Busca

vidaintensavida.com

poemas e reflexões da vida cotidiana

Tag

alcoolismo

Instrumentos do bem

INSTRUMENTOS DO BEM

Numa reunião aberta de AA, junto de minha mãe,

Comemorando os 44 anos de tal grupo da irmandade,

Diante de muitos depoimentos de superação

Fui refletindo no quanto Deus nos usa a todo momento uns para os outros.

Ali havia um grupo de leigos, mas que tinha um mal em comum: a dependência alcoólica.

O fundador do AA precisou passar por esse mal para poder entender e ajudar desde então…

Tantos outros casos de ajuda!

Pessoas que perdem entes queridos em acidentes, para drogas ou situações violentas,

E criam grupos de ajuda.

Uma boa parte das pessoas que foram abusadas “caça” os abusadores.

Quantos grupos sem fins lucrativos criados a partir da dor de um ser humano?

Com o objetivo único de superar, ajudando a superação dos outros?

Isso é questão de caráter, de essência, de bondade da alma.

Quem foi abandonado, torturado, traído, abusado ou maltratado de qualquer forma,

Jamais gostaria de ver aquele tipo de sofrimento no outro!

E o que puder fazer para impedir isso, não medirá esforços.

Claro que há outros que não conseguem retirar lição do sofrimento,

E resolvem suas angústias e medos causando em outros o mesmo mal…

Felizmente, não são todos…

Mas a certeza de ter feito todo o possível, às vezes, é o bastante para a paz de espírito de cada um de nós …

Deixemos Deus nos usar, ser instrumentos do bem !

Alda M S Santos

E ele esperava

E ELE ESPERAVA

Debaixo daquele dilúvio ele esperava

Olhos distantes, completamente encharcado por fora

Sozinho numa mesa de bar na calçada

Por dentro tudo parecia opaco, seco, sem vida

Um guarda-chuva ao lado esquecido

Que importava? Ele também estava esquecido por todos

Girava nas mãos o copo de pinga

Mexia-se apenas para pedir para enchê-lo novamente

Queria molhar-se tanto por dentro quanto por fora

E esperava…

Não se sabe pelo quê ou por quem

Se interpelado, sorria triste, com olhos vermelhos

“O mundo ainda acaba em água”…

Dias, semanas, meses e anos foram sedimentando a tristeza ali

Estava preso naquele calabouço “seguro”

Cuja fechadura só abria por dentro

Mas a chave tinha que vir de fora, da fé que não tinha mais em ninguém

Da fé em si mesmo afogada em mágoas

E mantinha sua vida parada no sinal vermelho daquela esquina…

E ele esperava…

Alda M S Santos

Desumano, demasiado desumano

DESUMANO, DEMASIADO DESUMANO

Uma vida jogada fora, desperdiçada de modo cruel

Desumano, demasiado desumano

Um ser humano, alcoólatra, cuidador de carros nas ruas

Calado, triste, educado, não incomodava ninguém

Onde dormia, bebia, comia, dependia da ajuda dos outros

Há poucos dias recusara ajuda do AA, acreditando não precisar

Uma briga, jogam álcool em seu corpo, ateiam fogo

Não resiste, parte cruelmente assassinado.

Grande ironia da vida, morrer pelo álcool

Curtido na maldade humana!

Uma raça onde a liberdade de um fere a do outro

Nesse mundo humano tão desumano

Ou seria, como diria Nietzche, “humano, demasiado humano”

Pois um animal não seria capaz de tal atrocidade!

Certamente ele está em paz agora!

Noutra dimensão…

RIP

Alda M S Santos

Entre pingas e respingos

ENTRE PINGAS E RESPINGOS

São oito horas da manhã, terça-feira

Descalço, sem camisa, bermuda suja, larga e caindo

Pernas abertas, cambaleia de um lado a outro pela padaria

Fala alto, ri, ininteligível, fala para si mesmo. 

Tenta alcançar uma água tônica na prateleira

Trabalho difícil, exige muita concentração e equilíbrio

Itens em falta!

Quase cai sobre mim

Alcanço a água tônica e a entrego a ele

Sorri, sorriso vazio, de dentes e de alegria.

Um senhor o interpela

“Bêbado a essa hora, José?”

Ao que ele retruca alto e sorridente:

“Bê-ba-do, não! Tô fe-liz”! 

E sai porta afora medindo os cantos da rua.

Entre pingas e respingos vai vivendo 

Não tem sexo, idade, trabalho ou identidade, é um bêbado.

Tudo perdeu…

Mas, “tô feliz”!

Que tipo de vida ruim tem uma pessoa para se considerar melhor assim? 

Tô triste! Respinga em mim! 

Alda M S Santos

Blog no WordPress.com.

Acima ↑