CRESCENDO
Eu cresço quando olho para dentro de mim
Quando observo meus sentimentos
Quando me percebo frágil ou forte
Quando avalio meus pensamentos
Os positivos, os negativos, os infrutíferos
Quando decido descartar o que gera atrito
E opto por priorizar o que atrai a bondade
A mim, ao outro, à humanidade…
Cresço quando me observo todo o tempo
E reflito quando convém falar ou silenciar
E me pergunto: que bem isso pode fazer?
Se a resposta não vier de pronto cabe análise
Da conveniência de fazer ou não
Cresço quando entendo que cada qual tem seu tempo
Estamos no mesmo trem, mas em lugares diferentes
E o condutor é o melhor e maior: JESUS CRISTO!
Vale consultar sempre o que Ele gostaria que fizéssemos
Seus passos por aqui devem ser nosso guia.
Só assim crescemos e evoluímos.
Alda M S Santos
RENOVAÇÃO
Em busca de autoconhecimento, de evolução
Um mergulho em nossos porões internos
Buscar ali um pouco de força e luz
Aquele lugarzinho fosco, nebuloso, mal resolvido
Aquele cantinho sem sol, sem adubo
Irrigar, ainda que com lágrimas
E deixar brotar a esperança, renovar a alma
Nosso mundo interno só nós acessamos
Só nós podemos remexer e reorganizar
Só nós sabemos o melhor momento, a hora certa
Mas o apoio e carinho do outro são aliados
É a humanidade fazendo seu papel fraterno
Alda M S Santos
SE UM DIA EU ME PERDER
Se um dia eu me perder
Procure-me onde haja muito verde, muita mata, ar puro,
Se um dia eu me perder
Procure-me onde as águas sejam límpidas a refletir o céu,
Se um dia eu me perder
Procure-me num roseiral, em meio às borboletas azuis,
Se um dia eu me perder
Procure-me na alegria inocente de um grupo de crianças,
Se um dia eu me perder
Procure-me nos grãos de areia da praia ao pôr do sol,
Se um dia eu me perder,
E ainda assim não me encontrar,
Não busque em mim, olhe dentro de você,
Se me procuras, é porque me amou,
Se me amou de verdade, eu também te amei,
Certamente uma parte bonita de mim estará gravada em você,
Uma parte grande de você estará presa em mim,
E poderá levar-me a me encontrar…em você, em mim,
Comigo, com você!
Se um dia eu me perder de mim…
Alda M S Santos
ERA UMA CASA
Que tipo de casa você é?
Daquelas que têm as portas sempre abertas
Jardineiras na janela com flores amarelas
Cortinas coloridas, na varanda uma rede
Capacho de boas-vindas, fotos na parede?
Que tipo de casa você é?
Daquelas com vigilância eletrônica
Alarmes que soam a qualquer irregularidade
Espaços amplos e iluminados artificialmente
Puro luxo e beleza, nada de simplicidade?
Que tipo de casa você é?
Daquelas em que todos ficam à vontade
Trânsito livre em todos os espaços
Ao ponto de restringir sua liberdade
Sentindo-se invadido em sua intimidade?
Que tipo de casa você é?
Sabe deixar a porta entreaberta
Para entrar quando quiser a pessoa certa
Aquela que fica e te deixa confortável
Morando em si mesmo, lar adorável?
Nossa alma é nossa casa!
Que tipo de casa você é?
Alda M S Santos
SOU ASSIM…
Sou como uma borboleta ou beija-flor
Degustando a vida dia a dia de flor em flor
Sou como um furacão, ou um vulcão
Ora devastação, destruição, reconstrução
Sou tempestade, raios, relâmpagos e trovões
Sou susto, medos, mergulho em meus porões
Sou como lápis e borracha, tempos de glórias
Apagando dores, escrevendo alegrias, histórias
Sou como semente na terra escura, adubada
Buscando o Sol, a luz que ilumina a alvorada
Sou como rio caudaloso a caminho do mar
Curtindo cada cantinho, desejando oceanar
Sou máquina de costura a cerzir meus retalhos
Costurando momentos, dando sentido aos frangalhos
Sou escada, subida, de degrau em degrau, sou evolução,
Ora sou ponte, travessia, busca do novo, pulsar do coração
Sou chave que insiste em abrir fechaduras emperradas
Sou o rochedo forte, poderoso, no meio da estrada
Sou bailarina, leveza, delicadeza, encanto de viver
Sou livro aberto, páginas a preencher, mas pronto para se ler
Sou nuvem, ora branca, ora pesada, carregada
Chuva passageira, arco-íris, íris impregnada
Sou pôr do sol, expectativa de um novo amanhã
Sou Lua, sou noite, mistério, romance, esperança vã?
Sou palhaço em movimento que faz o outro ser feliz, sorrir
Ainda que me sinta estátua por dentro, inerte, dificuldade no agir
Sou fonte de vida a correr todo o tempo, calidamente
Sou torpedo enviado, relógio marcando o tempo incessantemente
Sou pássaro livre que voa, jardim repleto de rosas
Sou brisa suave, vento forte, sou apenas Alda-ciosa
Alda M S Santos
POSSO SER
Posso ser tudo que pede meu ser
Há forças internas a se romper
Nada há por aqui que possa me tolher
O amor que brota faz tudo florescer
Posso ser as águas calmas de um rio, faceira
A energia que cai nas pedras de uma cachoeira
Posso ser da tempestade o temor, a agonia
Ou as cores do arco-íris, o brilho, a fantasia
Posso ser em mim, em você, o beijo doce
O sonho belo e mágico, se real fosse
Um sabor embriagante que alucina, agridoce
Posso ser do dia, a luz, da noite, a escuridão
Posso ser frio no estômago, calor no coração
Enfim, posso ser na vida esse intenso turbilhão
Alda M S Santos
AUTENTICIDADE
Gosto de gente autêntica, de verdade
Que erra, que acerta, que falha, não julga
Pois aqui estamos em busca de felicidade
Os caminhos construídos não nos subjugam
Ser amor, ser afeto, ser amizade, dedicação
Exige de nós sabedoria e bondade de coração
A diferença não nos tira a humanidade
Enaltece, enriquece, se for nossa naturalidade
Cada qual em seu caminho, suas trilhas
Se for de verdade, se houver partilha
Haverá crescimento em diferentes cartilhas
Sensibilidade no trato mostra nobreza
Aceitação das adversidades é a certeza
De que em toda evolução há grandeza
Alda M S Santos
VIRTUDES E PECADOS
Numa vida de virtudes, há pecado que nos condenaria?
Numa vida de pecados, há virtude que nos salvaria?
Que há de tão bom em nós que neutralizaria qualquer mal?
Que poderia haver de tão ruim que anularia qualquer bem?
Que carregamos de tão leve, feito balãozinho no jardim, que teria peso positivo?
Que carregamos de tão pesado, feito esponja encharcada, que pesaria negativamente na balança?
Pudéssemos julgar a nós mesmos com os mesmos critérios que julgamos os outros
Nas mesmas leis, pelo mesmo peso e medida
Com direito às mesmas atenuantes e defesas
Sob o mesmo júri implacável
Qual seria nosso veredicto, inocentes ou culpados
Qual penalidade receberíamos?
Teríamos direito de recorrer?
Virtudes e pecados, pecados e virtudes
Qual humano está isento a ponto de ser capaz de julgar?
Alda M S Santos
ENTRE AS MUITAS DE MIM
Muitas vezes sou palavras sem fim
Tantas outras o silêncio habita em mim
Algumas vezes quero abraçar e acolher o mundo
Noutras, nem a meu próprio mundinho consigo acolher
Sou, às vezes, gargalhadas de alegria e satisfação
Tantas outras sou um sorriso tímido de decepção
Muitas vezes sou a animação, a atração
Noutras, quero me esconder num cantinho sem aparição
Muitas vezes sou dança, sou verso, sou sedução
Noutras tantas sou muito atrapalhada, sou tombo, sou confusão
Muitas vezes sou maternal, terna, emocional
Noutras sou tão sozinha, isolada, individual
Tantas vezes vejo adiante um mundo de oportunidades
Noutras só vejo agonia e infelicidade
Muitas vezes estou em paz com as muitas de mim
Tantas outras elas travam uma batalha de vida e morte bem ruim
Entre as muitas de mim
Perfumada de flores, de jasmim
Nessa constante contradição
Procuro enfeitar esse jardim…
Alda M S Santos
MENINA
Menina que sonha, que tem esperança
Que brinca de ser gente grande
Que cai, machuca, levanta, não se cansa
Sorri, ainda que na vida tudo desande
Menina que é força ou fragilidade
Que busca um ombro, acolhimento
Carrega um mundo de sensibilidade
Pede colo, carinho, contentamento
Menina que ama, que sonha, que deseja
Não importa a idade em que esteja
A alma viva de mulher/menina festeja
Menina que sabe bem curtir essa viagem
O amor é sua mais eficaz linguagem
Ontem, hoje, amanhã, um resumo: coragem
Alda M S Santos
EU SOU…
Sou aquela que intensa e alegre chega
Sou amor, carinho que se aconchega
Sou triste, desanimada, acabrunhada
Nessa vida tantas vezes desordenada
Sou aquela que se vai, que chora e sorri
Que briga pelo que quer, sem desistir
Ora frágil, ora forte, ora sem norte
Tentando não depender muito da sorte
Sou aquela que precisa de gente
Para ficar bem, ser mais contente
Não abro mão de um pouco de introspecção
Aquela que se obtém na solidão
Sou apenas mais um alguém
Que erra, que conserta, que acerta também
Encontro a paz na natureza, na simplicidade
Num amor pleno, verdadeiro e sem maldade
Alda M S Santos
QUEM SOMOS?
Algumas vezes não sei quem eu sou
Menina sapeca, moça sonhadora,
Mulher vencedora…quem?
Carrego todas elas em mim
Filha, esposa, mãe, profissional, amiga
Uma mulher…
Não sei bem quem eu sou
Serei um misto de todas elas
Que despontam quando solicitadas?
Se todas essas funções forem retiradas
Que resta daquilo que eu sou?
Uma alma feminina, que sonha, brinca, fantasia
Numa vida em busca de amor e harmonia?
Quanto de nós está atrelado ao outro
Que faz o encanto da vida, que se extasia?
Há algo em nós além dessas funcionalidades
Que preenche, completa, retira ou esvazia
Gerando a circularidade da vida, a magia
Sou eu mesma, tudo isso junto, uma mistura de funções
Ou inexisto… sem gostos, desejos, prazeres, prioridades
Se de mim se tirarem a funcionalidade?
Quem eu sou? Quem você é?
Alda M S Santos
UMA CARTA PARA VOCÊ
Oi! Quero falar algo especial para você
Já nos conhecemos há algum tempo
Tantas fases, faces, interfaces…
Tantos mergulhos enveredados, aprofundou
Tantos em que se fraturou, machucou
Outros em que quase se perdeu, não voltou
Mas houve mergulhos mais proveitosos
Que aliviaram o peso das bagagens
Uns deixados por lá, noutras paragens
A cada mergulho um novo conhecer
Uma nova pessoa desabrochou de você
Algumas você gostou, deu as boas-vindas
Outras te cutucaram, instigaram, questionaram
Teve até vontade de perguntar: por quê?
Tanta gente boa encontrou nos Caminhos
Que parearam, ajudaram, despertaram seu ser
Hoje aprendi um pouco mais de você, com você
O mais importante disso tudo é se conhecer
Se entender, se apaixonar por você
Nunca, nunca desistir, prosseguir, sem perecer
Às vezes, pode ser meio difícil, doer
Mas um Caminho lindo sempre haverá
Que te levará até você
Ora florido, ora esburacado, claro ou escuro
Só não pode ter medo dessa travessia
Crie portas, abra comportas, derrube muros
Aceite o amor, os desafios, não fuja
Do outro lado, nem tão longe assim, está você
Também está o outro, para te ajudar a crescer
Cada dia mais nova pessoa, intensa, várias versões, sempre você
E posso te garantir, pode até dar medo
Mas sempre valerá a pena percorrer
Nesse caminho o autopresente é se conhecer
Muito prazer!
De mim para você…
Alda M S Santos
ALÉM DA SUPERFÍCIE
Quando na superfície parece escuro, não dá para ver a claridade
É preciso mergulhar fundo, sem medo da profundidade
Lá pode parecer escuro, mas é onde se encontra nossa verdade
Pode doer, ferir, mas a busca por nós mesmos precisa acontecer
Não há como se fazer entender para outro ser
Se nós mesmos não nos conseguir conhecer
Desvendar nossas mágoas, nossos sentimentos
A razão imprecisa de dores e sofrimentos
Esse mergulho pode assustar, termos medo de não voltar
De por lá nos perder, nada apaziguar
Apenas fazer a água turva balançar
E perder a noção de onde se está
Certo é que é preciso fazer essa viagem
A superfície não é assim tão boa paragem
Particularmente quando já não vemos mais nossa imagem
Refletida, mas obscurecida no Sol claro e forte que nos cega
Quando nossa própria alma nos renega
Quando há a percepção amarga de que já não falamos o mesmo idioma
Com quem sempre dialogamos na mesma língua
E compreendíamos sem esforço, sem precisar tradução
É preciso o encontro com nosso eu para renovação
Alda M S Santos
POR VEZES
Por vezes sou assim, indefinida, como hoje
Nuvens densas, pesadas, profunda introspecção
Prestes a desaguar forte, muita emoção
Buscando em mim mesma a razão do desejo de renovação
Por vezes sou sol forte, brilho, calor, luz
Aquecendo a vida, facilitando um desabrochar
Certa que há uma força maior que me conduz
Companheira, amiga, de mim sempre a cuidar
Por vezes sou saudade, sou nostalgia
Desejo de voltar no tempo, ser minha harmonia
Noutras sou sorriso rasgado, não quero o passado
O futuro é meu objetivo, sonho abençoado
Por vezes sou oceano, sou as ondas do mar
Que avançam e arrastam tudo na areia
Ou que buscam e levam para outro lugar
Aquilo que faz sofrer, faz doer, faz chorar
Por vezes sou sereia numa noite de Lua cheia
Em raios prateados simplesmente a cantar
Querendo a sedução, o encanto, a magia
E uma vida onde reine a leveza da poesia
Alda M S Santos
REENCONTRO
O melhor reencontro de todos é o que acontece conosco mesmos
Aquele reencontro com partes de nós que julgávamos perdidas
Com pedaços de nós que admirávamos
E que ficaram escondidos, deram uma volta por aí
Ou simplesmente abriram espaço a outras
Aquela parcela de nós que transformava nossos medos em confiança e fé
Nossas lágrimas em esperança e sorrisos
Nossas culpas e frustrações em aprendizados e recomeços.
Saberemos quando olharmos com certo distanciamento
Que essas partes não se perderam, estavam ali
Foram resgatadas no momento que mais precisávamos
E nos ajudaram a levantar
Cambaleantes ainda, frágeis, chorosos,
Porém, com força potencial interna
Transformados pelo vivido ou pelo “quase” vivido
Percebemos que não nos perdemos de nós tão facilmente!
Em frente! Com fé!
Alda M S Santos
MULHER/MENINA
Ela caminha pela vida
Vestindo sorriso de menina, alma de mulher
Ou será sorriso de mulher, alma de menina?
Tanto faz, mulher/menina ou menina/mulher…
Ela caminha pela vida
Levando abraços, beijos, delicadeza
Em busca de resgatar da vida a pureza
E absorver da rosa a beleza…
Ela caminha pela vida
Deixando onde passa pequenas partes de si
Em cada canto um encanto
Junto a uma fragrância de jasmim…
Ela caminha pela vida
Trazendo consigo na alma, no sorriso
As cicatrizes de cada alegria, cada perigo
E as marcas de onde encontrou abrigo…
Ela caminha pela vida
Mulher/menina, menina/mulher
Até quando puder…
Alda M S Santos
ÚNICA
Sou como uma taça de cristal
Caída, quebrada, colada
Arrumada várias vezes, levantada
Para a vida brindar, animar
Não sou menos valiosa por isso
Tampouco menos bonita
Sou diferente!
Minhas emendas me tornam única
Minhas cicatrizes e marcas me fortalecem
Meus machucados me tornam solidária
Aos machucados dos outros
Minhas dores e medos me fazem empática
Às dores e medos alheios
Minhas falhas e imperfeições me fazem compreender melhor
As falhas e imperfeições das pessoas
O que eu vivi, construí e trago até aqui
Só me é valioso na medida que posso agir
E ajudar outra taça a se reconstruir…
Sou taça renovada, reconstruída!
E daí?
Alda M S Santos
QUANDO EU ERA…
Quando eu era infância, criança
Tempo de sorvetes, doces, lambança
Eu era pura levadeza, sapequice, brincadeira
Subia em árvores, nadava no rio, sem canseira
Quando eu era criança, pureza me definia…
Quando eu era adolescência, juventude
Era ansiedade, sonhos, inquietude
Um mundo inteiro para conquistar
Um coração cheio, pronto para amar
Quando eu era jovem, esperança me movia…
Quando adulteci, a vida falou por si
Família, trabalho, estudo, em mil ocupações me envolvi
Paradoxalmente, quase sem tempo para mim
Foi onde a vida se impôs, deixei assim
Vida adulta, em realização me envolvia…
Na maturidade ainda sou eu
A criança levada ressignificada
Em novas árvores dependurada
A jovem de alma sonhadora, lavada
Quer amor, novas esperanças, quietude,
Ora companhia, ora solidão, ora solitude
Maturidade sou eu, na maior amplitude…
Alda M S Santos
SE UM DIA EU ME PERDER
Se um dia eu me perder
Procure-me onde haja muito verde, muita mata, ar puro,
Se um dia eu me perder
Procure-me onde as águas sejam límpidas a refletir o céu,
Se um dia eu me perder
Procure-me num roseiral, em meio às borboletas azuis,
Se um dia eu me perder
Procure-me na alegria inocente de um grupo de crianças,
Se um dia eu me perder
Procure-me nos grãos de areia da praia ao pôr do sol,
Se um dia eu me perder,
E ainda assim não me encontrar,
Não busque em mim, olhe dentro de você,
Se me procuras, é porque me amou,
Se me amou de verdade, eu também te amei,
Certamente uma parte bonita de mim estará gravada em você,
Uma parte grande de você estará presa em mim,
E poderá levar-me a me encontrar…em você, em mim,
Comigo, com você!
Se um dia eu me perder de mim…
Alda M S Santos
RÓTULOS
Não me adapto com rótulos
Não há um que consiga definir
Por mais que tente não é correto
É uma prisão que acaba por excluir
Ou te colocam além ou aquém
Daquilo que você realmente é
E, você, se não ficar atento
Se perde, tentando ser o que não quer
Rótulos nos limitam, travam
Ignoram que a vida é evolução
Impedem o agir da emoção, da razão
Quero a liberdade de ser eu
Se houver conceitos, que sejam meus
E, se quiser, você pode uni-los aos teus
Alda M S Santos
NÃO ME CABE
Nessa caixa não me cabe
Não é que eu não seja flexível
É que ela tende a me moldar
Colocar num padrão que me machuca
E que não vai me agradar
Nessa caixa não me cabe
Dobra daqui, dobra dali
Tira um pedaço desse lado
Aperta o outro, transfere de lugar
Até eu não mais me identificar
Nessa caixa não me cabe
E mesmo se coubesse eu não gostaria
É que prezo a liberdade de ser o que sou
Colocar-me ali me mataria
Nessa caixa não me cabe
Não sou boneca para viver em caixa, preciso de ar
Prefiro jardim, mata, rio, mar ou cachoeira
E assim quero viver a vida inteira…
Alda M S Santos
EM BUSCA DE MIM
Sempre fui apaixonada por água
Não nado bem, tampouco bebo o bastante
Mas ela exerce verdadeiro fascínio em mim
Não importa como se apresente:
Rio, cachoeira, mar, lagoa, chuva, nascentes…
Posso ficar horas admirando!
Água tem o poder de me acalmar
Molho os pés, a nuca, lavo o rosto, sento à beira
Ouço o barulho suave do rio ou furioso da cachoeira ou tempestade,
Mergulho, sinto seu frescor, lavando tudo.
Tudo é encanto!
Quero ali ficar até tudo de negativo ir embora
Encher-me de positividade
Restabelecer a confiança, o amor
A fé no ser humano, na vida, em mim mesma
Enquanto houver água correndo,
Haverá encanto, haverá vida.
Água que nasce, que brota
Que corre, que cai, que vai, me leva…
Em busca de outros caminhos
De outras águas,
Em busca de mim…
Alda M S Santos
O PODER
Há poder num dia ensolarado
De encantar e se fazer admirado
Há poder num dia chuvoso
De ser nostálgico, meio dengoso
Há poder numa noite de amor
De reenergizar, aquecer, ser calor
Há poder numa amizade, na bondade
Aquela que traz aconchego, serenidade
Há poder no acolhimento, na empatia
Há luz, caminhos são vislumbrados
Num conselho há magia, sabedoria
Mas só nós podemos mudar nossa história
O poder de verdade está dentro da gente
Esperando para ser despertado e encarado de frente
Alda M S Santos
MORO NUM LUGAR
Moro num lugar simples e encantador
Nada paguei por ele, veio de graça
Tantas vezes tem brilho e cor
Talvez eu tenha pedido, merecido
Às vezes fica úmido, escuro, até meio mofado
Noutras é dia lindo, ensolarado
Mas é o que tenho de mais meu, mais concreto
A mim cabe saber cuidar, amar, estar por perto
Zelar, seja nos dias de luz ou escuridão
Nos dias em que há festa no salão
Quando fica apertado e parece não me caber
Ou quando sobra tanto espaço que não sei o que fazer
Pode ser muitas vezes uma mansão luxuosa
Noutras uma casinha simples no pé da serra
Não posso partilhar com qualquer um minha morada
Pois é casa simples, especial, até sagrada
Mas gosto de dividir com pessoas especiais
Com as quais me sinto bem, amada
O prazer de aqui morar, ser abraçada
Essa casa, meu corpo, onde minha alma fez morada
Alda M S Santos
EM PRETO E BRANCO
Muitas vezes sou cor, multicor, sou arco-íris
Noutras sou preto e branco
Nuances de cinza, em sombras
Há quem me veja só em cores
Brilho, sorrisos, flores e amores
E me ignore quando preto e branco
Quando saudade, dor, lágrimas e apatia
Sou assim, essa mistura, essa aquarela, essa energia
Mas nenhum arco-íris surge antes da tempestade
Sem a chuva, o cinza , o medo não há magia
Só merece o brilho e intensidade das cores do arco-íris
Quem soube aceitar, lidar com o cinza, ser sintonia
Das próprias tempestades e ventanias
E não fugiu dos vendavais dos outros
Soube ser cais, ser porto
Daqueles que fazem nosso clima mais ameno
Em qualquer tempo, cor ou intempérie…
Como você se vê, me vê?
Alda M S Santos
ÚNICA
Sou como uma taça de cristal
Caída, quebrada, colada
Arrumada várias vezes, levantada
Para a vida brindar, animar
Não sou menos valiosa por isso
Tampouco menos bonita
Sou diferente!
Minhas emendas me tornam única
Minhas cicatrizes e marcas me fortalecem
Meus machucados me tornam solidária
Aos machucados dos outros
Minhas dores e medos me fazem empática
Às dores e medos alheios
Minhas falhas e imperfeições me fazem compreender melhor
As falhas e imperfeições das pessoas
O que eu vivi, construí e trago até aqui
Só me é valioso na medida que posso agir
E ajudar outra taça a se reconstruir…
Sou taça renovada, reconstruída!
E daí?
Alda M S Santos
ENTRE AS MUITAS DE MIM
Muitas vezes sou palavras sem fim
Tantas outras o silêncio habita em mim
Algumas vezes quero abraçar e acolher o mundo
Noutras, nem a meu próprio mundinho consigo acolher
Sou, às vezes, gargalhadas de alegria e satisfação
Tantas outras sou um sorriso tímido de decepção
Muitas vezes sou a animação, a atração
Noutras, quero me esconder num cantinho sem aparição
Muitas vezes sou dança, sou verso, sou sedução
Noutras tantas sou muito atrapalhada, sou tombo, sou confusão
Muitas vezes sou maternal, terna, emocional
Noutras sou tão sozinha, isolada, individual
Tantas vezes vejo adiante um mundo de oportunidades
Noutras só vejo agonia e infelicidade
Muitas vezes estou em paz com as muitas de mim
Tantas outras elas travam uma batalha de vida e morte bem ruim
Entre as muitas de mim
Perfumada de flores, de jasmim
Nessa constante contradição
Procuro enfeitar esse jardim…
Alda M S Santos
MAIOR AMIGO
Bolhas, feridas, cicatrizes e calos
Cada qual uma fase de recuperação
O que não mata deixa marcas
Que serão eternas no coração
Não brigue, não negue, não lamente
Apenas tenha consigo mais cuidado, mais atenção
Viva, enfrente, siga o caminho, simplesmente
Fuja dos tropeços nas mesmas pedras ou parar na mesma estação
Perdoe-se, não seja seu próprio carrasco
Tampouco seu maior inimigo
Para viver bem e alcançar o objetivo
É preciso tornar-se seu aliado, seu maior amigo
Alda M S Santos
SEM PRETENSÕES
Não quero ser a mais inteligente que entende tudo de tudo
Ou que ignora pensadores e construtores do saber
Nem a mais culta ou sociável que agrada a todos
Tampouco a mais bela, a que para o trânsito
Ou a perfeitinha e boazinha que a todos atende
Aquela totalmente maleável, pacífica, que nunca se enerva
Sorrindo sob o peso do andor
Que molda-se ao gosto do freguês
Nem mesmo a madame mais chique ou luxuosa
Não quero! Impossível!
Não tenho essa pretensão
Seria impossível conquistar, pesado manter, difícil sustentar
E totalmente desnecessário…
Quero apenas ser eu mesma
Prefiro as imperfeições que vão sendo aparadas
Nas dificuldades e decepções diárias
Quero ser inteligente o bastante para sempre evoluir
Sabendo até onde ir
Sem contudo me afastar dos outros
Culta e sociável o suficiente para atrair boa gente
Bela o bastante por fora,
Mas de um modo a não ofuscar ou distorcer o que vier de dentro
Coração bondoso a ponto de me colocar no lugar do outro
Na medida exata para poder ajudar, ser útil, sem ser tola
Flexível, resiliente, mutável
Sem ferir meus princípios e essência
Aquela que procura sorrir sempre, mas que chora, que se enerva
Que ama, que sente saudade, que namora
Que às vezes quer sumir…
Chique o suficiente a ponto de trocar
Qualquer programa ou prato sofisticado
Por um banho de rio, um livro na rede e uma pizza gigante…
E sempre irei amar quem me aceitar como sou
Ainda que não seja desse jeitinho aí…
Tudo mais é pura falácia!
Alda M S Santos
INCOMPLETOS
Seres humanos incompletos
Todos somos!
Crer-nos completos é uma falha
Seria o primeiro passo para a impossibilidade de crescer
A completude implicaria num ser sem espaços vagos
Sem capacidade de absorver algo novo
Somos incompletos no ser, no sentir, no agir
E a cada dia podemos sentir algo novo
A cada dia podemos agir de modo diferenciado
Para, a cada dia, podermos nos tornar um novo ser
Ainda assim, incompletos!
Preenchendo nossos vazios físicos, mentais, emocionais
Nossa alma é um espaço oco que vamos preenchendo
Com as coisas, sentimentos e pessoas que nos fazem bem
Infinitamente…
Alda M S Santos
MOMENTOS ILHA
Há momentos que somos mar
Imensidão encantadora e perdida
Há momentos que somos céu
Voo e livre imaginação
Há momentos que somos terra
Pés no chão, dor no coração
Há momentos que somos fogo
Irritabilidade e inconstância, desejo de mudança
E há momentos em que somos ilha
Isolados em nós mesmos em busca de nós
Sem perceber o que nos cerca
Que em nossos momentos ilha
Estejamos cercados do bem
Por todos os lados…
E que a gente possa se afinar com ele…
Alda M S Santos
FRONTEIRAS
Do lado de lá ou do lado de cá
Uma linha invisível a separar
Fronteiras a nos impor limites
A nos deixar de lados diferentes do front
Tal qual a linha no horizonte
A dividir o que é céu e o que é mar
Do lado de lá ou do lado de cá
Aquele traço suave quase apagado a separar
O amarelo fosco do entardecer e o cinza chumbo do anoitecer
As águas doces de um rio que se encontram com o sal do mar
A terra seca da chuva prata que a inunda
Do lado de lá ou do lado de cá
Nem sempre enxergamos a linha tênue a separar
O que é efêmero do que é eterno
O que é certo do que parece certo
O que é bom do que é ruim
O que é verdade ou o que é saudade
O que é nosso do que pensamos que fosse
O que é amor do que são só palavras
Do lado de lá ou do lado de cá
A fronteira a dividir esse front
Não é enxergada nem na luz nem na escuridão
Mas é sentida a cada passo
Em cada grito ou silêncio de dor ou alegria
Em cada pegada deixada nas areias dessa estrada chamada vida…
Alda M S Santos
APARÊNCIAS, NADA MAIS…
Não é porque parece sujo que não limpa
Ou limpo que não esteja sujo
Não é porque sorri que esteja sempre feliz
Ou chorando que seja um infeliz
Não é porque está vestido que tem pudores
Ou nu que seja despudorado
Não é porque seja tão belo e brilhante por fora
Que também o seja por dentro, lá pode estar fosco
Não é porque grite que tenha muito a dizer
Ou silencie que não esteja sufocando algo
Não é porque caminhe por caminhos diferentes
Que tenha mudado a rota original da própria vida
Não é porque desanime ou tantas vezes queira desistir
Que não seja grato ao amor e à vida…
Aparências, nada mais…
Apenas um bom olhar percebe o que vai dentro
Além da superfície!
Alda M S Santos
AINDA ESTOU EM MIM
Quando encontro alguém que faz questão
De ressaltar alguma qualidade que não lembrava mais possuir
Algo que fiz por elas e que as marcou
Um defeito que reconheço que melhorei
Uma virtude perdida, uma deficiência amenizada
Ou uma mania que não passa de jeito nenhum
Sinto-me bem…
Sei que ainda estou em mim, que não me perdi pelo caminho
Que são bonitas as marcas que deixei
Que sou apenas uma criatura em evolução
E que posso melhorar muito ainda
É aí que percebo que o ”pão que o diabo amassou”
Não faz tão mal assim, pois Deus é quem dá o toque final
O diabo pode até sovar a massa, mas é Deus quem põe o pão para assar
E basta um toque divino para tudo se reverter
Tudo melhorar…
Eu ainda estou em mim, mesmo imperfeita
E gosto mesmo muito disso!
Alda M S Santos
NADANDO EM ÁGUAS PROFUNDAS
O que leva um exímio nadador a se afogar
Não é a inabilidade, imperícia ou falta de treino
O que leva alguém a se afogar é a escassez ou o excesso de confiança em si mesmo
É a inércia perante as águas bravias que causa pavor
Falta-lhe a tranquilidade para lembrar o que possui
Tentar relaxar, mover-se ritmadamente e respirar devagar
Ou é o excesso de confiança que o faz se aventurar onde é perigoso e não mais conseguir voltar…
Quando nos afogamos mergulhados em problemas e tristezas
Advindos de mares profundos nos quais mergulhamos
Levados pelas circunstâncias ou por vontade própria
Quase sempre são por esses dois motivos:
Excesso ou falta de autoconfiança e coragem
Ambos podem ser danosos para o nadador e para quem tentar salvá-lo…
Que nossas águas sejam claras, que saibamos mergulhar e nadar bem…
Alda M S Santos
SEJA VOCÊ!
Não é necessário ser sempre o que querem
Sempre inteligente, bela, meiga, forte
Tantos adjetivos inalcançáveis, às vezes
Sensual, bondosa, amiga, independente, centrada
Muitas virtudes nos são impostas e cobradas a cada segundo
Várias delas não somos, ao menos não somos todo o tempo
Para quê?
Vale mesmo é ser sempre uma reedição de nós mesmas
Uma versão melhorada a cada passo, mesmo trôpego
E daí se para isso precisarmos ser frágeis, dependentes, perdidas ou malucas?
Se for necessário cair, chorar, ser “feia” aos olhos do mundo?
Nem sempre veem os campos minados que atravessamos
As batalhas dantescas que travamos
As lutas hercúleas em nosso interior
Querem-nos apenas inteiras, belas, inteligentes, bem humoradas
Seja você! Seja o que você quiser!
Pois quando a cabeça encosta no travesseiro
Quando se olha no espelho pela manhã
É a si mesma, à sua consciência que deve prestar contas
Você pode até atender às expectativas dos outros
Mas é a você mesma que nunca pode decepcionar ou abandonar!
Seja fiel a você!
Alda M S Santos
CARGAS EXTRAS
Carrego comigo muitas coisas, bagageiro cheio
Ora leves e bonitas como borboletas no jardim, difíceis de seguir
Ora pesadas e dolorosas como pesadelos quase “subterrâneos”, difíceis de escapar
Carrego comigo muitas coisas
Uma vontade de sempre sorrir, ser e fazer feliz
Também, às vezes, um desejo de me recolher, acalmar e nada fazer, aguardar
Carrego comigo muitas coisas
Um desejo de me banhar nas águas que brotam de fontes inesgotáveis de ânimo e fé
Ou de me deixar ficar nas emoções áridas quando a fonte seca
Carrego comigo muitas coisas
Alegrias e esperança com o realizado e o porvir
Tristeza, mágoa e decepção com investimentos vãos
Carrego comigo muitas coisas
A satisfação e orgulho com bênçãos buscadas e alcançadas
A culpa, desculpa e trauma por erros e falsas expectativas
Carrego comigo muitas coisas
A incansável responsabilidade de buscar a felicidade a todo custo
E a constante necessidade de cuidar da felicidade dos outros, daqueles que me são caros
Entre cargas ora leves, ora pesadas
Embarco nessa viagem com bagagem extra
Procurando não sofrer muito quando alguma precisar ficar para trás…
Alda M S Santos
AH, QUE SAUDADES…
Tenho saudades das muitas de mim
Daquelas que foram ficando pelo caminho
Sufocas ou desnutridas pelas circunstâncias
Perdidas na escuridão das trilhas
Tenho saudades das muitas de mim
Daquelas de confiança cega e sorriso fácil
De entrega apaixonada e sem grandes expectativas
Tenho saudades das muitas de mim
Daquelas de brilho no olhar, coragem e romantismo
Muita energia e boa vontade, até uma certa ingenuidade
Tenho saudades das muitas de mim
Da audaciosa, da atrevida, da sapeca, da nerdzinha
Até da medrosa, chorona ou impaciente
Tenho saudades das muitas de mim
Que foram ficando pelo caminho
Que não me acompanharam até aqui
Que se ofuscaram pelo brilho falso de outras pedras
Que foram se apagando nas gotas das mágoas e decepções
Minguando, minguando até desaparecer…
Tenho saudades das muitas de mim
Mas logo percebo que “elas” todas não se foram
Apenas deram lugar a outra
Foram usadas como ingredientes essenciais
Diluídas na massa de uma grande forma para moldar o que sou hoje…
Quando as saudades de mim atingem forte
Percebo que basta ir para um cantinho
Garimpar bem, com calma e paciência
Que encontrarei meu tesouro: as muitas de mim
Aquelas sem as quais eu não existiria
E fazer as pazes com elas
Fazer as pazes comigo…
Alda M S Santos
SEJA ÍMPAR!
Seja maluco, louco
Mas daqueles que encontram alegria na própria insanidade
Seja saudável, cuide de si
Mas ajude a cuidar dos outros
Seja sincero, seja honesto
Mas nunca use isso como desculpa para grosserias
Seja curioso, interessado, gentil
Mas cuidado ao se intrometer na vida de alguém
Seja infantil, seja criança, volte a ser pequeno
Mas seja grande na pureza e inocência
Seja intenso, alegre ou triste
Mas seja profundo, não aceite superficialidade no que é essencial
Seja contido, introspectivo
Mas não deixe de transmitir o que pensa ou sente
Seja luz, seja brilho, seja cor
Mas respeite quando tudo for sombra
Seja romântico, seja até mesmo piegas
Mas não seja frio ou indiferente
Seja original, seja único, seja ímpar
Mas respeite o modo ímpar de ser dos outros
Seja a esperança de um mundo melhor que começa em você!
Alda M S Santos
FLORESCENDO, FLORES(SENDO)…
Sob sol, sob chuva, sob tempestades
Florescendo, flores sendo…
Acolhendo abelhas, borboletas e beija-flores
Ensurdecendo com o canto das cigarras
Florescendo, flores sendo…
Sob o entardecer, sob o luar ou a aurora
Dividindo espaço, multiplicando belezas
Queimando e perdendo pedaços para as formigas
Florescendo, flores sendo…
Alimentando-me de brisa, de doçuras, de toques delicados
Fazendo minha fotossíntese
Purificando o ar, espetando os dedos com espinhos
Molhando a raiz de lágrimas salgadas
Florescendo, flores sendo…
Nascendo, crescendo, perfumando a vida, encantando, morrendo…
Florescendo, flores sendo…
Alda M S Santos
UNIVERSO INEXPLORADO
O universo que carregamos em nós
Por mais desbravado e explorado que tenha sido
Por mais terras, luas e planetas descobertos em nós
Sempre haverá aquela estrela escondida
Aquele meteoro veloz não acompanhado
Aquele cometa tão aguardado
Aqueles asteroides desconhecidos e esquecidos…
Somos um universo ainda muito inexplorado
Inclusive por nós mesmos
Cada um de nós carrega em sua galáxia interior
Regiões obscuras e carentes de luz e vida
Necessitando de uma remexida intergaláctica para ser ativada
E mostrar todo seu potencial…
Alda M S Santos
CARICATURAS DA ALMA
Caricaturas são representações das pessoas ou de situações
Em que o desenhista coloca em foco o que quer evidenciar
Olhos, orelhas, cabelo, testa, boca, nariz, mãos…
Qualquer parte do corpo pode ser aumentada ou diminuída de forma grotesca
De acordo com o olhar do artista observador
E transmitir uma mensagem, sem palavra alguma!
Sei bem como seria feita uma caricatura de corpo minha!
Mas e se, ao invés de uma caricatura de fora, fosse feita uma caricatura de dentro?
Quais partes nossas seriam evidenciadas?
O que temos transmitido de nós por aí?
Quem saberia fazê-la fiel, quem nos vê de verdade?
Cérebro, coração, emoção?
Carisma, energia, luz, amor?
Gostaríamos de ver, de saber?
Saberíamos nós mesmos fazê-la?
Mesmo grotescas, as mensagens das caricaturas são claras,
Por isso chocam e, quase sempre, geram mudanças.
Alda M S Santos
O MELHOR AMIGO
O melhor amigo te olha nos olhos
Encara, enfrenta, diz a verdade
Diz que tem saudade do que você era
Daquilo que você tem deixado de ser
O melhor amigo não desvia os olhos
Fala onde você errou, te ampara nos seus medos
Ralha com você, mas te dá carinho e atenção
O melhor amigo não te deixa desviar o olhar
Está presente, não foge, te cobra presença
Diz que se orgulha de você, não te deixa esmorecer
O melhor amigo sabe tudo de você
Não te deixa se tornar seu pior inimigo
Tampouco permite que você faça gol contra
Ou que seja atingido por fogo amigo
O melhor amigo te alertará se fizer mal aos outros
Mas, sobretudo, se fizer mal a si mesmo
O melhor amigo, se você permiti-lo agir, nunca deixará você cair
E, se isso acontecer, não te deixará lá por muito tempo
Ele te ajudará a se reerguer e seguir
Olhe para ele, não se esconda!
Seu melhor amigo está diante de você
Naquele espelho que você se olha todos os dias
E nem sempre se vê…
Dê um abraço apertado nele
E aquele sorriso que faz tudo se renovar…
Diga com convicção e sinceridade:
Eu te amo para sempre e nunca te abandonarei…
Alda M S Santos
UM GALHO A MAIS
Para uns sou a base, o cais, o alicerce, a raiz
Sou segurança…
Para outros sou a flor, delicadeza, leveza, perfume
Sou encanto…
Às vezes sou o tronco forte, o galho que sustenta a gangorra
Sou diversão…
Noutras sou as folhas que caem ao sabor do vento e da maturação
Sou renovação…
Algumas vezes sou o fruto suculento, polpudo e saboroso
Sou combustível, alimento…
Posso ser também apenas um galho a mais a balançar na ventania
Sou esperança…
Tudo depende de quem me vê, de como se vê
De suas carências, do que precisa para viver…
Parte do que os outros são ou nos parecem ser
É apenas reflexo daquilo que somos e precisamos…
Sinto-me apenas um galho a mais, ora forte, ora frágil
Mas importante para a vida da minha pequena árvore
Nessa grande floresta da existência…
Alda M S Santos
MESMA MASSA
Somos feitos da mesma massa, do mesmo barro
Com os mesmos ingredientes, com os mesmos propósitos
Mas cada um cresce de modo diferente
Em tempos e pontos diversos de agitação, repouso e calor
Dependendo daqueles com quem essa massa interage
Do modo de fazer de cada um, do amor aplicado na ação
Algumas massas crescem mais quanto mais sovadas são
Outras encruam, murcham, definham, azedam, se sovadas demais
Há as que precisam ficar reservadas, em repouso por tempo maior
Outras necessitam ser mais agitadas, viradas e remexidas
O tempo de forno e calor também é variável
Então, respeitemos o ponto ideal de cada uma
Nunca dizer que é drama ou frescura
Sequer que é massa fraca ou farinha ruim
Quando se queimam, encruam ou sofrem algum revertério
Após as muitas sovas da vida
Ou por terem sido “esquecidas” no forno…
Se a dor não é nossa, se a lágrima ou sorriso não são nossos
Não ousemos julgar ou medir
Cabe a nós ajudar, respeitar ou nos recolher em nosso canto!
Alda M S Santos
QUANDO PRIMAVERA
Quando sou primavera
Sou flor, cheiro, cor
Beleza, harmonia…
Atraio, encanto,
Perfumo e embelezo.
Porém, não sou primavera todo o tempo
Venho de invernos frios, longos e solitários…
Quase destruída nos verões de muitos ventos e tempestades.
Abandonada e recolhida em mim mesma nos outonos em que perdi boa parte de mim…
Reconstruí, floresci, renasci….
Enfim, primavera!
Trago comigo arraigados
Meus verões, outonos e invernos…e com eles
Quem me acompanhou.
Com eles quero dividir
Minhas flores, minhas alegrias, meu perfume, minhas cores, meu encanto!
Sabiamente, me abasteço para o próximo outono.
Ele sempre vem!
Alda M S Santos
Repostando
NUBLADO
Quero um dia inteirinho de chuva
Daqueles cujo céu fique totalmente encoberto
Chuvinha constante, ora fininha, ora mais intensa
Daqueles que nos “autorizem” a ficar o dia todo sob as cobertas
Sem precisar justificar, sem precisar de um porquê
A nostalgia e introspecção comuns desses dias nos liberam para tal
Eles são, por si só, a razão do recolhimento
Sentindo o friozinho úmido lá de fora, as gotas da chuva escorrendo na janela
Cheirinho de terra molhada, flores agradecidas, pessoas correndo
Escondendo-se sob as marquises, dividindo guarda-chuvas
Umas felizes, outras praguejando, esbravejando
Os abraços molhados, os encontros, os reencontros
O amor, a saudade de infância que sempre fica no ar…
Crianças sempre amam, andam nas enxurradas, nada temem
Adoro observar as pessoas em dias assim
O cinza molhado ativa as cores ou ausência delas nas pessoas
Os cães sequer saem das casinhas
O bem-te-vi por certo também está em “casa”
Um pijama macio, uma meia velha, cabelos revoltos, uma xícara de chá
Um livro, um filme ou uma música
Uma história para escrever…
Sei lá…
Dias nublados e chuvosos são dias muito produtivos
Ainda que o produto seja apenas interno e invisível aos olhos de fora…
Alda M S Santos