CHORO
Choro por aquilo que me magoa, fere
Por aquilo que me aperta o coração
Choro por medos diversos, por ansiedade
Por coisas que fogem ao meu controle
Choro por necessidades e desejos não alcançados
Por extrema sensibilidade e fragilidade
Choro pelas dores e misérias alheias
Nas quais nada posso fazer
Choro por erros cometidos, arrependimentos
Pela mágoa causada aos que me cercam, sofrimentos
Choro por um mundo tão sofrido
Que não encontra uma saída, perdido
Choro por saudade, lembranças, nostalgia
De tempo que passou e não volta mais
Choro por emoções diversas, até mesmo por alegria
Por esperança de que tudo possa ser melhor um dia
Choro para lavar a emoção, a alma, o coração
Choro porque estou viva e quero fazer um mundo melhor, mais irmão
Choro, me renovo, me alegro e vou vivendo
E a vida vai em mim acontecendo…
Alda M S Santos
SORRIA!
Se a vontade é de chorar
Se já está cansado de tentar
E ainda assim tudo parece sem lugar
Sorria, a alegria coloca tudo no lugar…
Se o amor nem sempre corresponde
Se a dor está pesada como um bonde
Se a felicidade brinca de esconde-esconde
Sorria, o sorriso é luz, não importa de onde
Se tudo está muito sério, sem critério
Se está faltando um refrigério
Se ser feliz é um mistério
Sorria, o sorriso desperta o amor e une dois hemisférios…
Alda M S Santos
TERRENO FECUNDO
Quanto mais coisa ruim eu percebo
Mais me impressiono com pequenas belezas
Se de um lado há dores e brigas de dar medo
Também há beijos e abraços, doces levezas
Para cada idoso abandonado
Penso na vovó que tem o neto ao seu lado
Para cada criança que perdeu a infância
Penso no amor que posso doar em abundância
Se quisemos equilibrar essa balança
É preciso ignorar a tristeza
E chamar a vida para uma contradança
Não dá para salvar o mundo
Mas um pouco de sabedoria
Faz do amor terreno fecundo
Alda M S Santos
AQUELES DIAS
Aqueles dias em que ela sequer quer levantar
A luz do Sol passa pela janela, invasora
Os pássaros já cantam lá fora
Indiferentes ao que se passa dentro dela
Sonhos estranhos, medos, desejo de proteção
Movimento de gente cuja vida já começou
Seguindo a marcha…
Por que, às vezes, é tão difícil tocar em frente?
Não é preguiça, não é desânimo
É uma angústia estranha, que aperta
Ficar deitada até esse sentimento passar
Ou levantar e a vida enfrentar?
O portão se abre, um carro sai
Uma oração, ela espreguiça como uma gata
Se estica toda na frente do espelho
Tem saúde, tem um caminho pela frente
Sorri, levanta, a vida segue
Eram só pesadelos…
Não é o fim, ela pensa e vai enfrentar os medos
Seguindo a marcha, a própria marcha
“Tocando em frente”…
Alda M S Santos
LUTOS
Vivemos uma vida de lutos, de perdas
De despedidas, de adeus, de dores
Choramos, sofremos…
Mas toda morte e despedida trazem consigo um renascer
Um broto de vida, novo, lindo
Um recomeço…
Abrir a janela de nossos corações
Deixar a luz entrar, aquecer a terra fértil de nossa alma
Chorar, se preciso for, para irrigar
Deixar brotar nova flor, novo amor
Luto é fim de uma etapa
Recomeço de outra, nova semente pronta para crescer
Novo jardim florir, perfumar, encantar
Como ela será só depende dos jardineiros envolvidos
Sentir uma perda, viver o luto é natural e até necessário
Aceitar a mudança e cultivar o novo é essencial
Que sempre saibamos nos despedir
E acolher as novas sementes…
Alda M S Santos
BRILHA MAIS
Inspire fundo, expire lentamente
Feche os olhos, afaste todos os pensamentos
Leve sua mente para um lugar de paz e serenidade
Onde haja apenas você consigo mesmo
Você e seu desejo de em nada pensar
Apenas sentir o ar entrando e saindo de si
O sangue circulando em suas veias
Levando oxigenação e vida a todo seu corpo
Irrigando a mente e a alma
O coração pulsando…
Que há em sua mente?
O que permanece ali
Brilhando ainda mais quando os olhos se fecham
Que se mantém a despeito de tudo
Isso que brilha na escuridão de seus olhos fechados
Que se torna mais nítido num mundo calado
É aquilo pelo qual vale a pena viver…
Alda M S Santos
ÁGUA OU FOGO?
Água ou fogo, calor ou frescor
Calmaria ou tempestade
Doçura, delicadeza e bondade
Ou atitude, agitação, lutas, felicidade
Sem falso pudor?
Água ou fogo?
Em qual deles encontramos o que mais precisamos
Voo livre ou terra firme
Asas ou raizes
Liberdade ou segurança
Troncos ou galhos, flores ou frutos?
Que buscamos?
Almejamos aquilo que nos atiça, energiza
Ou aquilo que nos acalma, tranquiliza
Qual elemento mais nos completa
Água ou fogo?
É preciso ficar alerta
Água que lava, refresca,
Nos leva em seu curso
Ou fogo que nos aquece, alimenta, instiga,
Consome o que nos faz mal
Ativa o bem e apaga toda intriga?
Água ou fogo?
Depende do que mais necessitamos no momento
Ambos podem nos limpar, purificar
Nos permitir recomeçar…
Água ou fogo?
Que saibamos escolher o elemento certo
No momento mais incerto…
Alda M S Santos
MATURIDADE EMOCIONAL
Ela chega no exato momento
Em que passamos a aceitar
Que tudo que nos coube até aqui
Foi fruto de nosso plantar
Já não nos rebelamos tanto
Tampouco ficamos imóveis
Diante do que antes gerava pranto
Hoje respiramos fundo e seguimos a marcha
Sabemos que culpar o outro, a vida, a Deus
Não nos torna menos responsáveis
Pelo caminho que escolhemos trilhar
E pelas conquistas ou derrotas que nos tornaram instáveis
Reconhecer que as batalhas que escolhemos travar
Até mesmo aquelas das quais preferimos declinar
São peças fundamentais desse grande quebra-cabeça
Que faz nossa alma a tudo sustentar
Isso é maturidade emocional!
Alda M S Santos
REFLEXO
Somos reflexo daquilo que vivemos
Das vitórias alcançadas, das batalhas travadas
Das negações recebidas, das derrotas sofridas
Das pessoas que nos cercam
Do amor que conosco compartilham
Sofremos influências do meio todo o tempo
Positivas ou negativas
Mas não precisamos ser esponjas
Não devemos absorver tudo que se apresentar
Podemos repelir o que fizer mal
Tentar ser mais ímã, atrair mais o que nos é afim
Quem olha para nós enxerga apenas parte do que refletimos
A outra parte fica muitas vezes camuflada pelo que ela é ou sente
Por isso o que somos verdadeiramente nunca é visto totalmente
O brilho nos olhos, o sorriso espontâneo
O carinho que se doa, a autenticidade,
Muitas vezes não passa no filtro “carregado” do outro…
Vamos refletir mais amor
Ele atravessa qualquer filtro!
Alda M S Santos
DE PELE OU DE ALMA?
Uns são música, outros são apenas barulho
Uns são preciosidades, outros são entulho
Uns são mente, outros são emoção
Uns são coração, outros são perdição
Uns são frescor, outros são terror
Uns são atalho, outros são abismo
Uns são realidade, outros são fantasia
Uns são saudade, outros são nostalgia
Uns são luz, outros são escuridão
Uns são amanhecer, outros são entardecer
Uns são poesia, outros são melodia
Uns são sonho, outros pura magia…
Uns são sede, outros são oásis
Uns são paixão, outros são solidão
Uns são de pele, outros são de alma
Uns são ternos, outros são eternos…
O que o outro é para nós
Ou o que somos para o outro
Sempre será uma relação dual
De ser e de permitir-se ser especial…
Alda M S Santos
AMPLITUDE EMOCIONAL
Um pico de extrema alegria, prazer, euforia
Outro de grande tristeza, dor, apatia
Qual a amplitude emocional
A distância média que separa os picos opostos?
Oscilação emocional que causa choques e rachas
Como reduzir a amplitude emocional
O morno que tempera o quente e o gelado
A companhia que é meio termo entre a solidão e a multidão
O amor que quebra o gelo do tanto faz
A paz que equilibra esses extremos
Onde encontrar?
Alda M S Santos
NÉVOA
Névoa fina e densa que amanhece
Como aquela que vez ou outra desce e fica dentro da gente
Que invade todos os espaços
Adentra cada cantinho escondido
Não aquece, esfria, não ilumina, escurece
Mas é o sinal de um tempo passado, que esmorece
Prenúncio de chuvas, tempestades
Ou de sol forte mais tarde?
Quem sabe resquícios, sobras, lembranças
Daquilo que um dia foi sólido
E, em forma de nebulosidade, retorna
E logo se condensa em nós
Névoa fina que cai
Em forma de saudade…
Alda M S Santos
GERENCIANDO EMOÇÕES
Controlar o que sai, manter reservas
Repor gastos, ficar sempre no azul
Manter a balança financeira positiva
Equilibrando ônus e bônus
Isso é gerenciar bem a vida econômica
Mais importante que isso
É saber gerenciar nossas emoções
Não depositar em nós qualquer “valor”
Escolher bem nossas prioridades de retiradas
Ser seletivo com emoções que causem grandes déficits
A curto ou longo prazo
Aquelas que oneram nosso corpo e mente
Dar prioridade para emoções boas
Que preencham bem nossos vazios
Que nossos sorrisos ou lágrimas de giro sejam especiais
Que não causem danos aos outros
Que gerem lucros e dividendos
E não nos levem a abrir falência emocional
Que nosso gerenciamento das emoções seja tão bom
Que mantenha nossa alma sempre ativa
Sujeita sempre a bons investimentos
Isso é ser um bom gerente de si mesmo
Esse diploma buscamos todos…
Alda M S Santos
APROVEITE O ORVALHO
Mesmo nas noites mais secas e escuras
Nas mais frias e longas
O orvalho é produzido e depositado
Belo, natural, encantador, motivador
Quando tudo parecer secar e morrer
Quando tudo for noite fria, assustadora
Com seus barulhos ensurdecedores do silêncio
Aproveite o orvalho
E nova alvorada há de despontar na serra
Mais linda e iluminada que antes
Despertando e trazendo de volta vidas adormecidas
Com mais cores, brilho, beleza e perfume…
Alda M S Santos
DEPENDE DO NOSSO OLHAR
Mesmo estando muitas vezes entre o Sol e as nuvens
Entre a luz e a escuridão, entre a brisa ou o vendaval
Entre o ir ou ficar, entre o fazer ou deixar rolar
Nosso lugar é só nosso…
Podemos deixar outros brilhos nos acender ou ofuscar
Outras águas nos hidratarem ou inundarem nossos recantos secretos
Outras estrelas iluminarem nossa noite
Lidar com outras sombras além da nossa
Mas nosso lugar aqui é só nosso
E por ele respondemos sempre
Não podemos desistir da vida…
Diante dessa imensidão
Da beleza da Criação Divina
Tudo torna-se pequeno, ou não.
Depende do nosso olhar…
Alda M S Santos
CAPITAL EMOCIONAL
Acumulo um capital sem igual
Um capital que não sofre os efeitos do mercado
Ou o sobe e desce da bolsa ou do dólar
Trabalho com capital emocional
Cuido para ele não ser corroído pelas lágrimas inflacionárias
Mantendo sempre que possível os sorrisos como capital de giro
Faço depósitos e retiradas constantes
Deposito alegrias, esperança, amor e fé
Retiro medos, traumas, angústias e mágoas
Pois eles são a ferrugem que corrói todo capital emocional
Protejo a emoção, invisto meus lucros em outros “bancos”
Atraio investimentos, ofereço segurança, cresço
E o retorno sempre vem, mesmo que deficitário, às vezes,
Há períodos de carestia, fases no vermelho, fluxo inconstante
Mas a balança ao final sempre é satisfatória
Trabalhar com capital emocional é trabalhar com vida!
Alda M S Santos
DESAPEGO
Desapego é a palavra de ordem da vez
Tudo é passageiro, nada é nosso
Para que se apegar se tudo ficará?
Desapegue-se!
Se tudo passará, nada levaremos
Apegar-se é machucar-se, é sofrer
Desapegue-se!
Nessa linha seguimos desapegando de modo errado
Conservando o material, jogando fora o emocional
Desapegando do que é fundamental
Estamos descartando facilmente os sentimentos
Fazendo pouco das emoções boas
Superficializando o amor, superando aquilo que é bonito
Desertificando nossa alma
Tornando áridas vidas alheias
Desapegando de boas relações
Desapeguemos, sim, daquilo que nunca levaremos
Daquilo que, material ou emocional, na verdade nunca foi nosso
Mas aquilo que levaremos registrado na alma, com orgulho
Aquilo que deixaremos tatuado nos corações que ficarem…
E justamente por tudo ser tão passageiro
Façamos valer a pena
Apeguemo-nos ao que é bom e nosso de verdade!
Alda M S Santos
PISA FUNDO
No volante, vidros abertos, cabelos ao vento
Ela pisa fundo…
Uma música após a outra atiçando a vida
Tocando as emoções superficiais ou profundas
Ela pisa fundo, quer ir longe
Encontrar algo perdido, resgatar alegrias e esperanças
Não quer sumir, não quer ir embora
Quer deixar o que for ruim para trás
Quer, paradoxalmente, um caminho que a traga de volta
Por isso ela pisa fundo…
O movimento, a estrada, o vento, a música, a solidão
Tudo leva a reflexões e pensamentos
Uma solidão consigo mesma não é solidão
É encontro… e dos bons…
Alda M S Santos
INGRATIDÃO
Sofrer de ingratidão nem sempre é ter esperado retribuição
Sofrer de ingratidão nem sempre é esperar reconhecimento
Não deveria sofrer de ingratidão quem não esperou nada em troca
Quem deu o melhor de si, disponibilizou tempo, carinho e amor gratuito
E percebeu que o outro sequer percebeu isso…
Mas somos humanos e nos ferimos ao receber ingratidão
Daqueles para os quais mais oferecemos, mais nos doamos
Mais nos arriscamos, mais amamos…
Não é preciso dar algo em troca, apenas ser confiável e não ser indiferente ou maldoso
Mas a cada experiência um degrau de aprendizado
A cada tombo ou lágrima uma cicatriz de sobrevivência
E, após processar tudo, saber que, para um coração grande,
Nao há ingratidão que o atinja a ponto de imobilizá-lo
Ao contrário, aprende que fazer o bem sempre o fará maior
Mais rico, mais bondoso, mais amoroso e solidário …
Aprendendo…
Alda M S Santos
SATURANDO
A dor nem sempre é aguda como os raios que riscam de prata o céu escuro
A dor nem sempre faz barulho como os trovões que fazem tremer tudo abaixo das nuvens
A dor nem sempre é de devastação pontual e rápida como tornado ou tsunami
A dor, muitas vezes, pode ser crônica, fininha, contínua, persistente
Como a chuvinha silenciosa que cai insistente na terra já saturada
Atinge fundo, vai encharcando pouco a pouco
Com avisos ignorados ela vai pesando, trincando, rachando, devastando
Até que provoca grandes deslizamentos dos morros e encostas mais resistentes…
Quem vigia apenas as grandes tempestades
Acaba sendo atingido, levado pela garoa insistente e persistente
Como as dores crônicas físicas ou emocionais nossas de todo dia…
Alda M S Santos
EM CASA, ONDE QUER QUE SEJA
No meio do mato, perdida na mata
Ouvindo os sons do silêncio
Em casa, onde quer que seja…
Numa estrada de terra, margeada de buganvílias
Sentindo o cheiro das cores intensas
Em casa, onde quer que seja…
Mergulhada nas águas de um rio gelado
Dependurada de ponta a cabeça numa árvore centenária
Em casa, onde quer que seja…
Numa casinha de pau a pique, numa barraca de lona
Num colchonete sob céu estrelado
Em casa, onde quer que seja…
Debaixo de uma tempestade, sem energia
Ouvindo o tamborilar das gotas insistentes na janela
Em casa, onde quer que seja…
Num jardim florido e colorido, entre abelhas e borboletas
Ouvindo as cigarras agitadas e o “motor”dos beija-flores
Em casa, onde quer que seja…
No deserto, numa região árida e seca, sob sol escaldante
Em busca de um oásis sonhado
Em casa, onde quer que seja…
A sensação de estar em casa em qualquer lugar
Surge quando estamos bem conosco mesmos
Quando acalmamos nossos gritos, fazemos as pazes com nossos silêncios
Nossa verdadeira casa é aquela que carregamos conosco
Como caracóis…
Se essa casa abala alicerces, trinca paredes, desmorona, em qualquer lugar nos sentiremos intrusos
Todos queremos estar sempre
Em casa, onde quer que seja…
Alda M S Santos
TÃO DIFÍCIL
Tão difícil quanto segurar espirro ou tosse
Tão difícil quanto conter as crises de riso em situações sérias
Tão difícil quanto mexer com água com vontade de fazer xixi
Tão difícil quanto não dormir deitado diante da TV
Tão difícil quanto manter-se aprumado na ventania
Tão difícil quanto parar qualquer avalanche iniciada
É segurar lágrimas de tristeza, emoção, raiva, mágoa ou decepção
Aquelas que não se quer verter…
Tenta-se distrair a mente, focar noutra coisa, evitar autopiedade
Respirar fundo, contar até 100
E torcer para ninguém, mas ninguém mesmo, notar ou perguntar nada
Qualquer palavra ou olhar doce
Um carinho ou cuidado, qualquer atitude pode trincar a estrutura montada
Romper comportas e ativar uma torrencial tempestade de lágrimas contidas
E acabar por inundar tudo…
Tão difícil!
Alda M S Santos
FASCINAÇÃO
Sou fascinada pelas alturas: árvores, montanhas, serras, picos
Com sol, chuva, calor ou frio, seja qual for o tempo
Sou atraída para a escalada…
Adoro subir, alçar voo, estar no cume
Mas a verdade verdadeira é que tenho muito medo de altura
Porém, o encanto e desejo de superação são maiores
E chegar lá em cima, ter a maravilhosa visão do alto
A quase sempre refrescante brisa ou ventania bagunceira
O olhar “de fora” para o mundo lá embaixo
Nos conecta mais rápido e facilmente com nosso mundo interior
O afastamento físico dos outros nos faz mais próximos de nós mesmos
Nos faz ver mais facilmente o que nos incomoda, alegra ou machuca
O que vale a pena conservar, valorizar e o que precisa mudar
Tudo passa a ser visto sob nova perspectiva
Entendemos o quanto tudo pode ser minimizado ou maximizado dentro de nós
Diante da grandiosidade do que vislumbramos nesse distanciamento e vemos de lá…
Alda M S Santos
FLEXÍVEL
Mais do que dobrar e estender
Mais do que torcer e se retorcer
Esticar e encolher, tensionar e relaxar
Fortalecer e flexibilizar
Nervos, coluna, músculos e articulações
É preciso fortalecer nosso emocional, nossos sentimentos
Flexibilizar opiniões mantendo o respeito conosco e com o outro
É mais importante para a saúde física e emocional
Que ter músculos e articulações fortes
Ter uma alma e mente flexíveis não é ser fraco
É ter sabedoria o bastante, é ter uma alma tão especial
A ponto de respeitar uma alma diferente da sua
Isso é ser flexível! Isso é ser gente!
Alda M S Santos
MATEMÁTICA APLICADA
Não dá para encontrar resultados diferentes
Para qualquer incógnita, de qualquer problema
Se não mudarmos as variáveis.
Nas equações da vida obteremos os mesmos valores
Positivos, negativos, inteiros ou fracionários
Até mesmo zero, neutro, nulo
Se não adicionarmos um elemento diferente.
Ou mudamos as equações, os problemas,
Ou mudamos o modo de resolvê-los.
A razão, a lógica, podem ser elementos adicionais importantes, ou não
Nas equações que envolvem emoção nossas e dos outros.
Não dá para adicionar qualquer número, fazer qualquer operação
Quando há vidas em risco.
Matemática aplicada à vida!
Até quem é inapto com números entende essa lógica…
Alda M S Santos
NÃO SERIA ROÇA!
Não seria roça se não faltasse energia
E se não fosse preciso esquentar água no fogão à lenha
Para tomar banho de bacia
Não seria roça se o céu não fosse mais limpo e tivesse mais cor
As estrelas mais numerosas, brilhantes e cadentes
A despertar nas mocinhas um pedido de amor
Não seria roça se os pássaros não se banhassem na terra
Se não cantassem nos galhos da ameixeira ou no alto da serra
Não seria roça se não tivesse uma rede na varanda
Uma música caipira tocada na viola por violeiro cheirando a fumo e lavanda
Não seria roça se não tivesse quitanda quentinha no forno de barro branco batido
Ou um mingau de fubá fumegante com queijo derretido
Não seria roça se o café não fosse coado na hora no coador de pano
Servido em caneca esmaltada
E se não tivesse banho no rio de criança sapeca e pelada
Não seria roça se a galinha d’angola não estivesse sempre fraca, o galo não cantasse animado
Ou o leite não fosse tirado das tetas inchadas das vacas por um vaqueiro cansado
Não seria roça se não tivesse prosa nas noites geladas em torno da fogueira
Um cão vira-latas a vigiar a porteira
E uma criança a se balançar na gangorra na mangueira
Não seria roça se a gente não se sentisse na roça
Não seria roça se a gente não fosse um pouco roça também…
Alda M S Santos
TUDO GERA LÁGRIMAS
Que há quando quase tudo
Nos toca, sensibiliza, emociona?
Se alguém querido diz algo que nos magoa
Nos debulhamos em lágrimas
Se a pessoa se toca, se justifica, se desculpa
As lágrimas rolam mais intensas ainda
Se alguém amado não nos valoriza, não se lembra de nós, choramos
Se tem carinho, cuidado, atenção, choramos também
Se os outros são desligados e indiferentes ao que fazemos, choramos
Se alguém demonstra gratidão, reconhecimento, as lágrimas brotam sem cessar…
O sol que arde, a chuva que cai
Alguém que sofre, outro que é feliz
O frio que martiriza, o calor que enerva
Uns que chegam, outros que se vão e deixam saudades
Uns que nos encantam, outros que nos decepcionam
A vida que segue indiferente a todos, implacável
Como ondas num mar gigante que vão e vêm
E as lágrimas sempre, sempre brotando…
Será que estão lavando o terreno das impurezas e parasitas
Para um novo broto renascer?
Alda M S Santos
ACUMULADORES DE EMOÇÕES
Uma caixa enorme com várias caixas menores dentro
Cada qual com algo precioso, único, especial
Que não pode ser descartado
Lembranças de uma época: livros, poemas, mensagens
Souvenirs, rosas secas, fotografias, cartões
Por mais que se arrume ou se ajeite
Muito pouco é descartado, e com pesar
Quase tudo volta para as caixas, para as malas, para os porta-trecos
Talvez um pouco mais organizado em suas prateleiras
Por ordem de importância, necessidade ou prioridade
O “interior” dos acumuladores de emoções é assim
Caixas e mais caixas, gavetas e mais gavetas
Um verdadeiro relicário que só eles entendem
O real valor de cada “peça” tão preciosa
Todo cuidado é pouco, pois são relíquias frágeis e interligadas
Uma que é remexida ou retirada gera efeito cascata
Bagunça e inunda toda a “organização” emocional presa por um fio
E pode afogar-se ou afogar a todos…
Alda M S Santos
NA CAMA, NA GRAMA OU NA LAMA…
Na cama nos deitamos, relaxamos, dormimos, descansamos, sonhamos
Na cama também sofremos de insônia, reviramos para lá e para cá
Temos pesadelos, medos, traumas, choramos
Na cama amamos, nos amamos ou odiamos, fazemos amor
Na cama ficamos doentes, convalescentes, imóveis, em repouso, entregues
Não há lugar bom ou ruim por si só
Há pessoas em paz que tornam bons todos os lugares que vão
Seja na cama, na grama ou na lama…
Alda M S Santos
PÁSSAROS FAMINTOS
Nas trilhas da vida vamos sempre seguindo
Como pássaros migrando em busca de novo verão
Querendo saciar a fome, a sede, almejando algo melhor
Tal qual João e Maria, deixamos migalhas de pão
Para marcar o caminho de volta
Se lá na frente for inverno, estiver pior
Acabamos nos perdendo na densa floresta
Nos ares gelados, nas nuvens espessas
Não há mais alimento suficiente que satisfaça
Ansiamos por regressar…
Voltamos em busca da trilha de migalhas deixadas
“Pássaros” famintos comeram, o caminho se perdeu…
Mas, se atentos olharmos, migalhas deixadas estão camufladas aí
Estão escondidas em cada pessoa que encontramos e deixamos no caminho
Que das nossas “migalhas” de amor e de afeto se alimentaram
Ou que se amargaram sob nossos atos, às vezes, indigestos,
Enquanto nos alimentávamos das migalhas nem sempre doces dos que seguiam à frente.
Para nos encontrarmos, para voltar ao ponto de partida
Precisamos seguir o rastro deixado em cada um
E descobrir o ponto onde tudo começou a desandar
E voltar…
Voltar para refazer uma trilha e poder seguir em frente
Cientes de que o alimento da vida está nas “migalhas” nem sempre valorizadas
Da nossa dianteira e também da nossa retaguarda…
Alda M S Santos
COLCHA DE RETALHOS
Sou tal e qual colcha de retalhos
Variados pedaços unidos para formar um todo
Nem sempre harmônico, nem sempre belo, nada perfeito
Muitas cores vibrantes, outras apagadas
Tecidos finos, macios, outros grossos e resistentes
E que juntos se unem para formar uma colcha
Vários pedaços tão diferentes entre si
Formando uma única peça que tenta se harmonizar
Para poder passar a imagem de totalidade numa colcha
E cumprir seu papel de enfeitar uma cama, cobrir pessoas
Aquecer corpos, relaxar quem nela se deitar
Alguns verão os tecidos grossos e apagados
Outros verão os finos, delicados e coloridos
Há ainda os que verão a colcha, não importando os detalhes
Se estes estão novos ou velhos, inteiros ou rasgados
Também cuidam para não estragar toda a peça
E passam a renovar e cerzir os buracos e falhas
Assim também é comigo, conosco
Vemos e somos vistos de acordo com nossas ausências e presenças
Também do que falta ou sobra em quem nos vê
Para uns seremos a colcha “perfeita”, na medida certa
Para outros, um pano roto qualquer sem utilidade nenhuma
Para vermos melhor as outras “colchas”
Precisamos ver melhor a nós mesmos primeiro
Somos muitos pedaços formando um todo meio desconexo
Tentando entender e aceitar o todo também desconexo que são os outros…
Até mesmo as colchas inteiriças e, aparentemente, perfeitas
Se passadas pelo crivo do julgamento de um olhar crítico e, por vezes, falho
Acabarão por se mostrar retalhadas e imperfeitas
E, ainda assim, belas em sua imperfeição
E a vida segue tecendo e costurando suas tramas
Com as linhas se embolando, arrebentando e bordando histórias
Usando todos os “retalhos” e colchas que encontra por aí…
Alda M S Santos
QUE FAZEMOS COM NOSSOS LIXOS?
Cuidar do meio ambiente é também cuidar de nossos lixos: tóxicos ou não
Que temos feito com nossos lixos?
Jogamos nas águas rasas humanas, contaminando o ambiente alheio?
Enterramos em nós mesmos, bem fundo, contaminando nossos lençóis freáticos?
Reciclamos, transformando dor em pérolas, o nocivo em algo útil para nós e para todos?
Bom lembrar que todo lixo que jogamos “fora” circula e volta para nós
Produzir menos lixo, menos sentimento tóxico é importante
Mas saber transformar o lixo produzido em arte é fundamental
Reciclar os cacos de vidro cortantes que recebemos dos outros
Transformando-os em amor é habilidade especial
É um modo de preservar nosso meio ambiente
É uma maneira de conservar nossa alma viva!
Que você tem feito com seus lixos?
Alda M S Santos
MIRAGEM
Como sonâmbulo, você andava num espaço bonito, porém frio e nebuloso
Passava por muita gente e não enxergava ninguém
Alguns lhe estendiam as mãos, sorriam, cumprimentavam
Outros nem te percebiam ou pareciam bravos contigo
Você não via, parecia ter outro objetivo
Olhos sem brilho, “adormecido”, opacos
Mas seguia…sem parar para nada
Eu observava de longe, encolhida num canto, chorosa
Você chegou até mim, os olhos brilharam, acordaram
Estendeu-me as mãos, levantou-me do chão
Pediu desculpas, chorou, me abraçou demoradamente
“Eu sempre te amei… sempre”-afirmou muitas vezes
E sumiu numa nuvem de fumaça
Como miragem…desapareceu…
Sentei-me novamente no canto
Você voltou para a vida
Eu continuei ali de onde não poderia sair…
Um sonho perturbador!
Alda M S Santos
NA PRÓPRIA PELE
Não dá para dimensionar o que se passa com o outro
Se sensíveis formos, apenas podemos especular, ter uma ideia
Mas, saber mesmo, só sentindo na própria pele
Só chorando as mesmas lágrimas
Só pisando e se cortando nos mesmos cacos de vidro
Só queimando sob o mesmo sol ou frio
Só desanimando na mesma queda ou escorando nas mesmas porteiras entreabertas da esperança
Só ardendo o peito com as mesmas angústias
Só aguentando as mesmas faltas, lidando com as mesmas falhas
Só sofrendo as mesmas perdas
Só estando sob o jugo das mesmas ameaças
Só tendo suportado o peso doloroso da mesma arma
Só sufocando pelos mesmos medos ou aflições…
Só assim sabemos, só assim não permitimos aos outros o mesmo mal
Só assim protegemos a quem amamos
Só assim nos humanizamos mais e mais…
Alda M S Santos
AO PÓ VOLTARÁS
“Do pó viestes, ao pó voltarás”
No intervalo, vamos nos divertindo, gerando vida
Arando a terra ora dura , ora macia de nossos corações
Semeando o amor, plantando flor, ressecando dor
Com pés no chão, na terra
Mas sem abrir mão das asas
Flutuando entre nuvens brancas ou cinzentas
Escolhendo caminhos menos tortuosos
Regando, adubando, colhendo
Espalhando mudas e sementes
Do pó viestes semente
Ao pó voltarás flor…
Alda M S Santos
EXPRESSÕES
Há tantas formas de expressão: físicas, mentais, emocionais
E tão pouco entendimento entre as pessoas
Não entendemos o outro e menos ainda nos fazemos entender
Acostumados a selecionar o que mostramos
A esconder emoções que causariam algum malefício
Ou que passariam recibo de fragilidade ou seriam “vergonhosas”
Vamos nos sufocando com nossas emoções…
Um olhar úmido, palavras engasgadas, peito apertado, angústias e medos
Mas o sorriso precisa prevalecer, pedir ajuda é ser fraco
Reclamar é só para ouvir histórias de situações piores, lições de moral
Num mundo em que o certo é se dar bem,
Sacudir a poeira, mesmo que ela cegue a nós mesmos e aos outros
Ser autossuficiente e não depender de ninguém
Fazer a “fila andar” e não perder tempo com “mimimi”
Não dá pra ser zebra frágil num mundo de leões ferozes
Assim, as doenças vão tomando conta e estão aí: pânico,depressão, dependências químicas, transtornos diversos…
Queremos poder chorar, gritar, sorrir, reclamar, ser humanos
Até mesmo silenciar se for nossa vontade
Estar sozinhos por opção e não por falta de um irmão, de um coração
Precisamos nos expressar e nos fazer entender
Antes que não haja mais opção!
Alda M S Santos
QUANDO…
Quando alguém chegar, bater à sua porta, peça para se identificar
Exija um crachá, um cartão, um uniforme, um ingresso, um convite, uma credencial
Isso previne que você abra o portão para um ladrão
Além do documento oficial que pouco diz
Observe atentamente o olhar, que muito expressa, a “bagagem” que carrega nas costas
As expressões faciais que traduzem o que vai dentro
Deixe entrar no quintal, na varanda, aos poucos, ou dispense
Mas antes de adentrar sua casa você precisa saber:
Quem é esse alguém que se apresenta e chega assim tão perto?
Qual seu histórico de vida, seu Curriculum Vitae pessoal?
Que pode trazer de verdadeiramente bom para sua vida,
Que você pode contribuir para a vida dele?
Aceite a interação, ajude, permita-se ser ajudado
Mas, evite danos, seja guardião de seus tesouros
Internos e externos…
Independente da “casa” que possua!
“Na sociedade há muitas pessoas que colocam trancas nas portas,
Mas não têm proteção emocional”. (Augusto Cury)
Alda M S Santos
PAIXÃO NÃO SE DISCUTE
Diz a sabedoria popular que três coisas não se discute:
Futebol, política e religião
E é muito fácil descobrir o porquê
A preferência por determinado time de futebol, política ou religião
Foge a qualquer razão, envolve mais alma, coração
Quem se mete a discutir quer explicar o inexplicável
Percebe logo que o outro, tão diferente ou até parecido conosco, pode não ter a mesma paixão
Não faz diferença o gênero, classe social, se é mais culto, inteligente, simples, vivido ou não
Para defendê-la, quase todos se perdem nas trilhas confusas e irritadiças da emoção
Não dá para mensurar aquilo que envolve coração
Não dá para discutir racionalmente o que não se baseia na razão
O melhor jeito de bem conviver é dar ao outro o que reivindicamos para nós
Respeito por nossas escolhas, nossos gostos, nossas paixões
Que ofereçamos a eles o mesmo direito ao silêncio, ao grito, à voz
O mesmo direito de manter-se firme, ou não, em suas paixões
Com o que trazem de único a cada um de nós: satisfações ou desilusões…
A paixão pode e até deve ser diferente, mas o respeito precisa ser equânime…
Alda M S Santos
ATROFIADOS
Tudo aquilo que não usamos atrofia, enferruja, torna-se obsoleto, perde a utilidade, a validade, o brilho
O mesmo vale para objetos, eletrônicos, máquinas, alimentos, músculos, cérebro, sentimentos, emoções …
Não usar uma máquina, um veículo não os preserva
Não ingerir um alimento não o conserva ou eterniza
Não trabalhar músculos faz com que se atrofiem, percam tônus
A utilização é que faz correr o óleo, o sangue, o oxigênio, o fluido da vida…
Motor em uso mantém a máquina ativa
Sentimentos e emoções são o óleo, o fluido vital que gira o motor da vida
Coração partido tem mais vida que coração intacto, atrofiado por falta de uso…
Alda M S Santos
LADRÕES
Vivemos nos escondendo, de ladrões nos protegendo
Dos mais variados tipos, a nos levar muito além de bens materiais
Nos trancamos em casa, tetra-chaves, senhas, alarmes, cercados de segurança eletrônica
Mas deixamos nosso coração e emoções desprotegidos
Ignoramos as senhas violadas, blindagem rompida, alarmes a soar
“Ladrões” se disfarçam, chegam sem percebermos
Mudam trajes, modos, invadem, arrombam com luva de pelica
Ou usam as chaves que nós mesmos oferecemos
Nem sempre totalmente negativos, oferecem algo que precisamos em troca
Atendem a algumas carências ou necessidades
Mas levam bem mais do que deixam
Um carro, casa ou celular roubado substitui-se
A saúde física, emocional e mental, a paz, a tranquilidade familiar, a vida
Não se recupera tão facilmente…
Cuidar de nossa emoção é valorizar a vida!
Alda M S Santos
A ÚLTIMA CARTA
Lembra-se do que escreveu naquela última carta
Sem saber que seria a última?
Lembra-se daquele abraço, daquele sorriso
Sem ter consciência que não haveria outros?
Lembra-se de um simples tchau, um até mais, sem saber que eram um adeus?
Lembra-se das gargalhadas perdidas, brigas tolas
Sem considerar que poderia se arrepender, sentir tanta falta?
Se não houver mais chance
Dizemos o que queríamos ao escrever,
Abraçar, sorrir, brigar, nos despedir, amar?
A marca derradeira foi a que gostaríamos de ter deixado?
A memória pode falhar, o outro faltar, empecilhos mil surgirem
A vida se esvair como fumaça no céu
Quantos “últimos” e saudosos momentos temos vivido?
Haverá tempo de reviver alguma coisa?
Oportunidade para uma última carta?
Bom mesmo seria não esperar pela última carta
Mas sempre “escrever” como se fosse a última…
Alda M S Santos
POR FAVOR!
Oito degraus, quatro pedidos
“Favor não sentar nos degraus”
Degraus vazios, nenhum atrevido
Por favor!
Deveríamos colocar alertas desse tipo em nós mesmos
Nos caminhos, os “degraus” que percorremos todos os dias
Favor não pegar essa trilha
Volte, esse caminho é sem saída!
Por favor!
Cuidado, você conhece o poder dos outros e suas fraquezas!
Ajude, mas cuide de si mesmo!
Por favor!
Não compre o que você não pode pagar!
Não leve o que não dá conta de carregar!
Não repouse seus pés em terrenos desconhecidos!
Não sente em bancos cheios que não garantem segurança ou firmeza!
Por favor!
Se em cada nosso degrau tivesse um aviso desses
Os tombos seriam menores, menos frequentes, menos fatais…
Alda M S Santos
A CULPA É MINHA
Estava numa dimensão intermediária entre a terra e o céu
À beira de um abismo, via que ele sofria do outro lado, prestes a cair
Tentava alertá-lo, gritava “te amo”, pedia para sair de lá, para não se arriscar
Encolhido, olhos opacos, distantes, não parecia me ouvir
Chorei, implorei que o salvassem, que trouxessem para mim, tirassem dele a dor que o torturava
Ouvi uma voz firme me dizendo: “ele pode cair, mas voltará mais forte”
“Transfiram para mim o que o machuca, a culpa é minha”- eu pedia chorando
A resposta veio logo “não, ele escolheu, ele quis viver, aprenderá”
“Mas sou mais experiente, podia ter impedido, alertado”
“Não é mais experiente, tudo isso é novo e perigoso para ambos, afaste-se daí”
Eu estava tão à beira do abismo quanto ele
Mas a queda dele era mais assustadora para mim que a minha
Abaixei, em prantos, rezei por ele, quando não mais o vi…
Acordei chorando, mas amedrontada e com fé, continuei as orações…
Alda M S Santos
ENXURRADA
Desce os morros, nos cantos, a princípio
Espalha-se pela rua toda, clara em alguns pontos
Muita água corre nessa enxurrada
Está tão suja, barrenta!
Veio lavando muita sujeira pelo caminho
Ainda assim, parece convidativa
Uma enxurrada, ou desperta a criança em nós,
Desejo de andar naquelas águas, molhar-se, molhar o outro, dar gargalhadas
Ou desperta um adulto frustrado e triste, resmungão
Daqueles que têm medo e nojo de tudo, amargurados
Sob o risco de contaminação por uma doença qualquer
Ainda prefiro ser o adulto/criança que brinca na enxurrada
A ser aquele adulto que já matou a criança em si
E sofre de uma outra patologia mais grave: o medo de viver…
Alda M S Santos
CAMINHOS DA ALMA
Os caminhos de nossa alma são abertos devagarzinho
Uma gentileza aqui, um cuidado ali, um sorriso, um abraço, uma atenção mais à frente
Trilhas, esquinas, curvas, recônditos secretos, o prazer de um balancinho
Neles transitamos, claro ou escuro, sorrindo ou chorando, diariamente
Só é capaz de neles trafegar quem os ajudou a construir
Ainda que involuntariamente, sem perceber, sem desejar
E, uma vez conhecido o caminho, mesmo sem o possuir
Será sempre alguém capaz de ali fazer a luz se acender ou se apagar…
Alma possui caminhos com vias só de entrada…
Alda M S Santos
NINHOS VAZIOS?
Um ninho vazio, aparentemente um emaranhado, muito bem tecido
Fios, fiapos, pequenas linhas e folhas, galhos, tudo bem escolhido
Montado com o máximo capricho e cuidado
Amor e proteção em cada mínimo detalhe
Para realizar desejos, receber bênçãos, dar vida ao que foi sonhado
Há pouco eram só penugem, fome, pios, bicos abertos
Carinho ao alcance das mãos, ou melhor, dos bicos famintos
E logo se transformaram em penas, força, canto, asas, voo
Inseguro, a princípio, raso, baixo, assustado
Seguido de força, coragem, beleza e encanto
Proporcionando muito orgulho àqueles que no ninho ficaram
E, paradoxalmente, uma alegria salpicada de tristeza, de saudade
O amor tem o dom de alimentar quem trata de alimentar o outro
E o alimento parece faltar a quem não tem mais os alimentandos
Aquele ninho não é mais útil, não os cabe mais
Não para a mesma finalidade, ficou apertado para o tamanho de suas asas
O alimento dali já não é nutritivo o bastante
Mas quem aprendeu a se alimentar nesse bico
Quem cultivou o amor no pulsar desse coração
Quem ali desenvolveu os músculos das asas e alçou o primeiro voo
Não se esquece…
E se lembrará quando novo ninho for tecer
Com o mesmo amor e cuidado
Vida e amor se renovam
E mantêm os ninhos sempre cheios…
Alda M S Santos
SOBRAS DE UM AMOR
Pequenos pedaços de fotos queimadas
Um sorriso numa, um beijo noutra, abraços rasgados ao meio
Partes de uma paisagem linda
Porta-retratos quebrados, cartões de aniversário amassados
Souvenirs, uma pulseira com o símbolo do infinito
CDs de músicas, filmes, poemas, vidros de perfume,
Entre as cinzas de uma fogueira, partes de uma história
Tentativa vã de apagar o amor vivido queimando símbolos
Ao rasgar, queimar, destruir as “provas” do vivido
Espera-se esfriar o que queima e machuca por dentro
Um modo de dizer: fim, acabou
Logo percebe-se que o que ocupou 100% de seus dias
Não se finda numa fogueira, não vira cinzas tão facilmente
Enquanto não se fizer as pazes consigo mesmo, com sua história
Aquela que está registrada nos corações, na alma
Permanecerá em fogo brando
Ainda que tudo tenha sido queimado lá fora…
Alda M S Santos