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Apenas um pouquinho de afeto

APENAS UM POUQUINHO DE AFETO
Repetidas vezes pergunta meu nome completo. Eu respondo. E recita o seu.
Sento-me ao seu lado, seguro suas mãos, faço carinho.
E completa: “Nascida a 22 de março de 1922. Tenho 90 e muitos anos.”
“Você sabe quem descobriu o Brasil? Pedro Álvares Cabral em 22 de abril de 1500.”
“Tem que decorar, senão a professora briga e a mãe bate.”
“Cadê o banheiro? Não posso fazer xixi na calçola. Você me leva?”
“Que dia é hoje? Ah! Amanhã é domingo, dia de Jesus! Gosto de Jesus, nascido em Belém da Judéia, crescido e criado em Nazaré, por isso era chamado de Jesus Nazareno.”
“Aprendi na escola dominical. Ah, domingo é quando meus filhos vêm me ver.”
“Faz muito tempo que não aparecem. Que dia é hoje? A gente não pode obrigar, né?”
“Você é baiana? Chapéu de Maria Bonita. Parece baiana. Eu sou baiana, mas me trouxeram para cá. Mãos macias, eu gosto das suas mãos.”
“Meu marido voltou para lá. Será que levou meus filhos embora também?”
“Você tem mãe? Eu tinha! E tem filhos? Traz seus filhos aqui.”
“Vamos cantar música de louvor? Eu gosto, senão fico brava.”
E ela fala sem parar com poucas interferências minhas, exceto o carinho.
Cantamos Maria de Nazaré. Voz forte. Diz que cantou no coral da igreja. Sabe a música de cabo a rabo.
Levanto-me, sento ao lado de um senhor e começo a conversar com ele.
“Senta aqui! Você estava aqui! Fica perto de mim.”
Ao que ele responde: “Baiana, ela agora é minha, tem que dividir!”
Ela se cala e fica emburrada. Jogo beijos. Faz beicinho.
Deixo uma mão com ele, levanto, vou lá e a aperto.
São crianças brigando por um pouquinho de afeto.
Apenas um pouquinho de amor…
Alda M S Santos

Resisto

RESISTO

Está me olhando, espiando, sempre,

Insistentemente!

Às vezes de longe, outras, bem de pertinho.

Quer me tocar, me levar

Digo “não, não quero”,

Resisto…

Tenta outros artifícios, quer conquistar, convencer, seduzir…

Faz sua auto-promoção.

Cansada, quase cedo, quase me entrego, 

Porém, resisto…

Mas temo, não sou tão forte assim, 

Retribuo o sorriso: “não, obrigada”!

Mais uma vez, resisto.

Acompanha-me em meu dia-a-dia, 

Olho pro lado e lá está!

Quando passeio, me divirto, me alimento,

Quando vou pra caminhada, pra academia ou pra Yoga,

Quando deito ou me levanto, 

Resisto…

Quis ir até pro banho!

Mas hoje dei um basta! 

“Chega, não vou com você”! 

Afinal, estou muito jovem e animada ainda 

Para acompanhar aquela que se apresenta como “melhor idade”. 

Melhor idade o caramba! 

Cheia de limitações, isso sim!

Irritada, mando-a catar coquinhos, 

“Se sua coluna deixar”! 

“Volte mais tarde, bem mais tarde, daqui uns 20 anos, talvez”!

“Nada pessoal, chegará sua hora”!

Temos que resistir, ser firmes.

Ou, possessivos, grudam-se em nós e não querem mais largar.

Enquanto puder,

Resistirei…

Para quando tiver que acompanhá-la, ir sem reclamar,

Sem deixar dívidas ou coisas mal resolvidas…

Melhor idade somos nós que fazemos! 

Quando nos aceitamos, damos nosso melhor,

Com qualquer idade!

Alda M S Santos

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