NUNCA DESISTIR DE MIM
Não desistir de mim, esse é o trato
Não importa o que eu fizer
Ou o estado de minhas emoções
Se estiver forte e vitoriosa
Ou frágil e chorosa
Se estiver contente e esperançosa
Ou carente e nada amorosa
Se agir com sabedoria ou cometer uma burrada apocalíptica
Não desistir de mim, esse é o trato
Quando sou a fortaleza em que os outros se apoiam
Ou quando sequer tenho forças para chorar
Ser minha maior amiga sempre
Daquelas que acariciam, elogiam, incentivam
Mas que também ralham, puxam as orelhas, e nunca abandonam
Não desistir de mim, esse é o trato
Não posso parar, estacionar
Preciso prosseguir, cuidando para não cair
Consciente que estarei dando o melhor de mim…
Pois só assim poderei merecer o melhor dos outros
Não desistir de mim, nunca!
Esse é o trato!
Alda M S Santos
NÃO ME CABE
Nessa caixa não me cabe
Não é que eu não seja flexível
É que ela tende a me moldar
Colocar num padrão que me machuca
E que não vai me agradar
Nessa caixa não me cabe
Dobra daqui, dobra dali
Tira um pedaço desse lado
Aperta o outro, transfere de lugar
Até eu não mais me identificar
Nessa caixa não me cabe
E mesmo se coubesse eu não gostaria
É que prezo a liberdade de ser o que sou
Colocar-me ali me mataria
Nessa caixa não me cabe
Não sou boneca para viver em caixa, preciso de ar
Prefiro jardim, mata, rio, mar ou cachoeira
E assim quero viver a vida inteira…
Alda M S Santos
BIPOLAR
Ou o Sol que racha, ou o breu da noite,
Ou o amor que aquece, ou a tristeza que gela,
Ou a chuva torrencial, ou a seca que desidrata
Ou amizades que acalentam, ou inimigos que as ofuscam
Ou a fome desvairada, ou a anorexia bulímica
Ou gargalhadas contagiantes ou lágrimas tempestuosas.
E o coração sempre no mesmo polo, sempre cheio!
Ainda que pareça sair pela boca,
Ou estar tão apertado que pareça nada conter.
Antes bipolar e cheio de vida,
Que num constante polo de tristeza!
Alda M S Santos
TATUADO NA TESTA
O bom não traz marca na testa
É isso que ouvimos há tempos
E é consenso, não há quem contesta
Bom mesmo seria se viéssemos de fábrica
Com algumas informações importantes
Talvez um tutorial, um manual
A nos alertar para aquilo que fosse mau
Ou para o que for causar algum dano
“Frágil, quebrado também corta”
“Falhas estruturais, risco se deamoronamento””
“Dificuldades para se envolver”
“Só pega depois de um café”
“Poeta, sensível e confuso”
“Ladra, mas não morde”
“Só a cara é de santo, proteja-se”
“Mentiroso hábil e compulsivo”
“Sorriso que desarma e destranca qualquer coração”
“Propriedade particular, cuidado com o cão”
“Basta um abraço para brilhar”
Sei lá, seríamos poupados de muitos falsos atalhos
Ou caminhos desnecessários
Talvez até tenhamos essas marcas
Mas, afoitos, não damos a devida importância
E a cada vez novos choques, feridas, repouso, aprendizado
Será?
Qual marca você deveria trazer tatuada na testa?
Qual marca você mais precisaria ser alertado?
Alda M S Santos
MORO NUM LUGAR
Moro num lugar simples e encantador
Nada paguei por ele, veio de graça
Tantas vezes tem brilho e cor
Talvez eu tenha pedido, merecido
Às vezes fica úmido, escuro, até meio mofado
Noutras é dia lindo, ensolarado
Mas é o que tenho de mais meu, mais concreto
A mim cabe saber cuidar, amar, estar por perto
Zelar, seja nos dias de luz ou escuridão
Nos dias em que há festa no salão
Quando fica apertado e parece não me caber
Ou quando sobra tanto espaço que não sei o que fazer
Pode ser muitas vezes uma mansão luxuosa
Noutras uma casinha simples no pé da serra
Não posso partilhar com qualquer um minha morada
Pois é casa simples, especial, até sagrada
Mas gosto de dividir com pessoas especiais
Com as quais me sinto bem, amada
O prazer de aqui morar, ser abraçada
Essa casa, meu corpo, onde minha alma fez morada
Alda M S Santos
TALISMÃ
Quero um pequeno talismã comigo carregar
Para fazer minha coragem retornar
Que me faça sorrir quando a vontade for chorar
Ou até que me deixe chorar sem tanto me incomodar
Quero um talismã que tenha boas energias a espalhar
Que me permita sem medos continuar a amar
Que me acompanhe e me impeça de errar
E que faça encontrar no coração do outro bom lugar
Quero um talismã, não só por, às vezes, ser frágil
Mas por nem sempre poder ser forte
Nesse mundo de batalhas entre a vida e a morte
Quero um talismã que me renove a esperança
Num futuro bonito e iluminado em minhas andanças
Com mais alegria, paz, amor, e uma vida de mais alianças
Alda M S Santos
QUEM DE MIM IRÁ CUIDAR?
Mexo para lá, mexo para cá
Cuido de um, cuido do outro
Entre tantas mexidas e cuidados
Fico a pensar: quem de mim um dia irá cuidar?
Não há como saber quem poderá a mim se dedicar
A vida é apenas um constante esperar
Enquanto só posso imaginar
Faço o que me cabe: de mim mesma vou cuidar
Enquanto a pergunta persiste e angustia
Melhor ir seguindo sendo energia
Buscando no viver essa doce magia …
Bom é que aprendendo do outro cuidar
Vou assimilando que a vida é doação
Na hora certa, Deus me mandará anjos cheios de compaixão….
Alda M S Santos
TUDO DE VOCÊ
Há alguém que conhece tudo de você
Tudo, tudo mesmo?
Suas qualidades, suas vitórias, seus sorrisos
Suas lágrimas, medos, fracassos
Preconceitos, mesquinharias, covardias
Aquilo que você tem vergonha de admitir até para si mesmo?
Não te vê apenas maquiado, mascarado
Do jeito que quer que te vejam
Mas enxerga além da superfície
Vê sua capacidade de se doar
Conhece seus direitos e avessos
Suas sedas suaves, suas belas costuras e bordados
Seus rotos, esfarrapados, cerzidos?
As vezes que caiu, levantou, derrubou ou salvou alguém
Aquelas em que quase desistiu
Ou que prosseguiu por prosseguir
Te encontra nos dias em que o sol brilha
Mas também naquele cantinho escuro de sua alma
Para onde você vai vez ou outra
E ficaria ali com você sendo seu abraço, seu apoio
Numa conversa verdadeira infinita…
Há alguém para quem você seja transparente
E mesmo assim te reconheça como belo ser humano
Que respeita sua história, não desiste de você
Está perto e, ainda assim, te ama?
Além de Deus, que nos ama com amor piedoso e misericordioso
Talvez você mesmo, que se entende e se aceita
Se possui outro alguém assim
Você é muito mais rico do que pensa…
Há alguém que saiba tudo, tudo de você?
Alda M S Santos
DESCULPE-ME
Desculpe-me pelas vezes em que não te ouvi
Por aquelas que fingi nada sentir
Desculpe-me pelas vezes que te fiz sofrer, chorar
E num pranto sentido mergulhar
Desculpe-me pelas vezes em que seu jeito desrespeitei
E fiquei perdida, desesperei
Desculpe-me por tentar fazer de ti o que não és
Para agradar aos outros, em tanto revés
Desculpe-me pelas vezes em que fui tão coração
E te magoei sem razão
Desculpe-me pelas vezes que, afoita,
Não te dei tempo para se recolher, repensar
Desculpe-me pelas vezes em que não vivi
Por medo insano de viver, quase morri
Desculpe-me, meu interior,
O lado mais verdadeiro de mim
Pelas vezes em que fingi não estar a fim
Desculpe-me pelas vezes em que errei
E quase joguei fora a chance de viver, não perdoei
Felizmente, aprendi, enfim
O que sou é o que há de mais belo e real para mim
E, antes de qualquer um, devo a mim mesma perdoar, amar
Até quando for permitido juntas este caminho atravessar…
Desculpe-me!
Alda M S Santos
DONA DO MEU DESTINO
Sou assim meio louca, imperfeita
Já desisti de tentar a todo custo ser aceita
Quero apenas não decepcionar a mim mesma
Sem desatino, ser a dona do meu destino
Sou assim meio inquieta, mais coração, menos razão
Tentando ser um pouco menos emoção
Buscando em tudo a magia do existir
Querendo nada da vida prender, deixar fluir
Sou a que quer sempre mais atividade
Mas que se contenta na singela e rica simplicidade
A que sonha voar alto, puro encanto
Mas que se realiza na magia de um doce encontro…
Por aqui vou tentando não viver de favor
Não ser clandestina, inquilina
Apenas buscando ser a dona do meu destino…
Alda M S Santos
O QUE TE SALVA
Quanto mais coisas se perde
Mais valor têm as que ficam
Quanto mais pessoas vão embora, desistem
Mais valor têm as que ficam, insistem
O que vem fácil sempre vai facilmente também
O que é difícil, demorado
Quase sempre é mais duradouro, valorizado
Portanto, não é bom desanimar
Algo extraordinário pode-se conquistar
Clichê ou démodé, tanto faz
Mas uma verdade não se desfaz:
A felicidade não está na quantidade
Mas naquilo que possuímos com qualidade
Entre idas e vindas, ganhos e perdas
Decepções e superações, derrotas e vitórias
A admiração que tem por si mesmo nunca deixe desaparecer
Porque é ela que te salva
Quando tudo parecer se perder…
Alda M S Santos
FEITO MENINA
Feito criança pequenina quero receber a vida
Acolher com prazer o amanhecer que ela me oferece
Como menina, abrir os grandes olhos brilhantes e sorrir
Não me importar com os cabelos ou a vida bagunçados
Andar descalça, correr na grama, cair, esfolar os joelhos
Aceitar os cuidados que me forem ofertados
Desembrulhar o dia como um grande presente
Aproveitar o sol e quintal lá fora para brincar
Sentir o frio na barriga do calor de viver
Feito menina quero curtir cada minuto que tiver
Sabendo que o entardecer chega, o anoitecer idem
Mas ser leve, sem preocupações excessivas
Chorar quando sentir vontade
Mas nunca deixar de sorrir, de sonhar, de acreditar
Confiante que novo amanhecer chegará
E tudo se repetirá, ou não, (in)finitamente
Mas que ele sempre será bom como tem que ser
E, feito menina, confiar e balançar ao sabor da vida…
Alda M S Santos
QUEM NÃO DANÇA…
Quando o fato é incontestável
Contesta-se quem o divulga
Quando a pessoa é indefensável
Ou a mentira é clara e cristalina
Arruma-se outro assunto
Outro crime ou criminoso
Para ocupar seu lugar
Nessa luta de vítimas e réus
Condenados e absolvidos
A “plateia” sempre leva a pior
É o público a ser manipulado
Porque, no fundo, não importa a verdade
O que vale é aquele que melhor manipula
E faz de qualquer mentira uma verdade
Que apaga o que quer, reescreve como acha melhor
Mexendo habilmente os pauzinhos dos cordões de seus bonecos
E as marionetes dançam conforme a música que tocam
Quem não dança, não gosta dessa música
Ou dança diferente
É considerado louco…
Quero dançar diferente, prefiro ser louca!
Alda M S Santos
QUANDO VOCÊ DEIXA DE SER VOCÊ
Um dia te levam uma moeda, você deixa
Era apenas uma moeda…
Noutro levam um objeto, sua bolsa, esvaziam seus bolsos
Não faz mal, você conquista outros
Tiram um direito, mais outro, substituem por deveres
E você vai cumprindo todos eles fielmente
Logo estão levando outros valores
Suas ideias, sua liberdade, seu sorriso, seus sonhos, sua essência
Seus ideais estão perdidos nesse mundo nublado
Não há mais brilho ou cor, você está opaco
Você sente um vazio, um desconforto
Não se reconhece no espelho
Não consegue reagir…
Mas segue acreditando que é por uma boa causa
“Para melhorar tem que piorar”-dizem
A quota de sacrifícios é de todos- propagam
Levam pouco a pouco até sua história
E te convencem que você sempre esteve enganado
Apagam tudo que um dia você foi
Quando percebe estão esvaziando sua alma
E a preenchendo com aquilo que eles querem
Com aquilo que não é você
Então, você deixa de ser você
Quando isso acontece você já morreu
Você tornou-se apenas um deles
Apenas uma cópia que caminha na multidão…
Reaja! Não deixe te roubarem de você!
Alda M S Santos
APENAS UM BRONCO
“Queria ser apenas um bronco”
Daqueles dos confins do sertão
Ter toda a “ciência” da natureza
Do mesmo modo que tem a ciência da mente, das emoções
Sem complexidade, sem grandes devaneios
Ter toda a esperança advinda da fé
Toda a paz que a consciência da finitude da vida permite
Nada de grandes preocupações ou conjecturas
Nada de medos, culpas, traumas, desafios intransponíveis
Apenas a certeza que, mesmo em dias difíceis,
Tudo está em seu devido lugar
Não luta contra monstros imaginários
Aceita e abraça o que a vida apresenta
O sol nasce, se põe, a lua surge, as estrelas brilham
O galo acorda a todos, a chuva cai, as árvores produzem
Pessoas nascem, morrem, chegam e se vão
Algumas nos amam, outras não
Somos apenas parte de um universo maior
O rio segue seu curso…
E o bronco que nada tem de complexo
Simplesmente, vive…
Não entende das grandes (des)conexões que afetam os demais
Suas conexões físico/emocionais não se perdem
E, por isso mesmo, mantém-se inteiro
Bronco? Quisera ser…
Alda M S Santos
TRAPAÇAS
Trapaças no trabalho, na rua, no trânsito, no esporte
Na fila do banco, na escola, nos hospitais
Trapaças na política, na igreja, até nas famílias
A palavra de ordem é levar vantagem
Toma-se o que não lhe pertence
Justifica-se de qualquer modo
Quem foi trapaceado?
Ah, isso é mero detalhe…
Quem se importa?
De tanto trapacear o certo tornou-se relativo
Raizes sólidas não mais existem em nada
O errado evaporou, não mais existe
Sequer nota-se quando alguém é trapaceado
Ou quando se é o autor da falcatrua
Exceto quando sofre a trapaça
Aí tudo muda de figura…
Sentir na pele o mal que alguém sofre
É o melhor meio de entender a dor do outro
E procurar evitá-la…
Alda M S Santos
BORBOLETAS…
Quisera essa leveza, essa cor, essa liberdade de ser
De flor em flor, jardim em jardim, puro prazer
Quisera encantar, polinizar, a vida levar nas asas
De metamorfose em metamorfose, voar, renascer
Quisera nunca perder a fé, acreditar num propósito maior
Saber onde pousar, em quem poder confiar
Ainda que seja curta e fugaz
Levar uma vida intensa de amor e paz
Quisera jamais perder a calma e trazer na alma a certeza
De que tudo está em seu devido lugar
Quisera sua marca aqui poder imprimir e deixar
Tal qual bela, leve e encantadora borboleta…
Alda M S Santos
SIM É SIM!
Sim é sim!
No campo, numa cachoeira, numa praia deserta
No sofá, na rede, no tapete da sala diante da TV
Sim é sim!
Gosto do meu carnaval assim
Minha festa da carne, do prazer
É possibilitar paz, descanso, sossego, e tranquilidade
A corpo, mente, alma, coração
Busco a sinfonia dos pássaros
O farfalhar das folhas na copa das árvores sob a brisa ou vento forte
O canto das marés numa praia deserta com a areia fina sob os pés
A rede na varanda, a chuva no telhado
O bom livro sobre a grama macia…
Quero qualquer lugar em que ouça apenas a natureza
Associada à minha natureza
Com quem amo por perto, mesmo que na imaginação
No coração, na oração, sob a divina proteção …
Sim é sim!
Quero uma vida toda de prazeres assim…
Alda M S Santos
SE O RIO SECA…
Fortalecer nossas asas para um voo livre e leve
Alimentar a brasa que nos aquece e revitaliza
Valorizar os ombros em que nossas cabeças repousam
Amaciar o colo onde acalmamos nossas angústias
Cultivar o que gera a sombra fresca onde nos livramos do cansaço
Manter acesos os motivos de nossos sorrisos
Nunca perder a fé que nos torna mais humanos
Cuidar bem de nossas matas ciliares
Porque quando o rio seca em torno da gente
Nunca mais volta a ser corrente…
Alda M S Santos
TIRE AS SANDÁLIAS
Abra a porteira, respire o ar puro
Tire as sandálias, pise devagar
Seja bem-vindo
Deixe lá fora qualquer peso
Sinta a leveza desse lugar, inspire
Tire as sandálias, as pedras que nela houver
Que possam cortar, ferir, atrapalhar
Refestele-se…
A maciez fria da grama refresca
Percorre a corrente sanguínea, acalma
Leva um sinal de paz a cada cantinho de nós
Tire as sandálias, entre, sorria com e por prazer
Levante os braços, agradeça
Inspire, expire, faça saudações à vida
Não há caminho mais longo e desejado
Que o que nos leva até nossa alma
Tire as sandálias, continue
Você está quase lá, mais um pouquinho só
E logo se encontrará com quem mais importa
O divino que habita em você!
Alda M S Santos
INCOMPLETOS
Seres humanos incompletos
Todos somos!
Crer-nos completos é uma falha
Seria o primeiro passo para a impossibilidade de crescer
A completude implicaria num ser sem espaços vagos
Sem capacidade de absorver algo novo
Somos incompletos no ser, no sentir, no agir
E a cada dia podemos sentir algo novo
A cada dia podemos agir de modo diferenciado
Para, a cada dia, podermos nos tornar um novo ser
Ainda assim, incompletos!
Preenchendo nossos vazios físicos, mentais, emocionais
Nossa alma é um espaço oco que vamos preenchendo
Com as coisas, sentimentos e pessoas que nos fazem bem
Infinitamente…
Alda M S Santos
MOMENTOS ILHA
Há momentos que somos mar
Imensidão encantadora e perdida
Há momentos que somos céu
Voo e livre imaginação
Há momentos que somos terra
Pés no chão, dor no coração
Há momentos que somos fogo
Irritabilidade e inconstância, desejo de mudança
E há momentos em que somos ilha
Isolados em nós mesmos em busca de nós
Sem perceber o que nos cerca
Que em nossos momentos ilha
Estejamos cercados do bem
Por todos os lados…
E que a gente possa se afinar com ele…
Alda M S Santos
AINDA ESTOU EM MIM
Quando encontro alguém que faz questão
De ressaltar alguma qualidade que não lembrava mais possuir
Algo que fiz por elas e que as marcou
Um defeito que reconheço que melhorei
Uma virtude perdida, uma deficiência amenizada
Ou uma mania que não passa de jeito nenhum
Sinto-me bem…
Sei que ainda estou em mim, que não me perdi pelo caminho
Que são bonitas as marcas que deixei
Que sou apenas uma criatura em evolução
E que posso melhorar muito ainda
É aí que percebo que o ”pão que o diabo amassou”
Não faz tão mal assim, pois Deus é quem dá o toque final
O diabo pode até sovar a massa, mas é Deus quem põe o pão para assar
E basta um toque divino para tudo se reverter
Tudo melhorar…
Eu ainda estou em mim, mesmo imperfeita
E gosto mesmo muito disso!
Alda M S Santos
HUMANOS ARANHAS
Somos humanos aranhas a tecer
Alguns tecendo teias fortes como o aço
Outros teias frágeis, mas impregnantes
Há os que tecem, sem objetivos de captura, apenas proteção
E ainda aqueles que sequer são capazes de construir teias
Esses, especialistas em se tornar presas de outras aranhas
Grudados em outras teias…
Há também as “aranhas” que buscam presas em outras teias
Já capturados por outras aranhas
Estamos, de todo modo, presos em alguma teia
De seda ou de aço, não importa
Cuidando da que construímos e de quem “capturamos”
Ou nos adaptando à teia em que fomos capturados
A liberdade consiste em escolher a “prisão”
A teia na qual estaremos nos fazendo de livres…
Alda M S Santos
OS OLHOS QUE ME VEEM
Gosto de olhos que falam
As palavras ditas pelos olhos não são falsas
Podem até não agradar
Mas a linguagem do olhar é verdadeira
Alguns olhos são treinados
Aprendem a desviar, pestanejar
Mas não enganam outro olhar também treinado
A ler o que diz o olhar desviado
Gosto de olhos que me veem inteira
Sem aumentar ou diminuir
Sem enaltecer ou depreciar
Gosto de olhos que dizem
“Eu te entendo, estou aqui”!
Gosto de olhos perspicazes a me olhar
Que me olham sem esperar demais de mim
Tampouco sem diminuir-me perante si
Gosto de olhos que acolhem, não julgam
Gosto de olhos que realmente me veem como sou
De dentro para fora…
Alda M S Santos
NUNCA DESISTIR DE MIM
Seguir em frente, lutar sempre
Essa é minha promessa
Nem sempre fácil de manter
Curtir um dia de raios de sol que me aquecem
Mas também aceitar quando meu sol se esconder
Amar sob um céu estrelado e inspirador ou sobre nuvens de algodão
Mas aproveitar quando a Lua não aparecer e tudo for escuridão
Dançar na chuva entre abraços apertados e beijos molhados, aquecida
Mas saber suportar as fagulhas ameaçadoras das tempestades de gelo, sofrida
Enquanto nova alvorada não surge em mim, renascida
Retribuir o amor e carinho daqueles que me cercam e apoiam
Mas aceitar e respeitar o direito daqueles que não me querem por perto, não me amam
Sobretudo, amar a mim mesma, sempre
Ainda ou principalmente quando outros me abandonarem
Mesmo em minhas fragilidades, medos e carências
Ainda que erre, caia e não consiga levantar tão facilmente
Ou que nem sempre seja minha maior fã
E queira ficar escondida debaixo das cobertas…
Pois a promessa fundamental é, independente do que acontecer,
Cuidar do meu coração
E nunca desistir de mim mesma!
Alda M S Santos
UNIVERSO INEXPLORADO
O universo que carregamos em nós
Por mais desbravado e explorado que tenha sido
Por mais terras, luas e planetas descobertos em nós
Sempre haverá aquela estrela escondida
Aquele meteoro veloz não acompanhado
Aquele cometa tão aguardado
Aqueles asteroides desconhecidos e esquecidos…
Somos um universo ainda muito inexplorado
Inclusive por nós mesmos
Cada um de nós carrega em sua galáxia interior
Regiões obscuras e carentes de luz e vida
Necessitando de uma remexida intergaláctica para ser ativada
E mostrar todo seu potencial…
Alda M S Santos
URGÊNCIAS
As faltas que nos enchem de vazios intensos
Vazios que nos enchem de necessidades
Necessidades que nos enchem de urgências
Urgências que nos derrubam, atropelam os outros
Às vezes nos paralisam, imobilizam
Mas quando bem aproveitadas
Também nos movem na direção do bem, da paz
E nos preenchem de amor
Tão repletos ficamos que chega a transbordar …
Alda M S Santos
PRONTA PARA SERVIR
Junte um sorriso, alegria de viver e fé em Deus
Misture bem
Acrescente confiança, carinho e compaixão
Dissolva todo o tempo
Enfrente as decepções, os medos, a tristeza, o abandono
Descarte os excessos, aquilo que azedaria a massa
Regue com lágrimas e faça um bolo único
Reserve
Deixe em repouso até crescer
Unte a forma com aprendizado e sabedoria
Cubra com muito amor sincero
Pincele novamente com um sorriso
Polvilhe mais fé em Deus e alegria de viver
Está pronta uma pessoa forte!
Pronta para servir
Junto da família e dos verdadeiros amigos
Alda M S Santos
DE QUANTOS?
De quantos nãos se faz uma decepção
De quantos medos se faz uma coragem
De quantos abandonos se constrói uma muralha
De quantas valentias e covardias se fazem um herói
De quantos tanto faz se faz um desistir
De quantos passos trôpegos se faz uma marcha firme
De quantos cuidados o amor se alimenta
De quantos sorrisos se faz um encanto
De quantas lágrimas a saúde emocional sobrevive
Quantos abrir mão o amor é capaz de suportar
Quantas descargas emocionais o coração aguenta sem sofrer um colapso
De quantas promessas não cumpridas se faz um desamor
Quantos “felizes para sempre” somos capazes de destruir, incólumes
De quantos mergulhos rasos se faz uma vida superficial
De quantos “tudo bem” se molda uma máscara
De quantas demolições internas e externas precisamos para reconstruir
De quantas saudades se faz um existir?
De quantos(as)?
Gostaria de saber…
Alda M S Santos
INTEIROS
Numa mansão numa ilha paradisíaca,
Numa casinha branca à beira do rio
Numa gangorra na roça, descalça
Num barracão no morro do cafezal
Pilotando uma lancha veloz,
Um barquinho de pescador
Ou na suíte de um transatlântico
Não importa… o local é secundário
Prioritário é estarmos em nós mesmos
Estarmos bem encaixados em nossos direitos e avessos
Lidando bem com feridas e cicatrizes
Aceitando nossas imperfeições e inadequações
Nos perdoando de confiança excessiva, exposição exagerada de sentimentos
Ou de medos e traumas que nos travam
Sabendo que, independente dos outros,
Nós precisamos nos entender e aceitar
Destrinchar alegrias e dores, mágoas e regozijos
Onde estivermos por completo, inteiros
Onde nos sentirmos em total sintonia conosco
Sem máscaras, sem falsas alegrias ou autopiedade
Onde pudermos ser verdadeiramente
Corpo, mente, alma, coração
É que estaremos bem de verdade…
Alda M S Santos
BROTOS DE VIDA
Aquela flor que precisa “morrer”
Suas raizes em batatas necessitam do repouso do solo
Do calor do sol a aquecer a terra
Da água que chega na hora certa
Para que possa romper-se em brotos
E buscar a luz do sol
O sorriso de satisfação de quem por ela esperou
De quem nela acreditou, ou não
Como fênix que renasce das cinzas
Como urso que desperta pós inverno e longo hibernar
Como o sol que se “apaga” e se acende todas as manhãs
Como o amor que mantém-se vivo em meio a tanto desamor
Sabe o momento de se proteger na distância ou na indiferença
E, como flor, procura preservar a raiz das tempestades
Recolher-se é necessário, é sabedoria
Parecer morrer é juntar energia
Para renascer mais forte
A luz brilha mais intensamente onde antes foi escuridão
Para quem tem no coração a força que vem da esperança…
Alda M S Santos
EU VERSUS EU
As grandes batalhas da vida
Não são aquelas lutadas lá fora
As maiores batalhas do existir
São aquelas travadas no front de nosso interior
As vezes em que não eliminamos nossos monstros
Por medo, covardia ou compaixão
As vezes em que não neutralizamos um mal
Dando tempo para ele crescer e se fortalecer
E voltar a nos atingir em cheio
As vezes em que nos escondemos atrás de barricadas
Sabendo bem qual era nosso calcanhar de Aquiles
As vezes em que demos munição para “adversários” já conhecidos
E não usamos as armas que sabemos que seriam as mais potentes
Não importa se o oponente é um mal físico, mental, psicológico ou emocional
Uma doença crônica, um diabetes, uma dificuldade com números ou de expressão de sentimentos
Problemas de autoestima, ciúme, confiança ou bondade excessiva
Ou aquela pessoa a quem “damos” o poder de nos irritar ou fragilizar
E ficamos expostos nas trincheiras, de peito aberto
Ferida aberta, reaberta, sangrando
Nosso oponente sempre está em nós mesmos
Só nós podemos deixá-lo nos atingir
Só nós podemos enfrentá-lo
Uma batalha já é perdida ou ganha em nosso interior
Aqui fora é só um detalhe a mais
Muitos campos abertos aos quais nos expomos sem necessidade
Viemos para essa “guerra” para vencer nossos próprios “inimigos”
Sermos melhores a cada dia
Evitando sermos atingidos por fogo “amigo”
Ou atingindo adversários imaginários
Como sabemos se estamos vencendo?
Quando estamos bem conosco mesmos, em paz física e emocionalmente
E com aqueles que nos cercam
É sinal que estamos vencendo
Mas essa é uma batalha que só termina quando somos chamados de volta para casa
Para nosso território de origem…
Como estamos nos saindo em nossas guerras particulares?
Alda M S Santos
BANQUETES E MIGALHAS
Mais vale uma migalha benéfica, saudável
Abençoada, constante, verdadeira
Oferecida ou recebida com amor, lealdade e carinho
Mas que nos abastece e alimenta
Que um banquete rico, porém pagão
Transitório, falso, ilusório, que não é nosso
Que satisfaz e engana nossa fome por uns tempos
E nosso apetite volta renovado.
Há quem faça de suas migalhas um verdadeiro banquete
E há quem torne um grande banquete nada mais que migalhas ou sobras inúteis…
Alda M S Santos
PEDIDOS DE SOCORRO
O mundo pede socorro
Quem é capaz de ouvir?
Pedidos tão barulhentos quanto uma sirene
Ou tão silenciosos como uma lágrima que cai
Crianças precoces sempre de agenda lotada e irritadiças
Jovens perdidos em tantas “opções” de vida moderna
Trancados em seus quartos, “góticos”, marcas roxas debaixo de lenços
Idosos “protegidos” em suas fantasias e remédios
Sorrisos, lágrimas, saudades, abandono
Adultos espremidos entre a infância e a velhice
Solitários entre tantas obrigações e cobranças, entre tanta gente necessitada
Escondidos em suas tarefas, fugindo em seus smartphones
Atrás de amigos virtuais nas telas dos PCs na solidão da madrugada
Todos “gritando” por socorro
Quem é capaz de ouvir?
Cada qual gritando sua dor de um modo
No andar, no olhar, no se esconder, no se mostrar
Na solidão autoimposta, nas atividades excessivas
Nas rebeldias constantes, nas drogas lícitas ou ilícitas
Na irritação desmedida, nos vícios diversos
Quem é capaz de ouvir?
A dor atinge a todos, o grau é variável, de “normal” a patológico
No sentir e no demonstrar
Mas há sempre uma “droga” a nos salvar
Até que não haja mais salvação
Quem é capaz de ouvir?
“Ouvir” a dor do outro é um modo de nos enxergarmos também
E, talvez, conseguirmos nos salvar…
É preciso olhar devagar, demorar-se na dor do outro
Mergulhar fundo na própria dor
Até não mais temê-la, até conseguir diluí-la…
É preciso a pureza e confiança de uma criança para “herdar o reino do céu”
O mundo pede socorro
Quem é capaz de ouvir?
Alda M S Santos
SANGRANDO
Tão bela, tão delicada, tão perfumada
Singela, encantadora, frágil
Frágil? Às vezes!
Sabe se defender, tem espinhos, fere
Resiste às tempestades constantes
Perde folhas, galhos, flores, para manter a raiz
Assim são as roseiras, assim são as pessoas…
A diferença é que elas não ferem a si mesmas
Humanos ferem-se com os próprios espinhos
Se atrapalham, se automutilam, confundem-se
Machucam seus amigos, quem lhes quer bem,
Afastam o essencial, sangram…
Sangrando buscam um caminho menos nebuloso, menos árido
Mais aconchegante, tranquilo, pacífico, alegre
Para colorir, florir, encantar, viver, amar…
Alda M S Santos
UMA NOVA CHANCE
Uma vida ameaçada, uma vida em risco
Uma arma de fogo, um olhar de sangue, triste, mau
Lágrimas, desespero, pedidos de clemência
E tudo ficou escuro…
Quanto tempo? Não se sabe…
Um ano se foi…a lembrança fica
A vida foi poupada- por quem, por quê?
Por quem a ameaçou, sim
Por Deus, com certeza!
Para entender seu amor e constante proteção!
O escuro ainda retorna, incomoda, dói
Uma nova chance foi dada
E precisa ser aproveitada!
Quantas vezes temos a vida poupada sem percebermos
Quantas novas chances foram-nos dadas e não aproveitadas
Quantos anjos Deus já nos enviou e nos salvaram de perigos iminentes apenas por amor
Quantos “anjos” agem de longe por nós, para nós, machucam-se, sem sequer notarmos?
Que o escuro que ainda aparece e amedronta
Seja apenas para fazer a luz ser mais brilhante…
Que o amor e bondade vençam sempre!
Em todos os corações…🙏😇
Alda M S Santos
ESTRUTURAS FRÁGEIS
Nem todo mal, dano ou dificuldade
Daqueles que abalam as nossas vidas
Devastam tudo, destroem, “roubam” o que temos de mais valioso
Chegam de uma só vez, como uma tragédia da natureza
Derrubando tudo como furacões ou tsunamis
Muito do que abala nossa estrutura física, mental, emocional
Chega devagarzinho, vai dando pequenos sinais
Nem por isso o mal é menor ou menos doloroso
Como um vazamento subterrâneo de água
Ou um formigueiro que cria buracos no solo
Que, se não interrompido a tempo, derruba uma casa inteira, uma via pública, uma cidade
Aparecem trincas, ignoradas, afundamentos, não percebidos
Abalos sísmicos, não considerados…
O físico, a mente, as emoções também dão sinais quando nossas estruturas internas estão em risco
Dores, febres, esquecimentos, angústias, tristezas excessivas
Sono que não passa ou insônia constante
Insatisfação com tudo, falta de estímulo, desânimo, vícios
Tudo precisa ser considerado para manter firmes nossas estruturas
Somos um prédio com várias conexões interligadas e interdependentes
Muitas vezes com outras estruturas de outros prédios dependentes de nós
Uma delas que falha pode comprometer e ruir tudo
E tornar difícil ou impossível a recuperação
Ao vermos um belo prédio não enxergamos a estrutura que o sustenta
Se está suficientemente forte ou cheia de trincas
Ou se apenas um sopro pode derrubá-lo
Pois talvez o mal esteja comprometendo justamente a percepção dos sinais, do perigo que nos ronda
E costumamos enxergar melhor falhas nos outros que em nós mesmos
Saibamos cuidar de nós mesmos e, melhor ainda, identificarmos isso nos outros
Assim, evitamos criar rachaduras comprometedoras nas estruturas alheias..
Alda M S Santos
BLINDAGEM
Não existe blindagem que ofereça proteção total
Que permita exposição ao risco e aos “tiros” da vida
Quer seja a animais peçonhentos, às intempéries da natureza
Ou à maldade e irracionalidade humanas,
Particularmente quando se trata de blindagem emocional
Existe autoconfiança, amor próprio, fé em Deus
Fé no amor e respeito do outro
Mas o que nos mantém minimamente protegidos
É o cuidado e respeito que temos conosco mesmos
Baseados no autoconhecimento, sabedores de nossos limites e fragilidades
No aprendizado adquirido com os erros, as quedas sofridas ou causadas
Ninguém está livre de ser atingido pelas mágoas e decepções
Pela confiança excessiva no outro, na humanidade, pelas perdas dolorosas
Pelos percalços que só quem não tem medo de viver enfrenta
A melhor blindagem é conhecer mais e mais o mundo e seus habitantes, seu habitat, hábitos
Mas, principalmente, conhecer a nós mesmos
Saber onde pisar, onde andar, até onde voar, quais limites respeitar
Para não nos ferir e tampouco ferir ao nosso próximo…
Alda M S Santos
SEMEAMOS
Todo o tempo semeamos
Por gosto, prazer, querer, vontade
À nossa revelia, sem saber, sem perceber também
Em terrenos férteis, agradecidos, receptivos
Até mesmo naqueles ressecados e ásperos pelas durezas da vida
Mas quando brota o que plantamos com e por amor
Nos terrenos que jogamos húmus e adubamos cuidadosamente
Notamos…
Conhecemos o perfume, as formas, as cores, os sinais
Ainda que a semente germine mais tarde
Nas lonjuras, distantes de nós, florescem lindas
Levadas pelo vento ou pelas águas doces da nostalgia
Ou pelos rios salgados das lágrimas
Notamos…
Ora sorrimos, ora choramos,
Sempre emocionante um novo desabrochar,
Mesmo que a gente não vá colher
Há sementes, como as da jabuticaba,
Que plantamos para o deleite de outros…
Longe ou perto de nós!
Alda M S Santos
CAVALO OU SÃO JORGE?
“Enquanto existir cavalo São Jorge não anda a pé”
Há quem tenha dons de cavalo, sem ofensas
E há quem tenha “habilidades” de São Jorge
Diz-se dos aproveitadores que estão sempre procurando algo ou alguém em quem se montar
E seguir mais levemente seu caminho
Independente do peso que coloquem sobre as costas do outro
Sem querer fazer apologia aos folgados
Tampouco ser carrasco da solidariedade
Carregar nas costas ou fazer por alguém algo que poderiam fazer sozinhos não é ajudar
É impedir o crescimento de quem se torna eterno dependente
É usar com que não precisa o lombo forte de cavalo para quem realmente necessitaria…
Todos temos nossos momentos de carregar alguém
Isso é ter compaixão, ser amigo, ser amor, ser irmão..
Mas também precisamos de um colinho de vez em quando
Montar num lombo macio e quentinho alivia muitos males
Descansa as pernas, acalma o coração, traz leveza à alma
E quem está acostumado a ser sempre o cavalo
Quase nunca é visto como cavaleiro cansado
A recíproca também é verdadeira…
É preciso equilíbrio nessa montaria!
Salve, São Jorge!
Alda M S Santos
DA MINHA JANELA
Da minha janela para fora vejo um quadro bonito
Harmonia das cores, dos tons, dos sons
Verdes e marrons, amarelos e vermelhos, azuis e roxos que se completam
Tudo se mistura, tudo tem seu lugar
Sem perder a beleza da unidade ou o encanto do todo
Latidos, piados, cantos, balidos
Sem disputas, há espaço para todos, sintonia total
Da minha janela para dentro vejo um ateliê confuso
Cores misturadas, pincéis jogados, tons e sons dissonantes, viola desafinada
Alegrias e tristezas, dúvidas e certezas se debatem
Vermelhos e azuis, brancos e pretos, rosas e alaranjados disputando espaço
Sorrisos, lágrimas, diálogos e silêncios “interagindo”
Ora o branco pacífico, ora o vermelho flamejante
Reflexões e decepções, alegrias e amores tomam o espaço: o meu espaço interior
Tentando encaixar o que recebo de fora, as “contribuições” externas
Mesmo que pareçam peças avulsas, cores difíceis, desarmônicas
Ali realizo a minha obra diária
Na tela branca de minha alma pinto meu quadro multicor
A arte linda, difícil e nem sempre compreendida
A arte da existência …
Alda M S Santos
QUANDO…
Quando alguém chegar, bater à sua porta, peça para se identificar
Exija um crachá, um cartão, um uniforme, um ingresso, um convite, uma credencial
Isso previne que você abra o portão para um ladrão
Além do documento oficial que pouco diz
Observe atentamente o olhar, que muito expressa, a “bagagem” que carrega nas costas
As expressões faciais que traduzem o que vai dentro
Deixe entrar no quintal, na varanda, aos poucos, ou dispense
Mas antes de adentrar sua casa você precisa saber:
Quem é esse alguém que se apresenta e chega assim tão perto?
Qual seu histórico de vida, seu Curriculum Vitae pessoal?
Que pode trazer de verdadeiramente bom para sua vida,
Que você pode contribuir para a vida dele?
Aceite a interação, ajude, permita-se ser ajudado
Mas, evite danos, seja guardião de seus tesouros
Internos e externos…
Independente da “casa” que possua!
“Na sociedade há muitas pessoas que colocam trancas nas portas,
Mas não têm proteção emocional”. (Augusto Cury)
Alda M S Santos
ENIGMAS
Sou feita de barulhos e de silêncios
Ora sou um, ora sou outro
Ambos necessários em mim…
Há quem goste dos barulhos
Há quem prefira os silêncios
Há quem não compreenda nem um, nem outro
Há quem desperte barulhos intensos
Há quem provoque silêncios profundos, tranquilos ou dolorosos
Há quem não saiba lidar com nenhum dos dois
Há quem consiga fazer a travessia de um para o outro
Sou feita de contrários, de antagonismos
E nessa luta frenética em mim
Vou desvendando meus enigmas
Tornando-me mais eu…
Alda M S Santos
ONDE EU POSSA SER MAIS EU
A casa mais receptiva do mundo não é a mais luxuosa ou bem localizada
Mas aquela que me permite sentar no sofá ou no chão
Andar de saltos ou descalça
Descabelada ou bem penteada, com ou sem maquiagem
Sorrir, chorar, cantar ou gargalhar sem receios
Onde eu possa ser mais eu…
As vestes mais cobiçadas e mais lindas que existem
Não são aquelas de marca nobre ou tecidos caros, modelos sensuais
Mas aquele vestido leve, de tecido simples, colorido e rodado que me faça leve e bela
Onde eu me sinta mais eu…
O passeio mais divertido do mundo não é aquele realizado em lugares de luxo
Mas o que nos leva a um lugar simples, natural e belo e haja conexão entre corpo, mente e alma
Onde eu possa ser mais eu…
A companhia mais desejada do universo
Não é a daquela pessoa famosa e importante, forte e bela, rica ou poderosa
Mas aquela que se alegra com minhas singularidades
Que possa sorver minhas lágrimas, despertar meus sorrisos, incentivar meu crescimento
Aquecer meu coração, irrigar minha alma, aceitar-me assim, imperfeita, amar-me e deixar-se amar
Onde eu possa ser mais eu…
Alda M S Santos
RACHADURAS
Somos feitos de gretas, falhas, rachaduras, frestas
Pelas gretas é que entram os amores, desavisadamente
Num momento de distração ou fragilidade, tomam posse
E são a liga que une o que há de melhor em nós ao outro
Mantendo-nos estáveis, mesmo sob constantes balanços
Pelas rachaduras é que saem as decepções, amarguradamente
Quando estão nos sufocando buscam ar, aos goles, aos borbotões
E deixam extravasar os excessos, permitindo novo respirar, sobrevivência
Pelas frestas podemos antecipar maremotos e nos preparar
Essas falhas em nossa rocha permitem a água passar sem grandes danos
Tapar nossas gretas e rachaduras não é muito sábio
Uma estrutura sem gretas, sem rachaduras, sem frestas, sem “falhas”
Que permitam que nosso prédio interno se ajeite, se estabilize, se reorganize, dilate
Nos balanços das grandes tempestades
Pode ruir, implodir, explodir, desmoronar…
Alda M S Santos
EM CASA
Sinto-me em casa quando posso ser quem sou
Sem constrangimentos, andar descalça, descabelada, ou não
Nua em pelo, de corpo e alma
Ou num moletom desbotado e nada sexy
Sem temer julgamentos ou represálias, sem falsos pudores
Com a certeza de ser aceita como sou
Dizer tudo que aprouver, ouvir sem resistência, com prazer
Ou silenciar, sem causar lacunas desagradáveis
Usar aquele baby-doll confortável que mais parece um abraço
Aqueles chinelos gastos como as memórias
Ouvir e cantar a música preferida bem desafinada, não importa
Esparramar na rede, ler um bom livro,
Entregar-me às boas memórias, às saudades, aos sonhos
Assistir um filme no sofá com um pote grande de pipoca
Ouvindo a chuva cantarolar feliz no telhado
Numa sintonia perfeita com minha alma
Aceitação total de quem sou, sem amargar culpas
Aceitando as pedras que aparecerem como oportunidade de superação
Sem ferir ou machucar ninguém, ajudando, se possível
Sabendo que Alguém lá em cima me ama e olha por mim
Isso é estar em casa!
Qualquer lugar ou pessoa que nos faça ser ou sentir diferente disso
São, no máximo, tolerados…
Estar em casa é um estado de espírito de graça
De simplicidade, harmonia e paz…
Alda M S Santos
MEDO DE NÃO TER MEDO
Sentir medo é uma sensação desagradável
Hormônios liberados como a adrenalina causam mal estar e ansiedade
Medo de perder pessoas amadas
Medo de ser roubado, invadido
Medo de perder a saúde
Medo de não se sentir amado ou querido
Medo de fazer mal aos outros
Medo de não se encantar perante a beleza da natureza ou um ato de bondade
Medo de não amar, não sentir saudade
Não se sensibilizar perante os sofrimentos alheios
Medo de perder a fé em Deus
São muitos os medos que podem nos assolar…
Mas, mesmo desagradáveis,
Meu pior medo é o de não sentir qualquer medo
Seria sinal de que nada tenho de valioso a perder
Indiferença perante a vida
Esse sim é um medo perigoso
Isso seria quase morrer…
Alda M S Santos