OLHAR APURADO
Para um lado vemos destruição
Para o outro a difícil reconstrução
Para trás vemos um passado superado
Para o alto se avista um futuro atribulado
O olhar precisa ser mais apurado
Ajeitar a lente, ter o foco ajustado
Porque tudo que se vê para qualquer lado
Depende do que há em nós, no interior
Tudo tem mais esperança, a vista é mais bonita
Se cá dentro houver amor
Alda M S Santos
À FLOR DA PELE
Sensibilidade que fragiliza
Que arrepia a pele, aromatiza
Que desperta medos escondidos
Que faz brotar sonhos já banidos
Sensibilidade que pede mais amorosidade
Que luta pela vida com vontade
No silêncio pidão dos olhos a divagar
Na suavidade de um sorriso a encantar
Sensibilidade à flor da pele
Delicada feito rosa recém desabrochada
Forte pela tempestade já enfrentada
Sensibilidade à flor da pele
Basta um só olhar, um pingo de atenção
Para o mundo desaguar e aquecer o coração
Alda M S Santos
CAMINHOS DO BEM
Que possamos ter a serenidade nos momentos de maior angústia
Que a sabedoria se apresente quando tudo parecer negativo e falho
Que a fé e esperança em dias melhores tenham supremacia
E se estabeleçam nos momentos de injustiça e descrença
Que encontremos anjos amigos quando o caminho for árduo
Que a coragem e vontade de fazer a diferença
Sejam maiores que qualquer dor ou mágoa
E não nos impeça de seguir no caminho do bem
Aquele em que jorre amor como água cristalina
Que vem do alto e caia suave e brilhante como purpurina
E ilumine a todos a nossa volta
Amém!
Alda M S Santos
LEITURAS
Há leituras e leituras…
Há quem leia um poema e se emocione
Há quem leia uma capa e se admire
Há quem leia um número e racionalize
Há quem leia apenas palavras e viaje
Há quem leia um corpo e se encante
Há quem leia um olhar e ali se perca
Há quem leia um toque e retribua
Há quem leia um abraço e devolva
Há quem leia um sorriso e se ilumine
Há quem leia a distância e a percorra
Há quem leia o silêncio e grite em resposta
Há quem leia uma dor e se solidarize
Há quem leia uma lágrima e a enxugue
Há quem leia uma saudade e vá nela morar
Há quem leia mais uma história fictícia e desista
Há quem nessa história se encaixe e insista
Há quem leia um momento doce e se lambuze
Há quem apenas decifre códigos gráficos
E há quem leia e interprete tudo isso
De acordo com suas vivências…
Como você me lê, lê os outros?
Alda M S Santos
ESTAÇÃO DAS ÁGUAS
Não sei se é da época, das pessoas
Ou do que está mesmo dentro da gente
Uma palavra ríspida qualquer
Um mero descaso, pouco caso, mágoa
Até mesmo um gesto de carinho e cuidado
Sensibilizam, fragilizam, geram lágrimas…
Espírito de Natal, espírito próprio?
Sei lá!
Estação das águas….
Alda M S Santos
A DOR
A dor é o óleo que deixa
As engrenagens do coração lubrificadas
E o tornam sensível e propício para viver
As posteriores alegrias intensamente,
Sem trepidações ou danos à sua mecânica.
Cuidado com a falta ou o excesso do óleo!
Alda M S Santos
SENSIBILIDADE E AMOR
Sensibilidade é a capacidade de perceber, participar, se alegrar, se condoer
Com os sentimentos e modo de ser daqueles que se parecem conosco
Amor é a capacidade de fazer tudo isso,
Mas, particularmente, com aqueles que são diferentes de nós!
Alda M S Santos
POETAS
Um ser “normal” sente a chuva
Aspira o perfume de uma rosa,
Admira a beleza de uma pessoa,
Balança-se com os galhos de uma árvore,
Ouve a melodiosa música de um pássaro
Delicia-se com um carinho,
Beija como um sedento beija-flor,
Cantarola uma canção,
Sonha com um mundo mais justo.
O poeta percebe tudo isso com sentidos mais aguçados.
Ele se “transforma” na chuva, na rosa
Na pessoa bela, na árvore, no beija-flor
Aquece-se com o carinho, sente a canção
Vive num mundo colorido e de emoções fortes
Em cada magia que sente vê poesia
E a transforma em letras
A traduz em palavras, em versos…
E a vive, para muitos, de modo insano, anormal,
Mas o poeta não sabe ser de outro modo…
Alda M S Santos
STRIPTEASE DOS POETAS
Acaso existe alguém mais corajoso e audaz
Que aquele que se despe perante todos?
Pode haver recursos musicais, penumbra, o que for,
É coragem!
Enquanto uns tiram as camadas de roupas
Que cobrem o corpo, num jogo sensual,
Outros tiram as camadas de sentimentos,
Que recobrem a alma, num jogo emocional,
Utilizando recursos linguísticos variados,
Expressam a poesia que captam por aí,
E as apresentam lentamente, num striptease,
Até chegar à nudez total.
Como uma rosa que se abre, linda e encantadora,
Assim agem os poetas…
Nudez da alma X nudez do corpo.
Striptease democrático, para todos,
Mas poucos são capazes de entender e apreciar.
Alda M S Santos
SENSIBILIDADE À FLOR DA PELE
Um garotinho chorava e andava atrás da mãe apressada no supermercado.
Pequeno, uns dois anos, no máximo. Passos ainda inseguros.
Uma menininha, pouco mais velha, aguardando o pai que estava na fila do açougue, onde eu me encontrava, cutucou o pai, apontou para a criança. O pai não notou. Fiquei observando. Adoro ver as atitudes infantis.
Olhou para o pai e saiu devagarzinho, sempre olhando para trás para conferir se o pai não iria impedir seu afastamento.
Chegou perto do garoto que chorava, fez-lhe um carinho limpando as lágrimas e o abraçou.
Não ouvi o que dizia. A menininha falou algo e estendeu o bichinho de pelúcia que carregava.
O garotinho o segurou, deu aquela suspirada funda e parou de chorar. A menininha voltou saltitante para perto do pai.
Pouco depois, vem a mãe com o garotinho no colo e fala para o pai: “acho que é da sua filha”!
A menininha mais do que depressa: “é porque ele estava triste”!
Todos ao redor se emudeceram! Sorrisos amarelos, até meio envergonhados.
Será que pensaram no quanto também precisavam de um ursinho de pelúcia?
Quem sabe refletiram em quantas vezes poderiam ter feito o mesmo por alguém?
Cá entre nós, quantos ursinhos de pelúcia mantemos guardadinhos dentro de nós?
Vale lembrar que carinhos foram feitos para circular.
Guardados perdem o efeito!
Amo “ursinhos de pelúcia”!
Dar ou receber.
Alda M S Santos
PERCEPÇÕES
Há olhos muito sensíveis, tudo percebem
Veem o olhar pidão e leal de um cachorrinho
A dimensão do amor de uma mãe que amamenta
A pureza de um abraço infantil
A chuva atrás de uma brisa úmida
A tempestade que se arma com o calor
A magia na dimensão e beleza das ondas do mar
A tristeza atrás de um sorriso que não se reflete nos olhos
As palavras escondidas a gritar no silêncio
A vontade que move um ser que aparentemente nada tem
A dor e a fé daquele que ora e pede de joelhos
O amor que sobrevive num mundo de sorrisos e lágrimas
A paz de uma parceria em fim de tarde ao por do sol
Olhos que percebem tudo
São os olhos treinados pela alma.
Alda M S Santos
BEIJA-FLOR
Lindos, passam a vida a beijar
Nessa vida de carinhos
Alimentam-se por inteiro
A si mesmos e ao outro…
Tão perfeitos…
Tão lindos!
Cores e encanto.
Deixaram-me aproximar
Quis ser flor, fui flor
Senti a alegria da simplicidade e do amor.
Alda M S Santos
O SOM DO SILÊNCIO
O som mais alto que existe é o do silêncio. Sim! A frequência de seus decibéis não é para qualquer audição! É preciso, além dos sentidos usuais, um sexto sentido para ouvi-lo!
Quando o silêncio fala, ele isola tudo dentro da gente. Forma-se um vácuo. Nosso interior parece oco. O eco é constante. Tudo é mais!
Nossa sensibilidade fica à flor da pele, da audição, da visão. Percepções fora de nós são potencializadas.
O som das folhas que pisamos arranha os tímpanos. O brilho do sol arde por dentro. A aspereza das palavras machuca. O olhar frio fere. Uma música fala.
E isso extravasa em nossos poros, em nosso olhar, em nosso silêncio.
Poucos percebem, pois o sentido mais apto a ler o silêncio é pouco usado, vem da alma. É ele que capta essa sensibilidade exacerbada, essa tristeza calada, essa angústia que aperta, esse grito que reflete no olhar num mudo pedido de socorro, no modo de andar, no sorriso sem brilho, nas palavras forçadas, nas lágrimas contidas.
Quase sempre esse silêncio é rompido quando encontra quem o lê, para além das palavras não ditas.
Quem lê o silêncio, sabe que não precisa falar. Palavras são desnecessárias. Os olhares se entendem. Um abraço sela o acordo: estou aqui!
Alda M S Santos
O mês pode ser novo, nova estação a caminho…
Renovando as esperanças, criando expectativas
Mas a primavera é construída bem antes
Não surge de uma hora para a outra…
Para que possamos receber suas flores
Suas cores, perfume, brilho e beleza
Temos que tê-la cultivado desde o inverno
Aquele escuro e frio que nem todos apreciam
Mas de onde brotam as mais belas rosas
Os mais belos e fortes sentimentos…
Alda M S Santos