MEDOS
Tenho medos, alguns já são de estimação
Tenho medo de perder aqueles que amo
Mais ainda de me perder de mim mesma
Pois é em mim mesma que encontro todos eles
Tenho medo de perder as forças, a energia, a saúde
Mais ainda de perder o sorriso, a alegria de viver
Tenho medo de ficar dependente dos outros
Mais ainda de não ter ninguém de quem possa depender
Tenho medo de perder a visão
Mais ainda de perder a capacidade de ver com o coração
Tenho medo de adoecer de tanto me envolver
De tanto querer mudar algo nesse mundo desigual
Mas tenho mais medo ainda de perder a capacidade de me importar
Tenho medo de perder minhas lembranças
Mais ainda de não ser capaz de gerar novas boas memórias
Tenho medo de morrer muito cedo
Mais ainda de sobreviver àqueles que me são caros
Tenho medo de morrer de saudades, de viver de lágrimas
Mais ainda de não ter nada do qual possa sentir falta
Tenho medo de ir embora e deixar os outros na mão
Mais ainda de não fazer falta a ninguém…
Tenho muitos medos
Mas enquanto eles existirem é sinal que existo também
Uma vida sem medos
É uma vida sem nada valioso a ser perdido
Uma vida de fé, com medos, mas enfrentados
É uma vida que vale a pena ser vivida
Assim, sigo meu caminho…
Alda M S Santos
NÃO É BOM TER MEDOS
Não é bom ter medos
A sensação é angustiante, dolorosa
Porém, só mudamos de fase se os enfrentamos
E fazemos passar essa etapa tão chorosa
Não é bom ter medos
Menos ainda se o medo vier de onde deveria vir amor
A sensação de andar na corda bamba
Ou na beira do abismo causa pavor
Não é bom ter medos
O desconhecido é como andar na contramão
Mas ele nos tira da mesmice e permite evolução
Não é bom ter medos
Nesses casos bom buscar carinho, abraços
Fazer de todos os nós, lindos laços…
Alda M S Santos
O ABISMO
A música tocava, ela seguia
Na estrada longa e vazia
Vez ou outra um carro surgia
E sumia…ela seguia
Pra onde não sabia, apenas ia…
O céu de intenso azul reluzia
Ela olhava, admirava, e a lágrima escorria
Que era aquilo lá longe na via
Algo naquele lugar a atraía
E, então, mais rápido ela seguia
Cansada, parou à margem de um abismo
Ele lá estava, muita agonia
Olhava lá para baixo, tão distante, intensa magia
Um medo estranho ela sentia
Ali ficou sentada, balançando os pés, nada resolvia
Sentindo o peso que o abatia
Olharam-se, um tácito acordo surgia
Por fim, olhou de novo para o sol que se punha no horizonte
Amanhã de novo ele nasceria
Então, decidiram-se: como o sol eles seriam
Todas as noites adormeceriam
Mas na manhã seguinte sempre acordariam
Dispostos a brilhar por mais um dia
E o abismo para trás deixariam…
Alda M S Santos
OLHEM PARA MIM!
Olhem para mim!
Gritava o jovem sequestrador no ônibus
Gritava a garota morta pelo namorado
Gritavam os jovens LGBTs surrados até morte
Olhem para mim!
Gritavam os idosos torturados em lares
Gritavam os indígenas outra vez roubados
Gritavam as crianças abusadas por familiares
Olhem para mim!
Cada qual com seu jeito de gritar, de protestar
De querer ser visto, respeitado
Mesmo que na depressão, no silêncio, na solidão
Descaso mata, indiferença mata, exclusão mata
Olhem para mim!
Agora grita um país de medos
Grita um país que queima suas matas
Que mata seus jovens, suas mulheres, seus negros
Seus homossexuais, suas crianças e idosos
Grita um país que mata o futuro da humanidade
Olhem para mim!
Quando iremos ouvir???
Quando iremos agir???
Socorro!!!
Alda M S Santos
MEDOS
Tenho medos, alguns já são de estimação
Tenho medo de perder aqueles que amo
Mais ainda de me perder de mim mesma
Pois é em mim mesma que encontro todos eles
Tenho medo de perder as forças, a energia, a saúde
Mais ainda de perder o sorriso, a alegria de viver
Tenho medo de ficar dependente dos outros
Mais ainda de não ter ninguém de quem possa depender
Tenho medo de perder a visão
Mais ainda de perder a capacidade de ver com o coração
Tenho medo de adoecer de tanto me envolver
De tanto querer mudar algo nesse mundo desigual
Mas tenho mais medo ainda de perder a capacidade de me importar
Tenho medo de perder minhas lembranças
Mais ainda de não ser capaz de gerar novas boas memórias
Tenho medo de morrer muito cedo
Mais ainda de sobreviver àqueles que me são caros
Tenho medo de morrer de saudades, de viver de lágrimas
Mais ainda de não ter nada do qual possa sentir falta
Tenho medo de ir embora e deixar os outros na mão
Mais ainda de não fazer falta a ninguém…
Tenho muitos medos
Mas enquanto eles existirem é sinal que existo também
Uma vida sem medos
É uma vida sem nada valioso a ser perdido
Uma vida de fé, com medos, mas enfrentados
É uma vida que vale a pena ser vivida
Assim, sigo meu caminho…
Alda M S Santos
QUANTO TEMPO TEMOS?
As chamas intensas lambem monumentos centenários
As águas ruidosas das tempestades levam encostas, derrubam árvores e edificações
Vendavais arrastam tudo que encontram pela frente
Estruturas firmes sobre vigas e concreto “implodem” e soterram vidas
Nada está a salvo na terra, no ar ou no mar…
Tragédias, devastação, destruição… são tantas!
A vida como um todo se rebela, se revela frágil
Gritos de alerta que imploram por socorro
Todas elas deixam algo aterrador: sentimentos
Sentimentos de impotência e tristeza
A dor da destruição, da perda, da incapacidade de reagir
A angústia das histórias que “apagam” em nós
Que tentam deletar de nossa memória
Que acontecem além do oceano
Ou bem aqui ao nosso lado
E provocam curto-circuitos internos
Incendiando o que temos de bom
Ou acionando um sistema parado
Quanto tempo resistiremos
Sem ter nossa base, nossa estrutura abalada
Nossa liga emocional estremecida
Sem desmoronarmos também?
Quanto tempo temos?
Alda M S Santos
IMPOTÊNCIA
Impotência diante de um mundo que parece girar tão rápido
Mas em tantas outras vezes parece tão estacionado
Impotência diante da dor do outro
Quando só nos cabe oferecer um abraço
Impotência diante de perdas irreversíveis
Quando só nos resta a dolorosa saudade
Impotência diante da esperança desbotada, sem cor
Quando falta tinta para pintá-la, renová-la, sem pudor
Impotência diante da própria inércia
Quando, cansados, quase desistimos
Quase caímos, quase entregamos os pontos
Quase…
Mas preferimos, como Fernando Sabino, fazer
“Da queda um passo de dança”
E seguir…
Alda M S Santos
MEDOS
Muitos e muitos medos me seguem
Medo de perder pessoas queridas
Medo de me perder das pessoas amadas
Medo de perder a saúde, a lucidez
Medo de não mais ser capaz de me compadecer pela dor do outro
Medo de perder minhas memórias e lembranças boas
Medo de me decepcionar com amigos e amores
Medo de esquecer ou ser esquecida por quem amo
Muitos medos…
Não é por ausência de fé em Deus
Nem por fraqueza ou fragilidade excessiva
Tampouco por falta de coragem de enfrentá-los
De todas as coisas que me dão medo
Que me causam insegurança e dor
Um aprendizado sempre fica:
O amor é o único medo cuja dor sei que vale o risco…
Alda M S Santos
E QUEM PODERÁ DIZER?
Quem poderá dizer do quanto de cada um de nós é autêntico ou fuga?
Os introvertidos, calados, que preferem a solidão
Ou a própria companhia, quase não se misturam
Não gostam de aglomerações nem de improvisos…
Os rebeldes que reclamam, brigam, sozinhos ou não, riem, choram, gritam, esbravejam
Nunca parecem quietos, estão sempre envolvidos, insistem, “comem” a vida…
E aqueles que participam de inúmeras atividades, gostam de tudo, dispostos e cheios de energia
Literalmente, abraçam o mundo, sempre sorrindo…
Quem é verdadeiramente feliz ou infeliz?
O quanto disso é autêntico ou quem está usando subterfúgios para se esconder de si e dos outros?
O quanto no modo de ser de cada um é prazer, alegria, insatisfação ou fuga?
Quem está verdadeiramente em paz consigo mesmo, com a própria consciência, com a vida?
Quem poderá dizer do quanto disso tudo não é sobrevivência?
Quem poderá saber ou julgar?
Quem não gostaria de ser diferente ou estar de outro modo, noutro lugar?
Afinal, cada qual luta com o que tem, com a arma que melhor conhece…
Ou levanta a bandeira branca!
Quem poderá dizer algo ou contradizer?
Alda M S Santos
FRÁGIL OU FORTE?
Somos fortes quando perdoamos a quem nos ofende e magoa
Somos frágeis quando não estendemos esse perdão a nós mesmos
Somos fortes quando dizemos sim às necessidades dos outros
Nos tornamos frágeis quando dizemos não às nossas próprias necessidades
Somos fortes quando escolhemos vencer nossos inimigos
Somos frágeis quando ignoramos o inimigo dentro de nós
Somos fortes quando temos autocontrole e autoestima
Somos frágeis quando escolhemos o autoflagelo e vitimização
Somos fortes ao identificar nossas falhas e medos
Somos frágeis ao nos concentrar apenas neles
Somos fortes quando vivemos o amor recebido
Somos mais fortes ainda quando amamos
Somos fortes não quando não temos fraquezas e medos ou não nos quebramos inteiros
Somos fortes por lidar com esses cacos sem nos ferir de morte
Sem ferir de morte aqueles que amamos e queremos bem
A força é evidenciada onde a fragilidade não foi desconsiderada…
Alda M S Santos
NA CALADA DA NOITE
Tudo é silêncio, parece silêncio
Na escuridão o mal se agiganta
Medos e traumas antigos parecem maiores
Forças minam, a fé luta para prevalecer
Gatos miam, tomam o que julgam seu sobre os telhados
Gatas dão o que fingem “amarrar”
Cães ladram e tentam proteger o que parece perdido, ameaçado
Casais se amam, namoram sob os telhados
Uns nascem, renascem, outros matam, morrem
Munidos das mais variadas armas: brancas, de fogo, da confiança, da desesperança
Gatunos de colarinhos brancos, becas, batas, ternos
Disfarçados, vestidos de seres do bem, mascarados de “amor” e bondade
Invadem casas, veículos, escolas, igrejas, pessoas
Quebram janelas, estouram fechaduras, aproveitam uma fissura qualquer
Às vezes arrombam, outras são convidados a entrar
Nas TVs abertas ou fechadas, nas ondas do rádio, na web conquistam adeptos e seguidores
Pilham, roubam, amarram, matam
Amealham dia a dia tudo que se tem de bom
Sequestram o corpo, torturam a mente
Aliciam corações e almas carentes, sofridas
“Protegidos” pelas sombras o mal age calado
Na calada da noite…
Usurpam a vida, destroem sonhos
Roubam a inocência de infantes e adultos, ameaçam
Desestruturam famílias, passam-se por amigos, por anjos de Deus
Enquanto os anjos dormem…
Será que dormem?
Será que ainda haveria vida por aqui se não estivessem acordados, agindo?
Na calada da noite o mal se agiganta
Na calada da noite é que os anjos mais trabalham…
Na calada da noite não podemos nos calar
À luz do dia devemos nos fortalecer e gritar…
Alda M S Santos
PEDIDOS DE SOCORRO
O mundo pede socorro
Quem é capaz de ouvir?
Pedidos tão barulhentos quanto uma sirene
Ou tão silenciosos como uma lágrima que cai
Crianças precoces sempre de agenda lotada e irritadiças
Jovens perdidos em tantas “opções” de vida moderna
Trancados em seus quartos, “góticos”, marcas roxas debaixo de lenços
Idosos “protegidos” em suas fantasias e remédios
Sorrisos, lágrimas, saudades, abandono
Adultos espremidos entre a infância e a velhice
Solitários entre tantas obrigações e cobranças, entre tanta gente necessitada
Escondidos em suas tarefas, fugindo em seus smartphones
Atrás de amigos virtuais nas telas dos PCs na solidão da madrugada
Todos “gritando” por socorro
Quem é capaz de ouvir?
Cada qual gritando sua dor de um modo
No andar, no olhar, no se esconder, no se mostrar
Na solidão autoimposta, nas atividades excessivas
Nas rebeldias constantes, nas drogas lícitas ou ilícitas
Na irritação desmedida, nos vícios diversos
Quem é capaz de ouvir?
A dor atinge a todos, o grau é variável, de “normal” a patológico
No sentir e no demonstrar
Mas há sempre uma “droga” a nos salvar
Até que não haja mais salvação
Quem é capaz de ouvir?
“Ouvir” a dor do outro é um modo de nos enxergarmos também
E, talvez, conseguirmos nos salvar…
É preciso olhar devagar, demorar-se na dor do outro
Mergulhar fundo na própria dor
Até não mais temê-la, até conseguir diluí-la…
É preciso a pureza e confiança de uma criança para “herdar o reino do céu”
O mundo pede socorro
Quem é capaz de ouvir?
Alda M S Santos
SONHOS…
Sonhos…tão nossos, só nossos…
Sonhos “presos” no âmbito do in(consciente)
Estão protegidos em sua irrealidade
Trancados atrás das telas frias da impossibilidade
A partir do momento que ousam ser compartilhados
Cruzam uma fronteira perigosa e audaciosa
Passam a correr dois riscos:
Tornar-se reais, ainda que diferentes do sonhado
Transformando-se em realidades lindas, leves e doces como voo de beija-flor
Ou morrerem, em pesadelos escabrosos, sufocados pela grossa nuvem de poeira do mundo real
De um modo ou de outro deixam de ser sonhos
Daí tantos humanos cautelosos preferirem manter sonhos como sonhos
Guardadinhos na mente, na alma, no coração, protegidos…
Alda M S Santos
FUGIA…
Ela apertava fundo o acelerador, fugia
Rodovia escura e muito curva, chovia
Um ou outro farol em sentido contrário, sequer percebia
Nas lágrimas que sem cessar, refletiam
Escapara mais uma vez, vida salva, coração acelerado
Mas o medo persistia…
E fugia!
Para onde? Não sabia!
Queria fugir para qualquer lugar
Onde o medo não imperasse
Onde a dor não reinasse
Mas sabia…
A única fuga que permite reencontro consigo
Capaz de matar ou neutralizar qualquer monstro
É a fuga consciente para dentro de si mesma
Onde pudesse novamente se fortalecer, se reencontrar
Respirar, viver, agradecer
Ficar livre de pesadelos e ter apenas bons sonhos
Ainda que irreais…
Seria utopia?
Alda M S Santos
MEDOS
Medo do escuro, medo do desconhecido, medo de água
Medo de perder a luta, medo de perder-se
Medo de sofrer, medo de causar sofrimento
Medo de perder tudo que valha ter medo da perda
Medo de tornar-se indiferente a qualquer medo
Medo de não mais saber o que valorizar
Medos que movem ou que travam a humanidade
Medos que são usados e abusados
Por aqueles que não têm medo
Por aqueles que já não têm nada de valioso a perder
Ou por não saberem o que tem real valor
Medos todos temos,
Mas escolhemos quais nos mover quais nos paralisar…
Alda M S Santos
À ESPREITA
“Vírus da conjuntivite atinge níveis epidêmicos.”
Outra hora é o da febre amarela, da influenza…
Parece que estão sempre por aí, à espreita.
Aguardando apenas uma fragilidade ou baixa imunidade para atacar e tomar nosso corpo.
Vírus não “sabem” ser diferentes, são parasitas, precisam de um organismo vivo para se reproduzirem.
Mas não atingem qualquer indivíduo, escolhem os mais frágeis, aqueles que não foram imunizados.
A boa notícia é que o mesmo vírus não ataca a mesma pessoa mais de uma vez, elas criam anticorpos.
A notícia que merece alerta é que eles são mutantes, como o Influenza, por isso gripamos tanto.
Como todo “ladrão”, entram por nossas portas deixadas abertas ou janelas mal trancadas, a qualquer hora do dia ou da noite.
Escolhem nosso calcanhar de Aquiles, sem alarde, ficam encubados ganhando força.
Descobrem nossas falhas, carências e necessidades e, como bons vendedores, nos atendem.
Apresentam-se em nossas TVs, invadem computadores de nossos filhos, usam colarinhos brancos, fazem promessas vãs, são nossos “amigos” da atualidade.
Como os vírus, usam nova roupagem, “enganam” nosso organismo, nossa mente, nossa boa fé, abalam nossa confiança.
Levam, além de bens materiais, o que temos de mais precioso: a saúde, o sossego, a confiança, a paz…
Como os vírus, quando conseguem seu objetivo, buscam novas vítimas!
Cabe-nos estar alertas e nos fortalecer
Proteger nossas “casas” e tudo que temos de mais valioso…
Alda M S Santos
MEDO DE NÃO TER MEDO
Sentir medo é uma sensação desagradável
Hormônios liberados como a adrenalina causam mal estar e ansiedade
Medo de perder pessoas amadas
Medo de ser roubado, invadido
Medo de perder a saúde
Medo de não se sentir amado ou querido
Medo de fazer mal aos outros
Medo de não se encantar perante a beleza da natureza ou um ato de bondade
Medo de não amar, não sentir saudade
Não se sensibilizar perante os sofrimentos alheios
Medo de perder a fé em Deus
São muitos os medos que podem nos assolar…
Mas, mesmo desagradáveis,
Meu pior medo é o de não sentir qualquer medo
Seria sinal de que nada tenho de valioso a perder
Indiferença perante a vida
Esse sim é um medo perigoso
Isso seria quase morrer…
Alda M S Santos
NA MADRUGADA
Ausência de luz, a cidade descansa
Sombras escuras se agigantam nas luzes artificiais
Shshshshsh, silêncio total
Crianças, jovens, famílias inteiras adormecidas
Os males, o medo, parecem muito maiores na madrugada…
Escondidos durante o dia, disfarçados na luz, de luz
Buscam os desprevenidos…
À noite parecem ganhar força
Sorrateiros, entram em lares, nas pessoas, nos corações
Se escondem, disfarçam, crescem, assustam
Invadem, arrombam, pilham, roubam,
Bens materiais, a família, a paz, o sossego, a vida…
Distraídos, por descuido ou enganados,
Muitas vezes cedemos a chave
Sonhos, pesadelos e realidades se misturam
E nossos anjos têm muito mais trabalho para nos salvar
Inclusive de nós mesmos
De nossa “escuridão” interior…
Mostrando que a luz é mais forte
E brilha imperiosa como o sol da manhã
Para aqueles que a querem ver…
Alda M S Santos
JANEIRO BRANCO: SAÚDE MENTAL
Qual nosso primeiro pensamento numa foto dessas
No alto das pedras, o mar revolto lá embaixo,
Céu de intenso azul, brisa gostosa nos cabelos,
Água morninha a acariciar a pele,
Alguns banhistas, um sol brilhante e quente?
Ou sequer notamos esses detalhes?
Como nos imaginamos ali?
A saúde de nossa mente permite vários modos de ver e sentir essa imagem
O quanto ela é capaz de nos tocar, animar, alegrar, enternecer, entristecer…
Aquela pessoa sorridente perto de nós pode estar precisando de ajuda!
Pode estar sofrendo calada!
Depressão, ansiedade excessiva, fobias não são para se brincar!
Estenda a mão! Seja a ponte!
E nós mesmos? Como estamos?
Alda M S Santos
OS MEUS, OS SEUS, OS NOSSOS ERROS
Erros sempre serão erros
Ainda que venham disfarçados de acertos
Mesmo que a gente, não muito sabiamente, insista neles
Que tente justificá-los para nós mesmos, para os outros
Eles não costumam ser muito diferentes
Mudam casa, nome, endereço, mas os erros são similares
Quando não mais resistem de pé e desmoronam
Os danos causados costumam ser grandes, dolorosos…
Isso quando não vão além de nós mesmos
E desmoronam outras vidas!
Aí tudo anoitece em nós!
Pior é ver quem a gente ama cometê-los
Saber com certeza que estão errados
E não conseguir impedi-los!
Isso porque temos mais facilidade de identificá-los nos outros que em nós mesmos.
Alguns erros têm como ser corrigidos, outros não,
Mas uma coisa importante todos os erros têm em comum
Os meus, os seus, os nossos erros
Eles ensinam!
Com amor ou com dor!
E cada qual tem o “direito” de cometer o seu
Até de, não muito inteligentemente, repeti-los!
Alda M S Santos
TERAPIA E FLORAIS
Meio a contragosto ela observava os peixinhos, respiração acelerada
Aguardando um terapeuta que ouviu mais que falou:
“Você precisa se permitir vivenciar isso, sofrer, chorar”
“Tente não resolver tudo sozinha”
“Você não precisa ser forte todo o tempo”
“Entenda que isso não é real, que passou, que você está bem”
“Segundo Freud, sonhos e pesadelos são modos de se trabalhar no inconsciente o que incomoda no consciente”
“O tempo irá diminuir a intensidade dos pesadelos se trabalhar isso em você”
Ela saiu de lá com uma receita de florais
Para amenizar ansiedade, culpas, medos, traumas, melhorar a qualidade do sono
E um pouco incrédula da eficácia
Mas disposta a tentar amenizar pesadelos massacrantes…
Ocupar corpo e mente e afastar qualquer mal…
Alda M S Santos
E A VIDA SEGUE…
Dia: sol, luz, insegurança, amor, coragem, expectativas,
Vida que segue…na leveza ou peso do que somos
Noite: escuridão, medos, perseguições, ameaças, desconfianças, acusações…
Morte que tudo interrompe…na leveza ou peso do que carregamos
Sonhos e pesadelos…
Tudo cinzento e cruel!
Alegrias que fortalecem
No brilho do amor e amizade
Lágrimas que lavam a alma
Força que renasce da coragem e fé
E a vida segue…
Na linha tênue que a separa da morte!
Alda M S Santos
QUANDO?
Quando um mal agudo se transforma em crônico?
Quando não dói mais ou quando aprendemos a conviver com a dor?
Quando a tempestade passou?
Quando limpamos a sujeira e estragos ou quando conseguimos admirar o arco-íris que surge?
Quando uma ferida curou?
Quando não deixou marcas ou quando restou uma cicatriz que não mais sangra, mas está ali?
Quando um monstro não mais assusta?
Quando ignoramos sua presença no escuro da noite
Ou quando de peito aberto o enfrentamos e dizemos
“Sou real e, mesmo com medo, sou mais forte que você”!
Quando?
Alda M S Santos
ADORMECIDO
Quando algo começa a adormecer dentro da gente
Surge alguma coisa para nos despertar da “letargia”
Um homem qualquer de capuz na rua
Uma mulher assassinada ao oferecer carona na rodovia
Uma notícia qualquer de violência e atrocidades
Um pesadelo sobre assaltos, estupros e morte.
Coisas que fazem reviver sensações de terror.
Mais tempo ainda torna-se necessário para adormecer
E fazer a sensação ruim ser jogada fora
Ou empurrada para o fundo e nunca mais sair…
Alda M S Santos
LÁGRIMAS NÃO FAZEM BARULHO
Tudo estava muito escuro, respirar era difícil
Tanto pelo exíguo espaço quanto pelo medo
Cheiro de álcool, cigarro, barulhos ao longe
Curvas perigosas, risadas mais ainda
Vou me encolhendo, abraçando os joelhos,
Tentando passar despercebida.
Lágrimas não fazem barulho, exceto dentro da gente.
Uma oração que não consegue ser verbalizada
Um pedido de socorro que não sai, por mais que se tente.
E as lágrimas aumentam… A velocidade diminui.
O porta-malas se abre, duas imagens conhecidas me encaram,
Maldosas, cruéis, dispostas a tudo.
Tentam me levar dali, fico imóvel.
Fecho os olhos, tento gritar, a voz não sai
Aguardo o inevitável.
Silêncio total!
Devagar e amedrontada, abro os olhos
A oração apenas pensada, o pedido mudo de socorro
Foram atendidos, não havia mais ninguém ali.
Chorei convulsivamente num agradecimento também mudo,
E, chorando, acordei…
Na certeza de que mais uma vez, entre tantas, fora salva!
Alda M S Santos
ERA APENAS UM PESADELO?
“Você não tem medo, você já é grande”!
Falam-nos nossas pequenas crianças
Que em nós buscam auxílio para seus medos
Do escuro, dos monstros debaixo da cama, do lobo mau
Dos animais peçonhentos, das pessoas estranhas,
De perderem o amor dos pais, de serem esquecidas na escola…
Mas enganam-se muito ao pensar que não temos medo!
Quiséramos não tê-los!
E nossos medos são muito reais!
E nem sempre buscamos ajuda!
Medos de ordem física ou emocional, social ou financeira.
Elas não sabem, mas também temos nossos escuros,
Nossos lobos maus, nossos estranhos peçonhentos,
Também tememos perder alguém,
E temos também nossos monstros,
Tanto dentro quanto fora de nós,
E são também assustadores, quase invencíveis.
Queríamos que se afastassem ao acendermos a luz,
Ao chamarmos um super-herói,
Ou ao recebermos um abraço de “era apenas um pesadelo, estou aqui”.
Alda M S Santos
MEDOS
Não há tamanho valentão
Que nunca tenha sido acometido pelos medos.
Negou, fugiu, se entregou, ainda que não tenha admitido,
E, por fim, acabou por enfrentá-los.
A angústia maior é não ter acesso direto a eles,
Poder confrontar face a face, em pé de igualdade.
Na verdade, os medos é que são covardes,
Escondem-se onde temos dificuldades de acessá-los.
Se tivessem a ousadia de se mostrar, viriam,
E nos encontrariam de mangas arregaçadas,
Independente de nosso tamanho,
Saberiam que não dá para habitar
Onde habita uma coragem alicerçada na fé.
Alda M S Santos
O LADO ESCURO DA NOITE
O lado mais escuro da noite não está lá fora
Ele fica dentro da gente, na nossa inconsciência.
É escuro quando a gente entra sem querer
É perigoso e triste quando não conseguimos sair.
Tudo é sombrio, atemorizante, aterrador…
Mesmo assim a gente luta, a gente enfrenta,
A gente não se acovarda, corre se precisar,
Foge se acreditar que é a melhor saída.
Amigos viram inimigos, cruéis, incapazes de ajudar,
Inimigos tornam-se piores ainda.
O real não existe, o irreal toma conta, lágrimas, idem.
Até que a luz retorna, a consciência volta, o fôlego também.
Até a próxima noite escura…
Até quando?
Alda M S Santos
MEDOS
Entre todos os medos
O mais danoso é o medo de amar
Porque o amor que ele impossibilita,
É pai de todos os demais.
Alda M S Santos
BRINCADEIRA DE CRIANÇA
Do inferno ao céu na Amarelinha de ontem
Aos desafios infernais da Baleia Azul de hoje
Dos contos de fadas e histórias de doces vovós
A vovós bruxas que torturam e aterrorizam netas
De corridas descalços e suados nas ruas
A uma tarde e noite hipnotizados em frente ao vídeo-game
De amigos reais que brigavam e se amavam
A amigos virtuais que nada de bom oferecem
De mães e pais que, presentes, castigavam e amavam
A pais permissivos e, quase sempre, ausentes
De uma cabeça leve, livre e ativa
A uma mente confusa, dependente e desequilibrada.
Dizem: “ah, não, morri”!
Não sabem o quanto isso tem sido literal!
Quero game-over, reiniciar…
Começando de umas cinco décadas atrás.
Alda M S Santos
SENTINELAS
Reclamamos muito dos juízes e carrascos da vida, que não são poucos!
Porém, muitas vezes, somos nós mesmos que nos julgamos, condenamos e executamos a pena: juízes, jurados e carrascos.
Por medo, preconceitos, desconhecimentos, falta de habilidade ou tato, por preguiça ou covardia, nos excluímos da vida.
Aquele curso, trabalho, empreendimento, ou proposta interessante que recusamos.
Uma atividade física que melhoraria nossa saúde e humor e não fazemos.
Uma viagem, um passeio, um convívio familiar dos quais não tomamos parte.
Novas amizades ou amores que abrimos mão, que fugimos, julgamos não merecer.
Nós mesmos abrimos mão, desistimos de algo que nos faria apenas o bem.
Somos nós mesmos, com nossa mente conturbada e volúvel, ora leão feroz e corajoso, ora ratinho amedrontado e covarde, que fazemos os caminhos de nossa vida.
Muitas vezes nós, como carrascos, não matamos de imediato, apenas somos sentinelas da cela nas quais nos colocamos.
Alda M S Santos
DE PEITO ABERTO
De peito aberto, cara lavada, coragem
A melhor maneira, o jeito certo de enfrentar a vida
Mesmo que não haja tanta coragem assim
Nem sempre é o “ser alguma coisa” que resolve
Acreditar que se é, pode valer tanto quanto
Cabeça baixa, medos e covardias
Não nos ajudam em nada!
Acreditar-se lindo, forte, amado
Cheio de energia, saúde e sabedoria
Nos leva ao menos até a metade do caminho.
E tendo descoberto o trajeto
O restante torna-se bem mais leve e prazeroso.
Descobri que só nós mesmos podemos barrar nossos passos!
Alda M S Santos
SOB MEU TELHADO
Vida que nasce, cresce, se desenvolve
Absorve tudo de bom à sua volta
Aprende, junta forças, coragem,
E se prepara para o primeiro voo.
Medos? Receios? Poucos.
Procura ignorar a imensidão lá fora
Tão convidativa, tão amedrontadora!
Quantos pássaros temos em nós
Encantados com o novo, desejosos de aventurar-se
Buscar aquilo que faz bem,
Mas com receio de voar?
Quantos ainda estão presos sob nossos “telhados”?
Alda M S Santos