LOUCOS E SÃOS
Saiu do ensaio e subiu a rua de volta para casa
Um carro escuro a seguiu, ela correu, gritou
Mas a voz não saía, os pés não se moviam
O carro parou e duas mãos fortes a jogaram lá dentro
Uma sensação de reviver aquele pesadelo passado retornou
Olhou para aquele rosto (des)conhecido que a ameaçava com o olhar
De onde o conhecia, mesmo?-ela refletia.
“Que vai fazer comigo?”- perguntou estranhamente calma, lágrimas rolando
“Não vou te matar, apenas fazer você ser esquecida, sair do meu caminho”
“Mas quem vai para o Hospital de Barbacena não volta”- parecia adivinhar o que ele queria
Ele expressou aquele sorriso malvado
“Isso mesmo, “anjinha”, você não atrapalhará mais a minha vida”
Uma camisa de força parecia frouxa
Mas o aperto vinha de dentro, sufocava
Viu uma foto no painel do carro, dois jovens sorridentes
Sabia que os conhecia, onde estariam?
Será que enlouquecera mesmo?
Estava toda encharcada de suor e lágrimas que escorriam e nem sentia
O carro parou na entrada de um presídio que era “Barbacena”
Foi retirada do carro, levada para dentro, lugar gelado e sombrio
Aquele lugar ela sabia ter visitado antes numa ilha, os doentes ficavam ali de quarentena quando chegavam de Portugal
Ali a receberam com carinho excessivo, estranhou, parecia falso
Nas paredes, leu algo que soou como piada “Deus é Fiel, Jesus Vive”
“Sim”, ela pensou, “certamente vive, mas não nesse lugar”…
Olhou para fora, o carro daquele (des)conhecido que amara fora embora
Uma nova vida “começava”, o peito apertava muito, doía, o ar faltou
Desmaiou…
Alda M S Santos
Ruínas do presídio de Lazareto Ilha Grande(fotos)
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