COMO UM RIO

Quero viver como um rio quando “morto”

Não somente quando possui águas calmas, mornas, convidativas

Ou quando as águas furiosas e geladas arrebentam tudo a abrir caminhos

Mas quero, como o rio, viver no que deixar de mim depois de partir

No que deixou de si depois de seco

Na terra que irrigou, silenciosamente

Nas plantas que hidratou e gerou vida

Nos frutos do qual foi núcleo e a tantos alimentou

Nos corpos amantes que banhou sob o sol ou a lua

Nos rostos lavados, sorrisos despertados, saudades deixadas

Quero ser como o rio morto

Porque depois de morto, apenas o que deixou de vida,

Ainda que em diferentes formatos, com ou sem reconhecimento, é que fica,

Sem cobranças, avaliações ou acusações

O rio morre…

Mas a vida que salvou, que perpetuou pelo caminho

Seguirá silenciosa até desaparecer por completo…

Alda M S Santos