PASSAPORTE
Nossa evolução enquanto seres humanos
Começa quando nosso olhar enxerga o outro
A luz que buscamos em nós
Tem um interruptor no coração do outro
A felicidade tem vielas estreitas
Que são transitadas em prol de alguém
Nosso passaporte para um mundo melhor
É carimbado em cada diária no bem…
Que Ele nos encontre trabalhando…
Alda M S Santos
AO APAGAR DAS LUZES
Meu tempo por aqui já está se esgotando
Já vejo as luzes se apagando
Misto de alegria e dor no peito
Alegria pelo tempo concedido
Tristeza por algum mal feito
Quisera poder voltar lá atrás
Com a sabedoria de hoje
Mas com nova energia, novo gás
Poder editar ou reescrever
Apagar ou dar nova cor
Pintar com outros matizes e amor
Esse jardim que foi exposto ao tempo
Tantas intempéries e contratempos
Que fizeram dele uma obra de arte
Abstrata, clara, real, antiga ou contemporânea
Um olhar atento conseguirá identificar
Cada pontinho de lágrima ou dor
Cada momento de colo, ombro ou cobertor
Ah, minhas luzes estão quase se esvanecendo
Talvez eu já não volte amanhã
Mas meus registros e marcas nesse espaço
São uma história, minha trajetória
Entrelaçada a tantas outras histórias
Tantos novos capítulos ou temporadas
Fazendo dessa viagem uma grande maratona
Daquelas que cada um segue no seu ritmo
Da largada até o destino final: a chegada
Cheguei chorando por aqui
Espero voltar sorrindo
Sou grata por todo esse tempo.
A gente se vê numa nova viagem!
Até breve!
Alda M S Santos
VOU INSISTIR
Vou insistir na vida, não posso desistir
Foi-me dada, não sei se fui eu que pedi
Na dúvida, sei que preciso seguir
Até onde, sei não, ainda irei descobrir
Vou insistir, pode haver luz e escuridão
Mas posso pedir e estender a mão
Quando doer vou chorar, vou desabafar
Vou encontrar um colo para me aconchegar
Vou insistir e, se possível, ao cair vou sorrir
Da situação, do outro, de mim, deixar fluir
Mesmo que pareça que estou só
Se tiver a mim mesma desfaço qualquer nó
Não vou desistir, não quero essa opção
E não basta só sobreviver, quero amor, emoção
E quando tudo parecer que chegou ao fim
Ter a ousadia de dizer que “valeu” para mim
Alda M S Santos
QUANTOS DEGRAUS?
Quantos degraus até o céu?
A escada é sinuosa, rolante, escorregadia, antiderrapante?
Quem pode subir, há restrições, limites de entrada?
Podemos levar alguém, sermos levados por alguém?
E se nos cansarmos no caminho, tropeçarmos, cairmos?
Podemos voltar a subir ou perdemos a vez?
Os últimos serão os primeiros?
Quantos degraus até o céu?
A entrada é franca? Paga-se com quê?
Qual a “moeda” de troca?
Muitas perguntas… Sei lá!
Enquanto isso vou fazendo do agora o meu céu
Tal qual crianças a brincar, a pular amarelinha
Continuo subindo até o céu…
Alda M S Santos
UM BOM DIA PARA MORRER
Qual seria um bom dia para morrer?
Parece óbvio, nenhum, visto que ninguém quer morrer.
Mas, sabendo que é a única certeza da vida, não seria “justo” que pudéssemos escolher?
Tanta gente vai embora depois de muita luta, doenças e sofrimentos. Quase até podem imaginar o momento da partida.
Outras são subtraídas da vida no auge dela, em plena alegria e vigor, independente da idade.
Quando criança ouvia e me impressionava muito sobre o quase fim do mundo com o dilúvio, e profecias sobre o próximo fim ser com fogo. Tinha muito medo! Falava que queria morrer dormindo e logo me arrependia pois, se Jesus, sendo perfeito, tinha morrido sob tortura, quem era eu para desejar moleza?
Mas qual seria o melhor momento?
Depois de adquiridos todos os bens? Ter viajado muito? Gargalhado até a barriga doer? Trabalhado incansavelmente? Feito incontáveis amigos? Filhos independentes e criados? Ajudado aos mais necessitados? Vivido plenamente o amor que sentiu, que se apresentou?
Seria melhor ir em plena saúde e energia, ou depois de ter corpo e mente definhados?
Logo após uma grande alegria e conquista, ou num momento de perda e dor?
Quando estamos no auge da alegria, amor, prazer, sequer pensamos nela. Tudo é vida! Pareceria injusto sair no melhor da festa!
Quando sofremos por qualquer mal, nos entristecemos, não temos perspectivas, estamos doentes, pensamos nela com mais frequência. Não parece injusta ou assustadora. Até a encararíamos como uma amiga bem vinda!
Sem fatalismos ou mau agouro, se ela chegasse hoje, o que pensaríamos? O que “diríamos” em nossa defesa? Ou a seguiríamos tranquilos?
Verdade é que, salvo exceções, não estamos preparados para ela.
Apesar de ninguém querer ficar entrevado numa cama, dependente dos outros, sempre pensaremos que ainda nos falta muito a viver.
Fomos criados para defender a vida em qualquer circunstância, com ou sem sofrimentos, com 8, 18, 50 ou 80 anos!
Ainda que em vários momentos tenhamos vontade de jogar a toalha, dizer que cansamos dessa brincadeira, que não está tão divertido assim, que queremos voltar pra casa…
Olhando por esse ângulo não é injusto não termos poder de escolha! Não saberíamos fazê-lo.
Sendo assim, seja qual for o momento que estivermos vivendo, melhor fazê-lo da melhor maneira possível. Se bom ou produtivo, intensamente, se triste ou ruim, fazendo nossa parte e torcendo para passar logo, pois, mesmo que não pareça, sempre passa.
Ideal seria que vivêssemos de tal modo a não temê-la, sequer lamentá-la!
Ir, ou deixar ir, permitir que a luz se apague, de bom grado e com a certeza de ter feito o melhor que pudemos.
Um bom dia para morrer? Qualquer um! Só Ele sabe!
Alda M S Santos