si mesmo
Esse diploma buscamos todos…

Alda M S Santos

Aproveite o orvalho

APROVEITE O ORVALHO

Mesmo nas noites mais secas e escuras

Nas mais frias e longas

O orvalho é produzido e depositado

Belo, natural, encantador, motivador

Quando tudo parecer secar e morrer

Quando tudo for noite fria, assustadora

Com seus barulhos ensurdecedores do silêncio

Aproveite o orvalho

E nova alvorada há de despontar na serra

Mais linda e iluminada que antes

Despertando e trazendo de volta vidas adormecidas

Com mais cores, brilho, beleza e perfume…

Alda M S Santos

Depende do nosso olhar

DEPENDE DO NOSSO OLHAR

Mesmo estando muitas vezes entre o Sol e as nuvens

Entre a luz e a escuridão, entre a brisa ou o vendaval

Entre o ir ou ficar, entre o fazer ou deixar rolar

Nosso lugar é só nosso…

Podemos deixar outros brilhos nos acender ou ofuscar

Outras águas nos hidratarem ou inundarem nossos recantos secretos

Outras estrelas iluminarem nossa noite

Lidar com outras sombras além da nossa

Mas nosso lugar aqui é só nosso

E por ele respondemos sempre

Não podemos desistir da vida…

Diante dessa imensidão

Da beleza da Criação Divina

Tudo torna-se pequeno, ou não.

Depende do nosso olhar…

Alda M S Santos

Capital emocional

CAPITAL EMOCIONAL

Acumulo um capital sem igual

Um capital que não sofre os efeitos do mercado

Ou o sobe e desce da bolsa ou do dólar

Trabalho com capital emocional

Cuido para ele não ser corroído pelas lágrimas inflacionárias

Mantendo sempre que possível os sorrisos como capital de giro

Faço depósitos e retiradas constantes

Deposito alegrias, esperança, amor e fé

Retiro medos, traumas, angústias e mágoas

Pois eles são a ferrugem que corrói todo capital emocional

Protejo a emoção, invisto meus lucros em outros “bancos”

Atraio investimentos, ofereço segurança, cresço

E o retorno sempre vem, mesmo que deficitário, às vezes,

Há períodos de carestia, fases no vermelho, fluxo inconstante

Mas a balança ao final sempre é satisfatória

Trabalhar com capital emocional é trabalhar com vida!

Alda M S Santos

Desapego

DESAPEGO

Desapego é a palavra de ordem da vez

Tudo é passageiro, nada é nosso

Para que se apegar se tudo ficará?

Desapegue-se!

Se tudo passará, nada levaremos

Apegar-se é machucar-se, é sofrer

Desapegue-se!

Nessa linha seguimos desapegando de modo errado

Conservando o material, jogando fora o emocional

Desapegando do que é fundamental

Estamos descartando facilmente os sentimentos

Fazendo pouco das emoções boas

Superficializando o amor, superando aquilo que é bonito

Desertificando nossa alma

Tornando áridas vidas alheias

Desapegando de boas relações

Desapeguemos, sim, daquilo que nunca levaremos

Daquilo que, material ou emocional, na verdade nunca foi nosso

Mas aquilo que levaremos registrado na alma, com orgulho

Aquilo que deixaremos tatuado nos corações que ficarem…

E justamente por tudo ser tão passageiro

Façamos valer a pena

Apeguemo-nos ao que é bom e nosso de verdade!

Alda M S Santos

Pisa fundo

PISA FUNDO

No volante, vidros abertos, cabelos ao vento

Ela pisa fundo…

Uma música após a outra atiçando a vida

Tocando as emoções superficiais ou profundas

Ela pisa fundo, quer ir longe

Encontrar algo perdido, resgatar alegrias e esperanças

Não quer sumir, não quer ir embora

Quer deixar o que for ruim para trás

Quer, paradoxalmente, um caminho que a traga de volta

Por isso ela pisa fundo…

O movimento, a estrada, o vento, a música, a solidão

Tudo leva a reflexões e pensamentos

Uma solidão consigo mesma não é solidão

É encontro… e dos bons…

Alda M S Santos

Ingratidão

INGRATIDÃO

Sofrer de ingratidão nem sempre é ter esperado retribuição

Sofrer de ingratidão nem sempre é esperar reconhecimento

Não deveria sofrer de ingratidão quem não esperou nada em troca

Quem deu o melhor de si, disponibilizou tempo, carinho e amor gratuito

E percebeu que o outro sequer percebeu isso…

Mas somos humanos e nos ferimos ao receber ingratidão

Daqueles para os quais mais oferecemos, mais nos doamos

Mais nos arriscamos, mais amamos…

Não é preciso dar algo em troca, apenas ser confiável e não ser indiferente ou maldoso

Mas a cada experiência um degrau de aprendizado

A cada tombo ou lágrima uma cicatriz de sobrevivência

E, após processar tudo, saber que, para um coração grande,

Nao há ingratidão que o atinja a ponto de imobilizá-lo

Ao contrário, aprende que fazer o bem sempre o fará maior

Mais rico, mais bondoso, mais amoroso e solidário …

Aprendendo…

Alda M S Santos

Saturando

SATURANDO

A dor nem sempre é aguda como os raios que riscam de prata o céu escuro

A dor nem sempre faz barulho como os trovões que fazem tremer tudo abaixo das nuvens

A dor nem sempre é de devastação pontual e rápida como tornado ou tsunami

A dor, muitas vezes, pode ser crônica, fininha, contínua, persistente

Como a chuvinha silenciosa que cai insistente na terra já saturada

Atinge fundo, vai encharcando pouco a pouco

Com avisos ignorados ela vai pesando, trincando, rachando, devastando

Até que provoca grandes deslizamentos dos morros e encostas mais resistentes…

Quem vigia apenas as grandes tempestades

Acaba sendo atingido, levado pela garoa insistente e persistente

Como as dores crônicas físicas ou emocionais nossas de todo dia…

Alda M S Santos

Em casa, onde quer que seja

EM CASA, ONDE QUER QUE SEJA

No meio do mato, perdida na mata

Ouvindo os sons do silêncio

Em casa, onde quer que seja…

Numa estrada de terra, margeada de buganvílias

Sentindo o cheiro das cores intensas

Em casa, onde quer que seja…

Mergulhada nas águas de um rio gelado

Dependurada de ponta a cabeça numa árvore centenária

Em casa, onde quer que seja…

Numa casinha de pau a pique, numa barraca de lona

Num colchonete sob céu estrelado

Em casa, onde quer que seja…

Debaixo de uma tempestade, sem energia

Ouvindo o tamborilar das gotas insistentes na janela

Em casa, onde quer que seja…

Num jardim florido e colorido, entre abelhas e borboletas

Ouvindo as cigarras agitadas e o “motor”dos beija-flores

Em casa, onde quer que seja…

No deserto, numa região árida e seca, sob sol escaldante

Em busca de um oásis sonhado

Em casa, onde quer que seja…

A sensação de estar em casa em qualquer lugar

Surge quando estamos bem conosco mesmos

Quando acalmamos nossos gritos, fazemos as pazes com nossos silêncios

Nossa verdadeira casa é aquela que carregamos conosco

Como caracóis…

Se essa casa abala alicerces, trinca paredes, desmorona, em qualquer lugar nos sentiremos intrusos

Todos queremos estar sempre

Em casa, onde quer que seja…

Alda M S Santos

Tão difícil

TÃO DIFÍCIL

Tão difícil quanto segurar espirro ou tosse

Tão difícil quanto conter as crises de riso em situações sérias

Tão difícil quanto mexer com água com vontade de fazer xixi

Tão difícil quanto não dormir deitado diante da TV

Tão difícil quanto manter-se aprumado na ventania

Tão difícil quanto parar qualquer avalanche iniciada

É segurar lágrimas de tristeza, emoção, raiva, mágoa ou decepção

Aquelas que não se quer verter…

Tenta-se distrair a mente, focar noutra coisa, evitar autopiedade

Respirar fundo, contar até 100

E torcer para ninguém, mas ninguém mesmo, notar ou perguntar nada

Qualquer palavra ou olhar doce

Um carinho ou cuidado, qualquer atitude pode trincar a estrutura montada

Romper comportas e ativar uma torrencial tempestade de lágrimas contidas

E acabar por inundar tudo…

Tão difícil!

Alda M S Santos

Fascinação

FASCINAÇÃO

Sou fascinada pelas alturas: árvores, montanhas, serras, picos

Com sol, chuva, calor ou frio, seja qual for o tempo

Sou atraída para a escalada…

Adoro subir, alçar voo, estar no cume

Mas a verdade verdadeira é que tenho muito medo de altura

Porém, o encanto e desejo de superação são maiores

E chegar lá em cima, ter a maravilhosa visão do alto

A quase sempre refrescante brisa ou ventania bagunceira

O olhar “de fora” para o mundo lá embaixo

Nos conecta mais rápido e facilmente com nosso mundo interior

O afastamento físico dos outros nos faz mais próximos de nós mesmos

Nos faz ver mais facilmente o que nos incomoda, alegra ou machuca

O que vale a pena conservar, valorizar e o que precisa mudar

Tudo passa a ser visto sob nova perspectiva

Entendemos o quanto tudo pode ser minimizado ou maximizado dentro de nós

Diante da grandiosidade do que vislumbramos nesse distanciamento e vemos de lá…

Alda M S Santos

Flexível

FLEXÍVEL

Mais do que dobrar e estender

Mais do que torcer e se retorcer

Esticar e encolher, tensionar e relaxar

Fortalecer e flexibilizar

Nervos, coluna, músculos e articulações

É preciso fortalecer nosso emocional, nossos sentimentos

Flexibilizar opiniões mantendo o respeito conosco e com o outro

É mais importante para a saúde física e emocional

Que ter músculos e articulações fortes

Ter uma alma e mente flexíveis não é ser fraco

É ter sabedoria o bastante, é ter uma alma tão especial

A ponto de respeitar uma alma diferente da sua

Isso é ser flexível! Isso é ser gente!

Alda M S Santos

Matemática aplicada

MATEMÁTICA APLICADA

Não dá para encontrar resultados diferentes

Para qualquer incógnita, de qualquer problema

Se não mudarmos as variáveis.

Nas equações da vida obteremos os mesmos valores

Positivos, negativos, inteiros ou fracionários

Até mesmo zero, neutro, nulo

Se não adicionarmos um elemento diferente.

Ou mudamos as equações, os problemas,

Ou mudamos o modo de resolvê-los.

A razão, a lógica, podem ser elementos adicionais importantes, ou não

Nas equações que envolvem emoção nossas e dos outros.

Não dá para adicionar qualquer número, fazer qualquer operação

Quando há vidas em risco.

Matemática aplicada à vida!

Até quem é inapto com números entende essa lógica…

Alda M S Santos

Não seria roça!

NÃO SERIA ROÇA!

Não seria roça se não faltasse energia

E se não fosse preciso esquentar água no fogão à lenha

Para tomar banho de bacia

Não seria roça se o céu não fosse mais limpo e tivesse mais cor

As estrelas mais numerosas, brilhantes e cadentes

A despertar nas mocinhas um pedido de amor

Não seria roça se os pássaros não se banhassem na terra

Se não cantassem nos galhos da ameixeira ou no alto da serra

Não seria roça se não tivesse uma rede na varanda

Uma música caipira tocada na viola por violeiro cheirando a fumo e lavanda

Não seria roça se não tivesse quitanda quentinha no forno de barro branco batido

Ou um mingau de fubá fumegante com queijo derretido

Não seria roça se o café não fosse coado na hora no coador de pano

Servido em caneca esmaltada

E se não tivesse banho no rio de criança sapeca e pelada

Não seria roça se a galinha d’angola não estivesse sempre fraca, o galo não cantasse animado

Ou o leite não fosse tirado das tetas inchadas das vacas por um vaqueiro cansado

Não seria roça se não tivesse prosa nas noites geladas em torno da fogueira

Um cão vira-latas a vigiar a porteira

E uma criança a se balançar na gangorra na mangueira

Não seria roça se a gente não se sentisse na roça

Não seria roça se a gente não fosse um pouco roça também…

Alda M S Santos

Tudo gera lágrimas

TUDO GERA LÁGRIMAS

Que há quando quase tudo

Nos toca, sensibiliza, emociona?

Se alguém querido diz algo que nos magoa

Nos debulhamos em lágrimas

Se a pessoa se toca, se justifica, se desculpa

As lágrimas rolam mais intensas ainda

Se alguém amado não nos valoriza, não se lembra de nós, choramos

Se tem carinho, cuidado, atenção, choramos também

Se os outros são desligados e indiferentes ao que fazemos, choramos

Se alguém demonstra gratidão, reconhecimento, as lágrimas brotam sem cessar…

O sol que arde, a chuva que cai

Alguém que sofre, outro que é feliz

O frio que martiriza, o calor que enerva

Uns que chegam, outros que se vão e deixam saudades

Uns que nos encantam, outros que nos decepcionam

A vida que segue indiferente a todos, implacável

Como ondas num mar gigante que vão e vêm

E as lágrimas sempre, sempre brotando…

Será que estão lavando o terreno das impurezas e parasitas

Para um novo broto renascer?

Alda M S Santos

Acumuladores de emoções

ACUMULADORES DE EMOÇÕES

Uma caixa enorme com várias caixas menores dentro

Cada qual com algo precioso, único, especial

Que não pode ser descartado

Lembranças de uma época: livros, poemas, mensagens

Souvenirs, rosas secas, fotografias, cartões

Por mais que se arrume ou se ajeite

Muito pouco é descartado, e com pesar

Quase tudo volta para as caixas, para as malas, para os porta-trecos

Talvez um pouco mais organizado em suas prateleiras

Por ordem de importância, necessidade ou prioridade

O “interior” dos acumuladores de emoções é assim

Caixas e mais caixas, gavetas e mais gavetas

Um verdadeiro relicário que só eles entendem

O real valor de cada “peça” tão preciosa

Todo cuidado é pouco, pois são relíquias frágeis e interligadas

Uma que é remexida ou retirada gera efeito cascata

Bagunça e inunda toda a “organização” emocional presa por um fio

E pode afogar-se ou afogar a todos…

Alda M S Santos

Sou eu?

SOU EU?

Os caminhos parecem mais longos e estreitos

Ou sou eu que mudei o modo de caminhar?

As pessoas parecem mais perdidas e carentes

Ou sou eu que mudei o ângulo do olhar?

Há menos perspectiva, menos esperança e mais decepções

Ou sou eu que fiquei mais criteriosa?

Os outros estão mais individualistas e indignos de confiança

Ou sou eu que deixei de ser tão crédula?

Há mais fugas que coragem e persistência

Ou sou eu que ando mais amedrontada?

Há mais barulho e alvoroço que felicidade real

Ou sou eu que tenho tido apreço por silêncios verdadeiros?

Há mais alegria comprada, “roubada”, ilegal, finita

Ou sou eu que prefiro alegrias conquistadas por direito, gratuitas?

Há mais sorrisos fabricados e palavras sem sentido

Ou sou eu que estou mais sensível?

Há mais estradas percorridas e menos caminhos a percorrer

Ou sou eu que estacionei em algum momento?

Está mesmo tudo muito mudado

Ou fui eu que mudei e nem vi?

Alda M S Santos

Na cama, na grama ou na lama…

NA CAMA, NA GRAMA OU NA LAMA…

Na cama nos deitamos, relaxamos, dormimos, descansamos, sonhamos

Na cama também sofremos de insônia, reviramos para lá e para cá

Temos pesadelos, medos, traumas, choramos

Na cama amamos, nos amamos ou odiamos, fazemos amor

Na cama ficamos doentes, convalescentes, imóveis, em repouso, entregues

Não há lugar bom ou ruim por si só

Há pessoas em paz que tornam bons todos os lugares que vão

Seja na cama, na grama ou na lama…

Alda M S Santos

Pássaros famintos

PÁSSAROS FAMINTOS

Nas trilhas da vida vamos sempre seguindo

Como pássaros migrando em busca de novo verão

Querendo saciar a fome, a sede, almejando algo melhor

Tal qual João e Maria, deixamos migalhas de pão

Para marcar o caminho de volta

Se lá na frente for inverno, estiver pior

Acabamos nos perdendo na densa floresta

Nos ares gelados, nas nuvens espessas

Não há mais alimento suficiente que satisfaça

Ansiamos por regressar…

Voltamos em busca da trilha de migalhas deixadas

“Pássaros” famintos comeram, o caminho se perdeu…

Mas, se atentos olharmos, migalhas deixadas estão camufladas aí

Estão escondidas em cada pessoa que encontramos e deixamos no caminho

Que das nossas “migalhas” de amor e de afeto se alimentaram

Ou que se amargaram sob nossos atos, às vezes, indigestos,

Enquanto nos alimentávamos das migalhas nem sempre doces dos que seguiam à frente.

Para nos encontrarmos, para voltar ao ponto de partida

Precisamos seguir o rastro deixado em cada um

E descobrir o ponto onde tudo começou a desandar

E voltar…

Voltar para refazer uma trilha e poder seguir em frente

Cientes de que o alimento da vida está nas “migalhas” nem sempre valorizadas

Da nossa dianteira e também da nossa retaguarda…

Alda M S Santos

Colcha de retalhos

COLCHA DE RETALHOS

Sou tal e qual colcha de retalhos

Variados pedaços unidos para formar um todo

Nem sempre harmônico, nem sempre belo, nada perfeito

Muitas cores vibrantes, outras apagadas

Tecidos finos, macios, outros grossos e resistentes

E que juntos se unem para formar uma colcha

Vários pedaços tão diferentes entre si

Formando uma única peça que tenta se harmonizar

Para poder passar a imagem de totalidade numa colcha

E cumprir seu papel de enfeitar uma cama, cobrir pessoas

Aquecer corpos, relaxar quem nela se deitar

Alguns verão os tecidos grossos e apagados

Outros verão os finos, delicados e coloridos

Há ainda os que verão a colcha, não importando os detalhes

Se estes estão novos ou velhos, inteiros ou rasgados

Também cuidam para não estragar toda a peça

E passam a renovar e cerzir os buracos e falhas

Assim também é comigo, conosco

Vemos e somos vistos de acordo com nossas ausências e presenças

Também do que falta ou sobra em quem nos vê

Para uns seremos a colcha “perfeita”, na medida certa

Para outros, um pano roto qualquer sem utilidade nenhuma

Para vermos melhor as outras “colchas”

Precisamos ver melhor a nós mesmos primeiro

Somos muitos pedaços formando um todo meio desconexo

Tentando entender e aceitar o todo também desconexo que são os outros…

Até mesmo as colchas inteiriças e, aparentemente, perfeitas

Se passadas pelo crivo do julgamento de um olhar crítico e, por vezes, falho

Acabarão por se mostrar retalhadas e imperfeitas

E, ainda assim, belas em sua imperfeição

E a vida segue tecendo e costurando suas tramas

Com as linhas se embolando, arrebentando e bordando histórias

Usando todos os “retalhos” e colchas que encontra por aí…

Alda M S Santos

Que fazemos com nossos lixos?

QUE FAZEMOS COM NOSSOS LIXOS?

Cuidar do meio ambiente é também cuidar de nossos lixos: tóxicos ou não

Que temos feito com nossos lixos?

Jogamos nas águas rasas humanas, contaminando o ambiente alheio?

Enterramos em nós mesmos, bem fundo, contaminando nossos lençóis freáticos?

Reciclamos, transformando dor em pérolas, o nocivo em algo útil para nós e para todos?

Bom lembrar que todo lixo que jogamos “fora” circula e volta para nós

Produzir menos lixo, menos sentimento tóxico é importante

Mas saber transformar o lixo produzido em arte é fundamental

Reciclar os cacos de vidro cortantes que recebemos dos outros

Transformando-os em amor é habilidade especial

É um modo de preservar nosso meio ambiente

É uma maneira de conservar nossa alma viva!

Que você tem feito com seus lixos?

Alda M S Santos

Miragem

MIRAGEM

Como sonâmbulo, você andava num espaço bonito, porém frio e nebuloso

Passava por muita gente e não enxergava ninguém

Alguns lhe estendiam as mãos, sorriam, cumprimentavam

Outros nem te percebiam ou pareciam bravos contigo

Você não via, parecia ter outro objetivo

Olhos sem brilho, “adormecido”, opacos

Mas seguia…sem parar para nada

Eu observava de longe, encolhida num canto, chorosa

Você chegou até mim, os olhos brilharam, acordaram

Estendeu-me as mãos, levantou-me do chão

Pediu desculpas, chorou, me abraçou demoradamente

“Eu sempre te amei… sempre”-afirmou muitas vezes

E sumiu numa nuvem de fumaça

Como miragem…desapareceu…

Sentei-me novamente no canto

Você voltou para a vida

Eu continuei ali de onde não poderia sair…

Um sonho perturbador!

Alda M S Santos

Na própria pele

NA PRÓPRIA PELE

Não dá para dimensionar o que se passa com o outro

Se sensíveis formos, apenas podemos especular, ter uma ideia

Mas, saber mesmo, só sentindo na própria pele

Só chorando as mesmas lágrimas

Só pisando e se cortando nos mesmos cacos de vidro

Só queimando sob o mesmo sol ou frio

Só desanimando na mesma queda ou escorando nas mesmas porteiras entreabertas da esperança

Só ardendo o peito com as mesmas angústias

Só aguentando as mesmas faltas, lidando com as mesmas falhas

Só sofrendo as mesmas perdas

Só estando sob o jugo das mesmas ameaças

Só tendo suportado o peso doloroso da mesma arma

Só sufocando pelos mesmos medos ou aflições…

Só assim sabemos, só assim não permitimos aos outros o mesmo mal

Só assim protegemos a quem amamos

Só assim nos humanizamos mais e mais…

Alda M S Santos

Ao pó voltarás

AO PÓ VOLTARÁS

“Do pó viestes, ao pó voltarás”

No intervalo, vamos nos divertindo, gerando vida

Arando a terra ora dura , ora macia de nossos corações

Semeando o amor, plantando flor, ressecando dor

Com pés no chão, na terra

Mas sem abrir mão das asas

Flutuando entre nuvens brancas ou cinzentas

Escolhendo caminhos menos tortuosos

Regando, adubando, colhendo

Espalhando mudas e sementes

Do pó viestes semente

Ao pó voltarás flor…

Alda M S Santos

Expressões

EXPRESSÕES

Há tantas formas de expressão: físicas, mentais, emocionais

E tão pouco entendimento entre as pessoas

Não entendemos o outro e menos ainda nos fazemos entender

Acostumados a selecionar o que mostramos

A esconder emoções que causariam algum malefício

Ou que passariam recibo de fragilidade ou seriam “vergonhosas”

Vamos nos sufocando com nossas emoções…

Um olhar úmido, palavras engasgadas, peito apertado, angústias e medos

Mas o sorriso precisa prevalecer, pedir ajuda é ser fraco

Reclamar é só para ouvir histórias de situações piores, lições de moral

Num mundo em que o certo é se dar bem,

Sacudir a poeira, mesmo que ela cegue a nós mesmos e aos outros

Ser autossuficiente e não depender de ninguém

Fazer a “fila andar” e não perder tempo com “mimimi”

Não dá pra ser zebra frágil num mundo de leões ferozes

Assim, as doenças vão tomando conta e estão aí: pânico,depressão, dependências químicas, transtornos diversos…

Queremos poder chorar, gritar, sorrir, reclamar, ser humanos

Até mesmo silenciar se for nossa vontade

Estar sozinhos por opção e não por falta de um irmão, de um coração

Precisamos nos expressar e nos fazer entender

Antes que não haja mais opção!

Alda M S Santos

Quando…

QUANDO…

Quando alguém chegar, bater à sua porta, peça para se identificar

Exija um crachá, um cartão, um uniforme, um ingresso, um convite, uma credencial

Isso previne que você abra o portão para um ladrão

Além do documento oficial que pouco diz

Observe atentamente o olhar, que muito expressa, a “bagagem” que carrega nas costas

As expressões faciais que traduzem o que vai dentro

Deixe entrar no quintal, na varanda, aos poucos, ou dispense

Mas antes de adentrar sua casa você precisa saber:

Quem é esse alguém que se apresenta e chega assim tão perto?

Qual seu histórico de vida, seu Curriculum Vitae pessoal?

Que pode trazer de verdadeiramente bom para sua vida,

Que você pode contribuir para a vida dele?

Aceite a interação, ajude, permita-se ser ajudado

Mas, evite danos, seja guardião de seus tesouros

Internos e externos…

Independente da “casa” que possua!

“Na sociedade há muitas pessoas que colocam trancas nas portas,

Mas não têm proteção emocional”. (Augusto Cury)

Alda M S Santos

Paixão não se discute

PAIXÃO NÃO SE DISCUTE

Diz a sabedoria popular que três coisas não se discute:

Futebol, política e religião

E é muito fácil descobrir o porquê

A preferência por determinado time de futebol, política ou religião

Foge a qualquer razão, envolve mais alma, coração

Quem se mete a discutir quer explicar o inexplicável

Percebe logo que o outro, tão diferente ou até parecido conosco, pode não ter a mesma paixão

Não faz diferença o gênero, classe social, se é mais culto, inteligente, simples, vivido ou não

Para defendê-la, quase todos se perdem nas trilhas confusas e irritadiças da emoção

Não dá para mensurar aquilo que envolve coração

Não dá para discutir racionalmente o que não se baseia na razão

O melhor jeito de bem conviver é dar ao outro o que reivindicamos para nós

Respeito por nossas escolhas, nossos gostos, nossas paixões

Que ofereçamos a eles o mesmo direito ao silêncio, ao grito, à voz

O mesmo direito de manter-se firme, ou não, em suas paixões

Com o que trazem de único a cada um de nós: satisfações ou desilusões…

A paixão pode e até deve ser diferente, mas o respeito precisa ser equânime…

Alda M S Santos

Atrofiados

ATROFIADOS

Tudo aquilo que não usamos atrofia, enferruja, torna-se obsoleto, perde a utilidade, a validade, o brilho

O mesmo vale para objetos, eletrônicos, máquinas, alimentos, músculos, cérebro, sentimentos, emoções …

Não usar uma máquina, um veículo não os preserva

Não ingerir um alimento não o conserva ou eterniza

Não trabalhar músculos faz com que se atrofiem, percam tônus

A utilização é que faz correr o óleo, o sangue, o oxigênio, o fluido da vida…

Motor em uso mantém a máquina ativa

Sentimentos e emoções são o óleo, o fluido vital que gira o motor da vida

Coração partido tem mais vida que coração intacto, atrofiado por falta de uso…

Alda M S Santos

Represas

REPRESAS

Tantas comportas mantemos represando nossas emoções

Umas já frágeis, turvas, envergadas, machucadas, embaçadas

Na vã tentativa de manter tudo sob controle, aguentamos as pressões

Força de momentos vividos, ou não, causando danos, paredes finas, trincadas

Necessária se faz válvula de escape constante para manter a vazão

Quanto mais cheias nossas represas, mais impactantes serão os danos numa ruptura, mais destruirão nossa fé

É preciso aliviar a pressão, chorar, rezar, gritar, evitar a iminente explosão

Buscar uma vazante qualquer, individual, pessoal, que mantenha nossas barragens intactas, que nos mantenha de pé…

Alda M S Santos

Ladrões

LADRÕES

Vivemos nos escondendo, de ladrões nos protegendo

Dos mais variados tipos, a nos levar muito além de bens materiais

Nos trancamos em casa, tetra-chaves, senhas, alarmes, cercados de segurança eletrônica

Mas deixamos nosso coração e emoções desprotegidos

Ignoramos as senhas violadas, blindagem rompida, alarmes a soar

“Ladrões” se disfarçam, chegam sem percebermos

Mudam trajes, modos, invadem, arrombam com luva de pelica

Ou usam as chaves que nós mesmos oferecemos

Nem sempre totalmente negativos, oferecem algo que precisamos em troca

Atendem a algumas carências ou necessidades

Mas levam bem mais do que deixam

Um carro, casa ou celular roubado substitui-se

A saúde física, emocional e mental, a paz, a tranquilidade familiar, a vida

Não se recupera tão facilmente…

Cuidar de nossa emoção é valorizar a vida!

Alda M S Santos

A última carta

A ÚLTIMA CARTA

Lembra-se do que escreveu naquela última carta

Sem saber que seria a última?

Lembra-se daquele abraço, daquele sorriso

Sem ter consciência que não haveria outros?

Lembra-se de um simples tchau, um até mais, sem saber que eram um adeus?

Lembra-se das gargalhadas perdidas, brigas tolas

Sem considerar que poderia se arrepender, sentir tanta falta?

Se não houver mais chance

Dizemos o que queríamos ao escrever,

Abraçar, sorrir, brigar, nos despedir, amar?

A marca derradeira foi a que gostaríamos de ter deixado?

A memória pode falhar, o outro faltar, empecilhos mil surgirem

A vida se esvair como fumaça no céu

Quantos “últimos” e saudosos momentos temos vivido?

Haverá tempo de reviver alguma coisa?

Oportunidade para uma última carta?

Bom mesmo seria não esperar pela última carta

Mas sempre “escrever” como se fosse a última…

Alda M S Santos

Por favor

POR FAVOR!

Oito degraus, quatro pedidos

“Favor não sentar nos degraus”

Degraus vazios, nenhum atrevido

Por favor!

Deveríamos colocar alertas desse tipo em nós mesmos

Nos caminhos, os “degraus” que percorremos todos os dias

Favor não pegar essa trilha

Volte, esse caminho é sem saída!

Por favor!

Cuidado, você conhece o poder dos outros e suas fraquezas!

Ajude, mas cuide de si mesmo!

Por favor!

Não compre o que você não pode pagar!

Não leve o que não dá conta de carregar!

Não repouse seus pés em terrenos desconhecidos!

Não sente em bancos cheios que não garantem segurança ou firmeza!

Por favor!

Se em cada nosso degrau tivesse um aviso desses

Os tombos seriam menores, menos frequentes, menos fatais…

Alda M S Santos

A culpa é minha

A CULPA É MINHA

Estava numa dimensão intermediária entre a terra e o céu

À beira de um abismo, via que ele sofria do outro lado, prestes a cair

Tentava alertá-lo, gritava “te amo”, pedia para sair de lá, para não se arriscar

Encolhido, olhos opacos, distantes, não parecia me ouvir

Chorei, implorei que o salvassem, que trouxessem para mim, tirassem dele a dor que o torturava

Ouvi uma voz firme me dizendo: “ele pode cair, mas voltará mais forte”

“Transfiram para mim o que o machuca, a culpa é minha”- eu pedia chorando

A resposta veio logo “não, ele escolheu, ele quis viver, aprenderá”

“Mas sou mais experiente, podia ter impedido, alertado”

“Não é mais experiente, tudo isso é novo e perigoso para ambos, afaste-se daí”

Eu estava tão à beira do abismo quanto ele

Mas a queda dele era mais assustadora para mim que a minha

Abaixei, em prantos, rezei por ele, quando não mais o vi…

Acordei chorando, mas amedrontada e com fé, continuei as orações…

Alda M S Santos

Enxurrada

ENXURRADA

Desce os morros, nos cantos, a princípio

Espalha-se pela rua toda, clara em alguns pontos

Muita água corre nessa enxurrada

Está tão suja, barrenta!

Veio lavando muita sujeira pelo caminho

Ainda assim, parece convidativa

Uma enxurrada, ou desperta a criança em nós,

Desejo de andar naquelas águas, molhar-se, molhar o outro, dar gargalhadas

Ou desperta um adulto frustrado e triste, resmungão

Daqueles que têm medo e nojo de tudo, amargurados

Sob o risco de contaminação por uma doença qualquer

Ainda prefiro ser o adulto/criança que brinca na enxurrada

A ser aquele adulto que já matou a criança em si

E sofre de uma outra patologia mais grave: o medo de viver…

Alda M S Santos

Caminhos da alma

CAMINHOS DA ALMA

Os caminhos de nossa alma são abertos devagarzinho

Uma gentileza aqui, um cuidado ali, um sorriso, um abraço, uma atenção mais à frente

Trilhas, esquinas, curvas, recônditos secretos, o prazer de um balancinho

Neles transitamos, claro ou escuro, sorrindo ou chorando, diariamente

Só é capaz de neles trafegar quem os ajudou a construir

Ainda que involuntariamente, sem perceber, sem desejar

E, uma vez conhecido o caminho, mesmo sem o possuir

Será sempre alguém capaz de ali fazer a luz se acender ou se apagar…

Alma possui caminhos com vias só de entrada…

Alda M S Santos

Ninhos vazios?

NINHOS VAZIOS?

Um ninho vazio, aparentemente um emaranhado, muito bem tecido

Fios, fiapos, pequenas linhas e folhas, galhos, tudo bem escolhido

Montado com o máximo capricho e cuidado

Amor e proteção em cada mínimo detalhe

Para realizar desejos, receber bênçãos, dar vida ao que foi sonhado

Há pouco eram só penugem, fome, pios, bicos abertos

Carinho ao alcance das mãos, ou melhor, dos bicos famintos

E logo se transformaram em penas, força, canto, asas, voo

Inseguro, a princípio, raso, baixo, assustado

Seguido de força, coragem, beleza e encanto

Proporcionando muito orgulho àqueles que no ninho ficaram

E, paradoxalmente, uma alegria salpicada de tristeza, de saudade

O amor tem o dom de alimentar quem trata de alimentar o outro

E o alimento parece faltar a quem não tem mais os alimentandos

Aquele ninho não é mais útil, não os cabe mais

Não para a mesma finalidade, ficou apertado para o tamanho de suas asas

O alimento dali já não é nutritivo o bastante

Mas quem aprendeu a se alimentar nesse bico

Quem cultivou o amor no pulsar desse coração

Quem ali desenvolveu os músculos das asas e alçou o primeiro voo

Não se esquece…

E se lembrará quando novo ninho for tecer

Com o mesmo amor e cuidado

Vida e amor se renovam

E mantêm os ninhos sempre cheios…

Alda M S Santos

Sobras de um amor

SOBRAS DE UM AMOR

Pequenos pedaços de fotos queimadas

Um sorriso numa, um beijo noutra, abraços rasgados ao meio

Partes de uma paisagem linda

Porta-retratos quebrados, cartões de aniversário amassados

Souvenirs, uma pulseira com o símbolo do infinito

CDs de músicas, filmes, poemas, vidros de perfume,

Entre as cinzas de uma fogueira, partes de uma história

Tentativa vã de apagar o amor vivido queimando símbolos

Ao rasgar, queimar, destruir as “provas” do vivido

Espera-se esfriar o que queima e machuca por dentro

Um modo de dizer: fim, acabou

Logo percebe-se que o que ocupou 100% de seus dias

Não se finda numa fogueira, não vira cinzas tão facilmente

Enquanto não se fizer as pazes consigo mesmo, com sua história

Aquela que está registrada nos corações, na alma

Permanecerá em fogo brando

Ainda que tudo tenha sido queimado lá fora…

Alda M S Santos

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