QUAL O TAMANHO?
Qual o tamanho de seu mundo?
O que cabe nele sem precisar forçar?
Dá para entrar o que é diferente
Um pouco de tudo, de toda gente
Passa o novo e o velho
O bonito ou o tido como feio
O religioso ou o ateu
O de direita ou o de esquerda
Homem, mulher ou o que lhe aprouver?
Se a porta de seu mundo está muito estreita
Talvez não esteja deixando sair um pouco de si
Para entrar um pouco do outro
E esse movimento é que nos permite crescer
Evoluir por aqui…
Alda M S Santos
SOU GUANHÃES
Tem mato, tem mata, tem bicho e carrapicho
Tem João-de-Barro e João-Graveto
Tem imensidão, paixão e solidão
Tem também o abraço forte de um irmão
Tem vovó na janela, tem um dedo de prosa
Tem carroça, tem gado, tem cultivo de rosa
Tem cabra valente, tem tarde preguiçosa
Tem moça perfumada e formosa
Tem fogão a lenha, tem quitanda
Tem cansaço e sesta na varanda
Tem bicho-de-pé, tem fruta no pé
Tem também café fresco e cafuné
Tem a igrejinha no pé da serra
Tem mansão e casa de sapê
Tem gente que acerta, gente que erra
Tem caboclo simples e de muita fé
Tem muita gente, família, muito parente
Gente amiga e confidente
Tem amor, tem amizade, tem saudade
Não importa em qual idade
Tem passado, tem futuro, tem modernidade
Sou Guanhães, sou Minas Gerais
Se você ainda não conhece
Não perca seu tempo mais
Aqui tem o que de melhor a vida oferece…
Alda M S Santos
MATA ADENTRO
Quanto mais para dentro da mata, mais queremos entrar
Mata adentro as trilhas diminuem
O caminho torna-se mais difícil
É preciso abrir espaços à foice
Mas o desejo de mergulhar no silêncio é grande
A pureza do ar quase sufoca, as árvores tornam-se mais grossas
A impressão de estar sendo vigiado aumenta
A sensação de invadir o desconhecido é animadora e aterradora
Nesgas de luz passam por entre os galhos e copa das árvores
Anjos e fantasmas se apresentam, a gente escolhe
A gente se abraça ou se enfrenta
O céu azul e branco continua lá em cima a insistir: prossiga!
Não se sabe o que buscar, apenas que é preciso seguir
Quando for chegado o que procura, saberá
E poderá descansar em paz!
Alda M S Santos
JANELA DE MADEIRA
Na rua, uma casa simples
Na casa simples, uma janela de madeira,
Debruçada na janela de madeira,
Uma pessoa a olhar a rua,
Onde passam muitas pessoas,
Quase todas queridas e aparentadas,
Que cumprimentam com um aceno, algumas palavras,
Muitas vezes, entram para tomar uma xícara de café recém-coado,
Comer uma bolacha ou uma quitanda.
E a vida transcorre simples, tranquila, feliz…
Até que alguém se vai…
E as saudades passam a apertar o peito de quem se foi,
E a entristecer os olhos de quem ficou,
A olhar pela janela de madeira…
Alda M S Santos
O QUE NOS HABITA
Um ambiente externo pacífico
Aquieta nossa mente, nosso coração
E nos possibilita extrair o que habita lá dentro
E compartilhar com o exterior.
Alda M S Santos
TÃO LONGE, TÃO DENTRO!
É preciso olhar ao longe, bem distante,
Quanto mais infinito houver ao alcance de nossas vistas
Mais para dentro conseguiremos enxergar.
Quanto mais silêncio ouvirmos no horizonte
Mais entenderemos os barulhos que vêm de nós.
Quanto mais claro o espaço lá fora,
Mais nítido ficará aqui dentro.
A emoção vive dentro, mas precisa do espaço lá de fora.
Tão longe, tão perto! Tão fora, tão dentro!
Alda M S Santos
SOLITUDE
Reclusão e introspecção voluntária, benéfica
Disso precisamos quase tanto quanto água
Silêncio acolhedor, analítico, questionador
A capacidade de ouvir nosso interior, rasgar-nos, ao menos para nós mesmos
Encontrar nossos lagos, sombras, luzes e oásis internos
Sem buscar tantas respostas nos outros, nas palavras alheias
Quase sempre elas se encontram no silêncio, nas atitudes
As palavras podem ser duras, cruéis, ofender, magoar, matar
É preciso ausência de ruídos, de barulhos
No silêncio de nós mesmos
Em nossa companhia mais íntima estarão as respostas.
Antes de sermos de qualquer um, somos de nós mesmos.
Alda M S Santos
MUDANDO O/OU PARA O INTERIOR?
Cada dia que passa as pessoas têm procurado mais a vida no campo. Uns querem apenas desfrutar de suas belezas e conforto, por um fim de semana ou férias. Outras, querem voltar às origens, retornar ao passado que ficou lá atrás e, após um tempo, volta com tudo, especialmente após os 40 anos. Há também aquelas que nunca tiveram experiência com a vida rural, e se encantam ao primeiro contato.
Outro dia, numa sala de espera de um consultório médico, dois senhores conversavam sobre isso. Um dizia que o médico tinha recomendado procurar uma vida mais calma para afastar o estresse. O outro sugeriu que comprasse um sítio, ao que ele respondeu que não se acostumaria àquele silêncio todo e à vida dura de trabalhos braçais.
Daí surgiu todo um relato da nova vida que passou a levar após um infarto. Passou a viver num sítio, cujos familiares se opuseram veementemente. Acharam que era mania de velho, visto que nunca tinha demonstrado interesses pela área rural. Acabaram por ceder, visando preservar a saúde do patriarca da família. Compraram um sítio não muito longe da cidade. Todos os dias, esposa e filhos dirigiam 50km para ir para o trabalho.
Reclamaram muito no início, mas se acostumaram. Sentiram falta das regalias da cidade no início: pizzarias, cinemas, celulares, internet, shoppings… Mas acabaram por se encantar pela pureza do ar, as cores dos jardins, o contato com a terra, a horta, as árvores frutíferas, os animais que passaram a criar, o rio.
A família ia e voltava todos os dias. Não acreditava que quisessem ficar lá para sempre. Quanto a ele, não abria mão daquela vida. Gostava de acordar cedo, ver o sol nascer, alimentar seus bichos e cuidar de suas plantas. Quem diria que teria forças para usar a enxada? Gostava das caminhadas nas trilhas de terra, de sentar-se à beira do rio, ouvir os pássaros, cochilar à tarde, ouvir música em seu mp3 velho… Sentia prazer nas mínimas coisas. Num bate-papo com os poucos vizinhos que encontrava quando ia ao pequeno comércio na região, nas leituras prediletas, no violão que gostava de tocar à noite… Voltou a escrever poemas, hábito da juventude, abandonado pelos atropelos da vida.
Só ia à cidade para realizar consultas periódicas com o cardiologista. Logo o médico o chamou. Despediu-se do amigo e foi recebido pelo médico com carinho. “Estou precisando ir para o campo também! Que saúde, vigor e alegria você demonstra”! O outro senhor atendeu ao celular, ficou vermelho e concluiu: “Preciso mesmo dar um novo rumo à minha vida”!
Saí de lá pensando no privilégio que é poder ter as duas opções: o campo e a cidade. Mas o fundamental é desacelerar, adquirir hábitos mais simples, menos consumismo, adquirir paz interior. O campo, com suas dificuldades geográficas e de consumo, pode aumentar os problemas se não mudarmos nosso interior “urbano” e estressado. Mudar nosso interior antes de nos mudarmos para o interior.
Alda M S Santos