UMA OBRA DE ARTE
Tento entender esse quadro
Que freneticamente vem sendo pintado
Certamente uma grande obra de arte
Não identifico o estilo, a época
Talvez por ser único, especial
De um artista atemporal
Mas sinto que faço parte
Do tudo que se usa, abusa
Mexe com todas as cores, odores
Mistura dores, flores, amores
A cada ângulo ou perspectiva
Uma nova visão mais diretiva
Noutros pontos de vista
Há dor, escuridão, nada atrativa
Não quero ser apenas uma observadora
Quero ser parte ativa, ainda que amadora
Busco um lugar, tintas, pincéis
Ofereço beijos, flores, perfumes, anéis
Faço um quadro bem meu
Banho-me nessa cachoeira de tintas coloridas
Tentando entender e fazer valer a vida
E o que faz essa grande obra entre nós repartida
Busco ser uma parte bem linda, produtiva e amiga…
Uma obra de arte…
Alda M S Santos
RESPEITÁVEL PÚBLICO
Respeitável público
Bailarinas ficam tontas, desequilibram, caem
Sem nunca perderem o encanto
Palhaços choram, fazem sorrir, gargalham e se entristecem
Sem nunca perderem a graça
Mágicos engolem e cospem fogo, duplicam objetos, fazem aparecer e desaparecer coisas, menos o sofrimento
Sem nunca perderem a magia
O circo da vida é assim
Bailarinas, palhaços e mágicos
Com encanto, graça e magia
Tudo fazem para animar o respeitável público
Do qual também fazem parte
Mesmo que nem sempre esse público seja tão respeitável assim…
Alda M S Santos
QUEM ASSINA?
Se pudéssemos observar com olhar neutro nossas vidas
De fora, com imparcialidade, sem grande envolvimento emocional
Como a observar um quadro “pintado” em sua totalidade
E também em suas partes, seus detalhes
A parte que brilha, a fosca, a meio escondida, a que se destaca
A mais colorida, a clara, a moderna, a abstrata
A antiga, a contemporânea, a atual
Original ou controversa,
Aquela fácil de entender e a que ninguém decifra
O que veríamos?
E, mais importante, quem assina essa obra?
Quem é o autor de verdade?
Quais influências terceiras sofre?
Nosso nome está assinado ali, mas somos mesmo os pintores dessa obra?
Ou é uma arte falsificada, uma fraude?
Pintamos o que acreditamos, com nossas próprias tintas e criatividade
Ou somos “ladrões” de material alheio?
Mesmo sem conseguir manter a neutralidade e imparcialidade
É possível fazer minimamente essa análise:
Somos autênticos?
O grande Autor da Obra Vida deu a receita: amor
Essa tinta nos permite viver uma obra de arte verdadeira
E chegar na grande galeria do outro lado com um quadro original
Ainda que todo manchado de sorrisos e lágrimas…
Com o vermelho do amor pelo outro e da paixão de viver
Com o amarelo das tentativas frustradas
Com o roxo das decepções e angústias
Com o verde brilhante da esperança
Mas nossa!
Nossa tela pode ter muitas cores e influências externas
Mas todas devem ser passadas e filtradas pela nossa alma
Sempre procurando ter orgulho do trabalho feito
E muito pouco do que se envergonhar…
Alda M S Santos
AQUELA TELA BRANCA
Aquela tela que parece branca
Onde imaginamos muito espaço para pintá-la a nosso modo
Traz consigo cores sensíveis ou vibrantes
Claras, fortes, foscas, disfarçadas, aparentes ou nem tanto
E foi desse jeitinho que ela nos atraiu
Querer que ela se apague, que torne-se inócua
Para receber novas cores a nosso bel prazer
Seria desfazer o que ela tem de próprio e belo
Seria desfazer o que nós temos de nobre e original
Somos, às vezes, tão narcisos que só mergulhamos fundo
Se virmos no outro a nossa imagem refletida
Artista e tela precisam se harmonizar para produzir uma bela obra de arte
EU e TU precisam gerar uma nova obra
EU e TU que gera NÓS, sem descaracterizar ninguém
Essa é a obra perfeita…
Alda M S Santos
SEM BORRACHA
Viver é escrever à caneta, desenhar sem borracha
É precisar aproveitar cada linha escrita, cada traço feito
E nessa louca procura, em que o que se quer nem sempre se acha
Precisamos transformar dor em versos, disfarçar o que é tido como defeito
Para cada flor desenha-se um beija-flor
Para cada lágrima que cai uma rosa a sugar e reaproveitar sua dor
Para cada risco incerto desse desenho, às vezes sem cor
Tentamos fazer um grande e colorido mosaico furta-cor
Viver é pintar com verde-mata, vermelho-sangue ou branco- neve
Mas não dispensar o preto retinto ou o amarelo-girassol
É entender que nessa mistura é que se faz o que é eterno ou o que é breve
É saber dia ou noite, ser lua, céu, mar, estrela ou sol
Viver é desenhar sem borracha, é não descartar o borrão
É fazer uma obra-prima digna do Mestre, original
Ter sempre o olhar do artista, valorizar toda a emoção
É acreditar que a arte da vida sempre tem um tom divinal…
Alda M S Santos
(AR)TESÃO
Artesão, ar, arte, tesão!
Ar, oxigênio, necessidade vital
Faltou, morte certa.
Tesão, sem ele não há vontade,
Sem ele não há prazer,
Sem ele não há objetivos.
Ar-tesão, sem ele nada se constrói,
Sem ele não há arte,
Sem ele há vazios, brechas
Tesão é ar de nossos dias,
Amor que se quer, que se busca, que se faz!
Quanto mais profundo melhor,
Quanto mais puro, mais luz,
Quanto mais natural, mais completo!
Artesão, ar e tesão, a arte, a base de nossas estruturas,
Vontade que gera ação,
Ar, tesão de nosso interior…
Alda M S Santos
OVOS DE PÁSCOA
Dentro da sacola enorme, uma caixa grande
Dentro da caixa, água com açafrão, chá e vinagre,
Mergulhados na água, cascas inteiras de ovos, sem o conteúdo.
Depois de andar 2km, com muito cuidado,
Tudo isso do colo pro chão no metrô lotado.
Ao final, serão ovos coloridos recheados de brigadeiro.
Uma pequena “arte” para alegrar a Páscoa no Lar dos Idosos.
Se interceptada, pode ser acusada de “bruxaria” ou terrorismo…
Imaginar a alegria deles vale qualquer “esforço”.
Alda M S Santos