INFILTRAÇÕES
Trincas nas paredes, rachaduras nas calçadas
Buracos no asfalto, aberturas nos canteiros
Fendas nos quintais, fissuras nos jardins
Permitem a entrada gradativa de água
Possibilitam infiltrações e o lento, nocivo
E quase imperceptível ceder do terreno
Abalam as estruturas, derrubam edifícios
Jogam ao chão monumentos, grandes construções
Como as rachaduras em nossa emoção
Aquelas pequeninas, que quase ninguém vê
Uma decepção aqui, uma indiferença ali, um descaso acolá
Frestas que nem nós notamos
Vão deixando entrar elementos perigosos
Que abalam nossas estruturas
Derretem a liga que nos sustenta
Urge tapar essas gretas: na rua, nos quintais, nos lares, em nós
Deixar apenas a abertura suave das persianas e dos sorrisos
Por onde entra ou sai a luz do sol e do amor
Que nos aquece, nos mantém inteiros, de pé
E de braços abertos para a vida!
Alda M S Santos
RACHADURAS
Somos feitos de gretas, falhas, rachaduras, frestas
Pelas gretas é que entram os amores, desavisadamente
Num momento de distração ou fragilidade, tomam posse
E são a liga que une o que há de melhor em nós ao outro
Mantendo-nos estáveis, mesmo sob constantes balanços
Pelas rachaduras é que saem as decepções, amarguradamente
Quando estão nos sufocando buscam ar, aos goles, aos borbotões
E deixam extravasar os excessos, permitindo novo respirar, sobrevivência
Pelas frestas podemos antecipar maremotos e nos preparar
Essas falhas em nossa rocha permitem a água passar sem grandes danos
Tapar nossas gretas e rachaduras não é muito sábio
Uma estrutura sem gretas, sem rachaduras, sem frestas, sem “falhas”
Que permitam que nosso prédio interno se ajeite, se estabilize, se reorganize, dilate
Nos balanços das grandes tempestades
Pode ruir, implodir, explodir, desmoronar…
Alda M S Santos