CAMPANHA DO AGASALHO
No frio que nos atinge na madrugada
Pensamos em quem não tem uma morada
Tanta gente desabrigada, há que se ter compaixão
A quem padece no frio devemos estender nossa mão
Nas marquises da cidade, sobre um pedaço de papelão
Há um ser humano abandonado, sem sequer um pedaço de pão
Dói na alma, na pele, em nosso coração
Saber que ali sofre necessidades um irmão
A dor dessa gente em estado de rua
É constante dia ou noite, Sol ou Lua
No inverno sofre ainda mais, corpo e alma nua
É preciso agir, a desigualdade é dura e crua
Sempre há algo que se pode fazer
Juntar agasalhos e cobertores, oferecer
Não dá para descansar, se aquecer
Sabendo que lá fora um humano está a padecer
Alda M S Santos
NESSE FRIOZINHO
Nesse friozinho gosto de me enroscar
Como gata me aconchegar, ronronar
Só levantar se for para pegar uma taça de vinho
E voltar em busca de mais atenção e carinho
Nesse friozinho gosto de ver a janela embaçada
O Sol brilhando, invadindo espaços, alma lavada
Uma lufada de vida e luz, uma bela cantada
Dizendo para a vida lá fora não ser abreviada
Nesse friozinho gosto de café, chá e banho quentes
Aquele amor que alegra e aquece a vida da gente
Uma fogueira acesa à noitinha no quintal
Outra acesa no coração, num vendaval por o amor num pedestal
Nesse friozinho gosto de hibernar
Cuidar do terreno emocional, bem adubar
Lá dentro de mim reabastecer a energia
Luz, calor, água e afeto fazendo florescer a alegria
Alda M S Santos
ESPECIAL DE INVERNO
O friozinho que chega arrepia a pele
A mente busca introspecção
O vento gelado pede recolhimento
Coração busca outro coração
Desejo de estar junto, grudadinho
Debaixo do cobertor, bem quentinho
Tomando um chocolate ao amanhecer
E um vinho tinto ao anoitecer
Abraços são pedidos especiais
De fora para dentro aquecem
Atingem recantos individuais
De almas gêmeas que se reconhecem
Inverno é tempo de hibernar
Cuidar do broto, deixar germinar
Para nova primavera que irá chegar
Poder perfumar, colorir, amar, encantar
Alda M S Santos
QUENTE OU FRIO
Quente ou frio, frio ou quente
A sensação que se tem será sempre diferente
Tudo irá depender do estado da alma da gente
No alto das montanhas será sempre frio
Já à beira-mar quase sempre será quente
E nosso corpo não ficará indiferente
Se está frio passeio na mata fica de lado
Se está quente é animação, pura alegria
Dá até para na cachoeira banhar pelado
Frio ou quente, quente ou frio
Corpo e alma vão se adaptando
Mas há aquilo que só se serve frio
Suco, cerveja, sorvete, um bom vinho
E há o que só é aceito bem quente
Sopa, café, quentão, amigo e amor
Beijo, abraço, carinho, cobertor bem quente, envolvente
Porque a alma já aprendeu a lição
Em matéria de sentimentos, emoção
O que é frio não faz bem pro coração…
Alda M S Santos
INVERNOS ÍNTIMOS
Gosto de chuva, de dias nublados, de inverno
Neles dá para notar melhor quem tem luz própria
Dá para melhor sentir o calor dos humanos
Não dá para se esconder atrás da luz ou calor do Sol
Não dá para fingir que tudo está bem
Não dá para deles tomar energia por empréstimo
Não que seja errado se energizar no Sol
Na claridade de um dia de verão
Pelo contrário, a natureza está aí para isso
Mas ela apenas complementa nossa essência
O que somos verdadeiramente não se perde num dia chuvoso
Não se esfria num dia de inverno
Não fica cinzento porque amanheceu nublado
Nosso sol e calor internos precisam brilhar e aquecer
Ainda, ou principalmente, quando lá fora estiver frio e chuvoso
É assim que superamos nossos invernos íntimos
Assim que clareamos nossas emoções nubladas
Assim que aquecemos nossa alma quando o coração esfria de dor ou saudade
Assim que lavamos nosso interior, mesmo com lágrimas
Assim que sobrevivemos ao tempo de hibernação…
Alda M S Santos
SOU AMANTE
É frio, é calor
É cachoeira, é cobertor
É a vida em fúria, em extremos
Em busca de mais amor
É frio lá fora
É aquecimento aqui dentro
Porque ela é atrevida
E a vida só vale se faz sentir, se faz sentida
É frio, é calor
Tanto faz, proibido é proibir
É preciso trair o tempo
Com a alegria de existir
Que alonga todo momento…
É frio, é calor
É lareira, é fervor
Em inverno gelado ou verão escaldante
É preciso viver com ardor
Nessa vida da qual sou amante…
Alda M S Santos
E O FRIO CHEGOU…
E o frio chegou…
Tempo de desembaraços, de criar laços
De acertar os passos
E se aquecer em abraços
E o frio chegou…
Hora de fogueira ou lareira
Tempo de filme, pipoca e edredom
Na vitrola um nostálgico som
Luz baixa, química alta, tudo de bom
E o frio chegou…
Tempo de hibernar, reservar energia
Buscar intensamente uma calmaria
Numa taça de vinho encontrar a magia
E diante disso tudo entregar-se à vida
Que a tantos contagia…
E o frio chegou…
Alda M S Santos
SENTIA FRIO…
Todos os dias levantava cedinho
Sentia frio sempre, muito frio…
O sol chegava tão devagar quanto ele, parecia não aquecer
Buscava um banco na praça onde os raios já iluminavam
Queria se esquentar, se aquecer, fazer correr calor em suas veias
Sentia frio sempre, todo o tempo…
Encolhido em si mesmo, pele enrugada tanto quanto suas emoções
Olhos ao longe observava as crianças barulhentas, agitadas, aquecidas
Será que tinha saudade de sua meninice?
No outro banco um casal de namorados parecia uma só pessoa
Ficou um tempo a observá-los
Havia calor ali…
Mas ele sentia frio, muito frio…
Daquele que atinge os ossos, todo o interior
Aquele frio que nenhum cobertor, chá ou escalda-pés resolvia
Voltou-se para dentro de si buscando calor de outras épocas
Queria se aquecer novamente!
Um calor recheado de afeto e carinho como colo de mãe
Um calor adocicado e suave como sorriso melado de criança
Um calor intenso e molhado como beijo da mulher amada
Queria que o frio fosse embora
Queria aquecer a alma…
Alda M S Santos
AGASALHOS
Todos entendem quando agasalhamos nossa pele,
E nos questionam quando agasalhamos nossa emoção.
Corpo e alma podem estar com calafrios, necessitando aquecimento.
Quem dirá qual mais necessita do agasalho?
Quem poderá nos criticar se preferirmos aquecer a alma?
Corpo e alma pedem agasalhos diferentes.
Quem poderá dizer qual o agasalho mais adequado além de nós mesmos?
Alda M S Santos