EU ESCOLHO O AMOR
Duas garotas se beijavam no meio da rua, sentadas no passeio, encostadas no muro, alheias ao que se passava à sua volta. Não passavam de 17 anos. Pareciam em completa sintonia.
Os comentários de dois homens que caminhavam a minha frente: “pouca vergonha”, “não há mais decência”, “falta de homem”, “uma surra daria jeito”, “mundo perdido”, entre coisas piores.
Observei as garotas. Sequer notavam quem passava por elas. Carinho imenso. Completavam-se, ao menos naquele momento. Imaginei as lutas interiores e exteriores para se exporem daquela maneira.
Mais à frente, vi os dois senhores saltarem sobre um mendigo maltrapilho, sujo, mal cheiroso, odor nauseabundo e de álcool.
Ali, diante de uma visão de exclusão, um ser humano marginalizado, maltratado, sem amor, não demonstraram revolta, sequer piedade.
Não deram um segundo olhar, a mínima atenção!
Que mundo é esse que critica o amor, apenas por não seguir o padrão, e não se indigna com a marginalização, a mendicância, a fome, a miséria, o alcoolismo?
Quais nossos valores, nossos parâmetros?
Quis me abaixar, levantá-lo, oferecer ajuda.
Porém, para uma mulher é complicado até ajudar. Somos frágeis física e moralmente nesses casos. Até ao ajudar podemos correr riscos e sermos mal interpretadas.
Ajudei como podia. Pedi a um amigo do AA que alertasse o grupo de abordagem a alcoólicos.
O amor das garotas choca pela força, por ser diferente, mas não me revolta.
A miséria e exclusão me revoltam. Não poder ajudar como gostaria me entristece!
Observar críticas e deboches de seres que se acham superiores, que julgam o amor, mas se omitem no desamor, me envergonha da raça humana.
Eu escolho o amor, seja de que tipo for.
Alda M S Santos