PRAGA URBANA?
Seria um pombo-correio?
Chegou pertinho de mim no jardim, joguei água
Querendo impedir que os cães o pegassem
Não voou, ficou me olhando, parecia pedir clemência com os olhos
Fechei a torneira, me abaixei e o peguei
Aquele olhar parecia falar, eu queria ouvir
E “ouvia” os argumentos dos outros para descartá-lo
“Isso é praga urbana, só transmite doenças”
“Que nojo! Mata! Bicho piolhento”
“Solta para os cachorros comerem”
“Isso prolifera igual praga, desequilíbrio ambiental”
“Só serve para distrair os velhinhos que os alimentam nas praças”
Lembrei de casos terríveis de extermínio de mamíferos e aves “nocivos”
E eu via apenas um pombo que me olhava
Que tinha asas para voar e me deixou pegá-lo
De onde veio? Por que estava só? Estaria nas últimas?
Praga urbana?
Para mim era apenas um pássaro
Não era um pombo-correio, mas me trouxe um recado
“Os humanos é que estão se tornando praga urbana
Em sua luta desenfreada para sobreviver roubam a vez de qualquer ser”
Eu o coloquei na beirada do balaústre
Ele continuou a me olhar: “confio em você”
Ficou ali muito tempo e depois voou para o muro
Trouxe seu recado:
“Não há na criação nenhum ser melhor que o outro”
Era mesmo um pombo-correio
Um ser da criação, símbolo da paz!
Praga urbana? Responsabilidade de quem?
Alda M S Santos