DE QUE ADIANTA?
De que adianta uma linda voz
Se quando é preciso, ela se cala?
De que adianta um belo sorriso, se apenas se abre para alguns,
E tantos necessitados são excluídos?
De que adianta tamanha inteligência,
Se não sabe agir ao sabor da emoção?
De que adianta tanta beleza, se não é possível mergulhar mais fundo,
Sob pena de “bater a cabeça” em rasa profundidade?
De que adianta tanta “cultura”,
Se as palavras mais doces não fazem parte de seu vocabulário?
De que adianta braços fortes e ombros largos,
Se não servem de abrigo ou de colo a quem precisa?
De que adianta o amor preso dentro de si,
Se ele é uma flor que precisa do sol
Que existe no outro,
Para crescer, se abrir e encantar?
De que adianta?
Alda M S Santos
MARSUPIAIS
Outro dia, minha cadela matou uma gambá. Ela é uma vira-latas metida a caçadora. E muito linda!
Quando fui recolher o corpo da pobre gambá, vi que vários gambazinhos pelados entravam e saíam daquele corpo enrijecido.
Buscavam ali o que precisavam para continuar se desenvolvendo e vivendo: o conforto do marsúpio.
Nós somos, de certa forma, mamíferos marsupiais.
A diferença é que nosso marsúpio nem sempre é aquela bolsa grudada ao corpo de nossa mãe.
Porém, não saímos prontos da placenta para a vida.
Vira e mexe buscamos o conforto de nossa mãe, pais e familiares.
Não o desenvolvimento físico, mas emocional.
E, ao longo da vida, adquirimos outros marsúpios: nos amigos, nos amores, nos filhos…
As crianças procuram sem receio. Por isso são mais felizes.
Nós, adultos, maduros, fortes, independentes, sabemos nos virar sozinhos.
Ou tentamos nos convencer disso.
Mesmo que tudo que a gente queira é um “marsúpio” quentinho para nos escondermos lá dentro, sem tempo determinado, encolhidinhos, deixando nada pra fora.
E só sair quando estivermos com carga total na bateria, em pleno desenvolvimento.
Sou marsúpio para muitos!
Eu sei bem quais são meus marsúpios.
Tento buscá-los sempre.
Alda M S Santos