DORES NA SIMPLICIDADE E NO LUXO
Numa semana, num lar de idosos de classe baixa, na outra, num núcleo luxuoso para a maturidade.
Ambos com idosos colocados ali para serem cuidados, tratados, terem sua dignidade preservada.
Espaços limpos, pequenos e simples de um, destoam dos espaços amplos, muito bem decorados e bem aproveitados de outro.
Idosos em seus melhores trajes para receberem as visitas.
Um banho e roupas simples e ausência de acessórios de um, roupas e calçados finos, colares, brincos, maquiagem, chapéus, penteados, cabelos bem pintados e unhas bem feitas do outro.
No primeiro, poucas atividades além da rotina diária: refeições, banho, TV, pátio, sono, medicamentos.
No segundo, agenda cheia: leituras, músicas, visitas agendadas, apresentações, artes, convidados de todo tipo.
Mulheres interagem mais. Os homens, ou são galanteadores ou ranzinzas, muito calados, ou quase incapazes.
O que há de semelhante além de serem homens e mulheres idosos entre 70 e 100 anos de idade?
São como crianças! Olhos sem muita vivacidade, mas com brilho úmido, carentes de afeto. Todos eles!
Abraçam-nos e agradecem a nossa atenção e dedicação como algo precioso.
Querem ser tocados, ouvidos, compreendidos. Precisam do nosso tempo.
Cantamos músicas da sua época (com nossas vozes maravilhosas), deixamos a vergonha em casa, dançamos, tentamos ignorar os mais rabugentos, trazê-los para nós. Quase sempre conseguimos.
Em ambos, poucas visitas recebem. Alguns, ninguém os procura.
O mais triste é que, mesmo aqueles cercados de gente, de atividades, de “amigos”, de tarefas, falta-lhes algo.
Recebem amor, mas querem aquele amor especial, aquele amor específico, aquele que grudou na alma e dói a ausência.
Como me disse uma idosa sabiamente, eles têm muitas presenças, mas uma ou duas ausências impedem definitivamente a felicidade.
Concordo com uma senhora trovadora, residente do lar, autora de livros de outrora:
“Saudade, com tanto lugar lá fora, porque você insiste em doer aqui dentro?”
Divirto-os, me divirto e agradeço a cada um deles a oportunidade de me tornar uma pessoa melhor.
Alda M S Santos
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