NÃO IMPORTA!
Não importa se o sotaque é sulista ou nortista
Mineiro, baiano, carioca, gaúcho ou paulista
Se a pele é branca ou é negra
Se o trabalho é rural ou urbano
Se é de direita ou esquerda
Se ora a Maria de Nazaré ou ao candomblé
Se o bolso está cheio de dinheiro
Ou quase vazio de esperança
O que nos unifica é nossa humanidade
A ajuda deve chegar a todos!
A bondade de um coração não pode ser excludente!
Alda M S Santos
COMO POSSO AJUDAR?
Não se trata de merecimento
Não nos cabe julgar nada nem ninguém
Na maioria das vezes, trata-se de necessidade
Quem menos pareceria merecer algo
É quem mais precisa de amor e cuidado
Não nos cabe excluir A ou B
Não somos medida do pecado do outro
Tampouco a balança das virtudes
Nossa régua sequer consegue medir a nós mesmos
Amar a todos, ser misericordioso, compassivo
Foi assim que Ele nos ensinou
Cada qual tem sua história, suas dores
A pergunta é: como posso ajudar?
Alda M S Santos
ESPERANÇAR
Gosto de poder um substantivo verbalizar
Transformar em ação o que é abstrato
Particularmente, gosto de esperançar
Firmar comigo mesma um novo trato
Esperançar é se alimentar de sonhos
É lutar contra a tristeza, o que parece medonho
Esperançar não é sinônimo de esperar
Esperar é aguardar, esperançar é ir atrás, é buscar
É tão bom ser amor, poder amar
Mas melhor ainda é poder esperançar
Acreditar que se abastece essa chama
Quando uma alma por outra clama
Esperançamos melhor com parceria
Quando partilhamos entre nós a energia
Esperançar é abrir caminhos, não desistir
Acender nova luz, multiplicar, dividir e seguir…
Alda M S Santos
#setembroamarelo
ARARAS URBANAS
Variadas peças, cores e tamanhos
Expostas numa grande arara urbana
Feita das grades sobre muros no centro da cidade
O cliente chega, pega, olha, até experimenta
Não há atendentes, não há provadores
Há alguns expectadores
Algumas peças seminovas
Outras um pouco surradas
Menos surradas que os clientes que por elas procuram
Não há marcas, sequer se preocupam com isso
O que precisam é que sirva
Não há sacolas, não embalam
Vestem umas sobre as outras
Não estocam nada, não guardam nada também
A marca que vejo ali é só uma: compaixão
Aliada à solidariedade e amor
Não há caixa, não há preços
Um cartaz diz apenas: DOAÇÃO
O cliente pega o que lhe serve
E vai embora…
Mas não vai para sua casa
Fica por ali mesmo, nesse espaço que tem sido seu lar…
Quando precisa de algo “novo”
Recorre novamente às araras urbanas
Você tem algo para doar
Para essas araras alimentar?
Alda M S Santos
CERTEIROS PARA AJUDAR
Tantas vezes não somos tão bons assim
Tão rápidos em julgar
Tão lentos em ajudar
Tão velozes em diagnosticar doenças
Tão inertes quando é para promover a cura
Tão “Cristãos” ao identificar pecadores
Tão pagãos ao lhes virar as costas
Tão “certeiros” ao apontar o dedo
Mas erramos o alvo quando é para dar as mãos
Somos falhos no momento crucial
Aquele em que o outro mais precisa
Ver falhas, erros, defeitos, pecados do outro
Qualquer um de nós pode
Essa é a parte fácil
Criticar o que o outro faz, idem
Mas estar ali para somar
Ser mais um para diminuir as desigualdades
Poucos são capazes e nisso investem
Essa é a parte em que todos encontram desculpas
E alguém para responsabilizar …
Só teremos o mundo que queremos
Quando mudarmos em nós aquilo que queremos do outro…
Sejamos mais luz, mais irmãos, mais compaixão
Um pouco de cada um pode fazer a diferença no todo
Sejamos certeiros ao ajudar
Sejamos paz!
Alda M S Santos
NOSSOS COPOS
“Você pensa no quanto os outros podem te ajudar, mas não no quanto eles podem se prejudicar fazendo isso”.
Essa era a discussão entre dois jovens.
Quantas vezes para manter nosso copo cheio
Esvaziamos os copos dos outros?
Quantas vezes para manter os copos dos outros cheios
Esvaziamos nossos próprios copos?
Quem gosta de sempre receber quase nunca se satisfaz
Sempre irá contar com o abastecimento que vem de fora
Quem gosta de sempre doar sempre irá fazê-lo, mesmo desfalcado
Vivemos num constante encher e esvaziar, ora mais, ora menos
Uma relação saudável é aquela em que ambos os copos se autoabastecem
E não esvaziam o copo de ninguém!
Alda M S Santos
SOCORRO
“Socorro! Help-me!”
Quantos pedidos de socorro ouvimos, atendemos
Quantos ignoramos, não entendemos?
Nem sempre tão traduzidos assim em palavras
Uns muito óbvios, gritados, implorados, verbalizados claramente,
Telefonemas, mensagens, bilhetes, lágrimas
Outros calados nos lábios, gritados nos olhos, nas ausências, no silêncio, nos vícios
Nas mudanças de comportamento, na depressão…
E notamos apenas em retrospectiva, quando algo grave ocorre
Como uma tempestade que dá muitos sinais antes do aguaceiro desabar e inundar tudo
Nuvens negras, raios, trovões, vendavais
E corremos a procurar abrigo…
Sabemos dos estragos de outros tsunamis!
Tempestades internas se formam perto de nós
Dentro daqueles que amamos, dentro de nós
E não somos tão astutos para fechar as janelas, recolher as roupas, desviar, fugir, nos preparar
Muitas vezes, sem perceber, nos expomos, deixamos que se exponham a elas
Não nos atentamos para os pedidos de socorro, os alertas do tempo…
A meteorologia pode ser uma boa aliada se quisermos salvar vidas!
Alda M S Santos
Foto: Everaldo Alvarenga
OS GRANDES BENEFICIADOS
Receber um certificado é sempre bom
Ter o trabalho social e voluntário reconhecido é prazeroso
Além de estimular outras pessoas a fazerem o mesmo
Mas, o maravilhoso, o que não tem preço,
É o que nosso coração sente
Ao ouvir um idoso dizer: “que bom que vocês vieram”,
“Vocês alegram a nossa vida”,
“Quando vocês voltam?”
Ou uma pessoa num corredor de hospital
Ao receber um “Abraço Grátis” dizer em prantos, às vezes:
“Eu precisava tanto desse abraço”!
A verdade é só uma, ajudamos, sim,
Mas os maiores beneficiados somos,
Sem sombra de dúvida, nós mesmos!
Alda M S Santos
#carinhologos
IMPOTÊNCIA
Não existe sensação pior que a da impotência
A incapacidade de realizar algo que se quer
Por quem se ama, por si mesmo.
Saber do sofrimento, da necessidade premente
Do grito contido, calado, sofrido
No silêncio audível, no sorriso disfarçado
Na distância forçada, na solidão,
Nas lágrimas escondidas…
Saber que tudo que somos de nada vale
Que os caminhos trilhados nem sempre ajudam
Que não conseguimos tirar a dor com a mão, como gostaríamos
E que, certas coisas, somente o tempo pode curar
Ou anestesiar, ou fazer adormecer…
Alda M S Santos
POR QUÊ?
Por que conseguimos ajudar a tanta gente
E não conseguimos ser tão úteis aos mais próximos de nós?
Por que conseguimos estender uma mão que é acolhida por tantos
E aqueles que mais amamos a ignoram ou não veem nela o conforto?
Por que o abraço do “desconhecido” aquece mais?
Por que as palavras mais sábias vêm de fora?
Santo de casa não faz milagre?
Será que veem em nós a obrigação de amar e acolher?
Por quê?
Será que somos vistos com nossas falhas e incapacidades
Aquele lado por demais humano, normal, corriqueiro
E não pelas nossas qualidades e capacidade de acolhimento?
Por que será que é tão mais simples ajudar os outros, aconselhar
Que conseguir ajudar, inclusive, a nós mesmos?
Por quê?
Alda M S Santos
SE EU NASCESSE DE NOVO
Se eu nascesse de novo, o que gostaria que fosse diferente?
Talvez não ter nascido no Brasil, terceiro mundo, corrupção…
Ter a beleza da Penélope Cruz, a fama da Júlia Roberts?
Ser a amada do Antônio Banderas ou casada com Denzel Washington?
Ser dona da fortuna do Bill Gates?
Loucuras à parte, conformo-me com meu tipo físico, minha “pobreza”,
Meu país, meu anonimato, minha profissão, minha família, minha vida…
Mas eu bem que poderia nascer com desejo menor de me envolver nas coisas alheias!
Se fosse difícil, que eu pudesse mesmo ter a capacidade de ajudá-las, não atrapalhar a elas ou a mim mesma.
Na impossibilidade, que eu ao menos não me importasse ou me frustrasse tanto.
Ou, ao contrário, que me importasse tanto, tanto para me tornar uma Madre Teresa de Calcutá!
Já que nada disso é possível, um pouquinho de (in)sanidade agora não me faria mal.
Alda M S Santos
APENAS UMA CARONA
Uma ida à cidadezinha, sol a pino. Calor de derreter os miolos, um senhor subindo a pé.
Observo. Estranho. Mais velho, dificuldade no andar.
Paro: “quer uma carona?”
Ele entra: “Que bênção! Estou com um cravo no pé me matando.”
Conta uns casos, fala de seu sitiozinho, seus bichos, do tempo… Simpatia interiorana.
Andamos uns 2 km e ele desce, muito agradecido.
Pus-me a pensar. Se fosse na cidade, eu teria dado carona para um homem estranho?
O que tem esse lugar que nos faz confiar nas pessoas?
Ou o que tem nas cidades grandes que nos faz desconfiar? Nos impede de ser solidários?
Temos tanto medo de assédios de todo tipo, físicos, morais, financeiros, sexuais, que pensamos milhares de vezes antes de oferecer uma mínima ajuda. Pode ser algum maníaco com uma tara qualquer…
E assim, vamos nos afastando das pessoas, nos distanciando de nossa humanidade.
Vamos perdendo a capacidade de nos condoer com o sofrimento alheio, de atender às mínimas necessidades dos outros.
O que será que Deus vê em nós quando nos afastamos de um semelhante, desconfiados?
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” vale só para as cidadezinhas do interior?
Estamos nos perdendo da essência humana. Triste constatação!
Alda M S Santos