QUERIA VOLTAR ÀQUELE TEMPO
Queria voltar àquele tempo
Onde os desejos eram simples e facilmente satisfeitos
Chupar bala puxa-puxa, subir em árvores, andar descalça, brincar na rua, tomar banho de bacia, dividir a cama com o irmão
Tempo de sentimentos puros e perfeitos…
Queria voltar àquele tempo
Onde os amigos eram menos virtuais, mais reais
Estavam do outro lado da cerca de bambu
A apenas um abraço de distância
Tempo de amigos leais…
Queria voltar àquele tempo
Onde os amores eram mais verdadeiros
Confidências, sorvete na pracinha, beijos roubados, “pegas” no portão
Tempo de amores mais parceiros…
Queria voltar àquele tempo
Onde as músicas eram pura poesia
Dançantes ou não, tocavam corpo e alma
Tempo de melodias que refletiam o que a gente sentia…
Queria voltar àquele tempo
Onde até sofrer era uma forma “doce” de viver
Sem precisar recorrer a antidepressivos
Tempo de magia, encanto e prazer…
Queria voltar àquele tempo,
E me sentir plenamente reviver…
Alda M S Santos
DIFÍCIL ESQUECER?
Que é por aqui mais difícil de esquecer
O que faz chorar, faz sofrer
O que mais faz feliz, faz sorrir
Ou o que declinou, quis partir?
É difícil esquecer as dores
Causadas por (des)afetos, (des)amores
Ou os carinhos, cuidados, sem enfado
De quem sempre esteve ao seu lado?
Se é difícil esquecer a criança que fomos
Também o é a pessoa que nos tornamos
E todos aqueles a quem amamos
Se pudéssemos escolher deixar desvanecer
Apagar da memória, fazer desaparecer
O que gostaríamos de em nós deixar morrer?
Alda M S Santos
Tarde de Poesias: Difícil de esquecer
NUM POTINHO
Já pensou como seria bom
Se pudéssemos deixar num potinho
Bem fechado e guardadinho
Para ser acessado nos momentos de carência
Quando doer, machucar, for latência
Ou simplesmente quiser reviver
Um instante de alegria, de prazer?
Se o que machuca é a solidão
Você acessa no potinho um abração
Se o que incomoda é indiferença
Encontra no potinho amiga presença
Se há lágrima a atormentar
No potinho haverá sorrisos a resgatar
Um potinho bem especial
Nele nada ficará de mal
Ele será estoque de pureza, de lindeza
Fonte de energia, delícias da natureza
Não há maior e melhor riqueza
Joga-se fora o que for dor
Ali só delicadeza da flor, doçura do amor
Quero um potinho assim..
Alda M S Santos
PÃO DE MEIO
Pãozinho, “pão de sal”, pão de meio
Bisnaguinha, baguete, pão quentinho
Duas crianças correndo no caminho
Daquela padaria que era sua rotina
Uma paradinha e os nervosos dedinhos
Fazem um pequeno buraquinho
Nas pontas do pão tão cheiroso
Morno, recém-saído do forno
Fazem um oco no pão de meio
Que já não chega em casa tão inteiro
Levadeza, sapequice, que a mãe finge não ver
Pão com manteiga, com queijo
Recheado de lembranças e esperanças
Lembram abraço, carinho e beijo
Aconchego, família, colo, arrego
Acompanha uma história de vida
De avós, pais, filhos e netos
Escrita, sentida, falada ou declamada
Guardada, reservada ou aos quatro ventos lançada
É uma história de alimentos de amor
E o pãozinho sempre está ali
Dando um toque de calor, de união e frescor…
Alda M S Santos
NOSSO BAÚ DE LEMBRANÇAS
Às vezes é preciso botar ordem
Na bagunça, na grande desordem
Que se tornam nossas lembranças
Machucando, provocando lambanças
Pegar esse baú para organizar
Jogar fora o que já não tem lugar
Aquilo que fere, machuca, faz chorar
Selecionar, classificar, separar, guardar
As que ainda doem, mas são preciosas
Deixar lá no fundo bem guardadas
Para quando preciso serem acessadas
Bem em cima, facilmente alcançáveis
Guardar em caixinhas bonitas e douradas
As lembranças de amor, as mais abençoadas
Alda M S Santos
LEMBRANÇAS FUTURAS
Todos os dias construindo, abrindo caminhos
Plantando uma flor, aparando os espinhos
Tentando espalhar perfume, distribuir carinhos
Procurando ser a brisa que refresca
O vento que leva pra longe os maus fluidos
Ao olhar para trás, se possível, não quero ter arrependimentos
Quero me ver na fé e na oração buscando entendimentos
Quero saber que fui frágil, fui forte
Que não fiquei parada contando com a sorte
Quero me ver acolhendo o outro, sendo abrigo
Abraçando a vida, sendo ouvido amigo
Chorando ou sorrindo, nunca desistindo
Nas minhas lembranças futuras quero saber que tentei
De todas as formas ser o bem
Que me doei e não me neguei ao amor por medo da dor
Que errei, caí, me arrependi, levantei, segui
Que fui capaz de falhas alheias desculpar
Mas, principalmente, que fui capaz de me perdoar
Que lutei contra o que de negativo carreguei
Procurei melhorar, evoluir, encontrar um bom lugar
Até o momento de para casa poder voltar
Nesse gigantesco mar mergulhar
Se não for possível, quero voltar para cá e consertar…
Alda M S Santos
UM CASARÃO
A sede de uma fazenda
Um casarão antigo, tão nostálgico
Remete a lembranças reais ou imaginárias
Histórias de outros tempos
Assoalhos de madeiras, fotos antigas nas paredes
Móveis de madeira de lei
Pesadas como certas dores
Cheiro de fumaça, de fumo de rolo
As banquetas em torno do fogão a lenha
As pimentas em conserva, os doces nos tachos
Gordura animal nas latas, cães bravos
Uma fresta no assoalho que se vê lá embaixo
Telhados com forros de sisal
Frutas e verduras numa cesta colhidas na horta
Galinhas e patos pelo quintal
Roupas dependuradas no varal
Uma escada de madeira, uma portinhola
A varanda na frente onde se põe a conversa em dia ao entardecer
O pomar carregado de frutas
Algumas fotos de familiares que já foram para o céu
Ou morar na capital…
Ali o moderno e o antigo se misturam
O celular sobre o móvel antigo
Ao lado de uma vitrola que ainda funciona…
Assim a vida parece lenta e longa
Mas porque a gente sente que tudo passou tão rápido?
Nostalgia…
Um casarão carrega toda uma história
Casarões trazem nossas histórias impregnadas
Vivida por nós ou pelos nossos
Histórias que se misturam
Num casarão….
Alda M S Santos
HÁ QUEM DEIXE…
Há quem deixe o brilho do sorriso
Também há quem deixe a sombra escura do olhar
Há quem deixe um jeito especial de ouvir e se calar
Também há quem deixe uma língua afiada ao criticar
Há quem deixe o calor de um ombro acolhedor
Há também quem deixe a dor de modo ensurdecedor
Há quem deixe uma alegria, uma brincadeira
Também há quem deixe uma rabugice, uma implicância, uma bobeira
Há quem deixe um perfume, cores e um jeito sensual de ser
Há também quem deixe a indiferença prevalecer
Há quem deixe belas palavras, carinhos e versos
Também há quem nada diga, apenas deixa a fadiga
Há quem deixe marcas de um amor que se fez
Também há quem deixe medos e inseguranças
Há quem deixe o sonho do amor em seu esplendor
Também há quem fique e dê ao sonho um caráter de realidade, animador
Todos deixam suas marcas nos outros quando se vão
Quais marcas andamos imprimindo por aí?
Alda M S Santos
QUE TE FAZ LEMBRAR DE MIM?
“Estava limpando o quintal
E ao ver os vasos de flores
Lembrei-me de você”- ela disse
Que delícia ser lembrada assim…
Maravilhoso seria se vivêssemos sempre desse modo
Deixando nos outros somente doces e belas lembranças
Flores, perfume, sorrisos, poesias e livros
Uma gargalhada, uma brincadeira, uma sapequice qualquer
Imprimindo nos outros marcas eternas
De carinhos, beijos, cuidado, abraços, delicadeza
Se ao se lembrarem da gente um sorriso saudoso vier à mente
Terá sido válida essa passagem por aqui…
Que te faz lembrar de mim?
Alda M S Santos
PESSOAS
Lembrar das pessoas de nossas vidas
E perceber o que cada uma fez ou deixou em nós
Deixa-nos ora saudosos, ora aliviados
É trabalho catártico, terapêutico
Vêm à mente palavras ou ações
Boas ou ruins, algumas já esmaecidas ou quase apagadas
Outras ainda marcantes como digitais
Muitas vezes nos esquecemos do cheiro, da voz, das palavras, do olhar
Mas sempre nos lembraremos
Da sensação que nos causaram
Dos sentimentos despertados
De como nos acordaram para a vida
Ou do modo que nos apagaram ou jogaram para baixo
Focar nos sentimentos bons que ficaram em nossa alma
É um modo inteligente de seguir em frente…
Pessoas são pessoas, errando ou acertando
Ser marcante positivamente
Deixar boas lembranças registradas nos corações dos outros
Deve ser um propósito de vida…
Alda M S Santos
CORETOS
Para mim, coretos remetem a interior
Interior de cidades,
Interior da gente…
Qualquer cidadezinha tem ao menos um
Qualquer pessoa já subiu em um!
Todos temos num coreto uma história
Em cada história uma saudade
Sempre são pontos turísticos,
Nas praças das igrejas, nos centros, nos jardins,
Músicas, festivais, passeios de casais de mãos dadas,
Revisitamos e nos esbaldamos nas lembranças
Olhares, paqueras, romance, namoro…
E uma foto no coreto…
Olha o passarinho!
Alda M S Santos
Guanhães MG
VOLTAR NO TEMPO
Deliciosa sensação de voltar no tempo
Renascer noutra década, lá atrás
Refazer caminhos, cantar alto músicas gravadas na memória
Estilo e figurinos de época
Dançar, dançar e dançar
Não por desprezar a década de hoje
Mas por valorizar aquela que fez de nós o que somos
E que fixou morada em nosso coração
Valorizar o passado, inclusive o que não foi tão bom
Fazer as pazes com nossas misérias
É imprescindível para o bem viver no hoje
E para as expectativas que criamos para o amanhã
Somos a soma de um ontem saudoso
Um hoje meio ansioso, ainda que prazeroso
E um futuro desejado e (in)certo…
Isso se chama vida!
Alda M S Santos
THE WINNER TAKES IT ALL
“O vencedor leva tudo
E o perdedor fica menor, tem que cair”
Diz, romanticamente, ABBA
E vencedores aqui são aqueles capazes de acionar um botão
Mergulhar na máquina do tempo
E voltar…voltar…
E, jovens novamente, sentir intensamente a mesma emoção
A música, a alegria, o coração acelerado
A louca vontade de amar, de viver, de dançar
Ser e fazer parte desse universo, dessa energia
Rejuvenescer…
”The winner takes it all”
Vencer ou perder?
“E os deuses podem jogar os dados e alguém querido ser perdido aqui”
Tudo uma questão de tempo ou lugar
Destino?
Vencer é voltar sem se perder
É valorizar o antes sem perder o agora
Ora vencendo, ora perdendo
Sempre levando algo…
E hoje vencemos!
Alda M S Santos
ESQUECER OU LEMBRAR?
Você já se esqueceu?
A vida continuou, não parou
Ao menos não parou para todo mundo
Mas para aqueles que sofreram a perda de alguém
Dor, angústia, lágrimas, revolta, tristeza, medos
Às vezes precisamos esquecer
Para seguir vivendo…
Noutras, exatamente ao contrário,
Precisamos lembrar de quem partiu e vive em nós
Para não nos sentir morrendo…
Uns precisam de 30 dias, meses ou anos para esquecer
Outros se lembrarão e serão lembrados
Mesmo que passe uma vida inteira
Algo sempre estará rompido em quem perdeu alguém
Que representou no mínimo 50% de seu viver
Esquecer ou se lembrar continuamente
São modos similares de ativar novamente a válvula da vida…
Alda M S Santos
DELÍRIOS
Em poucos minutos, flashs de imagens nos invadem
Dolorosas, sofridas, assustadoras
Amedrontam a alma da gente
Em poucos minutos, flashs de imagens nos invadem
Carinhosas, ternas, quentes, apaixonadas
Encantam a alma da gente
Acendem e apagam, chegam e se vão
Alternam-se desejos e delírios, bons e ruins
Mas deixam um rastro iluminado de esperança no caminho
Fazendo bater mais forte o coração…
Alda M S Santos
MEMÓRIAS EM CINZA
Um descuido, uma pequena distração
E uma casa pega fogo, literalmente
E tudo que se tem é consumido pelas chamas
Colchão, cama, móveis, roupas, calçados
Documentos, livros, fotografias, artigos pessoais
Memórias registradas em papel, pendrive, computadores
A cada minuto percebe-se algo que se foi
Levado para sempre, consumido pelo calor do fogo
Tudo é fumaça, fuligem, sujeira, dor, culpa, desespero
Aí percebemos o quanto de valioso possuíamos
E se tornou cinzas…
Passada a fase aguda do susto, do choque
Nota-se que algo valioso sempre fica
Aquilo que não se reconstrói quando se perde: a vida
Mantendo-a, é possível reconquistar o que foi perdido
Amigos verdadeiros e falsos serão revelados
Saberemos quem não nos abandona e podemos contar sempre
Novas memórias serão gravadas, misturadas às antigas
E, mais tarde, tudo estará de pé novamente…
O mesmo não se dá quando o “fogo” da doença ou da maldade destrói a mente, a alma
Quando apaga os circuitos cerebrais que registram em nós o que vivemos
Isso só recuperaremos nas mentes daqueles que conviveram conosco
Que nos amaram, ou não
E que têm de nós boas ou más lembranças registradas…
O amor é a borracha que apaga o mal
Mas também é o lápis que reescreve uma nova história…
Vamos reescrever!
A vida num instante pode se apagar
Ou se acender feito sol no horizonte…
Alda M S Santos
NÃO SERIA ROÇA!
Não seria roça se não faltasse energia
E se não fosse preciso esquentar água no fogão à lenha
Para tomar banho de bacia
Não seria roça se o céu não fosse mais limpo e tivesse mais cor
As estrelas mais numerosas, brilhantes e cadentes
A despertar nas mocinhas um pedido de amor
Não seria roça se os pássaros não se banhassem na terra
Se não cantassem nos galhos da ameixeira ou no alto da serra
Não seria roça se não tivesse uma rede na varanda
Uma música caipira tocada na viola por violeiro cheirando a fumo e lavanda
Não seria roça se não tivesse quitanda quentinha no forno de barro branco batido
Ou um mingau de fubá fumegante com queijo derretido
Não seria roça se o café não fosse coado na hora no coador de pano
Servido em caneca esmaltada
E se não tivesse banho no rio de criança sapeca e pelada
Não seria roça se a galinha d’angola não estivesse sempre fraca, o galo não cantasse animado
Ou o leite não fosse tirado das tetas inchadas das vacas por um vaqueiro cansado
Não seria roça se não tivesse prosa nas noites geladas em torno da fogueira
Um cão vira-latas a vigiar a porteira
E uma criança a se balançar na gangorra na mangueira
Não seria roça se a gente não se sentisse na roça
Não seria roça se a gente não fosse um pouco roça também…
Alda M S Santos
BOA OU DOÍDA LEMBRANÇA?
Que despertamos na memória das pessoas:
Boa, ruim, doída ou gostosa lembrança?
Uma tia baiana que nos “cedeu” sua cama de casal numa visita
E que vi apenas uma vez, faz aniversário hoje…
Lembrar dela é lembrar dessa delicadeza
Com toda sua simplicidade, deixou marca boa, de cuidado, há mais de 25 anos
Temos em nós diferentes marcas, boas ou ruins
Impressas na alma tal ferro em brasa, tal digital
Que nos fazem gratos, saudosos, tristes ou resignados
Qual será a marca que temos deixado na alma dos outros
Daqueles que passaram por nós e ficaram para trás por variados motivos?
Será que são agradecidos ou inconformados?
Será que se lembrarão das delicadas ações
Das “camas” que cedemos, da amizade, do amor, do sorriso, do carinho
Do pouco que tínhamos ou podíamos, e cedemos, como tia Maria Helena fez
Ou da sovinice, maus tratos, críticas, reprovações, lágrimas?
Deixamos como lembrança algo amargo que querem apagar,
Ou doce, digno de ser lembrado e saboreado?
Qual a marca que deixamos naqueles que conosco conviveram?
Alda M S Santos
COMO NÃO DEIXAR SE APAGAR?
Como não deixar se apagar em nós a imagem de quem se foi?
Como não nos apagarmos do coração dos outros quando formos embora?
Como conservar na memória a voz doce na tranquilidade ou a ofegante na irritação
A insegurança contida, o medo de nos decepcionar
O desejo constante de agradar, de manter nosso amor
Os ciúmes bobos, os calundus desnecessários
As brigas tolas, o amor nem sempre declarado
Como manter vivo na lembrança o olhar terno de admiração e cuidado, ou o faiscante de frustração
Como não deixar se apagar o sorriso sincero e atraente, a gargalhada gostosa
O andar ora inseguro e trôpego, ora confiante e sensual
Como não deixar ir embora o cheiro bom, o perfume tão único e especial
Como não deixar de sentir o calor de um abraço terno
O conforto de palavras sábias e de apoio, oferecidas ou recebidas
A doçura de um beijo amoroso
O suave peso da cabeça que chorou em nossos ombros
A força a nós ofertada, em diversos momentos, apenas por existir
Como não deixar se apagar em nós
O que foi impresso em cores tão fortes e quentes?
Preocupação desnecessária: o essencial, importante e verdadeiro não se apagam
Foram registrados em nós como marca feita pelo ferrete
Pela brasa incandescente do amor, mas singela como uma flor
Paradoxalmente dolorida e prazerosa…
Isso não se apaga tão facilmente
Nem em quem foi, tampouco em quem ficou…
Amor de qualquer tipo é eterno
Em qualquer dimensão! 🙏😇
Alda M S Santos
ESQUECIMENTO
Esquecer…
Um alívio que muitos procuram
Apagar o que machuca, deixar para trás
Esquecer…
Necessidade real, do que às vezes parece tão irreal
Cargas pesadas, difíceis, dolorosas, mágoas
Esquecer…
O que deixou de fazer por covardia, o que fez sem querer, os medos
O que fizeram consigo, com ou sem permissão
O que você fez com os outros sem pensar bem
Esquecer…
Para isso, muitos buscam drogas, alucinógenos, leveza para o que pesa
Esquecer…
A verdade é que na tentativa de esquecer, busca-se entorpecimento
Cria-se, muitas vezes, mais lembranças dolorosas a serem esquecidas…
Esquecer…
Sem resolver dentro de si o que machuca
É como suturar uma ferida infeccionada que ainda sangra…
Alda M S Santos
SAUDADES
Não sentimos saudades de algo ou alguém
O que nos angustia é a saudade de nós mesmos
Daquilo que éramos, do que sentíamos, da leveza
Do que dávamos conta, do que produzíamos, da energia
Da alegria espontânea, do amor, da proteção
Do encantamento perante a vida
Da sensação agradável e preciosa
Em relação a algo ou alguém que passou, que ficou lá atrás, mas deixou um laço em nós
E vez ou outra volta e nos lembra do que vivemos
Saudades da infância, da terra Natal, dos avós, dos filhos pequenos, dos amigos do colégio, da faculdade, dos amores…
Nostalgia, saudades de nós mesmos em outras épocas
Em outras situações mais amenas, mais ilusórias, mais esperançosas
E que se foram belas e rápidas como águas de uma cachoeira
Saudades…
Alda M S Santos
QUERIA VOLTAR ÀQUELE TEMPO
Queria voltar àquele tempo
Onde os desejos eram simples e facilmente satisfeitos
Chupar bala puxa-puxa, subir em árvores, andar descalça, brincar na rua, tomar banho de bacia, dividir a cama com o irmão
Tempo de sentimentos puros e perfeitos…
Queria voltar àquele tempo
Onde os amigos eram menos virtuais, mais reais
Estavam do outro lado da cerca de bambu
A apenas um abraço de distância
Tempo de amigos leais…
Queria voltar àquele tempo
Onde os amores eram mais verdadeiros
Confidências, sorvete na pracinha, beijos roubados, “pegas” no portão
Tempo de amores mais parceiros…
Queria voltar àquele tempo
Onde as músicas eram pura poesia
Dançantes ou não, tocavam corpo e alma
Tempo de melodias que refletiam o que a gente sentia…
Queria voltar àquele tempo
Onde até sofrer era uma forma “doce” de viver
Sem precisar recorrer a antidepressivos
Tempo de magia, encanto e prazer…
Queria voltar àquele tempo,
E me sentir plenamente reviver…
Alda M S Santos
DIA DA SAUDADE?
Dia da saudade não existe
Existe motivo da saudade
E esse é apenas viver
Quem vive sente saudades
Deixa saudades,
E isso acontece dia após dia
Até sermos apenas saudade…
Alda M S Santos
CAMINHO DA ROÇA
Uma estradinha de terra serpenteando por aí
Morro acima, ladeira abaixo, tanto faz
Árvores, flores, pasto, vegetação até onde a vista alcança
Insetos e pássaros cantando ritmicamente
Gado mugindo ao longe, cachorros a nos encontrar a meio caminho, receptivos
Cheiro de mato, de bichos, de flores, de vida
E nós, contando casos, relembrando histórias
Até chegar à fazenda dos tios queridos,
Gente boa até “encostar no barranco”
Onde tudo é encanto e magia…
Mudamos para a capital, pais e dois filhos, há 49 anos
Mas nossas raízes estão fincadas aqui
Esse caminho da roça sempre iremos fazer
Inverno ou verão, sol ou chuva
Até quando formos chamados para outra travessia…
Alda M S Santos
MINHA AVÓ
Pequena, magrinha, miudinha mesmo
Um abraço parece que irá quebrá-la
Minha avó, cabeça branquinha até onde minha memória alcança
Ela tem 95 anos, 6 filhos, 19 netos, 18 bisnetos e uma tataraneta
Olhos fundos, uma vida de força escondida ali!
Geniosa, contadora de casos, vida sofrida, cismada
Sempre trajando saia e blusa de mangas compridas, trabalhadeira
Faça frio ou calor, sol ou chuva
Mora sozinha por opção, sempre na janela a olhar quem passa,
Cuida da horta, das galinhas, da casa
Deita-se junto com o sol e levanta-se com ele
Nunca tira fotos, dificilmente sai de casa
Não usa perfume, tem cheiro gostoso de vó, aroma da minha infância!
Econômica na demonstração de afetos, de emoções
Mas quem a conhece reconhece o brilho no olhar
Quando estão perto quem ela ama
E a opacidade que toma conta quando vão embora
Até a janela da frente se fecha em protesto
Junto com o semblante e o coração
Fala muito na morte para espantar o medo que sente dela, do desconhecido
Bem humorada, diz que tem três coisas: velhice, feiúra e ruindade recolhida
Pra mim tem outras: força, fé, coragem e muito amor contido
Nas minhas lembranças mais antigas de vida, ela está
E ficará para sempre…
Te amo, vó!
Alda M S Santos
MINHA TERRINHA
Se um dia eu me perder
Aqui sempre será um bom lugar para juntar pedaços de mim
Olho para minha avó, 95 anos, suas rugas, sua frágil força, seu carinho contido,
Quantas histórias!
Tios, primos, parentes e amigos vários
“Troquei suas fraldas, curei seu umbigo, cuidei muito de você”
“Brincamos muito juntos, tenho saudades”
“Já exploramos uma boa parte disso tudo aqui”
“Você não mudou nada, mesmo sorriso, mesma carinha”
Todos têm algo a lembrar, a contar, a saudar
Cada cantinho, cada casa, cada espaço natural, cada montanha, mina d’água,
Aromas, o jeitinho de ser de cada um
Ver que todos envelhecemos, mas que nossa essência permanece
A despeito, ou até mesmo por causa, dos tropeços e entraves da vida
Dizem que uma parte de nós sempre fica onde se enterra nosso umbigo
E que irá ajudar a nos lembrar quem somos, nossos valores
A não nos esquecermos de nós,
Independente do que o mundo lá fora tenha feito conosco.
Sempre é bom voltar…
Alda M S Santos
MUSEU DO AMANHÃ
Museus carregam em si objetos de valores inestimáveis,
Aqueles cuja humanidade quer conservar, estudar
Expor, valorizar, eternizar
Museus do amanhã são as pessoas…
Acumulamos em nós para o amanhã tudo que nos é caro
Pessoas, emoções, sentimentos, lembranças
Mas, diferentemente dos museus,
Alguns desses itens não são expostos, ou o são com critério
O que não lhes reduz o valor
Ficam guardadinhos numa sala secreta de acesso especial
Isso nos torna museus vivos, que interagem
Que se valorizam nesse trânsito de sentimentos
De dor, saudade, alegria, amor,
Que ora se mostram, ora se escondem…
Alda M S Santos
SAUDADES…
Saudades…
Sentimento ambíguo, pois só se tem saudade do que é ou foi bom
Mas que dói, maltrata, machuca
Nostalgia, tristeza, desejo do reencontro
Bom mesmo é quando podemos saciá-la
Aí é euforia, prazer, êxtase!
Caso contrário, as lembranças tentam suprir a falta
Saudade vive da expectativa do reencontro
Saudade rima com esperança
Esperança rima com amor!
Alda M S Santos
RASTROS
Se nós não estivéssemos mais aqui
E alguém se dispusesse a escrever nossa história
Seguir nossos rastros, fazer nossa biografia
Como se fôssemos alguém famoso,
Ou que muito fez pela humanidade,
A quem deveria procurar?
Pais, irmãos, namorados, amigos, cônjuge, filhos, companheiros de trabalho…
Extrair deles nosso modo de ser e agir frente aos problemas
Diante do amor, das alegrias, das dificuldades…
Seria uma história real, completa? Verdadeira até que ponto?
Se não pudessem falar diretamente conosco, seria verídica?
Quem sabe tudo ou tanto assim de nós?
Há alguém que nos ame ou conheça tão a fundo?
Sei não!
Mas uma coisa é certa: não precisamos ser famosos
Ou termos feito muito pela humanidade
Nossa biografia, ainda que incompleta, ou mesmo não tão fiel
Estará escrita naqueles que amamos muito
Nos quais confiamos e compartilhamos vida
E também nos que nos amaram, com todos os nossos defeitos
Nossos rastros precisam estar neles,
Em quem dividiu conosco o amor
O resto não é tão importante!
Alda M S Santos
QUE IMAGEM CARREGA CONSIGO?
Qual imagem carrega consigo na tela do celular,
Na carteira, no bolso, na bolsa, na mochila, tatuada na pele,
Entre as páginas de um livro como uma rosa eternizada?
Aquela que ao encarar sorri para você, por você,
Que tira você do eixo, do prumo, do esquadro,
Que fez da sua vida uma bagunça, sinalizou com uma reviravolta
Te ensinou a fazer malabarismos, a viver na corda bamba
Te fez acreditar que tudo pode ser melhor,
Te colocou numa via, tantas vezes, de mão-dupla, perigosa
Outras, mão-única, sem retorno
Que você deixou em casa, no trabalho, na escola,
Ou simplesmente jogada por aí em qualquer lugar?
Aquela imagem que não precisa de celular,
De carteira, bolso, bolsa, mochila ou livro,
Pois essa imagem você carrega gravada na mente,
No coração, na alma…
Qual imagem carrega consigo e é sua fonte vital?
Alda M S Santos
HISTÓRIAS
Onde moram as histórias?
Numa praça em uma cidade centenária,
Numa obra de arte, numa música,
Numa fonte luminosa, num rio corrente,
Numa escultura, num livro, num poema,
Numa estrada, num caminho tantas vezes trilhado?
Parece que sim! Mas não!
As histórias moram dentro das pessoas!
Pessoas que as criaram,
Que as escreveram, que as viveram.
Esses espaços, objetos e ambientes,
É que têm o poder de ativar as lembranças, boas ou ruins.
Ao olhar para qualquer um deles,
Algo desperta dentro da gente.
Somos recheados de histórias, de saudades,
De desejo de reviver, de nostalgia…
Nós somos a história!
Alda M S Santos
NOSSAS CASAS
Casas trazem em si as marcas dos que ali viveram
Uma foto antiga dos patriarcas na parede
Um assoalho surrado, uma porta gasta e encerada pela gordura da pele
Marcos das portas com linhas sinalizando alturas medidas ali
Uma toalha de crochê antiga na mesa
Batentes de janelas escritos a canivete sob o tom cinzento do fumo
Um crucifixo sobre um oratório com Nossa Senhora e uma vela acesa
Uma Bíblia sempre aberta nos Salmos
Uma gangorra que já muitos balançou
Numa árvore centenária muito querida
Caixas antigas com fotos e cartas amareladas
Um livro com uma rosa especial desidratada entre as páginas…
Somos uma casa de muitas moradas
Infinitas marcas trazemos em nós
A começar com o rosto sulcado de rugas
Quantas histórias, quanta vida!
Valorizemos as marcas deixadas em nossa “casa”.
Alda M S Santos
CAMADAS DE NÓS
Peles sobre peles, pelos sobre pelos,
O barro que esconde o brilho do ouro,
Ou do poder da garrafa de Aladim,
Os resíduos que recobrem a pedra não lapidada,
A poeira que se aloja na madeira de lei,
As lembranças que uma casa antiga carrega,
A química escura que gruda na prataria,
Os líquens que vivem nos troncos das árvores,
As camadas de tecidos que recobrem nossa pele
A fuligem que adere a todo ser vivente, ou não.
As camadas de emoções que escondem outras emoções…
São necessárias, são proteção, são autodefesa,
Uma vez retiradas, cuidadosamente, no tempo certo,
Tudo volta a brilhar….
Alda M S Santos
JANELA DE MADEIRA
Na rua, uma casa simples
Na casa simples, uma janela de madeira,
Debruçada na janela de madeira,
Uma pessoa a olhar a rua,
Onde passam muitas pessoas,
Quase todas queridas e aparentadas,
Que cumprimentam com um aceno, algumas palavras,
Muitas vezes, entram para tomar uma xícara de café recém-coado,
Comer uma bolacha ou uma quitanda.
E a vida transcorre simples, tranquila, feliz…
Até que alguém se vai…
E as saudades passam a apertar o peito de quem se foi,
E a entristecer os olhos de quem ficou,
A olhar pela janela de madeira…
Alda M S Santos
SE UM DIA EU ME PERDER
Se um dia eu me perder
Procure-me onde haja muito verde, muita mata, ar puro,
Se um dia eu me perder
Procure-me onde as águas sejam límpidas a refletir o céu,
Se um dia eu me perder
Procure-me num roseiral, em meio às borboletas azuis,
Se um dia eu me perder
Procure-me na alegria inocente de um grupo de crianças,
Se um dia eu me perder
Procure-me nos grãos de areia da praia ao pôr do sol,
Se um dia eu me perder,
E ainda assim não me encontrar,
Não busque em mim, olhe dentro de você,
Se me procuras, é porque me amou,
Se me amou de verdade, eu também te amei,
Certamente uma parte bonita de mim estará gravada em você,
Uma parte grande de você estará presa em mim,
E poderá levar-me a me encontrar…em você, em mim,
Comigo, com você!
Se um dia eu me perder de mim…
Alda M S Santos
A CRIANÇA QUE EU FUI (SOU?)
Flashs de um tempo passado
Com cheiro de suor, de pega-pega na rua,
Com sabor de bala Jujuba e som das cantigas de roda,
Curta duração dos dias que pareciam longos,
De amigos para sempre e brincadeiras na enxurrada,
De joelhos esfolados e brigas “de mal pra sempre”, que duravam 2 horas…
“Caindo no Poço” e nosso bem,
Ao sabor de pera, uva ou maçã,
Sempre nos tirando de lá…
Sempre…
Namoradinhos de mãos dadas, amigos de pacto de sangue…
De bem com o corpo e livre das armadilhas da mente…
Bom lembrar da infância,
Melhor ainda é ser uma criança de qualquer idade…
Alda M S Santos
NO PARQUE
Descem de mãos dadas aos gritos no tobogã
Um tiro ao alvo certeiro, ursinho conquistado, um beijinho recebido
Aquele abraço juntinho na roda-gigante
O frio na barriga no balanço
Gargalhadas no carrossel,
Uma lambida para desgrudar o algodão-doce da bochecha,
Uma pipoca doce roubada e compartilhada,
Tranquilidade na paz do por-do-sol no pedalinho,
Uma foto apertadinhos no lambe-lambe.
A volta pra casa no quadro da bicicleta.
Amor de domingo, amor antigo,
Amor dos sonhos…
Alda M S Santos
FOTOGRAFIAS
Uma foto, uma longa história escrita ali!
Sem textos, palavras ou letras quaisquer.
A vida numa imagem, acrescida da imaginação.
Real ou fictícia, sempre emocionante!
Umas falam, outras gritam, outras ainda sussurram.
Todas dizem algo, ativam algo, despertam algo,
Sorrisos, lágrimas, lamentos, saudades, alegrias…
Criam/recriam uma nova história no coração de quem as “lê”.
Eternas…
Inclusive aquelas “reveladas” apenas em nossas mentes.
Alda M S Santos