A FOME
Que sabemos da fome
Aquela que leva alguém
A subtrair algo de outro alguém
Qualquer coisa que sacie o apetite voraz
Que preencha o vazio contumaz
E que já faz qualquer coisa, tanto faz?
Que sabemos dessa fome?
Um almoço, baião de dois, peixe assado
Salada, farofa, prato enfeitado
Ela passa, vende bijuterias, meia idade
Digo: não, obrigada, sorrio, ela sem qualquer vaidade
Vejo que seus olhos estavam na refeição
Volta, pergunta sem qualquer senão
Vocês não comem a cabeça, não?
Podem me dar quando acabar, então?
A ela entregamos boa parte da comida
Senta-se atrás da gente e come, esquece a partida
Ficamos a observar a mulher desnutrida
Que, satisfeita, enchia sua barriga
Olhava pra gente, sorria, agradecida
Não causei essa fome, não tirei nada de ninguém
Não sou governante, mas sou humana
Enquanto houver outro humano com fome
Sou responsável!
Que conhecemos dessa fome?
Alda M S Santos