NOSSAS REFORMAS
Nas reformas é importante ter muita precaução
Ao derrubar estruturas tortas e condenáveis,
Antes de jogá-las ao chão, virarem entulhos
É essencial colocar um apoio, um calço
Algo que as substituam em sua posição na construção
Talvez seja essa pilastra torta e descartável
Que mantém o restante da casa de pé!
Como andam suas paredes feias e reprováveis?
Tem cuidado de seu edifício?
Alda M S Santos
RECONSTRUÇÃO
Demolir conceitos e preconceitos
Desfazer indiferença e defeitos
Derrubar muros que afastam o outro
Construir pontes de amizade e fraternidade
Se parece muito ruim, bom lembrar que
Toda demolição precede a reconstrução
Alda M S Santos
NÓS E ELES
Nós e eles, eles e nós
Será que dá para separar assim?
Quem sãos os melhores, os piores?
Quem define quem fica e quem vai?
Qual o critério?
Quem tem o poder de julgar
E determinar quem é lançado fora?
Que haja mais pontes do que muros
A Terra é uma só!
Alda M S Santos
VAMOS COMEÇAR?
Para conquistarmos um mundo melhor para todos nós
Não é necessário grandes feitos
Não é preciso atingir enorme multidão
Não carece ser famoso ou importante
Basta que façamos o melhor onde estivermos
Enquanto esperamos por um grande momento
Deixamos passar muitos pequenos momentos
Que poderiam fazer uma grande diferença
Compreensão, delicadeza, solidariedade, caridade
Se mudarmos nosso jeitinho de ser e ajudar
Já estaremos contribuindo para melhorar tudo por aqui
O bem é contagioso!
Vamos começar?
Alda M S Santos
GRANDES INTEMPÉRIES
Ventanias, tempestades e tornados
Secas, queimadas, fumaça, céu nublado
Mentes atordoadas, almas inquietas, cansadas
Abalos sísmicos, abalos emocionais
Frio congelante, calor escaldante
Abraços, acolhimento, coração aconchegante
Muita mexida nesse nosso planeta
Mudanças que podem nos levar para dentro
Numa viagem de autoconhecimento e reorganização
Tentando ajeitar tudo que está bagunçado
Colocando cada coisa em seu devido lugar
Entendendo que a mudança lá fora, no exterior
Depende da mudança que ocorre no interior
E, nesses caminhos, a gente se encontra e se encanta
Na construção de um mundo melhor!
Alda M S Santos
VAMOS TRANSFORMAR O MUNDO
Vamos transformar esse mundo frio
Aquecendo cada coração carente que se aproximar
Vamos transformar esse mundo amargo
Sendo sorriso para cada cara amarrada que encontrar
Vamos transformar esse mundo sério, tolo e feio
Sendo brincadeira, sendo criança, sendo alegria
Vamos transformar esse mundo individualista
Sendo abraço, sendo colo a cada olhar opaco que baixar
Vamos transformar esse mundo faminto
Oferecendo o que pudermos para alimentar
Vamos transformar esse mundo doente da alma
Sendo a paz, a serenidade e a luz para curar
Vamos transformar esse mundo injusto
Sendo a mão que tenta as diferenças equalizar
Vamos transformar esse mundo incrédulo
Sendo a fé e o amor divino a quem precisar
Vamos transformar esse mundo de tanta angústia e dor
Sendo o bálsamo calmante e apaziguador
Vamos transformar esse mundo, sim
Como?
Pelo exemplo, pelo contágio, pelo amor
Devagarzinho, um ser humano de cada vez…
Alda M S Santos
VAMOS TRANSFORMAR O MUNDO
Vamos transformar esse mundo frio
Aquecendo cada coração carente que se aproximar
Vamos transformar esse mundo amargo
Sendo sorriso para cada cara amarrada que encontrar
Vamos transformar esse mundo sério, tolo e feio
Sendo brincadeira, sendo criança, sendo alegria
Vamos transformar esse mundo individualista
Sendo abraço, sendo colo a cada olhar opaco que baixar
Vamos transformar esse mundo faminto
Oferecendo o que pudermos para alimentar
Vamos transformar esse mundo doente da alma
Sendo a paz, a serenidade e a luz para curar
Vamos transformar esse mundo injusto
Sendo a mão que tenta as diferenças equalizar
Vamos transformar esse mundo incrédulo
Sendo a fé e o amor divino a quem precisar
Vamos transformar esse mundo de tanta angústia e dor
Sendo o bálsamo calmante e apaziguador
Vamos transformar esse mundo, sim
Como?
Pelo exemplo, pelo contágio, pelo amor
Devagarzinho, um ser humano de cada vez…
Alda M S Santos
REFORMAS
Fim de ano, tempo de reformas
Descascar paredes, tinta velha, reboco caindo
Encontrar um meio de restaurar, renovar
Dar novo toque, suavizar o que está velho ou fosco
Dar nova cor, novo tom, poder brincar, sem.ser tosco
Fim de ano… tempo de reformas
Da nossa casa mais que especial
Essa em que nossa alma mora, de cristal
Aproveitar os vendavais e as tempestades
Para colocar tudo para fora e começar nova atividade
Fim de ano…tempo de reformas
Hora de escolher bem o que fazer com cada coisa, cada sentimento
O que pode ser limpo, restaurado depois desse momento
O que deve ser conservado e potencializado
E o que precisa ser lançado fora, já não faz bem estar ao nosso lado
Fim de ano…tempo de reformas
Quero abrir todas as gavetas da minha alma
Nada ignorar, quero remexer cada coisa com calma
Desdobrar, sacudir, lavar, dobrar e guardar
Depois dessa limpeza catártica tudo terá encontrado seu lugar
Fim de ano… tempo de reformas
Com novo brilho no olhar e coragem para continuar
Estarei pronta para um novo ano em mim ativar, sem desanimar
A vida pede esse momento de análise de sentimentos
Só assim poderemos ser mais fortes a cada sofrimento
Minhas reformas começaram….
Alda M S Santos
UM MUNDO NOVO
Tudo aponta para um mundo novo
Há medos, dúvidas, ansiedade
Inseguranças de toda a humanidade
O mundo como conhecemos está sendo testado, remexido
Mas há que se preservar a vida
Não é só aqui ou ali
O planeta todo está sendo ameaçado, sacudido
Precisamos mesmo de mudanças
Para garantir a vida, nossas andanças
Não é só um vírus que mata
Tudo o que ele traz consigo exige reflexões
Nesse momento de escolhas difíceis
Percebemos quais são nossas prioridades
De um, de outro, de toda uma comunidade
Que sobrará disso tudo?
Estamos prontos para lidar com isso?
Para recomeçar do zero se preciso for?
Há em nós suficiente coragem e amor?
Alda M S Santos
UM PORTAL
Atravessou um convidativo portal
Na esperança de encontrar algo especial
Um mundo mais humano, menos parcial
Onde viver não doesse tanto
Não houvesse tanto mal
Iluminou trilhas estreitas e escuras
Saltou obstáculos, recusou saídas obscuras
Recuou diante de muitas loucuras
Escalou montanhas altas, íngremes
Encontrou lindas pessoas, doçuras
Sorriu, chorou, sofreu, caiu, levantou
Esclareceu mentiras, lutou por verdades
Disse sim ao amor, enfrentou falsidades
Restaurou a fé, renovou a esperança
Finalmente percebeu que o portal é na realidade
Seu modo de encarar sua própria verdade
Com coragem, ânimo, dignidade
Aqui ou em qualquer dimensão
Viver com gratidão e intensidade
Alda M S Santos
E O BARCO DA VIDA PARTE…
E o barco da vida parte
Leva quem tem coragem
Leves e com espaços a preencher
Ou pesados de tanta bagagem
E o barco da vida parte
Deixa a segurança do cais
Em busca de novas aventuras
Talvez de um novo caos
E o barco da vida parte
Vários rumos, vastos oceanos
E o que fica é a vontade
De ser feliz também nesse plano
E o barco da vida parte
Leva alguns, deixa outros
Na saudade do vivido
Do que ficou por viver
Do que há ainda para viver
E o barco da vida parte
Todos os dias, todo o tempo
Com ou sem passageiros e tripulantes
Nem sempre a contento
Ele parte…
Alda M S Santos
MUDANÇAS
De nada adianta negar, fugir ou temer
As mudanças sempre irão acontecer
Na natureza, no espaço, dentro do ser
Felizmente isso faz parte do viver
A Lua, o vento, as marés são grandes agentes de mudanças
Derrubam, constroem e destroem em suas andanças
Formam dunas de areia, unem ou separam localidades
E atingem a todos nós em qualquer idade
Bom mesmo quando decidimos o que mudar
Ou o que devemos não mais aceitar, permitir
O que vale a pena manter, investir
Ir fundo em nós mesmos, crescer, evoluir
Somos um barco e não devemos ficar à deriva
Assumir o controle para onde ir é essencial
Essa é a mudança mais importante, fundamental
Um ser que muda a si mesmo faz do mundo um lugar bem especial
Alda M S Santos
E SE…
E se a Terra se rebelasse
A Natureza se revoltasse
O céu as estrelas não enfeitassem
Os namorados sob a Lua não se animassem
Será que iríamos acordar?
E se as cachoeiras secassem
As fadas ali não mais voltassem
As ondas do mar estacionassem
Os rios dos obstáculos não desviassem
Será que iríamos acordar?
E se as flores se fechassem
As árvores, tristes, tombassem
O sol de nascer se esquecesse
A chuva de nós se escondesse
Será que iríamos acordar?
E se o amor não mais nos alimentasse
Dia e noite por aqui se misturassem
A beleza e delicadeza não nos encantassem
A poesia não mais da tristeza nos salvasse
Será que iríamos acordar?
A vida no planeta Terra pede socorro
Quando iremos acordar?
Alda M S Santos
UM MUNDO
Um mundo mais alegre, menos sofrido
Com mais bênçãos, menos perigo
Onde todo soldado combalido
Encontre no outro um bom abrigo
Um mundo mais suave, menos amargo
Com menos “passar de pernas”, mais dar-se as mãos
Onde o amor e amizade fiquem a cargo
De seres humanos mais irmãos
Um mundo onde seja permitido sonhar
E bons desejos poder realizar
Na fraternidade e na paz nos irmanar
Um mundo onde reine o respeito e harmonia
Pelas criaturas, natureza e Criador
E que saibamos que só seremos felizes onde houver amor
Alda M S Santos
LUTOS
Vivemos uma vida de lutos, de perdas
De despedidas, de adeus, de dores
Choramos, sofremos…
Mas toda morte e despedida trazem consigo um renascer
Um broto de vida, novo, lindo
Um recomeço…
Abrir a janela de nossos corações
Deixar a luz entrar, aquecer a terra fértil de nossa alma
Chorar, se preciso for, para irrigar
Deixar brotar nova flor, novo amor
Luto é fim de uma etapa
Recomeço de outra, nova semente pronta para crescer
Novo jardim florir, perfumar, encantar
Como ela será só depende dos jardineiros envolvidos
Sentir uma perda, viver o luto é natural e até necessário
Aceitar a mudança e cultivar o novo é essencial
Que sempre saibamos nos despedir
E acolher as novas sementes…
Alda M S Santos
QUEM NÃO DANÇA…
Quando o fato é incontestável
Contesta-se quem o divulga
Quando a pessoa é indefensável
Ou a mentira é clara e cristalina
Arruma-se outro assunto
Outro crime ou criminoso
Para ocupar seu lugar
Nessa luta de vítimas e réus
Condenados e absolvidos
A “plateia” sempre leva a pior
É o público a ser manipulado
Porque, no fundo, não importa a verdade
O que vale é aquele que melhor manipula
E faz de qualquer mentira uma verdade
Que apaga o que quer, reescreve como acha melhor
Mexendo habilmente os pauzinhos dos cordões de seus bonecos
E as marionetes dançam conforme a música que tocam
Quem não dança, não gosta dessa música
Ou dança diferente
É considerado louco…
Quero dançar diferente, prefiro ser louca!
Alda M S Santos
PORTEIRA FECHADA
A vida nos é dada de porteira fechada
Como propriedades negociadas com tudo que carregam porteira para dentro
Recebemos ao nascer um pacote pronto, sem escolhas
Mas não precisa ser assim para sempre
Aos poucos vamos “negociando” o que ela nos deu
Fazendo trocas, descartes, novas aquisições
Vamos fazendo valer nossas escolhas, desejos
Descobrindo o que nossa “terra” produz melhor
Ou aquilo que ela não é boa em cultivar
Adubando o que cresce, enriquece, matando pragas
E dando a essa “propriedade” chamada vida
Que é só nossa, querendo ou não
A nossa cara, nossas características
Tudo que temos ou somos é resultado de nosso trabalho
Na propriedade que recebemos a princípio
Há alguns anos ou décadas…
A porteira veio fechada
Abri-la e fazê-la crescer cabe a cada um de nós…
Alda M S Santos
EFEITO BORBOLETA?
Entra voando janela adentro do meu quarto
É noite, tudo escuro lá fora
Talvez atraída pela luz, voa em círculos sobre a cama
E para na parede à minha frente
Fico encantada com o voo, as cores, a leveza, a liberdade
Eu me aproximo devagar, confiante, ela me permite tocá-la
Que veio fazer aqui, borboleta?
Não tem medo de aqui ficar presa ou perdida?
Veio buscar o quê, aventureira?
Ou será que veio me ensinar a leveza, a coragem de voar?
Suas cores e “digitais” parecem falar comigo
Dá mais uns voos rasantes pelo quarto e sai majestosa para a noite de luar…
Efeito borboleta? Que poder tem o bater de suas asas?
Leveza, liberdade, a fragilidade e fugacidade do viver …
Alda M S Santos
UM VENTO PASSOU POR AQUI
Um vento passou por aqui
Aproveitou as janelas abertas e invadiu
Quebrou trancas e tramelas, portas destruiu
Muita coisa bagunçou, outras embora levou
Derrubou esperanças, sorrisos apagou, portas fechou
Um vento passou por aqui
Misturou o certo e o errado, o doce e o salgado, a autoconfiança minou
Mentiras criou, verdades questionou, inimigos levantou
Debates inventou, calados despertou, falantes calou
Um vento passou por aqui
O que era rígido, mas frágil, caiu e quebrou
O que era firme, forte, mas flexível balançou e se solidificou
O que era verdadeiro e leve flutuou e se eternizou…
Um vento passou por aqui
Entre tantas desordens que causou
Entre tanto que trouxe e levou
Algo de novo possibilitou, coisas antigas reafirmou:
Solidez não rima com rigidez,
A água tudo contorna, não pelo peso, mas pela persistência e fluidez
Amor e simplicidade têm primazia sobre qualquer ventania
Um vento passou por aqui…
E sua marca deixou… o sorriso replantou…
Alda M S Santos
TRANSFORMAÇÕES
“Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”…
Segundo essa lógica de Lavoisier, nada perdemos, apenas transformamos
Vivemos transformando decepções em aprendizado ou revolta
Tristezas e lágrimas em crescimento ou negativismo
Trabalho árduo em alegria ou apenas cansaço
Ilusões e expectativas frustradas em força ou medos
Injustiças em solidariedade e compaixão ou indiferença
Amor “perdido” em amizade, carinho, esperança ou descrenças e desconfianças
Jovialidade e força em maturidade e sabedoria
Tudo que parece perdido em nós, para nós, se olharmos bem
Na verdade foi transformado com nossa efetiva participação
Tudo se transforma, mas não à nossa revelia
O modo de lidar com nossas “perdas” é o ingrediente base para o que fica
Para aquilo de precioso que trazemos como memórias e saudades
Podemos fazer dessas transformações apenas tristes demolições
Ou grandes e maravilhosas construções…
Alda M S Santos
MOLDADOS PELA VIDA
Não há nada que nunca mude, que nunca se transforme
Até mesmo as pedras, as rochas, inertes e imóveis no mar
Sofrem total interferência do meio
Aparentemente firmes e fortes, a água, o sol, o sal, os ventos
A matéria orgânica, animal e vegetal a modificam
A água abre reentrâncias, provoca sulcos, invade espaços
Quando não há, contorna, passa por cima e, ainda assim, é atingida
Adquire novas cores, novas formas, novo relevo
Muitas vezes nocivo, que corta fundo quem se aproxima
Causa dores, escorregões e tombos
Uma pedra nunca está totalmente isolada por estar parada no mesmo lugar, inerte
Cedo ou tarde, ela será “outra” pedra
Somos pedras sendo moldados pelas águas da vida em seu ir e vir incessante
Ora turbulentas, ora calmas, ora violentas e sempre incansáveis da vida…
Podemos escolher fazer parte, ou sermos modificados à nossa revelia…
Alda M S Santos
APRENDI COM A NATUREZA
Aprendi com a natureza que quando o sol se põe aqui
Ele nasce e ilumina o outro hemisfério terrestre
Quando um lado nosso anoitece, escurece
Bom é valorizar nossa parte “dia”, iluminada
Sempre haverá um lado com luz forte e quente
Enquanto o outro estiver escuro e frio
Aprendi com a natureza a aceitar e apreciar todas as nossas estações
O perfume suave que nos anima e encanta quando tudo são flores em nossas primaveras
O calor de nossos verões com leveza e intensidade nos instigando a mergulhar no frescor da vida
As cores de terra, as perdas de “folhas” de nossos outonos para preservar as raízes, tempo de reflexões e plantio
O frio e hibernação no recolhimento de nossos invernos, tempo de esperança, gestando uma nova vida…
Somos assim também: fases que se interligam e se intercalam
Fases que se completam e se precisam
Fases que não têm fim, apenas rotatividade
Estou aprendendo com a natureza a lidar com seus paradoxos e antagonismos
A lidar com seca e cheia, sombra e luz, flor e fruto, vida e morte
Aprendendo com a natureza a lidar com as dicotomias humanas
Amor e ódio, alegria e tristeza, sorriso e lágrimas, interesse e indiferença, prazer e dor
Aprendi com a natureza que é preciso parecer morrer para poder nascer mais belo e mais forte
Tudo isso são apenas duas faces da mesma moeda
A moeda valiosa do viver…
Alda M S Santos
OUTONO CHEGOU
A brisa suave sinaliza a friagem
O ar mais seco confirma
Dias mais curtos reafirmam
Outono chegou…
Tempo de se preparar, resguardar-se
Perder folhas, flores, até galhos, economizar
Abrir mão do que pode ser dispensado
Ficar nua, livre das vaidades
Usar todos os nutrientes, estocar energia
Nesses tempos de carestia
Para preservar o mais importante: a raiz
Com sabedoria, manter vivo o que é essencial
Irrigar o que poderá trazer novamente na hora certa
Novas folhas, galhos, flores, frutos…
E assim, buscando sempre o amor, a vida se refaz
Vegetal, animal, humana…
Alda M S Santos
PARA ONDE VOLTAR
Ter pra onde ir, mesmo sem saber ao certo o lugar, é bom
Abrir caminhos nessa imensidão, com a precisão da lâmina afiada da foice da nossa ansiedade
Com a velocidade e força da vida que pulsa e corre em nossas veias
Desejo de conhecer o mundo além de nossas porteiras fechadas
Conquistá-lo, vencê-lo, fazer história,
Atrelar nossa história à história de alguém,
Deixar nossas boas sementes plantadas para a posteridade
Colher bons frutos, chorar pelos que não vingaram
E chega a hora de querer voltar…
Voltar pra onde?
Temos para onde voltar?
Aquela porteira de outrora abrirá para nós novamente?
Irá nos reconhecer?
Pais, avós, amigos, nós mesmos, o quanto nos distanciamos?
Caberemos lá dentro, agora que os sonhos foram satisfeitos ou esquecidos
As angústias controladas, os medos vencidos
E a vida já não pulsa tão forte em nós quanto águas de cachoeira na serra
Mas na tranquilidade das águas de um rio que segue seu curso, seu remanso
Sabendo-se vida para tantos…
Queremos sempre voltar em algum momento
Como se algo precioso tivesse ficado lá atrás
Alguém a quem prestar contas do que foi vivido, uma avaliação
Voltar para nós mesmos, nos reconhecer, é um bom começo
Olhar naquele espelho da casinha simples de adobe que muitas vezes buscamos
Ver nos olhos que aquele espelho reflete os olhos Dele a nos receber
E poder nos dizer “que bom que está aqui e, apesar de mudado, reconheço você, sua essência se preservou”
Alguém que encontrou o retorno dentro de si mesmo
E não tem do que se envergonhar, ou quase não tem
Isso é ter pra onde voltar…
E sem medo de não ser bem recebido!
Ter pra onde ir é muito bom
Ter pra onde voltar é maravilhoso…
Alda M S Santos
TEMPESTADE SE ARMANDO
Nuvens escuras se atropelam no céu
Numa corrida frenética e assustadora
Pássaros se recolhem desarvorados
Mulheres correm a recolher roupas na cerca
Folhas parecem ter asas na forte ventania
Crianças brincam nos redemoinhos de poeira felizes
Beija-flores fazem uma refeição na flor que balança
Um pai chama o filho para dentro
Um boi muge ao longe, cães procuram abrigo
Macacos gritam na mata, uma seriema passa correndo
As árvores sabiamente dançam ao sabor do vento,
Sabem que não adianta resistir…
Relâmpagos riscam o céu, trovões gritam sua força
E a água cai forte e certa do que está fazendo…
Molha, lava e leva tudo numa beleza impressionante
A terra absorve o que dá conta e deixa ir o que sobra
Confia que tudo está em seus devidos lugares…
Quiséramos ter a sabedoria da natureza!
A tudo observo maravilhada, sinto-me parte
Levanto da rede, deixo o livro, e vou passar um café…
Aceitam?
Alda M S Santos
EMENDAS
Rasgar o verbo pode ser um modo inteligente
De ter um bom motivo para remendar a própria vida
Alda M S Santos
GUINADAS
As pequenas ou grandes guinadas de nossas vidas
Sempre dependerão, além
de nossa capacidade interna,
Dos estímulos externos que recebermos.
Acreditar que aquele emprego é melhor,
Que aquela mudança de cidade seria mais produtiva,
Que aquela faculdade é mais a nossa cara,
Que o momento é adequado para ter um filho,
Ou para viajar, sumir de circulação por uns tempos,
Que aquele projeto cabe na nossa pauta,
Que aquela amizade nunca terá fim,
Que aquele amor é mais completo ou verdadeiro.
Tudo dependerá da nossa capacidade de acreditar e agir!
Alda M S Santos
ULTRASSENSÍVEL
Aqueles dias que você sente que bastariam
A última gota d’água
Uma única faísca
Uma simples palavra
Um breve olhar
Um suave toque,
Um abraço singelo,
Para você:
Cair no choro, na gargalhada
Querer sumir no mundo, desaparecer,
Explodir de raiva
Alegria ou prazer…
Alda M S Santos
TÁ DIFÍCIL
Tá difícil?
Sorrir, divertir, conformar-se?
Mudemos o olhar, a posição,
O foco, a perspectiva, qualquer coisa,
Mas mudemos…
Nessa aventura chamada vida
Pode haver filas em dados momentos
Saber esperar o instante exato das coisas é sabedoria
O movimento nos determina, mesmo que seja interno.
Não vale é ficar parado!
A roda da vida está girando…
Alda M S Santos
FIM
Se existe algo pelo qual ninguém passa inerte, incólume, é o fim.
Qualquer fim. Coisas maravilhosas ou coisas ruins.
Sempre deixarão um vazio, um vácuo, algo a preencher.
Um trabalho cansativo ou prazeroso, o curso na faculdade,
Uma amizade espontânea, uma visita inesperada,
Um amor possessivo, impossível ou irreal,
Uma viagem na imaginação, um sonho, uma esperança, uma expectativa…
Quanto maior o espaço ocupado em nós,
Quando chega o fim,
Maior será o vazio, maior a necessidade de preenchimento.
Não precisa ser ruim, é preciso saber lidar com os finais.
Alguns ofendem, magoam, maltratam, ameaçam,
Decepcionam, morrem, matam, deixam de viver.
Muitas vezes algo que foi prazeroso, vivo, verdadeiro, mas que mudou,
É jogado no mesmo lixo, sem coleta seletiva, tudo no pacote do fim.
Urge saber que há “lixos” aproveitáveis,
Particularmente o que envolve sentimentos.
Sentimentos se transformam e o fim pode ser apenas um recomeço.
Basta fazer uma boa reciclagem, reduzir a bagagem, reutilizar, reaproveitar
Manter um bom foco e voltar a viver.
Alda M S Santos
MUDANÇAS
Mudanças sempre são possíveis, sempre.
Só é preciso uma força motriz: desejo, vontade.
Se não temos os recursos materiais necessários, usemos o que dispomos.
Se não estamos no melhor lugar, podemos dar início partindo de onde estamos.
Se não temos os ajudantes que queremos, transformemos em aliados quem está próximo.
Mas, o mais importante, com o que somos, e nem sempre botamos fé, podemos fazer a diferença, ser o começo da mudança, seja ela qual for.
Qualquer mudança tem que ser sonhada, planejada e iniciada dentro de nós!
Alda M S Santos
ARRUMANDO AS MALAS
Arrumar malas exige critério, seleção, paciência.
Não se pode levar tudo!
Mudas de roupas de acordo com a estação, artigos de higiene, calçados…
Depende do tempo que ficaremos longe.
Costumamos colocar também expectativas: passeios, diversão, descanso, família, amigos, amor, novos lugares e pessoas.
Quase sempre boas, dependendo também
das companhias a bordo, do motivo da viagem e do destino pretendido.
Para uma viagem curta, tudo é mais tranquilo e fácil.
Se for uma viagem longa ou definitiva, torna-se mais difícil saber o que levar, o que deixar…
Um modo fácil de saber é anotar tudo que usamos, tudo que necessitamos, todos em quem pensamos durante um ou dois dias.
Tudo da lista é importante, fará falta. Se der pra levar, ótimo!
Há coisas e pessoas que só irão no pensamento, no coração.
Lá haverá substitutos para alguns. Para outros, o jeito é aguardar o retorno ou cultivar boas lembranças.
Isso faz parte de toda viagem…
No ar, no mar, na terra ou na imaginação.
É preciso aceitar e aproveitar.
Boa viagem!
Alda M S Santos
REFORMAS
Temos sempre a tendência de reformar tudo. Somos engenheiros naturais.
Em tudo vemos possibilidades de melhoria, de renovação.
Até aí, tudo bem!
Compramos ou alugamos uma casa. Mesmo perfeita, queremos novas paredes, nova pintura, trocamos pisos, janelas. Queremos que fique a nossa cara, mais arejada e confortável.
Um novo carro ganha adereços e acessórios que o tornem mais vistoso e prático.
Uma roupa nova pode precisar de ajustes, encurta daqui, aperta dali, coloca uma manga, um cinto…
Nosso próprio quarto sofre mudanças constantes…
E nossos amigos, filhos, cônjuge, familiares?
Também queremos mudá-los, adaptá-los, adequá-los, melhorá-los? Quase sempre!
Algumas características que não julgamos positivas, ou que não combinam conosco, ou julgamos que não fazem bem a eles, ou a nós mesmos, queremos extraí-las, minimizá-las ou disfarçá-las.
Querermos melhorias, para nós e para aqueles que nos cercam, é natural. Faz-se, porém, necessária a questão: o que motiva esse desejo de mudança?
Se a resposta for o bem estar e o amor, é válida.
Ressalta-se, porém, a importância de manter as características naturais.
Uma casa não pode ter certas paredes mexidas, sob pena de abalar a estrutura.
Um veículo não pode receber acessórios que comprometam sua potência.
Uma roupa não pode sofrer tantos ajustes que pareça outra.
Uma pessoa precisa manter sua essência, ou perderá a própria identidade.
Vale a velha dica das casas; se necessário for mudar tanto, melhor jogar no chão e começar do zero.
Se para nos atender for preciso mudanças radicais, seja na casa, no carro, nas roupas, nas pessoas, precisamos refletir: ou mudamos um pouco a nós mesmos, também, ou buscamos nova casa, carro, roupas ou pessoas. O trabalho, tempo e custo para mudar não valerá o resultado.
Apesar de não haver medida perfeita, sempre haverá por aí objetos, coisas e pessoas que combinem exatamente conosco.
Basta ter paciência e saber procurar.
Alda M S Santos
Fazenda do Quartel- GUANHÃES- MG
MUDANDO O/OU PARA O INTERIOR?
Cada dia que passa as pessoas têm procurado mais a vida no campo. Uns querem apenas desfrutar de suas belezas e conforto, por um fim de semana ou férias. Outras, querem voltar às origens, retornar ao passado que ficou lá atrás e, após um tempo, volta com tudo, especialmente após os 40 anos. Há também aquelas que nunca tiveram experiência com a vida rural, e se encantam ao primeiro contato.
Outro dia, numa sala de espera de um consultório médico, dois senhores conversavam sobre isso. Um dizia que o médico tinha recomendado procurar uma vida mais calma para afastar o estresse. O outro sugeriu que comprasse um sítio, ao que ele respondeu que não se acostumaria àquele silêncio todo e à vida dura de trabalhos braçais.
Daí surgiu todo um relato da nova vida que passou a levar após um infarto. Passou a viver num sítio, cujos familiares se opuseram veementemente. Acharam que era mania de velho, visto que nunca tinha demonstrado interesses pela área rural. Acabaram por ceder, visando preservar a saúde do patriarca da família. Compraram um sítio não muito longe da cidade. Todos os dias, esposa e filhos dirigiam 50km para ir para o trabalho.
Reclamaram muito no início, mas se acostumaram. Sentiram falta das regalias da cidade no início: pizzarias, cinemas, celulares, internet, shoppings… Mas acabaram por se encantar pela pureza do ar, as cores dos jardins, o contato com a terra, a horta, as árvores frutíferas, os animais que passaram a criar, o rio.
A família ia e voltava todos os dias. Não acreditava que quisessem ficar lá para sempre. Quanto a ele, não abria mão daquela vida. Gostava de acordar cedo, ver o sol nascer, alimentar seus bichos e cuidar de suas plantas. Quem diria que teria forças para usar a enxada? Gostava das caminhadas nas trilhas de terra, de sentar-se à beira do rio, ouvir os pássaros, cochilar à tarde, ouvir música em seu mp3 velho… Sentia prazer nas mínimas coisas. Num bate-papo com os poucos vizinhos que encontrava quando ia ao pequeno comércio na região, nas leituras prediletas, no violão que gostava de tocar à noite… Voltou a escrever poemas, hábito da juventude, abandonado pelos atropelos da vida.
Só ia à cidade para realizar consultas periódicas com o cardiologista. Logo o médico o chamou. Despediu-se do amigo e foi recebido pelo médico com carinho. “Estou precisando ir para o campo também! Que saúde, vigor e alegria você demonstra”! O outro senhor atendeu ao celular, ficou vermelho e concluiu: “Preciso mesmo dar um novo rumo à minha vida”!
Saí de lá pensando no privilégio que é poder ter as duas opções: o campo e a cidade. Mas o fundamental é desacelerar, adquirir hábitos mais simples, menos consumismo, adquirir paz interior. O campo, com suas dificuldades geográficas e de consumo, pode aumentar os problemas se não mudarmos nosso interior “urbano” e estressado. Mudar nosso interior antes de nos mudarmos para o interior.
Alda M S Santos