NOSSO PRÓPRIO PARTO
Quando o espaço já está pequeno,
E já não nos cabe mais
É preciso renascer…
Retirar as camadas que nos envolvem
E, aparentemente, nos protegem
E dar a luz a nós mesmos.
Alda M S Santos
NOSSO PRÓPRIO PARTO
Quando o espaço já está pequeno,
E já não nos cabe mais
É preciso renascer…
Retirar as camadas que nos envolvem
E, aparentemente, nos protegem
E dar a luz a nós mesmos.
Alda M S Santos
QUERO FICAR AQUI!
Ah, quero ficar aqui.
Coração angustiado, cabeça pesada, corpo dolorido, vontade de hibernar como um urso. Tempo indeterminado.
É preciso que o desejo de nos “levantarmos” apareça primeiro no coração, na mente, para que o corpo obedeça.
Vontade de ficar aqui!
Por quê? Sei lá!
Ignoro o -“Vamos, um lindo dia te aguarda lá fora!”- que ouço de uma vozinha interior.
Quero o direito de me entristecer, de chorar, de me lamentar, de gritar, de ter dúvidas, de ser preguiçosa, se for o caso.
Quem disse que precisamos ser fortes todo o tempo?
Quero virar para o canto, enfiar-me embaixo do edredom, voltar-me para mim mesma.
Tantas vezes precisamos dessa limpeza! Que seja à base de orações, reflexões, lágrimas ou cama!
Que o trabalho espere! Que o mundo espere!
Eu sem mim mesma não sou nada para ninguém!
Até breve!
Alda M S Santos
MUDANDO O/OU PARA O INTERIOR?
Cada dia que passa as pessoas têm procurado mais a vida no campo. Uns querem apenas desfrutar de suas belezas e conforto, por um fim de semana ou férias. Outras, querem voltar às origens, retornar ao passado que ficou lá atrás e, após um tempo, volta com tudo, especialmente após os 40 anos. Há também aquelas que nunca tiveram experiência com a vida rural, e se encantam ao primeiro contato.
Outro dia, numa sala de espera de um consultório médico, dois senhores conversavam sobre isso. Um dizia que o médico tinha recomendado procurar uma vida mais calma para afastar o estresse. O outro sugeriu que comprasse um sítio, ao que ele respondeu que não se acostumaria àquele silêncio todo e à vida dura de trabalhos braçais.
Daí surgiu todo um relato da nova vida que passou a levar após um infarto. Passou a viver num sítio, cujos familiares se opuseram veementemente. Acharam que era mania de velho, visto que nunca tinha demonstrado interesses pela área rural. Acabaram por ceder, visando preservar a saúde do patriarca da família. Compraram um sítio não muito longe da cidade. Todos os dias, esposa e filhos dirigiam 50km para ir para o trabalho.
Reclamaram muito no início, mas se acostumaram. Sentiram falta das regalias da cidade no início: pizzarias, cinemas, celulares, internet, shoppings… Mas acabaram por se encantar pela pureza do ar, as cores dos jardins, o contato com a terra, a horta, as árvores frutíferas, os animais que passaram a criar, o rio.
A família ia e voltava todos os dias. Não acreditava que quisessem ficar lá para sempre. Quanto a ele, não abria mão daquela vida. Gostava de acordar cedo, ver o sol nascer, alimentar seus bichos e cuidar de suas plantas. Quem diria que teria forças para usar a enxada? Gostava das caminhadas nas trilhas de terra, de sentar-se à beira do rio, ouvir os pássaros, cochilar à tarde, ouvir música em seu mp3 velho… Sentia prazer nas mínimas coisas. Num bate-papo com os poucos vizinhos que encontrava quando ia ao pequeno comércio na região, nas leituras prediletas, no violão que gostava de tocar à noite… Voltou a escrever poemas, hábito da juventude, abandonado pelos atropelos da vida.
Só ia à cidade para realizar consultas periódicas com o cardiologista. Logo o médico o chamou. Despediu-se do amigo e foi recebido pelo médico com carinho. “Estou precisando ir para o campo também! Que saúde, vigor e alegria você demonstra”! O outro senhor atendeu ao celular, ficou vermelho e concluiu: “Preciso mesmo dar um novo rumo à minha vida”!
Saí de lá pensando no privilégio que é poder ter as duas opções: o campo e a cidade. Mas o fundamental é desacelerar, adquirir hábitos mais simples, menos consumismo, adquirir paz interior. O campo, com suas dificuldades geográficas e de consumo, pode aumentar os problemas se não mudarmos nosso interior “urbano” e estressado. Mudar nosso interior antes de nos mudarmos para o interior.
Alda M S Santos
Quando sou primavera
Sou flor, cheiro, cor
Beleza, harmonia…
Atraio, encanto,
Perfumo e embelezo.
Porém, não sou primavera todo o tempo
Venho de invernos frios, longos e solitários…
Quase destruída nos verões de muitos ventos e tempestades.
Abandonada e recolhida em mim mesma nos outonos em que perdi boa parte de mim…
Reconstruí, floresci, renasci….
Enfim, primavera!
Trago comigo arraigados
Meus verões, outonos e invernos…e com eles
Quem me acompanhou.
Com eles quero dividir
Minhas flores, minhas alegrias, meu perfume, minhas cores, meu encanto!
Sabiamente, me abasteço para o próximo outono.
Ele sempre vem!
Alda M S Santos