VENCER…PERDER…
Quais ficam mais eternizadas na memória
O vencer ou o perder, a derrota ou a vitória?
Vasculhando meus porões internos
Percebo o quanto tudo pode ser eterno
Quanto às derrotas, cujas visitas são dolorosas
Percebo precisar de uma alma valente e corajosa
Aquilo que foi em mim mesma processado e perdoado
É visita tranquila, sempre rica em aprendizado
Já as vitórias costumam estar em baús mais abertos
Sempre lembradas para motivar o que temos como certo
Porém, se não foram vivenciadas com sabedoria
Talvez tenham criado no entorno alguma desarmonia
Bom é saber que vitórias e derrotas são partes da vida da gente
Encarar os fatos como amigos é muito producente
Ter alguém com quem dividir a dor e alegria de ser humano
Faz da vida uma história mais leve, disso não me engano
Alda M S Santos
A IMINÊNCIA DA PERDA
É na iminência da perda
Que enxergamos o que possuímos
É na possibilidade do fim
Seja ele do que ou de quem for
Que encontramos a humildade
É na incapacidade de lidar com a falta
Que a fartura ou presença se impõem, se valorizam
É na imaginação da destruição ou inexistência do habitual
Que percebemos que não somos indestrutíveis, que não somos infinitos
Aquela mania de notar apenas a parte vazia
Desaparece mediante o esvaziamento da parte cheia
A consciência de nossa finitude, paradoxalmente
É que nos torna capazes de nos eternizar…
Alda M S Santos
TESOUROS
De tudo que é passível de perdas na vida
Dinheiro, emprego, casa,
Carro, joias, objetos preciosos
Nada gera mais dor e arrependimento
Nada pesa mais nas costas e encurva o andar
Nada tira mais o brilho do sorriso ou ofusca o olhar
Que a perda dos tesouros que não têm preço
Cuja falta desvaloriza qualquer outro “bem” adquirido
E que muitas vezes foi oferecido gratuitamente, negligenciado
Ignorado, não conservado, inviabilizado
A saúde do corpo e da mente
A fé em algo maior e superior que olha por nós
A capacidade de ser grato à vida em nosso entorno
Nas mais variadas formas de luz e beleza
Um olhar de aceitação e bondade de alguém querido
A utilização de modo solidário dos dons
Uma amizade verdadeira, desinteressada e sempre solícita
Uma vida de dedicação e cuidado recebidos daqueles que nos cercam
Um amor incondicional, que sobrevive às adversidades
Utilizando-as como adubo para deixar o broto do bem fortificar
E gerenciar sabiamente, equilibradamente, a esperança
Apesar, ou por causa, dos balanços, do ir e vir
Dos ganhos e perdas que todos temos…
Os tesouros mais difíceis de se perder não se guardam em baús ou bancos
São aqueles que, bem leves, carregamos na alma e no coração…
Alda M S Santos
NOSSO MAIOR FRACASSO
Todos temos um sucesso ou vitória retumbante
Aquela que nos dá orgulho, nos motiva a seguir em frente
Um trabalho prazeroso que enobrece
Um jardim bem cuidado, um lar encantado
Uma família presente e abençoada
Filhos que são reflexo do amor e ensinamentos recebidos
Um amor correspondido e parceiro de vida…
Costumam ser esses apontados como nossos maiores sucessos
E nossos fracassos?
Seriam o oposto disso tudo?
Nosso maior fracasso não seria aquele onde mais investimos e perdemos?
O médico que não curou, o advogado que não defendeu um inocente
O religioso que não obteve a compaixão que pregou,
O professor que não ensinou o que é valioso aprender e reter
Não aos outros, não a terceiros
Mas o médico que não pôde curar a si mesmo
O advogado que foi seu próprio carrasco
O religioso que não amou sequer a si mesmo
O professor incapaz de aprender e praticar o que tanto ensinou…
Todos lutamos dia a dia para não sermos nosso próprio e maior fracasso
Para não falharmos conosco mesmos naquilo que somos especialistas…
Alda M S Santos
PERDER É UMA M*
Dizem que o importante é o prazer de jogar
Ganhar ou perder é apenas detalhe circunstancial
Uma ova!
Saber jogar é importante, ganhar é o máximo
Mas perder é uma m*! Mesmo se for uma derrota honrosa
Tudo bem que quem não sabe perder perde duas vezes
O jogo, a moral, a simpatia, o nome, a autoestima
Fica com o coração na mão, apertado, triste
E cada derrota é uma derrota diferente, mas sempre dói
Pode-se perder muitas vezes e nunca a derrota se tornar mais fácil
Independe qual seja ela: no jogo, no amor, na vida…
Culpar o tempo, o rival, o juiz, o azar, a Deus, a vida
Desacreditar as habilidades e valor do adversário
Chorar até desidratar, rir de nervosismo, fazer piadas de frustração
Desistir do jogo, da luta, da vida
Tudo faz parte das fases da dor da derrota
Mas ela só produz algo de benéfico e produtivo
Só deixa de ser uma completa m*
Quando se assume a própria responsabilidade na perda
Quer seja no jogo, no amor, na vida…
Alda M S Santos
PERDAS E GANHOS
Uma vida, qualquer uma, é cheia de perdas
E acabamos nos acostumando a elas
Perdemos as chaves, os óculos, dinheiro, documentos
Perdemos o emprego, o viço, a energia
Perdemos amigos, familiares, amores
Perdemos a noção do certo e do errado, do bem e do mal
Fazendo com os outros o que não gostaríamos que fizessem conosco
Perdemos a saúde, a ilusão, a juventude, a fé na humanidade
Perdemos o tempo enquanto torcemos para que ele passe logo…
Quando estamos prestes a nos perder de nós mesmos
Quando ferimos nossa própria essência
Quando não percebemos que cobramos dos outros mudanças que deveriam ser nossas
Quando “sentamos em nossos próprios rabos e puxamos os rabos alheios”, como diria minha avó
Nós passamos a buscar no olhar do outro aquilo que tememos não ver mais em nós
Ou aquilo que precisamos para nos reafirmar e não vemos mais tão claramente em nossos espelhos
Toda e qualquer perda pode ser danosa ou proveitosa
Mas nada é tão desastroso e tão cruel
Quanto a perda da fé em nós mesmos
E da consciência de pouco fazer para melhorar nossas vidas e do próximo
Da nossa capacidade e esperança de gerar mudanças
A perda da sensibilidade de ver no outro, nas suas diferenças
Um ser humano como nós, que erra e acerta, perde e ganha
O bem e o mal nascem primeiro em cada coração como pequeno broto
Somos nós que os irrigamos, alimentamos e os trazemos à luz, às sombras ou à escuridão
Ele é nosso alimento diário
Ganhamos quando fazemos das perdas um grande aprendizado…
Aprendemos com elas quando cuidamos para não causar mais perdas para nós ou para os outros…
Alda M S Santos
PRÓXIMO DO NOCAUTE
Ver, mesmo de olhos cerrados,
Sentir, mesmo com o coração fechado,
Dizer, mesmo sem palavras,
Ouvir, mesmo os gritos ou sussurros dos silêncios,
Acreditar, mesmo que tudo pareça ruir,
Abraçar, ainda que os braços pesem,
Sorrir, mesmo entre lágrimas,
Lutar, mesmo próximo do nocaute,
Beijar, mesmo com lábios ressequidos pela distância,
Prosseguir, mesmo com a sensação de andar para trás,
Viver, mesmo que a vida pareça pertencer a todos, menos a nós mesmos.
Alda M S Santos