QUEM ASSINA?
Se pudéssemos observar com olhar neutro nossas vidas
De fora, com imparcialidade, sem grande envolvimento emocional
Como a observar um quadro “pintado” em sua totalidade
E também em suas partes, seus detalhes
A parte que brilha, a fosca, a meio escondida, a que se destaca
A mais colorida, a clara, a moderna, a abstrata
A antiga, a contemporânea, a atual
Original ou controversa,
Aquela fácil de entender e a que ninguém decifra
O que veríamos?
E, mais importante, quem assina essa obra?
Quem é o autor de verdade?
Quais influências terceiras sofre?
Nosso nome está assinado ali, mas somos mesmo os pintores dessa obra?
Ou é uma arte falsificada, uma fraude?
Pintamos o que acreditamos, com nossas próprias tintas e criatividade
Ou somos “ladrões” de material alheio?
Mesmo sem conseguir manter a neutralidade e imparcialidade
É possível fazer minimamente essa análise:
Somos autênticos?
O grande Autor da Obra Vida deu a receita: amor
Essa tinta nos permite viver uma obra de arte verdadeira
E chegar na grande galeria do outro lado com um quadro original
Ainda que todo manchado de sorrisos e lágrimas…
Com o vermelho do amor pelo outro e da paixão de viver
Com o amarelo das tentativas frustradas
Com o roxo das decepções e angústias
Com o verde brilhante da esperança
Mas nossa!
Nossa tela pode ter muitas cores e influências externas
Mas todas devem ser passadas e filtradas pela nossa alma
Sempre procurando ter orgulho do trabalho feito
E muito pouco do que se envergonhar…
Alda M S Santos
AQUELA TELA BRANCA
Aquela tela que parece branca
Onde imaginamos muito espaço para pintá-la a nosso modo
Traz consigo cores sensíveis ou vibrantes
Claras, fortes, foscas, disfarçadas, aparentes ou nem tanto
E foi desse jeitinho que ela nos atraiu
Querer que ela se apague, que torne-se inócua
Para receber novas cores a nosso bel prazer
Seria desfazer o que ela tem de próprio e belo
Seria desfazer o que nós temos de nobre e original
Somos, às vezes, tão narcisos que só mergulhamos fundo
Se virmos no outro a nossa imagem refletida
Artista e tela precisam se harmonizar para produzir uma bela obra de arte
EU e TU precisam gerar uma nova obra
EU e TU que gera NÓS, sem descaracterizar ninguém
Essa é a obra perfeita…
Alda M S Santos
SEM BORRACHA
Viver é escrever à caneta, desenhar sem borracha
É precisar aproveitar cada linha escrita, cada traço feito
E nessa louca procura, em que o que se quer nem sempre se acha
Precisamos transformar dor em versos, disfarçar o que é tido como defeito
Para cada flor desenha-se um beija-flor
Para cada lágrima que cai uma rosa a sugar e reaproveitar sua dor
Para cada risco incerto desse desenho, às vezes sem cor
Tentamos fazer um grande e colorido mosaico furta-cor
Viver é pintar com verde-mata, vermelho-sangue ou branco- neve
Mas não dispensar o preto retinto ou o amarelo-girassol
É entender que nessa mistura é que se faz o que é eterno ou o que é breve
É saber dia ou noite, ser lua, céu, mar, estrela ou sol
Viver é desenhar sem borracha, é não descartar o borrão
É fazer uma obra-prima digna do Mestre, original
Ter sempre o olhar do artista, valorizar toda a emoção
É acreditar que a arte da vida sempre tem um tom divinal…
Alda M S Santos