LÁGRIMAS NÃO FAZEM BARULHO

Tudo estava muito escuro, respirar era difícil

Tanto pelo exíguo espaço quanto pelo medo

Cheiro de álcool, cigarro, barulhos ao longe

Curvas perigosas, risadas mais ainda

Vou me encolhendo, abraçando os joelhos,

Tentando passar despercebida.

Lágrimas não fazem barulho, exceto dentro da gente.

Uma oração que não consegue ser verbalizada

Um pedido de socorro que não sai, por mais que se tente.

E as lágrimas aumentam… A velocidade diminui.

O porta-malas se abre, duas imagens conhecidas me encaram,

Maldosas, cruéis, dispostas a tudo.

Tentam me levar dali, fico imóvel.

Fecho os olhos, tento gritar, a voz não sai

Aguardo o inevitável.

Silêncio total!

Devagar e amedrontada, abro os olhos

A oração apenas pensada, o pedido mudo de socorro

Foram atendidos, não havia mais ninguém ali.

Chorei convulsivamente num agradecimento também mudo,

E, chorando, acordei…

Na certeza de que mais uma vez, entre tantas, fora salva!

Alda M S Santos