EXTREMISMOS
Sem medo de errar: todo extremismo é nocivo
Seja esportivo, religioso, político ou de qualquer tipo
Trazem consigo uma carga de amor e ódio
Uma insanidade patológica e agressiva, uma bomba relógio
Não permitem crescimento ou evolução
E sempre causam tragédias em diversas situações
Os excessos, quaisquer que sejam, envolvem insanas paixões
Daqueles tipos que causam amargas polarizações
Envolvem um “amor” meio adoentado
E como carona um ódio pelo outro lado
Na maioria das vezes por outro também extremista
E a vida vai sendo posta à prova, danos causados
Urge nos curarmos ou nos vacinarmos
Munirmos de respeito e sabedoria
Para não nos envolvemos nessa louca patologia
A vida pede por paz, luz e serenidade
Ainda que cada qual lide com sua verdade
Apreciar em si e no outro o jeito de ser liberdade
Faz-nos crescer em nossa humanidade
Alda M S Santos
JÁ ME FALTOU…
Já faltou a luz, o norte, a direção
Mas nunca faltou o caminho, a oração
Já faltou o ânimo, o desejo, a vontade
Mas nunca faltou a esperança de felicidade
Já faltou a força, a energia, a coragem
Mas a fé sempre foi bela paragem
Já faltou a crença na humanidade
Mas Deus sempre renovou em mim a bondade
Em alguns momentos sobraram medo e solidão
E me abasteci de sonhos e renovação
Já faltou autoestima, o amor-próprio
Na literatura, na poesia encontrei meu ópio
Já não me senti querida, amada, desejada
Mas quem nunca pensou em abandonar essa parada?
Já tive a fé estremecida, a esperança perdida
Mas nunca faltou amor à vida
E em mim mesma busquei guarida
Já me faltou o ar, o gás, o chão
E os sonhos foram meu céu, a rima do meu coração
Que já te faltou?
Alda M S Santos
RODA PIÃO, BAMBEIA PIÃO
Somos piões sendo por outros girados
Pelas mãos de alguns somos balançados
Ficamos rodando, rodando, sendo forçados
Até pararmos no próprio eixo, avariados
A vida pede luta, pede análise, pede calma
Tanto por fazer, precisamos paz na alma
Urge ter sabedoria, buscar informação
Saber quem nos comanda, exige nossa atenção
Queremos o bem, a harmonia, a paz, afinal
Mas estamos sendo sacudidos num vendaval
E o pião vai girando desgovernado, sem final
Todo cuidado é pouco para não cairmos na tentação
De agir contra o que acreditamos, ferir nosso coração
A luz deve sempre prevalecer, seguirmos em evolução
Alda M S Santos
EVOLUIR SEMPRE
Nessa vida de comandantes e comandados
Estamos sempre a mudar de posição, de lado
Importante é saber como melhor agir
Sempre no e pelo bem seguir
Quando comandante ser amor, ser luz
Ser a paz, o caminho, a direção que melhor conduz
Quando comandado ser bondade e humildade
Ter sabedoria, discernimento e liberdade
Bom ter claro nossa responsabilidade
Em qualquer lado deixar de fora a vaidade
Entender que estamos aqui para evoluir, essa é a verdade
Se errar, consertar, se cair, levantar
Sempre guardar bem, a lição registrar
E eternamente ao Alto agradecer e orar
Alda M S Santos
COMO É POSSÍVEL?
Como é possível, ao mesmo tempo
Estar tão perto, estando tão longe
Estar tão longe, estando tão perto
Estar tão dentro, sem haver cabimento
Como é possível, ao mesmo tempo
Ser tão doce sorriso, escondendo amargas lágrimas
Ser tão acolhedor colo, estando carente de aconchego
Ser reflexo de si mesmo, de tão brilhante luz,
Tendo apenas uma faísca acesa
Como é possível, ao mesmo tempo
Ser o amor em meio a tanta indiferença
A esperança em meio a dolorosa ingratidão
A paz em meio a tanta maldade e confusão
Como é possível, ao mesmo tempo
Ser o norte quando se está perdido
O recomeço depois de haver desistido
A continuidade de um viver intenso, meio sofrido
Quando sabemos que a qualquer hora
Seremos pelo tempo engolidos, consumidos?
Como é possível?
Alda M S Santos
QUERO SER
Quero ser a melhor brincadeira
Naqueles momentos mais sérios
O sorriso nos momentos de apreensão
A lágrima nos instantes mais alegres
O abraço na hora de solidão
Quero ser o forte analgésico
Nas dores crônicas, no mal agudo
A resposta nas dúvidas existenciais
A placa de largada para os desanimados
A esperança para os sonhos tão naturais
Quero ser a fé e a luz brilhante
Nos breus intensos do caminho
A saudade no coração de alguém
A coragem que brota insistente
A doçura para o amargor também
Quero ser broto de amor
Sementes colhidas do coração
Plantadas em terreno fértil
Nascidas nas terras da imaginação
E perpetuadas no jardim dos irmãos em comunhão
Quero ser…
Alda M S Santos
A HISTÓRIA SE REPETE
A mesma angustiante história lá está
Continuamente a se repetir
Quer seja em nós, nos filhos, parentes ou amigos
Algo ela quer nos ensinar
Quem sabe um novo caminho a seguir?
Faz sorrir, faz chorar, faz desanimar, quase desistir
E ainda não aprendemos
Por isso ela está sempre a nos cercar
Tentando de todo modo nos alertar
Até quando vamos resistir?
A vida é sábia por natureza
Ela sempre se impõe, é forte
E tem uma ampla visão do porvir
No medo, na esperança, na dor
Até nas quedas que vier a permitir
Quer nos levar para novo patamar
De evolução, sabedoria e amor…
Alda M S Santos
APRENDI, APRENDENDO…
Aprendi que…
Nem toda lágrima é de dor ou tristeza
Tampouco todo sorriso é de alegria
Que só vale a pena manter quem é de verdade
Quem torna real nossa fantasia
Aprendi que…
Ser humano implica em também sofrer
Encarar com coragem tudo que aparecer
E, mesmo assim, não desistir de tentar
Porque a felicidade é prêmio pelo qual vale a pena lutar
Aprendi que…
A vida passa, as pessoas idem
Mas o que realmente importa, é valioso
Não é tão fluido ou fugaz
Eterniza-se em nós, é grandioso…
Aprendi… aprendendo…
Alda M S Santos
UM DIA NORMAL
Nada de extraordinário ou excepcional
Tudo que preciso e quero
É a bênção de um dia normal
Por isso não me desespero
Um dia normal nasce primeiro dentro da gente
Da vontade de fazer diferente
Antes até do nascer do sol que nos aquece
Na família que nos ensina o amor, nosso presente
E nos corações agradecidos em prece
Quero somente a paz de um dia normal
Aquela certeza de que tudo está em seu devido lugar
Sem necessidade de ter que colher algo especial
Apenas o sorriso no rosto, reflexo de uma alma plena
E finalmente, sob a luz do luar, descansar…
Quero apenas um dia normal…
Alda M S Santos
OVERDOSE
Overdose de informações
Contradições e imposições
Sobra mentira, falta verdade
Sinto-me grogue
Chuva de insanidade
Cataclismas de infortúnios
Perdas, roubos, assalto da individualidade
Sinto-me em curto-circuito
Overdose apocalíptica, letal
Meteoros destruidores, esse é o intuito
Queda de princípios, choque anafilático
Como combater esse mal?
Overdose, excessos, povo fanático
Vou-me embora, fugir desse quartel general
Preciso da alegria e da paz do meu quintal…
Alda M S Santos
UM DIA
Um dia ainda vamos entender
O bem que poderíamos ter feito
E não fizemos
O mal que poderíamos ter evitado
E não evitamos
Aquela dor que causamos a nós e aos outros
E não precisaríamos ter enfrentado
O novo rumo que poderíamos ter tomado
E não tomamos
Todos os avisos e alertas que recebemos
E ignoramos
As oportunidades de crescimento e renovação
E fechamos os olhos
As chances de fazer um movimento pelo amor e pela paz
E ficamos inertes
As famílias que poderíamos ter ajudo a construir
E destruímos
A vida que poderia ter sido bem vivida
E matamos…humanamente!
Mudar, construir o mundo grande lá de fora
Começa por não destruir o mundo pequeno no nosso entorno
Abrir as porteiras e deixar a luz nos iluminar de dentro para fora
Um mundo melhor precisa de cada um de nós!
Um dia pode ser tarde demais…
Alda M S Santos
LIÇÕES INFANTIS?
Se bagunçar, arrume, deixe melhor que encontrou
Se não pode ou não sabe arrumar, não mexa
Ande, se correr poderá cair
Não pegue o que não é seu, nem tudo é coletivo
Não derrube o “castelo” de seu irmão, construa o seu
Não fale com estranhos, nem todos são amigos
Confie sempre na sua família, ela sempre estará contigo
Não procure briga, mas não apanhe
Aprenda com seus erros para não repetí-los
Se cair, levante, engula o choro, receba um carinho e siga
Nem toda porta aberta te cabe, não entre sem ser convidado
Respeite o espaço do outro, cultive o seu
Seja grato!
Lições infantis?
Talvez retomar essas lições
Nos salve de nossos próprios atropelos
De atropelar nosso irmão
Nos salve uns dos outros…
Lições infantis?
Alda M S Santos
OUTRA VEZ?
Vai e volta, passa o tempo
E as mesmas situações se repetem
De novo
Replay, outra vez
Mais uma vez…
Conosco ou com os nossos
A mesma dor por perto
Repeteco
Algo a nos dizer
Que fazer?
Lições não aprendidas
Oportunidades ignoradas
Erros não aproveitados, falhas esquecidas
Lágrimas jorradas
Batem sempre na mesma porta
Sempre querem algo nos dizer
Chamar a atenção, ativar o olhar, o fazer
O que não se aproveitou ou se aprendeu lá
Retorna para o lado de cá
Até que possamos estar aptos
A seguir, a prosseguir
Sem precisar tanto ferir, tanto repetir…
E poder um pouco mais sorrir…
Alda M S Santos
OLHE PARA MIM
Olhe para mim, mas olhe devagar
Preste atenção, demore-se…
Olhe e me enxergue verdadeiramente como sou
Um alguém que precisa de você, de carinho e atenção
Não me deixe ir embora, silenciar
Não quero fugir para dentro de mim, me afastar
Quero estar com você, sentir você
Sentir-me uma pessoa amada…
Não quero mergulhar no meu mundo
Quero fazer parte do seu mundo também
Sinto-me só, um ninguém nesse mundo
Do qual tantas vezes quis ir embora
Nesse seu mundo tão “perfeitinho” sinto-me um nada
Olhe para mim! Me abrace!
Por favor, me enxergue, faça-me ver propósito nessa vida
Que eu possa ser importante, necessária ao menos pra você
Preocupe-se comigo, me imponha limites de amor e cuidado
Olhe para mim!- é o grito silencioso de tantas crianças e jovens
Ao se rebelarem, enfurnarem-se no quarto
Quebrarem regras, ultrapassarem limites
Tantas vezes têm “tudo”, mas falta-lhes o essencial
Sentir-se alguém no mundo de alguém
Falta amor em atitudes simples
O amor é que nos faz ter prazer no viver
Aquele amor demonstrado no cuidado e atenção diários
O amor é que impede que tantos queiram acabar com a vida, com o inexistir
“Olhe para mim!”
Alguém perto de nós está gritando esse pedido…
Prestemos atenção!
Alda M S Santos
SOMOS TODOS RESPONSÁVEIS
A cada vez que ignorei um grito de socorro
A cada vez que não ouvi um silêncio sofrido
Eu também fui responsável
A cada vez que não me importei com as lágrimas
A cada vez que chamei de frescura a dor do outro
A cada vez que menosprezei o diferente
Eu também fui responsável
A cada vez que exigi que os outros fossem iguais a mim
A cada vez que desconsiderei as dificuldades individuais
Eu também fui responsável
A cada vez que ignorei e me calei
Quando gordos, homossexuais, feios, negros ou pobres foram ridicularizados
Eu também fui responsável
A cada vez que nada fiz, que pensei “esse problema não é meu”
Eu contribuí para que uma tragédia pudesse crescer
E ganhar forma dentro de alguém já doente e excluído
É fácil e cômodo culpar a política, a segurança, a educação, a estrutura familiar
São culpados sim!
Mas que possamos assumir com coragem nossa parcela de culpa
A cada vez que nos fechamos em nosso mundo particular
Que somos individualistas e egoístas
Que pensamos que “amar a teu próximo como a ti mesmo”
Parece coisa de otário
Ou que ajudar o outro mais carente é “dar o peixe” para preguiçoso
Nós também fomos responsáveis
Por inércia ou instigando o mal
Nós contribuímos para que uma tragédia pudesse acontecer
Bem pertinho de nós …
Muitas vezes desconsiderando que estamos no mesmo mundo
Que ele gira e balança todo o tempo
E nada garante que não explodirá algo em nosso colo!
Somos responsáveis por cada flor impedida de germinar
Pensemos nisso!
Somos todos responsáveis!
Alda M S Santos
VEJO EM VOCÊ
Vejo em você o que preciso para crescer
Para ser melhor a cada dia
E não são só coisas boas que me possibilitam isso
O que há de negativo em você também me ensina a evoluir
Me permite desenvolver o que é falho também em mim
Aprendo quando você me faz sofrer, me faz chorar
Aprendo quando você me leva ao êxtase, à alegria extrema
Sou melhor quando preciso esquecer um pouco de mim
E me concentrar no que você insiste em me mostrar
Vejo em você vários caminhos que me desnorteiam
Mas que também me ensinam a responsabilidade das escolhas
Vejo em você, Vida, tudo que preciso para ser eu mesma
Um ser humano em evolução que busca no amor a sua luz
Por isso ainda insisto em ficar com você!
Obrigada, Vida!
Alda M S Santos
SABEDORIA DA AREIA
Viver a sabedoria da areia
Absorver o que é bom, que cabe em si
Deixar de fora, na superfície, o que não dilui, não flui
Aceitar sobre si diferentes tipos de vida
Ser apoio, refrescância, acolhimento, calor
Viver a sabedoria da areia
Deixar-se moldar pelas ondas
Parecer desabar, desfazer-se e persistir
Na certeza de que nada é eterno
Nem a tormenta, nem a calmaria…
Alda M S Santos
NOS LUGARES ERRADOS
Muitas vezes encontramos entre os loucos mais saúde mental e alegria
Que entre os tidos como normais, sem qualquer anomalia
Muitas vezes notamos mais carinho num abraço entre amigos saudosos
Que entre irmãos de sangue e familiares, tantas vezes maldosos
Muitas vezes há mais amor e cuidado na distância
Que entre aqueles que caminham lado a lado sem se dar importância
Muitas vezes há mais vida num leito hospitalar
Que entre aqueles que a desperdiçam entre brigas e lamúrias no lar
Muitas vezes há mais sinceridade num sorriso doloroso que acolhe
Que numa lágrima que se pretende solidária, mas se recolhe
Muitas vezes nota-se mais a presença de Deus entre pagãos e ateus a trabalhar
Que entre religiosos de joelhos diante de um altar
Muitas vezes há mais paz num grito de liberdade para o mundo
Que num silêncio que fere a alma, corta fundo
As coisas estão mesmo nos lugares errados
Ou somos nós que não sabemos procurar?
Alda M S Santos
O QUE VOCÊ É HOJE?
Quantos anos você tem hoje?
Trinta, quarenta, cinquenta, setenta?
Volte lá atrás, à metade disso…
A sua vida de hoje corresponde àquela que propôs para si?
O que você realizou é o que sonhou décadas atrás?
Vida pessoal, profissional, familiar, social?
Tem a família, os amigos, o trabalho, a saúde, o lar que sonhou?
Colocando na balança as oportunidades que teve
E aquelas que deixou passar, não soube aproveitar
As vezes em que tiraram seu chão
Ou aquelas que não soube flutuar
Qual o saldo? Está inteiro? Faltam partes, mantém a essência?
Qual sua responsabilidade nisso tudo?
Qual sua perspectiva para o futuro?
O que você é hoje pode ser diferente do que imaginou para si
Pode até ser meio frustrante para o jovem sonhador que foi
Mas no equilíbrio entre sonhos e realidade
O saldo certamente é bom
E, se não for, a boa notícia é que a vida continua
Dá para tentar fazer diferente de agora em diante
Boa caminhada para todos nós!
Alda M S Santos
ERRAR É HUMANO?
Errar é tão humano que há erros para todos os tipos de humanos
O erro inovador, aquele que se comete ao enfrentar algo diferente do costumeiro
“Isso tudo é novo para mim”
O erro insistente, velho conhecido, aquele que bate na mesma tecla, não desiste
“Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”
O erro ingênuo, aquele que espera sentado ser contemplado nas voltas do mundo
“O que for meu virá até mim…”
O erro otimista, aquele que treina e teima no mesmo propósito
“A prática leva à perfeição”
O erro pessimista, aquele que desistiu de lutar
“A vida é cruel, tentar pra quê?”
O erro revoltado, injustiçado, aquele que se julga o preterido do mundo
“Nada cai do céu, tomo o que eu quero!”
O erro anjo da guarda, bom samaritano, aquele que erra em prol dos outros
“Era apenas para ajudar ou proteger fulano”
O erro vidente, aquele que prevê o final desastroso e insiste
“Eu sabia que só poderia dar nisso”
O erro original, aquele que só você é capaz de cometer
“Tantos erros novos para cometer, para que insistir no mesmo?”
O erro avalanche, aquele que sai derrubando e levando todos a sua volta
“Sai da frente que estão me empurrando…”
O erro “solidário”, aquele que não gosta de errar sozinho, sempre carrega alguém consigo
“Mas não fui só eu que errei”
E o erro reincidente, persistente, vítima, travestido, cigano e volúvel
Aquele que parece ser novo, mas muda apenas o endereço e o parceiro envolvido
O erro continua o mesmo…
“Eu não queria isso! Como vou explicar para os outros?
Errar é mesmo humano
Aprendemos muito mais com erros do que com acertos
Desde que saibamos aproveitar suas lições
Caso contrário, apenas mudaremos os erros de lugar
E envolveremos novas pessoas…
Errar é humano, mas não é legal que se torne desumano!
Alda M S Santos
MANUAIS
Não quero manuais, não quero receitas
Tampouco tutoriais ou passo a passo
Eles são bons para os outros
Ou assim acreditamos
Na prática, para nós mesmos, são cansativos
Nunca funcionam!
Inexperiência, impaciência ou desejo de aprender fazendo
Não importa!
Funcionariam para seres iguais, medidas idênticas, habilidades idem
Somos diferentes, a começar pelas digitais, DNA atesta e confirma
Prefiro ir na base da tentativa e erro
Aperto daqui, vou, volto, sigo
Acrescento ingredientes, deixo em repouso, boto para crescer
Escrevo, apago, refaço, reescrevo minha história
Ainda que fique borrada onde não foi possível apagar marcas deixadas
Capítulos inacabados, páginas viradas, personagens perdidos, sem destino
É tão simples que se torna complexo
Nenhum manual saberia guiar individualidades
Manuais lidam com acertos, não preveem erros
Aqueles nos quais ficamos dependurados, tentando nos equilibrar para não cair
E a vida acontece quase sempre entre um erro e outro…
Alda M S Santos
MAS NÃO SOU SÓ EU!
As crianças montam seus castelos cuidadosamente na areia.
Escolhem os moldes, carregam água, dedicam-se parte por parte
Olham, admiram o feito, sorriem
Num tropeço, num descuido o castelo do menino desmorona, despenca, trabalho perdido
A menina olha e diz “faz outro”
E continua a montar o seu com dedicação e cuidado
O menino, chateado, destrói “sem querer” o castelo da menina
Como se dissesse “se eu não tenho, você também não tem”…
E chegam as mães para ensinar e apaziguar…
São crianças, estão aprendendo a viver com perdas.
Mas há tantos adultos assim!
Por não conseguirem algo, ou perderem
Passam a vida invejando ou destruindo os castelos alheios
Ou impedindo que sejam construídos
Perdendo um tempo precioso que poderia ser gasto com um novo castelo…
Castelos iniciados e abandonados pelo caminho…
Talvez um jeito inconsciente, até patológico, de resolver sua própria frustração.
Ao perceber que o mal que o atinge, que as dificuldades que tem
Não são só dele!
Como se dissessem: caí, mas outros caem também
Ou: acontece com todo mundo
O fracasso do outro justificando o seu próprio…
O desafio da vida adulta é enfrentar os próprios desmoronamentos
Se possível, evitá-los, aprendendo a poupar seus próprios castelos
E daqueles que lhes são caros…
Alda M S Santos
QUEM NÃO ENTENDE
Quem não entende um olhar
Tampouco entenderá uma longa explicação,
Diz Mário Quintana.
Um olhar é capaz de dizer praticamente tudo
Para pessoas dotadas de sensibilidade
Ainda que não possam ler tudo escrito naquelas “linhas” do olhar
Que muitas vezes se desvia
Podem sentir, imaginar, calcular, intuir
Particularmente se é um olhar já conhecido
Um coração que dividiu consigo sonhos, esperanças e medos
E, a partir daí, conversar, agir, sorrir, chorar
Brigar, cobrar, orientar, sofrer junto
Estar perto, oferecer o ombro, o colo, a compreensão
Quem no olhar, ou no tom de voz, identifica uma dor
Num “tudo bem” vê um “to sofrendo”
Num silêncio ouve gritos
Nos gritos ouve a alma despedaçada que silencia
Numa meia palavra entende todo o texto
Num sorriso alegre para muitos
Percebe a sombra dolorosa que tira o brilho
É quem sequer precisaria de palavras para ajudar
Apenas abraça, se não for possível, protege na oração
Almas afins…
Alda M S Santos
INDO E VINDO
Nada as impede de se divertir
Enchem e esvaziam um baldinho incontáveis vezes
Correm até o mar, balde cheio
Voltam sorrindo, derramam metade da água pelo caminho
Olham para o que restou
E vão fazer sua escultura na areia
Não se importam com o que perderam no trajeto
Usam satisfeitas o que ainda têm,
E buscam mais se precisarem…
Ah, se fôssemos como as crianças,
Dando mais valor ao que temos em detrimento do que perdemos
Talvez tivéssemos mais vezes essa alegria e sorriso espontâneo,
Que contagiam a todos a sua volta!
Alda M S Santos
VOCÊ CHEGARÁ AO SEU DESTINO
Escolha sua rota! Coloque os cintos!
Dirija com cuidado! Vamos!
Siga em frente por 25 Km até rodovia BR 040
Radar reportado à frente, atenção!
Fiscalização eletrônica semafórica em 300m
Mantenha-se à direita para saída 108 A para Angra dos Reis
Via de tráfego intenso, não se esqueça dos faróis
Acidente reportado no quilômetro 85
Cuidado! Veículo tombado à frente
Pegue acesso lateral para Arco Metropolitano
Polícia reportada à frente
Reduza a velocidade, declive acentuado
Área de intensa nebulosidade, mantenha faróis de milha acesos
Desvio à esquerda, via interditada
Tempo estimado no engarrafamento: 9 minutos
Atenção! Animal ferido e morto na pista
Uma estrada, uma viagem, muitos caminhos
A ansiedade, o desejo de chegar
Um guia do Waze…
Tudo torna-se mais fácil e seguro
Rota e destino pré-calculados
Previsão de chegada e revisão de rota
Perigos antecipados com prazo para reação
Alerta de avanço de sinais, áreas proibidas e fiscalizações
Sugestões para abastecimento e descanso
O medo de ficar perdido é quase nulo
A sensação de “conhecer” o desconhecido tranquiliza
E, se errarmos, ele recalcula e nos coloca novamente nos trilhos
Devíamos todos ter um guia assim acoplado ao cérebro
Não vá por aí, pode se acidentar na pista
Alerta amarelo aceso, atenção
Via sem saída, retorne e retome seu destino
Trânsito proibido, área privativa e reservada
Não estacione, parada proibida
Siga em frente por longos anos
Se não der pra ir de carro, vá de avião, de barco
Voe, nade, se arraste, mas prossiga!
Você chegará ao seu destino…
Alda M S Santos
NO PONTO CERTO
Café, passado na hora, quentinho, cheiro delicioso e convidativo
Sementes, mudas, raízes, brotos, galhos, flores, frutos maduros
Depois de aparentemente prontos para consumo
Os grãos precisam ser colhidos
Colocados para secar, socar, torrar, moer
Para, ainda assim, passar por água fervente, ser coado
Até podermos saborear o delicioso cafezinho…
Colhê-los antes da hora seria perda de tempo, desperdício
Esperar demais ele seca, murcha, passa do ponto, apodrece e cai
Verde demais ou apodrecido não dá pó, não faz café
O mesmo se dá conosco
Todas as fases que passamos são para chegarmos ao ponto certo de “consumo”
Quantas vezes parecemos maduros e prontos
Não aceitamos a parte dolorosa do secar, torrar, moer
Sem saber que o melhor ainda está por vir?
Laranjas só dão suco se espremidas
Grãos de café só valem se maduros, torrados e moídos
Pessoas só chegam à alegria e sabedoria da maturidade
Quando são o “café” quente e animador para si e para os outros
Quando não negam e encaram as etapas dolorosas do viver
Como parte do se tornar “eu”.
Somos eternos cafezais num constante florir, frutificar, colher, secar, torrar, moer, repousar
E virarmos cafezinho saboroso
Verde, maduro, seco, no ponto certo…e a vida segue…
Qual seu ponto ideal?
Aceitam um café?
Alda M S Santos
APENAS UM DIA NORMAL, MAS…
O relógio despertou, o sol nasceu brilhante e forte do mesmo jeito
Um banho, a padaria, o café da manhã, trocar-se e se preparar para o trabalho
Um “bom dia” displicente, a correria de sempre
Era apenas um dia normal…
Nenhum aviso de que algo poderia ser diferente, nada
Um tchau apressado, um beijinho rápido
Nem um “eu te amo”, ou “se cuida”
Nem um olhar mais demorado para aqueles que queria bem
Tampouco um abraço apertado e quentinho
Apenas um “não se esqueça de passar no banco”
Afinal, era apenas um dia normal…
Nem uma mensagem ou cuidado especial ao longo do dia, não teve tempo
Apenas queria concluir tudo rapidamente e voltar para casa
O dia chegou ao fim, mas ele não chegou em casa, não na casa terrena
Não pôde mais rever os que amava,
Nada mais de abraços, beijos, cuidados, ou gastar os “eu te amo” economizados
Afinal, não era um dia tão normal assim…
Foi o último dia de vida desse amigo
E de tantas outras pessoas nesse mundo
Soubesse antes teria feito alguma diferença?
Coisas boas, coisas ruins, tragédias ou bênçãos
Todas acontecem em dias aparentemente normais
Como está nosso dia hoje?
Alda M S Santos
PLAGIANDO A VIDA
Já nascemos plagiando, independente de nossa vontade
“Copiamos” sangue, nome, traços físicos, um código de DNA
E seguimos plagiando a personalidade daqueles que nos cercam
Daqueles que nos dão amor ou indiferença, cuidado ou desprezo
“Plagiamos”, incorporamos ao nosso modo de ser aquilo que gostamos
E que pensamos nos tornar uma pessoa única, admirável
Ainda que aos nossos próprios olhos carentes
Escolhemos o que nos representa ou identifica melhor
Na música, na arte, na religião, na literatura, na culinária, na ciência…
Infelizmente, nem sempre coisas boas ou valiosas
E fazendo nosso aprendizado, imprimimos nosso modo de ser até a morte
Aprendemos e ensinamos todo o tempo, sem sequer perceber
Rindo, chorando, sofrendo, nos escondendo, amando, odiando
Fugindo, guerreando, nos divertindo, errando, acertando
Lendo, escrevendo, cantando,
Profetizando, sendo profetizado, ajudando ou sendo ajudado…
Os “professores” estão aí todo o tempo
Usando dos mais variados recursos.
Que estamos “plagiando” todo o tempo não há dúvida
A questão é escolher bem o que e como plagiar
A Bíblia, por exemplo, é uma só
E cada qual a plagia de acordo com seu entendimento
Somos grandes plagiadores da vida…
Plagiando, melhor dizendo, parafraseando Esopo
“Ninguém é tão pequeno que não tenha nada pra ensinar e nem tão grande que não tenha nada a aprender”.
Alda M S Santos
APRENDENDO A PESCAR
Pode ser prazeroso receber um peixe delicioso nas mãos, sem esforço
Prontinho para ser degustado, saboreado
Mas nada se compara ao prazer de pescar o próprio peixe
O sabor é outro: de satisfação, de vitória, aprendizado, superação dos limites…
Mesmo porque, nada dura para sempre
Cedo ou tarde, se faltar o fornecedor do peixe, precisaremos nos virar…
Somente se compara ao prazer de pescar
O ato de ensinar alguém a fazê-lo, vibrar com a conquista do outro
Pescar juntos, no mesmo barco, enfrentando os ventos contrários,
As marés desfavoráveis, a restrição da piracema, esperar novo momento
Saborear juntos um pescado desejado
Isso é divinamente lindo!
Alda M S Santos
CONTRADIÇÕES OU HIPOCRISIAS?
Nos revoltamos com o “preço” de um jogador de futebol no mercado
Assustamos com o número de crianças e adolescentes dependentes químicos
Criticamos o trabalho das prostitutas e produção de filmes eróticos
Menosprezamos o trabalho daqueles que fazem nu artístico ou expõem seu trabalho
Ficamos abismados com a violência e desconfiança que nos rondam
Com o consumo de itens desnecessários de todo tipo, com a pirataria
Com a espécie de programação das TVs e divulgação nas redes sociais
Reclamamos da liberdade cerceada e prisões com cadeados de ouro a que estamos submetidos
Somos cristãos ou ateus revoltados com religiosos que abusam da fé dos mais ignorantes
Mas não percebemos que alimentamos tudo isso que criticamos
Quando pagamos caros ingressos para ir aos estádios ou por utensílios da indústria futebolística
Quando consumimos de uma forma ou de outra as drogas dessa vida
Ao “curtir” in loco, on line ou impressas as produções artísticas de nus e erotismo
Ao encher cinemas para assistir violências diversas, ao dar audiência para o que “desprezamos”
Ao cercear a liberdade do outro, ao criar “prisões” para manter perto os que amamos, vegetais, animais ou humanos
Ao pagar por dízimos e absurdos religiosos por um “lugar no céu”
É a lei da oferta e procura!
Se existe no mundo, é porque tem público e apreciadores, há combustível
Só se mantém de bom ou ruim, o que é recíproco, é apreciado, alimentado, tem retorno de algum tipo
O quanto, na hipocrisia que sequer percebemos em nós, contribuímos para perpetuar o que tanto criticamos?
Alda M S Santos
EM CONSTRUÇÃO
Não somos somente aquilo que nosso olhar transmite
O que há em nós reflete no outro, diferentemente em cada um
E retorna para nós para processamento
Posso ser vista melhor do que sou, dado o grau do amor de quem me vê
Ou posso ser vista menos do que sou, pela (in)capacidade do receptor de entendimento
Ambos ajudam em minha construção do eu
Instigam melhorias, ainda que pós erros e decepções
Somos uma massa sendo “sovada” todo o tempo
Ora homogênea, ora heterogênea
E essa massa cresce ou míngua a cada contribuição recebida
Pode adquirir sabor e beleza ou desandar, azedar
Dependendo do que o outro nos oferece
Alguns ingredientes são essenciais, outros dispensáveis
E há aqueles que, como a cereja do bolo, são puro encanto
Uma receita antiga, mas cheia de atualizações
Tornamo-nos pessoas dia a dia
Seres incompletos e insossos ao nascer
Vamos recebendo do meio os ingredientes necessários
Para a concretização desse plano de Deus em nós…
Alda M S Santos
PERDAS E GANHOS
Uma vida, qualquer uma, é cheia de perdas
E acabamos nos acostumando a elas
Perdemos as chaves, os óculos, dinheiro, documentos
Perdemos o emprego, o viço, a energia
Perdemos amigos, familiares, amores
Perdemos a noção do certo e do errado, do bem e do mal
Fazendo com os outros o que não gostaríamos que fizessem conosco
Perdemos a saúde, a ilusão, a juventude, a fé na humanidade
Perdemos o tempo enquanto torcemos para que ele passe logo…
Quando estamos prestes a nos perder de nós mesmos
Quando ferimos nossa própria essência
Quando não percebemos que cobramos dos outros mudanças que deveriam ser nossas
Quando “sentamos em nossos próprios rabos e puxamos os rabos alheios”, como diria minha avó
Nós passamos a buscar no olhar do outro aquilo que tememos não ver mais em nós
Ou aquilo que precisamos para nos reafirmar e não vemos mais tão claramente em nossos espelhos
Toda e qualquer perda pode ser danosa ou proveitosa
Mas nada é tão desastroso e tão cruel
Quanto a perda da fé em nós mesmos
E da consciência de pouco fazer para melhorar nossas vidas e do próximo
Da nossa capacidade e esperança de gerar mudanças
A perda da sensibilidade de ver no outro, nas suas diferenças
Um ser humano como nós, que erra e acerta, perde e ganha
O bem e o mal nascem primeiro em cada coração como pequeno broto
Somos nós que os irrigamos, alimentamos e os trazemos à luz, às sombras ou à escuridão
Ele é nosso alimento diário
Ganhamos quando fazemos das perdas um grande aprendizado…
Aprendemos com elas quando cuidamos para não causar mais perdas para nós ou para os outros…
Alda M S Santos
PROVAÇÕES
Quando entendemos a razão de cada provação, dor ou sofrimento
A parte que nos cabe, a nossa responsabilidade em tudo que vivemos
Fica menos pesado enfrentá-las, aceitá-las, nos fortalecer
Precisamos evitar a facilidade de apontar o dedo para os erros alheios e olhar para os nossos próprios erros
Assim, podemos evitar produzir novamente as razões do sofrimento causado em nós e nos outros…
É muito clichê, mas “sofrimento ensina” para quem se dispõe a aprender
Assumir os próprios erros exige caráter e maturidade
Corrigi-los e evitá-los gera sabedoria…
Alda M S Santos
APENAS UMA VEZ
Ele diz categórico, atrás daquela postura encurvada, “apenas uma vez é permitido esse erro”!
O olhar daquele idoso cheio de dignidade era de profundo cansaço naquele ambiente solitário
Gosto de imaginar histórias atrás de olhares, particularmente os nostálgicos
Acabei dando abertura e ele me confidenciou:
“Sou triste, mas tenho alegrias também, pois carrego a culpa de ter destruído nessa vida apenas uma família: a minha”
Falei que a vida é aprendizado mesmo, equilíbrio entre erros e acertos…
“Tive chance de talvez ser novamente feliz, mas não podia carregar o peso de afastar outro pai do convívio com os filhos, como aconteceu comigo e meus filhos”
Era uma pessoa melancólica, mas tinha uma certeza ao vasculhar seus arquivos pessoais
“Deus nos deixa agir errado, se é nossa escolha, mas o mesmo erro Ele só perdoa uma vez”
Era essa convicção que mantinha sua integridade moral
E ao fazer o equilíbrio, o balanço de sua vida
Erros iam sendo amenizados pelos acertos, fazendo a ponte entre perdas e ganhos…
Afirmei que não podemos carregar a responsabilidade da felicidade de todos, tentando animá-lo
E enfatizei que Deus até nos perdoa muitas vezes,
Mas nós mesmos é que, nem sempre, suportamos o peso de nossas culpas
“Nosso céu ou nosso inferno estão aqui dentro, moça bonita”!- diz apontando para a cabeça.
Felicidade que carrega o ônus da infelicidade alheia é muito pesada
E a vida acaba por cobrar o preço…
Alda M S Santos
AREIAS DA PRAIA
Há acontecimentos, ou pessoas, na vida da gente
Que são como as ondas do mar molhando nossos pés na praia, suavemente
Parecem trazer apenas frescor, alegria, paz e união
Porém, levam a areia de debaixo de nossos pés quando se vão
Tiram nosso chão, nossa segurança e autoconfiança
Levam consigo quase tudo que trouxeram, inclusive o amor e esperança
Mas sempre deixam a lembrança do frescor
E a certeza que outras ondas virão, outra cor
E estaremos mais firmes sobre nossos próprios pés
Mais fortes, experientes e sábios para encarar novo revés…
Alda M S Santos
CONFISSÕES
Quantas confissões são necessárias para a leveza de nossa alma?
Ao diretor espiritual, aos pais, aos amigos, ao cônjuge, aos filhos, a desconhecidos
Ao terapeuta, a Deus, ao travesseiro, apenas a nós mesmos?
Quantas confissões são verdadeiras, corações rasgados,
Regadas a lágrimas, alma nua?
Admitir um erro, uma fragilidade, uma raiva, uma inveja, um amor
Quase nunca é fácil!
Assumir e confessar a responsabilidade num fracasso
Ou a inabilidade em lidar com algo ou alguém
É humanamente difícil!
As confissões que envolvem sentimentos e emoções são as mais complicadas!
Posso não ter amado ou me dedicado o suficiente a alguém
Demonstrado dificuldade ao admitir ou confessar o amor
Mas nunca disse amar, sem ter amado verdadeiramente
Nunca deixei que outro assumisse um erro que era meu
Mesmo assim, erros, medos e fragilidades confesso mais ao travesseiro…
Essas confissões nos deixam nus perante o outro
São difíceis, porém, as mais importantes
Esse “peso” retirado da alma, dividido com alguém, ainda que conosco mesmos
Nos faz mais leves para seguir em frente
Com mais sabedoria para aceitar a nós mesmos e ao outro
Com as qualidades e defeitos inerentes a todo ser humano
Procurando acertar mais que errar
Fugindo das canoas furadas que já conhecemos
E buscando, ainda que inadvertidamente, os melhores caminhos…
Alda M S Santos
TEMPLOS
Escolas são templos, hospitais são templos,
Igrejas são templos!
Hospitais curam os doentes do corpo,
Escolas curam os “doentes” do conhecimento,
Igrejas, independente de qual seja, curam os doentes da alma
Uma igreja recusar acolher um pecador
Seria o mesmo que uma escola fechar as portas ao analfabeto
Ou um hospital não atender uma vítima baleada
Detentores do conhecimento não precisam de escolas,
Saudáveis não necessitam de hospitais
Igrejas não são casas de santos!
Igrejas, todas elas, devem abrigar pecadores e sofredores da alma.
Templos servem para nos fazer melhores do que somos,
Desenvolver o maior templo de todos: nós mesmos
O templo do amor!
Vamos acolher a quem precisa
Seja qual for o templo!
Alda M S Santos
MODO DE FAZER
A receita parece simples, os ingredientes são conhecidos:
Ser fiel a si mesmo, respeitar os próprios limites
Não fazer ao outro o que não gostaria que fizessem consigo
Deixar o coração comandar, acompanhado da razão
Viver intensamente com retidão e disposição
Escolher sempre os melhores caminhos
Aprender com os erros, evitando repetí-los,
Doar amor, aceitar o amor,
Ser solidário, ter fé e esperança…
Na prática o “modo de fazer” complica-se um pouco
Os ingredientes parecem diferentes,
Muito líquidos ou “perdidos”, fora de validade,
O coração se engana, a razão exagera
Os caminhos não são tão claros
O amor declarado se transforma,
Os medos e traumas surgem
As escolhas parecem difíceis…
A disposição, esperança e fé minam…
E o bolo não cresce, encrua!
Isso é ser humano!
Testar receitas, criar a própria receita!
Isso é viver!
Cada receita vira um novo prato dependendo do gourmet…
Ou como uma planta que adormece, se fortalece
E floresce em apenas algumas épocas,
Assim, vamos seguindo
Acreditando que Alguém sempre olha por nós,
E faz nosso bolo crescer…
Alda M S Santos
A RIQUEZA DA SIMPLICIDADE
Uma casinha simples, uma terra fértil
Flores coloridas e perfumadas, gramado,
Árvores nativas ou pequeno pomar,
Uma gangorra na mangueira,
Uma porteira entreaberta e convidativa
A vista alcança longe…
Aromas de fogão a lenha e café recém-coado
Pássaros cantando, macacos gritando, galinhas cacarejando
Ora sol forte, ora chuva refrescante
Cai no telhado, cai lá fora, inebria
Sempre leva à nostalgia, à saudade de tempos idos
Espetáculo da natureza, sempre agradecida
Uma rede na varanda, um livro,
E eu…aprendendo a viver…
Alda M S Santos
APRENDENDO A VIVER
Quantas vezes é preciso cair para aprender a ficar de pé?
Quantas vezes precisamos passar pelo escuro para valorizar a luz?
Quantas vezes passaremos pela mesma pedra no caminho até aprender a dela desviar?
Quantas vezes cometeremos o mesmo erro até evitá-lo?
O cachorro chega devagar o focinho num canto onde foi sapecado por lagarta e se afasta veloz
Um bebê olha ressabiado para a tomada em que levou um choque
Quantas vezes precisamos passar por algo para entender?
Deus disse que deve-se perdoar 70 vezes 7
Supõe-se que se erre o mesmo tanto
Mas não precisa ser necessariamente o mesmo erro!
Isso se chama autoproteção, maturidade, experiência!
Nem é preciso muita racionalidade ou inteligência, apenas instinto, medo!
E assim a vida segue…
Deus tirando as pedras, a gente sendo atraído por elas
Entre erros, acertos, cuidado e proteção
Da gente mesmo, dos outros…
Vamos aprendendo a viver!
Alda M S Santos
INSPIRE, EXPIRE!
Inspire o ar que te cerca, rico em oxigênio
Expire o ar de dentro de si, carregado de gás carbônico
Inspire a luz e a energia boa à sua volta
Expire a escuridão e o medo lá de dentro
Inspire confiança, sabedoria, fé
Expire a raiva, a decepção e a desesperança
Inspire amor e amizade em forma de sorrisos e abraços
Expire a tristeza e a desilusão junto às lágrimas
Inspire, expire! Expire, inspire!
Às vezes tudo parece se inverter
Inspiramos dor, desamor, desconfianças e medos
Somos frágeis, somos humanos, erramos, sofremos…
Temos o direito de não sermos sempre fortes!
Mas como humanos não desistimos, insistimos
E acabamos, cedo ou tarde, aprendendo a respirar corretamente.
Em qualquer lugar que estiver…
Inspire, expire!
Alda M S Santos
AMOR MULTIPLICADO
A importância que temos ou tivemos na vida de alguém
Sempre fica impressa em seu modo de ser e agir
Os conselhos, mesmo calados, que soube ouvir,
Os cuidados que passou a ter diante da vida
A coragem em enfrentar certas situações ou fugir de outras
O momento de saber se recolher e esperar
O respeito ao que o outro é e considera certo ou errado
O cuidado em não magoar por bobagens
Vemos o amor que o outro soube receber
Quando notamos um pouco de nós impresso neles
Nós nos multiplicamos naqueles que amamos
E que souberam nos amar…
Alda M S Santos
COLO(RINDO) A ALMA
Nunca estamos cansados demais, tristes demais
Para alegrar um alguém, um coração carente
Uma alma já vivida e sofrida
Que, ainda assim, se alegra e agradece
E, ao preencher de cores os desenhos,
Enche de cores sua própria alma
Nos mostrando como lidar com a dor, as angústias, a saudade,
As decepções, a tristeza, o abandono, o desamor, o amor
A fé e a esperança com maestria e bondade
Com um sorriso terno no rosto, um abraço quente
E a alegria de uma boa conversa
Sem qualquer intenção de nos dar lições
Acaba dando mais que recebendo: muito amor
Alda M S Santos
#carinhologos
NAS TEIAS DA VIDA
Uma aranha tece quietinha sua teia
Em muitas e muitas tramas delicadas
Sua casa, sua proteção
Já para os insetos que nelas caem
É suplício, é morte certa
Ali a aranha transita em casa, segura
Conhecedora de cada laço, nó, arte
Para ela a teia é vida
E o inseto se perde, se enrola, se prende
Para ele a teia é morte
E se houvesse uma reviravolta qualquer
E a aranha também se prendesse nas próprias tramas
Como alguém com um transtorno psicológico qualquer
Que não se encontra, não se sente em casa na própria teia
Sente-se como um inseto preso e à beira da morte
Quem poderá ajudar?
Outra aranha que conhece a teia
Ou um inseto que já a enfrentou?
Ora somos aranhas, ora insetos
Sempre nas teias da vida…
Alda M S Santos