VIRA-LATAS
Somos mestiços, oriundos de várias raças
Uma mistura que nos torna SRD
Sem raça definida, carregamos características de vários povos
Ora somos fortes, resistentes e adaptáveis
Pés-duros, confiáveis, amigos
Ora somos frágeis e de baixa autoestima
Acusados de tudo fazer, de virar latas por um pedaço de pão
De nos rebaixarmos para receber um carinho na cabeça
Dependentes da aprovação daqueles que consideramos mais, superiores
Mas carregamos conosco as misturas de uma raça não definida, híbrida
E o que de bom ou ruim isso possa acarretar
Com toda a força, fidelidade, inteligência, confiabilidade e resistência
De quem tudo já enfrentou
E de quem não se entrega assim tão facilmente
Um vira-latas morre lutando, acreditando na vida
Nunca deixando de amar…
Alda M S Santos
TODO O TEMPO: SEMPRE QUE NOS APROUVER!
De vez em quando precisamos arrumar nossas gavetas internas
Para não ficarmos tão perdidos quando precisarmos encontrar algo especial numa emergência
Colocar numa gaveta de fácil acesso aquelas “peças” que usamos todo o tempo
Que nos fazem sorrir e ver a vida mais colorida e bonita
Separar para doação aquelas “peças” que já não nos servem mais, justas ou largas,
Ou porque nosso “corpo” mudou ou nosso gosto que não é mais o mesmo
Farão outros felizes como nos fizeram
Devolver ao verdadeiro dono algumas “peças” que nunca foram nossas
Usamos por empréstimo por um tempo e quase acreditamos que eram nossas
Jogar fora as “peças” velhas, cheiro de naftalina, como moletom disforme e surrado, que já esgotaram tempo de uso
E nos fazem pensar que também estamos rotos e surrados
Guardar numa gaveta secreta aquelas “peças” que são preciosas, pouco usadas
Melhor ainda, usar tudo de valioso que temos quando melhor nos aprouver
Todo o tempo, se possível!
Fazer da vida um eterno passo de dança, como diria Sabino,
Sempre há quem goste de dançar…
Sabe-se lá quando poderá aparecer um ladrão e levá-las de nós,
Ou sermos delas levados?
Não sou boa em arrumar gavetas, de qualquer tipo
Tenho dificuldade em me desfazer das “coisas”
Mas sempre aprendo algo quando vou arrumá-las
Tenho muito mais “coisas” valiosas do que pensava…
Alda M S Santos
VOCÊ NÃO SABE!
O frio que enfrentei nas noites longas, os curtos e finos cobertores que não aqueciam
Você não sabe…
As lágrimas que derramei, aquelas que engoli, quase sufoquei
Você não sabe!
Os sorrisos forçados, olhos úmidos, embaçados, disfarçando os medos
Você não sabe!
O cansaço que pesava as costas, arriava a fé, o desânimo fazendo desacreditar num futuro
Você não sabe!
A contraditória alegria e peso da responsabilidade em ser a “vida”, a motivação ou exemplo de alguém
Você não sabe!
A solidão que invade e a baixa autoestima tantas vezes assustadora
Você não sabe!
Os caminhos difíceis, secos, repletos de pedregulhos que machucaram meus pés
Você não sabe!
Aqueles que surgiram para dificultar minha caminhada, levantar dúvidas, desviar do caminho
Você não sabe!
Quantas vezes foi preciso desistir, reavaliar, recuar, redirecionar para não cair, não machucar ninguém
Você não sabe!
Quantas vezes foi necessário ser forte e buscar apoio nos ombros da fé
Você não sabe!
O que você sabe de mim é o que eu te deixo ver, que consigo mostrar
Assim somos todos! Não sou especial ou diferente!
O que sabemos de todos, o que eles sabem de nós
É apenas aquilo que foi filtrado nos pequenos furos da peneira da autoproteção
Ou por cuidado e proteção de terceiros
Não dá para saber…
Você não sabe! Eu não sei!
De nós mesmos, só nós sabemos…e Deus
Dos outros, só podemos imaginar…
Preferencialmente, sem julgar…
Alda M S Santos
VOO LEVE
Somos um ser de uma asa só voando por aí,
Voamos bem, voamos muito, ora baixo, ora alto…
Quando encontramos uma asa que nos pareia, tudo se encaixa.
Voamos bem, voamos alto, voamos leve, voamos felizes.
Mas se nos unimos a uma asa que não combina,
Melhor seria continuar voando bem, ora baixo, ora alto,
Mas com a própria asa…
Pior que voar sozinho é voar com asas que pesam,
Com asas que desequilibram, que geram turbulências.
O voo precisa ser leve, livre, solto e feliz,
Sozinho ou acompanhado.
Alda M S Santos
Foto Google imagens
JOIAS
Nunca fui muito fã de joias!
Claro, sou mulher, acho lindas!
Mas nunca fiz questão de ganhar uma joia,
De ter uma joia de pedras preciosas.
E não é porque sou boazinha, simplória ou melhor que ninguém!
Sempre preferi ter uma pessoa-joia para mim.
E ser uma joia para alguém!
Forte, resistente, bela e preciosa.
E isso não é qualquer um que se dispõe,
Ou que saiba fazê-lo.
Exige muito mais que ter dinheiro e ir à joalheria.
É pagamento para a vida toda!
Parcelado em dias e dias infinitos de carinho.
Pagamento que se faz com imenso prazer,
Ou não se faz…
Ambos sendo credores e devedores.
É assim que somos joias!
Alda M S Santos
Amar é…
Desafiar a lei da gravidade
É viver em constante suspensão
É tornar o sonho, realidade
Ignorando a força que vem do chão.
Alda M S Santos
E QUANDO TUDO PARECIA PERDIDO
E quando tudo parecia desabar
Surge aquela presença querida, que ilumina
Aquele sorriso entre lágrimas que diz:
“Tenho nada não, mas estou aqui”.
E quando tudo parecia escuro, frio
Surge aquele abraço amigo, apertado
Forte, que enlaça o corpo todo, que aquece a alma.
E quando tudo parecia perdido
Surgem amigos, que ouvem, que se solidarizam,
Que riem, que choram, que se calam,
Que, sobretudo, falam, e percebemos que Ele nos fala.
É quando tudo parece perdido que Ele mais nos aparece
E nos mostra uma constelação de estrelas e possibilidades
Aí percebemos tudo de maravilhoso que temos.
Alda M S Santos
Foto Everaldo Alvarenga
TÃO LONGE, TÃO DENTRO!
É preciso olhar ao longe, bem distante,
Quanto mais infinito houver ao alcance de nossas vistas
Mais para dentro conseguiremos enxergar.
Quanto mais silêncio ouvirmos no horizonte
Mais entenderemos os barulhos que vêm de nós.
Quanto mais claro o espaço lá fora,
Mais nítido ficará aqui dentro.
A emoção vive dentro, mas precisa do espaço lá de fora.
Tão longe, tão perto! Tão fora, tão dentro!
Alda M S Santos
QUANDO OLHO PRA VOCÊ
Quando olho pra você, enxergo a tristeza além do sorriso de capa de revista.
Quando olho para você, além dos passos trôpegos, caminhar vacilante, enxergo um objetivo, um destino.
Quando olho pra você, enxergo o que a alma diz em silêncio, não apenas o que a boca fala desenfreadamente.
Quando olho pra você, vejo além de um corpo com imperfeições, enxergo um coração que sabe amar.
Quando olho pra você, não vejo apenas um ser humano qualquer, procuro ver uma obra de Deus!
O que vês quando olhas para mim?
Sou apenas uma obra do Criador que busca melhorar a cada dia.
Simplesmente.
Alda M S Santos
DISQUE EMERGÊNCIA
Temos números de emergência para quase tudo: SAMU, Polícia Militar, Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Procon, Direitos Humanos, Delegacia da Mulher, Hospitais e tantos outros.
Mas e se a nossa emergência for mais íntima: uma alegria extrema, uma novidade deliciosa, uma dor profunda, uma saudade doída, um amor proibido, uma decepção tremenda ou uma simples vontade de dar um abraço? Qual número discamos? Quem atende nossas emergências cotidianas?
Quanto mais “códigos numéricos” tivermos a quem recorrer, melhor estaremos servidos.
São, os donos desses números, as preciosidades de nossas vidas. Nosso refúgio, nosso colo, nosso aconchego, nosso porto seguro.
A elas devemos nossa gratidão e amor incondicionais todo o tempo, principalmente àquela cujo código para a acionarmos é a oração: Deus.
Àqueles que atendem minhas emergências diárias, todo o meu carinho e amor.
Bom dia!
Alda M S Santos
ESPELHOS DA ALMA
Não existe nada mais cativante no ser humano que os olhos. Sem querer desfazer de um corpo bonito, um rosto de traços harmônicos, um coração bondoso, uma mente inteligente, uma alma elevada.
E não estou falando de sua anatomia, de sua beleza estética, formatos e cores. Refiro-me à sua capacidade expressiva. Não há olhos que mentem! Há olhos que tentam disfarçar, e isso já é expressivo.
Há olhares curiosos, alegres, que querem tudo perceber, sem se fixar. Deixam-nos à vontade. Há os distraídos, que observam aleatoriamente e se detêm apenas quando convém. São seletivos e nos pegam desprevenidos. Há ainda os atentos, sensíveis, que parecem invadir, tudo captam: pequenos detalhes, diferentes sentimentos, qualquer humor…
Se encontrarmos olhares atentos, fugir deles é impossível. Eles perceberão qualquer emoção que estiver ali. Não saberão a razão, mas reconhecerão a emoção, aquela disfarçada pelo sorriso ou forçada pelas lágrimas.
Notarão a ansiedade, a preocupação, a culpa, a tristeza, o medo, a decepção, a afobação… São olhos com uma camada de nebulosidade. Por vezes, úmidos.
Perceberão a alegria, a euforia, o prazer, a satisfação, a vitória. São olhos com brilho intenso, cores vivas, transparentes.
Captarão em alguns olhares a censura, a inveja, a raiva, a crítica, a cobrança, a avaliação, o julgamento. São olhares com ar de superioridade. Olham por cima.
Sentirão olhares carregados de desejo, admiração, atração, paixão. São olhos quentes, brilhantes, agitados, pidões.
Serão atraídos por olhares de compaixão, amor, carinho, solidariedade… São olhares doces, tranquilos, pacíficos.
Espelhos da alma, ou não, eles refletem o que se passa em nosso interior. Os dos homens costumam ser mais expressivos, talvez por serem mais focais. Os das mulheres costumam ser mais perceptivos, por serem mais periféricos. As crianças os têm claros, transparentes e cristalinos. É natural delas, não escolhem. São maravilhosos e cheios de expectativas. Os idosos já não querem mais esconder nada, seus olhos são quase tão expressivos quanto os das crianças. Por eles, deixam extravasar a emoção dos anos vividos. Sabem que não adianta esconder. Mergulhar nos olhos de um idoso é entender sua história: rica, bonita, carregada de alegrias, tristezas, frustraçōes e culpas. É como ler um livro.
E, entre crianças e idosos, estão os adultos que “aprenderam” a disfarçá-los. E vão vivendo acreditando enganar a todos sobre o que sentem. Até conseguem, muitas vezes, mas não os olhares atentos e sensíveis.
Mas o mais bonito e emocionante da vida é quando olhares perceptivos e expressivos se encontram em uma via dupla. Olhares atentos de ambos os lados se percebem, trocam sentimentos, energias, desejos, amor, carinho, amizade, paz, sonhos, esperança, tudo sem ser necessário trocar uma palavra sequer. Se olham, se entendem, se aproximam, se abraçam. Aqueles que dizemos que “o santo bateu”. Na verdade, os olhares bateram! As almas se encantaram.
Enfim, todos os olhares são lindos, em todos os olhares há uma poesia a ser lida, uma vida a ser descoberta. Olhar nos olhos não é para qualquer um. Olho no olho é para quem tem coragem!
Alda M S Santos