DIANTE DO ESPELHO
Diante do espelho eis a questão:
Quem é essa que me retribui o olhar?
Que olha além do brilho úmido, do tom castanho?
Dos cílios negros, do piscar intermitente?
Que tenta atravessar, ver em 3D, do outro lado?
O que vê? O que quer? Do que precisa?
Corajosa, mantém o olhar fixo em mim.
Mergulho profundamente, navego ali, temo me perder.
Vasculho recantos escondidos, cutuco pontos doloridos
Áreas obscuras, fechadas, há muito trancadas.
Retiro descartes jogados num canto, recupero itens da lixeira,
Troco “objetos” de lugar, demoro-me junto a alguns sentimentos
Sento, converso com eles, negocio, tento compreendê-los,
Aceitá-los, aproveitá-los, reativá-los ou descartá-los.
Tanta gente que já se foi e está ali. Reencontros, sorrisos. Para sempre serão amadas.
Vejo muito, vejo tudo, entendo tanto!
Hora de voltar!
Ela continua a me olhar. Lágrimas escorrem ali…
Lubrificaram o caminho difícil.
Encaram-se. Sorriem.
Não foi difícil encontrar o caminho de volta.
Bastou seguir o amor, como migalhas de pão, deixado nas trilhas.
Apesar de tudo, são vitoriosas.
Lembram de um verso que leram:
“Perdoa o que tiver que perdoar, abrace o que tiver que amar e o resto deixa, que a vida se encarrega de afastar”- (Tati Zanella)
Ou trazer de volta.
Alda M S Santos
POR VEZES
Por vezes sou assim, indefinida, como hoje
Nuvens densas, pesadas, profunda introspecção
Prestes a desaguar forte, muita emoção
Buscando em mim mesma a razão do desejo de renovação
Por vezes sou sol forte, brilho, calor, luz
Aquecendo a vida, facilitando um desabrochar
Certa que há uma força maior que me conduz
Companheira, amiga, de mim sempre a cuidar
Por vezes sou saudade, sou nostalgia
Desejo de voltar no tempo, ser minha harmonia
Noutras sou sorriso rasgado, não quero o passado
O futuro é meu objetivo, sonho abençoado
Por vezes sou oceano, sou as ondas do mar
Que avançam e arrastam tudo na areia
Ou que buscam e levam para outro lugar
Aquilo que faz sofrer, faz doer, faz chorar
Por vezes sou sereia numa noite de Lua cheia
Em raios prateados simplesmente a cantar
Querendo a sedução, o encanto, a magia
E uma vida onde reine a leveza da poesia
Alda M S Santos
O QUE TE SALVA
Quanto mais coisas se perde
Mais valor têm as que ficam
Quanto mais pessoas vão embora, desistem
Mais valor têm as que ficam, insistem
O que vem fácil sempre vai facilmente também
O que é difícil, demorado
Quase sempre é mais duradouro, valorizado
Portanto, não é bom desanimar
Algo extraordinário pode-se conquistar
Clichê ou démodé, tanto faz
Mas uma verdade não se desfaz:
A felicidade não está na quantidade
Mas naquilo que possuímos com qualidade
Entre idas e vindas, ganhos e perdas
Decepções e superações, derrotas e vitórias
A admiração que tem por si mesmo nunca deixe desaparecer
Porque é ela que te salva
Quando tudo parecer se perder…
Alda M S Santos
MAIOR AMIGO
Bolhas, feridas, cicatrizes e calos
Cada qual uma fase de recuperação
O que não mata deixa marcas
Que serão eternas no coração
Não brigue, não negue, não lamente
Apenas tenha consigo mais cuidado, mais atenção
Viva, enfrente, siga o caminho, simplesmente
Fuja dos tropeços nas mesmas pedras ou parar na mesma estação
Perdoe-se, não seja seu próprio carrasco
Tampouco seu maior inimigo
Para viver bem e alcançar o objetivo
É preciso tornar-se seu aliado, seu maior amigo
Alda M S Santos
SEM PRETENSÕES
Não quero ser a mais inteligente que entende tudo de tudo
Ou que ignora pensadores e construtores do saber
Nem a mais culta ou sociável que agrada a todos
Tampouco a mais bela, a que para o trânsito
Ou a perfeitinha e boazinha que a todos atende
Aquela totalmente maleável, pacífica, que nunca se enerva
Sorrindo sob o peso do andor
Que molda-se ao gosto do freguês
Nem mesmo a madame mais chique ou luxuosa
Não quero! Impossível!
Não tenho essa pretensão
Seria impossível conquistar, pesado manter, difícil sustentar
E totalmente desnecessário…
Quero apenas ser eu mesma
Prefiro as imperfeições que vão sendo aparadas
Nas dificuldades e decepções diárias
Quero ser inteligente o bastante para sempre evoluir
Sabendo até onde ir
Sem contudo me afastar dos outros
Culta e sociável o suficiente para atrair boa gente
Bela o bastante por fora,
Mas de um modo a não ofuscar ou distorcer o que vier de dentro
Coração bondoso a ponto de me colocar no lugar do outro
Na medida exata para poder ajudar, ser útil, sem ser tola
Flexível, resiliente, mutável
Sem ferir meus princípios e essência
Aquela que procura sorrir sempre, mas que chora, que se enerva
Que ama, que sente saudade, que namora
Que às vezes quer sumir…
Chique o suficiente a ponto de trocar
Qualquer programa ou prato sofisticado
Por um banho de rio, um livro na rede e uma pizza gigante…
E sempre irei amar quem me aceitar como sou
Ainda que não seja desse jeitinho aí…
Tudo mais é pura falácia!
Alda M S Santos
QUANDO VOCÊ DEIXA DE SER VOCÊ
Um dia te levam uma moeda, você deixa
Era apenas uma moeda…
Noutro levam um objeto, sua bolsa, esvaziam seus bolsos
Não faz mal, você conquista outros
Tiram um direito, mais outro, substituem por deveres
E você vai cumprindo todos eles fielmente
Logo estão levando outros valores
Suas ideias, sua liberdade, seu sorriso, seus sonhos, sua essência
Seus ideais estão perdidos nesse mundo nublado
Não há mais brilho ou cor, você está opaco
Você sente um vazio, um desconforto
Não se reconhece no espelho
Não consegue reagir…
Mas segue acreditando que é por uma boa causa
“Para melhorar tem que piorar”-dizem
A quota de sacrifícios é de todos- propagam
Levam pouco a pouco até sua história
E te convencem que você sempre esteve enganado
Apagam tudo que um dia você foi
Quando percebe estão esvaziando sua alma
E a preenchendo com aquilo que eles querem
Com aquilo que não é você
Então, você deixa de ser você
Quando isso acontece você já morreu
Você tornou-se apenas um deles
Apenas uma cópia que caminha na multidão…
Reaja! Não deixe te roubarem de você!
Alda M S Santos
SE O RIO SECA…
Fortalecer nossas asas para um voo livre e leve
Alimentar a brasa que nos aquece e revitaliza
Valorizar os ombros em que nossas cabeças repousam
Amaciar o colo onde acalmamos nossas angústias
Cultivar o que gera a sombra fresca onde nos livramos do cansaço
Manter acesos os motivos de nossos sorrisos
Nunca perder a fé que nos torna mais humanos
Cuidar bem de nossas matas ciliares
Porque quando o rio seca em torno da gente
Nunca mais volta a ser corrente…
Alda M S Santos
AINDA ESTOU EM MIM
Quando encontro alguém que faz questão
De ressaltar alguma qualidade que não lembrava mais possuir
Algo que fiz por elas e que as marcou
Um defeito que reconheço que melhorei
Uma virtude perdida, uma deficiência amenizada
Ou uma mania que não passa de jeito nenhum
Sinto-me bem…
Sei que ainda estou em mim, que não me perdi pelo caminho
Que são bonitas as marcas que deixei
Que sou apenas uma criatura em evolução
E que posso melhorar muito ainda
É aí que percebo que o ”pão que o diabo amassou”
Não faz tão mal assim, pois Deus é quem dá o toque final
O diabo pode até sovar a massa, mas é Deus quem põe o pão para assar
E basta um toque divino para tudo se reverter
Tudo melhorar…
Eu ainda estou em mim, mesmo imperfeita
E gosto mesmo muito disso!
Alda M S Santos
UNIVERSO INEXPLORADO
O universo que carregamos em nós
Por mais desbravado e explorado que tenha sido
Por mais terras, luas e planetas descobertos em nós
Sempre haverá aquela estrela escondida
Aquele meteoro veloz não acompanhado
Aquele cometa tão aguardado
Aqueles asteroides desconhecidos e esquecidos…
Somos um universo ainda muito inexplorado
Inclusive por nós mesmos
Cada um de nós carrega em sua galáxia interior
Regiões obscuras e carentes de luz e vida
Necessitando de uma remexida intergaláctica para ser ativada
E mostrar todo seu potencial…
Alda M S Santos
INTEIROS
Numa mansão numa ilha paradisíaca,
Numa casinha branca à beira do rio
Numa gangorra na roça, descalça
Num barracão no morro do cafezal
Pilotando uma lancha veloz,
Um barquinho de pescador
Ou na suíte de um transatlântico
Não importa… o local é secundário
Prioritário é estarmos em nós mesmos
Estarmos bem encaixados em nossos direitos e avessos
Lidando bem com feridas e cicatrizes
Aceitando nossas imperfeições e inadequações
Nos perdoando de confiança excessiva, exposição exagerada de sentimentos
Ou de medos e traumas que nos travam
Sabendo que, independente dos outros,
Nós precisamos nos entender e aceitar
Destrinchar alegrias e dores, mágoas e regozijos
Onde estivermos por completo, inteiros
Onde nos sentirmos em total sintonia conosco
Sem máscaras, sem falsas alegrias ou autopiedade
Onde pudermos ser verdadeiramente
Corpo, mente, alma, coração
É que estaremos bem de verdade…
Alda M S Santos
EU VERSUS EU
As grandes batalhas da vida
Não são aquelas lutadas lá fora
As maiores batalhas do existir
São aquelas travadas no front de nosso interior
As vezes em que não eliminamos nossos monstros
Por medo, covardia ou compaixão
As vezes em que não neutralizamos um mal
Dando tempo para ele crescer e se fortalecer
E voltar a nos atingir em cheio
As vezes em que nos escondemos atrás de barricadas
Sabendo bem qual era nosso calcanhar de Aquiles
As vezes em que demos munição para “adversários” já conhecidos
E não usamos as armas que sabemos que seriam as mais potentes
Não importa se o oponente é um mal físico, mental, psicológico ou emocional
Uma doença crônica, um diabetes, uma dificuldade com números ou de expressão de sentimentos
Problemas de autoestima, ciúme, confiança ou bondade excessiva
Ou aquela pessoa a quem “damos” o poder de nos irritar ou fragilizar
E ficamos expostos nas trincheiras, de peito aberto
Ferida aberta, reaberta, sangrando
Nosso oponente sempre está em nós mesmos
Só nós podemos deixá-lo nos atingir
Só nós podemos enfrentá-lo
Uma batalha já é perdida ou ganha em nosso interior
Aqui fora é só um detalhe a mais
Muitos campos abertos aos quais nos expomos sem necessidade
Viemos para essa “guerra” para vencer nossos próprios “inimigos”
Sermos melhores a cada dia
Evitando sermos atingidos por fogo “amigo”
Ou atingindo adversários imaginários
Como sabemos se estamos vencendo?
Quando estamos bem conosco mesmos, em paz física e emocionalmente
E com aqueles que nos cercam
É sinal que estamos vencendo
Mas essa é uma batalha que só termina quando somos chamados de volta para casa
Para nosso território de origem…
Como estamos nos saindo em nossas guerras particulares?
Alda M S Santos
SANGRANDO
Tão bela, tão delicada, tão perfumada
Singela, encantadora, frágil
Frágil? Às vezes!
Sabe se defender, tem espinhos, fere
Resiste às tempestades constantes
Perde folhas, galhos, flores, para manter a raiz
Assim são as roseiras, assim são as pessoas…
A diferença é que elas não ferem a si mesmas
Humanos ferem-se com os próprios espinhos
Se atrapalham, se automutilam, confundem-se
Machucam seus amigos, quem lhes quer bem,
Afastam o essencial, sangram…
Sangrando buscam um caminho menos nebuloso, menos árido
Mais aconchegante, tranquilo, pacífico, alegre
Para colorir, florir, encantar, viver, amar…
Alda M S Santos
BLINDAGEM
Não existe blindagem que ofereça proteção total
Que permita exposição ao risco e aos “tiros” da vida
Quer seja a animais peçonhentos, às intempéries da natureza
Ou à maldade e irracionalidade humanas,
Particularmente quando se trata de blindagem emocional
Existe autoconfiança, amor próprio, fé em Deus
Fé no amor e respeito do outro
Mas o que nos mantém minimamente protegidos
É o cuidado e respeito que temos conosco mesmos
Baseados no autoconhecimento, sabedores de nossos limites e fragilidades
No aprendizado adquirido com os erros, as quedas sofridas ou causadas
Ninguém está livre de ser atingido pelas mágoas e decepções
Pela confiança excessiva no outro, na humanidade, pelas perdas dolorosas
Pelos percalços que só quem não tem medo de viver enfrenta
A melhor blindagem é conhecer mais e mais o mundo e seus habitantes, seu habitat, hábitos
Mas, principalmente, conhecer a nós mesmos
Saber onde pisar, onde andar, até onde voar, quais limites respeitar
Para não nos ferir e tampouco ferir ao nosso próximo…
Alda M S Santos
EMBALADAS A VÁCUO
É sabido que as pessoas são diferentes
Consequentemente, lidam de modo diferente com ganhos e perdas
Mas queria entender como algumas pessoas
Conseguem parecer embaladas a vácuo
Parecem isoladas do mundo externo,
Quase nada as atinge,
Superam, esquecem qualquer coisa facilmente
Mesma postura, mesmo perfil
Passe uma brisa ou um furacão
Amor ou desamor, alegria ou decepção
Sucesso ou fracasso, vida ou morte
Nada muda para elas!
Como máquinas, acolhem ou descartam “dados” sem danos
E seguem…
Não é inveja ou despeito,
Nem que eu queira ser exatamente assim!
É para saber como “pegar” ao menos um pouquinho disso!
Alda M S Santos
NA CHUVA
Posso vê-la andando ali, devagar
Deixando a chuva cair, molhar tudo
Olha para cima, deixa a chuva molhar seu rosto, se entrega
Senta-se num banco na calçada
Tudo está fechado, é tarde
Coloca uma bolsa a seu lado, abraça a si mesma
Um ou outro transeunte em seu guarda-chuva passa e a olha displicente
Carros esporádicos espirram água para todos os lados
Um cachorro parece se compadecer e para a seu lado
Faz um carinho em sua cabeça, abraça-o
Ambos ficam ali por um bom tempo
Logo ele se vai atrás de uma cadelinha
Ela olha para cima, abre os braços
E se deixa lavar por inteiro.
Enfim, levanta e segue seu caminho lentamente
Ela faz parte daquela madrugada chuvosa, fria e triste
Olha para cima, me vê, percebe-se fora
E volta para dentro de mim
Juntas vamos para casa…
Alda M S Santos
Foto Google imagens
IRRIGANDO COM LÁGRIMAS
Todo jardim precisa de água, sol e cuidados
Como levamos tudo isso para nossos jardins internos?
Sol, levamos com sorrisos e carinhos
Cuidados, levamos com amor e amigos
Uma dúvida surge: como irrigar?
Água das lágrimas servem para irrigá-los?
Ou acabarão por matá-los?
Alda M S Santos
AUTOPROTEÇÃO
Somos uma “máquina” inteligente
Cuja essência é a autoproteção
A preservação da vida
A saúde física e mental
À nossa revelia ela age, reage
Luta ou se recolhe
Quando entendemos isso,
Paramos de lutar conosco mesmos,
E deixamos nossa inteligência
Emocional, racional ou “irracional” agir,
Lavar corpo, mente e alma.
Há tempo para tudo no nosso interior…
Observar isso leva-nos ao autoconhecimento,
Leva-nos à vida plena!
Alda M S Santos