É comum ouvirmos que devemos viver a vida intensamente, aproveitar cada segundo como se fosse o último, esgotar nossas possibilidades.

Dessa maneira, a vida intensa de muitos é alardeada por todos os cantos: revistas, canais de TV, jornais, filmes, propagandas, biografias, etc. As celebridades ditam a intensidade que muitos tentam acompanhar: trabalho, viagens, academias, boites, festas gigante, aventuras, amores, família. Com esses “modelos” surgem, obviamente, as frustrações. Há pessoas que vivem uma vida tão corrida, sequer conseguem refletir sobre o que estão fazendo. Dizem viver de modo “intenso.” Quase sempre estão no piloto automático, ou ponto “morto”, deixando-se levar.

Concordo que devemos viver a vida intensamente, extrair dela o melhor que ela puder nos oferecer. Contudo, o que se ignora é que a intensidade não é absoluta, mas relativa. Isso quer dizer que quando dou 100% de mim, dou o meu máximo. E isso independe se não chega perto dos 100% do outro. Não quer dizer que minha vida é menos intensa que a dele. Posso ser intensa mergulhando em alto-mar ou tomando um banho de ducha, escalando o Everest ou caminhando no parque, viajando num foguete no espaço sideral ou nas páginas de um livro deitada na rede da varanda, jantando caviar e tomando vinho num restaurante da moda ou comendo pizza e tomando açaí na lanchonete da esquina, fazendo amor numa suíte presidencial ou na relva sob o luar.

O que vai ditar a intensidade de nossa vida é o quanto de nós, corpo, emoção, coração, alma, colocarmos no que estivermos fazendo. E isso, só nós podemos determinar.

Saberemos que estamos vivendo intensamente quando a nossa vida nos bastar. Sempre teremos algo a buscar, a desejar, a conquistar, a alcançar. Isso é inerente à vida. Mas seremos intensos, quando nossa vida for interessante o bastante para sabermos apreciar a vida do outro, sem contudo espicharmos os olhos cobiçosos sobre ela.

Enfim, não podemos determinar a duração de nossas vidas. Não sabemos quando pode vir a ser interrompida. O que podemos é colocar toda nossa intensidade em tudo que fizermos, com 18 ou 80 anos. Sobre isso ainda temos controle. Aproveitemos!

Alda M S Santos