NOSSOS DESERTOS
Quantas vezes queremos colher
Nos nossos sombrios desertos
Aquilo que não plantamos?
Ou recusamos a colheita que se apresenta
Frutos de nosso plantio inconsequente?
Nos céus escuros de nossa alma
É preciso acender as estrelas
Aquelas alimentadas com a energia dos afetos
Pois, somente o amor é capaz de irrigar qualquer plantação
Que se pretenda servir na mesa em que reine o coração…
Alda M S Santos
DESERTOS E SEUS OÁSIS
Imagine o que é ouvir de alguém
“Hoje sei que sou importante
Mas nem sempre foi assim
Já me achei doente, a problemática, descartável
Já me acharam um nada, uma qualquer
Já quis morrer, já quiseram que eu morresse…”
Se já é doloroso ouvir isso de um ser humano
Imagine para quem viveu, para quem compartilha, agora, tal sentimento
Imaginar-se passando por um deserto desses
Seco, sem trilhas, sem vida, irrigado apenas por lágrimas
Despertadas pelas tempestades de areia quente que enfrentou
Onde os possíveis acompanhantes eram “inimigos”
Imagine, então, o que seria causar esse deserto em alguém
Ou, pior, ter retirado os oásis que ela poderia recorrer pelo caminho
Para irrigar os lagos secos dentro de si e renovar a vida?
Qual nossa responsabilidade de ouvinte?
Ser, senão a água ou o camelo que a retira de lá
Tentar ser, pelo menos, os arbustos do caminho
Onde possa se abrigar do sol quente e descansar sob seus galhos
Ser a fonte de energia que ela precisa para prosseguir
Ser apenas outro ser humano que entende de desertos, de oásis
Mostrando que, devagar, um passo de cada vez
É possível sair de lá e, mais que sobreviver
Querer viver!
Alda M S Santos