MALDADE OU INFELICIDADE?
As décadas eram muitas, quase dez
E as mãos trabalhavam lentamente numa arte
“Não deu para arrumar isso aqui, mãe”
Um par de olhos úmidos o encarou, questionadora
“Está velho, esgarçado, puído, sabe o que é isso?”
Mais uma vez ela o observou, silenciosa,
Calmamente colando florzinhas na árvore de Natal.
“Está velho, coisa velha a gente joga fora, não compensa arrumar!”
Os olhos dela me encararam com muita tristeza e vergonha
Abaixou a cabeça, resignada e triste, continuando a colar…
Ele, me notando por perto, logo arrematou:
“Claro que é para coisas, não pessoas!”- e foi-se embora
“Depois a gente conversa!”
Mas o estrago já estava feito.
Frase maldosa ou infeliz?
Palavras não foram necessárias para traduzir
O que o olhar dela já havia dito: vergonha e decepção
Estava acostumada àquele tratamento.
O quanto vale nossas vidas?
Haverá mesmo alguém a cuidar de nossos idosos
De nós, quando chegarmos lá,
Com amor e bondade?
Alda M S Santos
Deixe um comentário