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Memórias

MEMÓRIAS

Aquela lembrança que não sai da cabeça

Coisas tristes, decepções, angústias, mágoas

Desamores que gostaríamos de apagar

Que no final das contas fazem -nos ser o que somos

Se pensássemos o quanto pode ser triste esquecer

Simplesmente apagar da nossa história, nosso HD

Qualquer coisa que já vivemos

Talvez aceitássemos melhor todos os capítulos de nossa história

O Alzheimer vai apagando aos poucos a memória recente

Aquela que ainda não se firmou o bastante em nossa estrutura

Não se solidificou, não criou raizes ou troncos protetores

E vai voltando gradativamente, até nos apagar por completo

Um livro cujas páginas vão sendo arrancadas

Capítulos e personagens sendo rabiscados

Cenas e cenas sendo borradas

Não, não é bonito demolir assim uma pessoa…

Felizmente nossa história tem pequenas cópias por aí

Ela também estará gravada em cada personagem desse livro

Espalhada por aí em forma de vivências

Que seja mais de amor que de dor…

Onde estão nossas cópias mais fiéis?

Alda M S Santos

Antiguidades

ANTIGUIDADES

Vivemos entre o novo e o antigo

Transitando num mundo nem sempre amigo

Daí tanta saudade, nostalgia

De uma época com menos tecnologia

Onde havia muito mais magia…

Faltavam máquinas e motores

Mas a força vinha de nossos corpos

Nossas mentes também trabalhavam

E os amores, esses sim nos comandavam…

Os amigos estavam por perto, eram reais

Nossas famílias eram grandes, especiais

Cantávamos, brincávamos, dançávamos, era demais

E nas lutas, vitórias e derrotas, éramos mais iguais…

O amor era para sempre

Tudo durava, não se acabava tão facilmente

Nada era tão descartável

Viver era coisa que se fazia naturalmente…

Sentimos saudades!

Alda M S Santos

Como não deixar se apagar?

COMO NÃO DEIXAR SE APAGAR?

Como não deixar se apagar em nós a imagem de quem se foi?

Como não nos apagarmos do coração dos outros quando formos embora?

Como conservar na memória a voz doce na tranquilidade ou a ofegante na irritação

A insegurança contida, o medo de nos decepcionar

O desejo constante de agradar, de manter nosso amor

Os ciúmes bobos, os calundus desnecessários

As brigas tolas, o amor nem sempre declarado

Como manter vivo na lembrança o olhar terno de admiração e cuidado, ou o faiscante de frustração

Como não deixar se apagar o sorriso sincero e atraente, a gargalhada gostosa

O andar ora inseguro e trôpego, ora confiante e sensual

Como não deixar ir embora o cheiro bom, o perfume tão único e especial

Como não deixar de sentir o calor de um abraço terno

O conforto de palavras sábias e de apoio, oferecidas ou recebidas

A doçura de um beijo amoroso

O suave peso da cabeça que chorou em nossos ombros

A força a nós ofertada, em diversos momentos, apenas por existir

Como não deixar se apagar em nós

O que foi impresso em cores tão fortes e quentes?

Preocupação desnecessária: o essencial, importante e verdadeiro não se apagam

Foram registrados em nós como marca feita pelo ferrete

Pela brasa incandescente do amor, mas singela como uma flor

Paradoxalmente dolorida e prazerosa…

Isso não se apaga tão facilmente

Nem em quem foi, tampouco em quem ficou…

Amor de qualquer tipo é eterno

Em qualquer dimensão! 🙏😇

Alda M S Santos

Que aroma tem sua história?

QUE AROMA TEM SUA HISTÓRIA?

Comida de fogão a lenha tem cheiro de casa de vó, de infância na roça

Plástico novo tem cheiro de surpresa, de expectativa, de brinquedo no Natal

Fumo de rolo tem cheiro do vovô, com seu lindo sorriso e olhos verdes por detrás da fumaça

Cachaça e rapadura têm cheiro da venda do meu tio, de homens cansados e suados

Velas queimando cheiram à igreja, ritos e celebrações

Terra molhada tem aroma de brincadeiras na rua até tarde

Alfazema tem aroma de sonhos da adolescência, de banho recém-tomado

Hortelã tem aroma e gosto de beijo, de timidez

Almíscar tem aroma de amor, de abraço, de entrega

Cheiros, perfumes, aromas e fragrâncias fazem nossa história

Nada fica tão marcado na memória como o que se assimila pelo olfato

Tudo isso remete a pessoas, lugares, tempos ou situações,

E atinge direto a emoção, boa ou ruim.

Ativa o coração, a alma.

São memórias, são histórias, são saudades,

Que a gente revive, querendo ou não…

Que aroma tem sua história?

Alda M S Santos

Pegadas

PEGADAS

A cada passo dado, uma pegada é deixada

Mais profunda ou superficial, dependendo da estrutura do terreno

E da intensidade do caminhante nesta jornada

Olhamos para frente, quase nunca para trás

O caminho é longo, chuva insistente ou sol escaldante

Calor animador ou frio acolhedor, belo e florido, ou cheio de pedras

Mas os objetivos são estimulantes

Seguimos…

Se em algum momento quisermos voltar atrás, refazer aquele caminho

Não mais nos encaixaremos naquelas pegadas deixadas

Não nos reconhecemos ali

Antes tão justas e agradáveis como uma meia de lã

Aconchegantes e ternas como um abraço

Agora parecem ser de outra pessoa diferente de nós

Grandes, largas ou apertadas demais, machucam, não servem

São de outra pessoa!

Nós em outra época…

Sensação de não pertencimento nos acomete

As marcas na areia, na terra, na mata ou no asfalto

Não são diferentes das marcas que deixamos nos corações dos outros

Nas que são deixadas em nossos corações

Em nossa própria alma…

O tempo e a força ou delicadeza aplicada em cada passo

Farão com que essas pegadas sejam profundas, ternas e eternas

Ainda que não nos caiba mais do mesmo modo

Pegadas são importantes digitais gravadas na alma dos que se amaram

E esses se pertencem…

Alda M S Santos

Esquecimento

ESQUECIMENTO

Esquecer…

Um alívio que muitos procuram

Apagar o que machuca, deixar para trás

Esquecer…

Necessidade real, do que às vezes parece tão irreal

Cargas pesadas, difíceis, dolorosas, mágoas

Esquecer…

O que deixou de fazer por covardia, o que fez sem querer, os medos

O que fizeram consigo, com ou sem permissão

O que você fez com os outros sem pensar bem

Esquecer…

Para isso, muitos buscam drogas, alucinógenos, leveza para o que pesa

Esquecer…

A verdade é que na tentativa de esquecer, busca-se entorpecimento

Cria-se, muitas vezes, mais lembranças dolorosas a serem esquecidas…

Esquecer…

Sem resolver dentro de si o que machuca

É como suturar uma ferida infeccionada que ainda sangra…

Alda M S Santos

Dia da Saudade

DIA DA SAUDADE?

Dia da saudade não existe

Existe motivo da saudade

E esse é apenas viver

Quem vive sente saudades

Deixa saudades,

E isso acontece dia após dia

Até sermos apenas saudade…

Alda M S Santos

Caminho da roça

CAMINHO DA ROÇA

Uma estradinha de terra serpenteando por aí

Morro acima, ladeira abaixo, tanto faz

Árvores, flores, pasto, vegetação até onde a vista alcança

Insetos e pássaros cantando ritmicamente

Gado mugindo ao longe, cachorros a nos encontrar a meio caminho, receptivos

Cheiro de mato, de bichos, de flores, de vida

E nós, contando casos, relembrando histórias

Até chegar à fazenda dos tios queridos,

Gente boa até “encostar no barranco”

Onde tudo é encanto e magia…

Mudamos para a capital, pais e dois filhos, há 49 anos

Mas nossas raízes estão fincadas aqui

Esse caminho da roça sempre iremos fazer

Inverno ou verão, sol ou chuva

Até quando formos chamados para outra travessia…

Alda M S Santos

Minha avó

MINHA AVÓ

Pequena, magrinha, miudinha mesmo

Um abraço parece que irá quebrá-la

Minha avó, cabeça branquinha até onde minha memória alcança

Ela tem 95 anos, 6 filhos, 19 netos, 18 bisnetos e uma tataraneta

Olhos fundos, uma vida de força escondida ali!

Geniosa, contadora de casos, vida sofrida, cismada

Sempre trajando saia e blusa de mangas compridas, trabalhadeira

Faça frio ou calor, sol ou chuva

Mora sozinha por opção, sempre na janela a olhar quem passa,

Cuida da horta, das galinhas, da casa

Deita-se junto com o sol e levanta-se com ele

Nunca tira fotos, dificilmente sai de casa

Não usa perfume, tem cheiro gostoso de vó, aroma da minha infância!

Econômica na demonstração de afetos, de emoções

Mas quem a conhece reconhece o brilho no olhar

Quando estão perto quem ela ama

E a opacidade que toma conta quando vão embora

Até a janela da frente se fecha em protesto

Junto com o semblante e o coração

Fala muito na morte para espantar o medo que sente dela, do desconhecido

Bem humorada, diz que tem três coisas: velhice, feiúra e ruindade recolhida

Pra mim tem outras: força, fé, coragem e muito amor contido

Nas minhas lembranças mais antigas de vida, ela está

E ficará para sempre…

Te amo, vó!

Alda M S Santos

Minha terrinha

MINHA TERRINHA

Se um dia eu me perder

Aqui sempre será um bom lugar para juntar pedaços de mim

Olho para minha avó, 95 anos, suas rugas, sua frágil força, seu carinho contido,

Quantas histórias!

Tios, primos, parentes e amigos vários

“Troquei suas fraldas, curei seu umbigo, cuidei muito de você”

“Brincamos muito juntos, tenho saudades”

“Já exploramos uma boa parte disso tudo aqui”

“Você não mudou nada, mesmo sorriso, mesma carinha”

Todos têm algo a lembrar, a contar, a saudar

Cada cantinho, cada casa, cada espaço natural, cada montanha, mina d’água,

Aromas, o jeitinho de ser de cada um

Ver que todos envelhecemos, mas que nossa essência permanece

A despeito, ou até mesmo por causa, dos tropeços e entraves da vida

Dizem que uma parte de nós sempre fica onde se enterra nosso umbigo

E que irá ajudar a nos lembrar quem somos, nossos valores

A não nos esquecermos de nós,

Independente do que o mundo lá fora tenha feito conosco.

Sempre é bom voltar…

Alda M S Santos

Rastros

RASTROS

Se nós não estivéssemos mais aqui

E alguém se dispusesse a escrever nossa história

Seguir nossos rastros, fazer nossa biografia

Como se fôssemos alguém famoso,

Ou que muito fez pela humanidade,

A quem deveria procurar?

Pais, irmãos, namorados, amigos, cônjuge, filhos, companheiros de trabalho…

Extrair deles nosso modo de ser e agir frente aos problemas

Diante do amor, das alegrias, das dificuldades…

Seria uma história real, completa? Verdadeira até que ponto?

Se não pudessem falar diretamente conosco, seria verídica?

Quem sabe tudo ou tanto assim de nós?

Há alguém que nos ame ou conheça tão a fundo?

Sei não!

Mas uma coisa é certa: não precisamos ser famosos

Ou termos feito muito pela humanidade

Nossa biografia, ainda que incompleta, ou mesmo não tão fiel

Estará escrita naqueles que amamos muito

Nos quais confiamos e compartilhamos vida

E também nos que nos amaram, com todos os nossos defeitos

Nossos rastros precisam estar neles,

Em quem dividiu conosco o amor

O resto não é tão importante!

Alda M S Santos

Preciso esquecer

PRECISO ESQUECER

Preciso esquecer as dores e me concentrar nos amores

Preciso esquecer o que me falta e atentar ao que me preenche

Preciso esquecer as angústias e valorizar as bênçãos

Preciso esquecer tudo e todos que de mim não se ocupam

Preciso esquecer tudo e todos que de mim se esqueceram,

Montar e seguir caminho…

Preciso lembrar de esquecer!

Alda M S Santos

Histórias

HISTÓRIAS

Onde moram as histórias?

Numa praça em uma cidade centenária,

Numa obra de arte, numa música,

Numa fonte luminosa, num rio corrente,

Numa escultura, num livro, num poema,

Numa estrada, num caminho tantas vezes trilhado?

Parece que sim! Mas não!

As histórias moram dentro das pessoas!

Pessoas que as criaram,

Que as escreveram, que as viveram.

Esses espaços, objetos e ambientes,

É que têm o poder de ativar as lembranças, boas ou ruins.

Ao olhar para qualquer um deles,

Algo desperta dentro da gente.

Somos recheados de histórias, de saudades,

De desejo de reviver, de nostalgia…

Nós somos a história!

Alda M S Santos

Memórias

MEMÓRIAS
“Fomos Garotas de Copacabana. Viu como eu era bonita? Igual você!”
Ela ajeitava seus lençóis o tempo todo. O espaço que era só seu.
Foto acima da cama, com nome, data de nascimento: 20/09/1930.
Um pequeno armário com o crucifixo pendurado, poucos pertences e fotos, muitas fotos.
Todas espalhadas na cama. Mostrava e contava sua história.
“Minha irmã morreu no Rio. Não tenho mais pra onde ir.”
Toda uma vida, memórias registradas ali em preto e branco, em cores.
Uma Bíblia, um livro do Pe Marcelo, todos inchados de fotos, cartões de aniversário, cartas, envelopes…
“Para marcar onde li e pra Jesus proteger. Jesus protege, sabia? Está com minha irmã! ”
Sim, e conosco também!- respondi.
“O meu coração é só de Jesus. A minha alegria é a Santa Cruz.”
Cantava e me pedia para acompanhar. A companheira ranzinza do quarto reclamou.
“Vamos parar! Ela dá chinelada na gente”.
Fui lentamente até ela. Expulsou-me. Insisti. Devagar. Deixei, voltei.
No final, coloquei a faixa de Miss Guerreira, abracei a ranzinza, beijei suas bochechas, sorriu, ganhei um “obrigada, vai com Deus”!
Deixei-as com suas histórias em papel, poucos objetos e memórias, muitas se apagando.
E fui embora com as minhas.
Farão parte de minha história a partir de hoje.
Alda M S Santos

Memórias

MEMÓRIAS 

Somos uma caixinha de memórias e lembranças

Todas bem guardadinhas!

Há uma certa ordem nessa arrumação.

A cada vez que uma delas é lembrada e revivida, ela fica por cima, na superfície.

Como numa busca virtual, mais fácil de ser acionada.

Aquelas que quase nunca mexemos ficam lá no fundo, últimas.

Quanto mais se mexe, mais se lembra.

Quanto mais se lembra, mais se vive. 

Daí a importância de lembrarmos das coisas boas.

Momentos de alegria e vitórias,

Lembranças de amor e prazer,

Períodos de amizade e carinho…

Instantes de abraços apertados e sorrisos falantes…

E estaremos formando novas boas lembranças.

Deixando as dores, medos e traumas submergirem.

Quando assustarmos, as coisas negativas quase não virão à tona.

Estarão no fim da busca, no fundo da caixa,

Sufocadas pelo poder da alegria e do amor. 

Um domingo frio, neblina, amor e cobertor,

Um sábado de sol, clube e amigos 

Ou uma segunda-feira de cansaço, risadas e trabalho,

Se tornarão deliciosas rotinas reais e da memória.

Se a busca na caixinha for feita com alguém que se ama, mais rica ela será.

Alguma lembrança boa?

Alda M S Santos

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