E O AMOR?

Crise de ciúmes, um dedo apontado, uma voz alterada, um susto

Aí vem um pedido de desculpas, um beijo, um “tudo bem”

E o amor?

Um descaso qualquer, uma indiferença, um grito, uma grosseria

Lágrimas, decepção, perdão

E o amor?

Um empurrão, uma ordem, uma cobrança, um tapa

Um abraço, “surtei, eu te amo, não vai mais se repetir”

E o amor?

Um tanto faz, “não vivo sem você”, uma surra

Uma ameaça, “se não for minha não será de mais ninguém”

Falta coragem, sobra vergonha, tristeza, solidão

E o amor?

Boletim de ocorrência, caso de polícia, medida de proteção

E o amor?

Morreu de inanição, de sede, por falta de alimento, de cuidado

Estrangulado pelos gritos presos na garganta

Sufocado pelas mágoas e decepções

Amor não morre de morte natural

Amor morre assassinado, morte lenta e dolorosa

Subjugado pelo sentimento de posse, de propriedade

Fica em tratamento intensivo muito tempo

E acaba entrando em falência múltipla

Falta ar, falta oxigênio, falta liberdade de ser

Falta prazer de viver…

A morte do amor não precisa ser a morte do indivíduo

Feminicídio é crime, a mais pura covardia e crueldade

É a prova de que se houve amor

Foi um amor doente desde o princípio

Se não faz bem não é amor…

Salve-se, salve uma vida, denuncie qualquer agressão

Se puder ajudar, estenda a sua mão…

Alda M S Santos

#feminicidio