MARCAS
Na desconhecida extensão de minha jornada
Vou imprimindo minha marca
Forte, leve, às vezes insegura
Só ou acompanhada,
Feliz ou nem tanto
Sempre carinhosa e intensa.
Até quando o Criador permitir…
Alda M S Santos
SEQUELAS
Viver é uma brincadeira que deixa sequelas
As cicatrizes nos joelhos
Dos tombos nos passeios de bicicleta
Os vergões, deformações e paralisias
Dos descaminhos por abismos emocionais
Os hematomas e traumatismos
Dos mergulhos em mares escuros e em amores frustrantes
As fraturas na alma
Das quedas do alto das expectativas
Os traumas e medos
Deixados pelos monstros que alimentamos e nos assustam
As lombalgias e hérnias
Do peso desnecessário que insistimos em carregar
As decepções e mágoas
Causadas pelos ídolos que “criamos”
Tudo isso deixa sequelas para a vida toda
Nem sempre agradáveis ou prazerosas
Muitas vezes, sequer toleráveis
Mas o viver sempre vale a pena
Sequelas nos lembram que vencemos
Que sobrevivemos
A cada marca, uma história
Todas as sequelas são lesões que ficaram
Depois que a cura se estabeleceu
Sequelas? Tenho algumas!
E a vida segue certeira como tem que ser
Sempre em frente!
Alda M S Santos
TATUADO NA TESTA
O bom não traz marca na testa
É isso que ouvimos há tempos
E é consenso, não há quem contesta
Bom mesmo seria se viéssemos de fábrica
Com algumas informações importantes
Talvez um tutorial, um manual
A nos alertar para aquilo que fosse mau
Ou para o que for causar algum dano
“Frágil, quebrado também corta”
“Falhas estruturais, risco se deamoronamento””
“Dificuldades para se envolver”
“Só pega depois de um café”
“Poeta, sensível e confuso”
“Ladra, mas não morde”
“Só a cara é de santo, proteja-se”
“Mentiroso hábil e compulsivo”
“Sorriso que desarma e destranca qualquer coração”
“Propriedade particular, cuidado com o cão”
“Basta um abraço para brilhar”
Sei lá, seríamos poupados de muitos falsos atalhos
Ou caminhos desnecessários
Talvez até tenhamos essas marcas
Mas, afoitos, não damos a devida importância
E a cada vez novos choques, feridas, repouso, aprendizado
Será?
Qual marca você deveria trazer tatuada na testa?
Qual marca você mais precisaria ser alertado?
Alda M S Santos
HÁ QUEM DEIXE…
Há quem deixe o brilho do sorriso
Também há quem deixe a sombra escura do olhar
Há quem deixe um jeito especial de ouvir e se calar
Também há quem deixe uma língua afiada ao criticar
Há quem deixe o calor de um ombro acolhedor
Há também quem deixe a dor de modo ensurdecedor
Há quem deixe uma alegria, uma brincadeira
Também há quem deixe uma rabugice, uma implicância, uma bobeira
Há quem deixe um perfume, cores e um jeito sensual de ser
Há também quem deixe a indiferença prevalecer
Há quem deixe belas palavras, carinhos e versos
Também há quem nada diga, apenas deixa a fadiga
Há quem deixe marcas de um amor que se fez
Também há quem deixe medos e inseguranças
Há quem deixe o sonho do amor em seu esplendor
Também há quem fique e dê ao sonho um caráter de realidade, animador
Todos deixam suas marcas nos outros quando se vão
Quais marcas andamos imprimindo por aí?
Alda M S Santos
MARCAS MAIS BONITAS
Viver é desenvolver a fundamental habilidade
De organizar nossas marcas profundas ou superficiais
Aquelas que todos nós temos, querendo ou não
De fazer com que as dolorosas fiquem menos aparentes
De colocar em nossa vitrine emocional
Aquelas que nos fazem parecer mais felizes
Porque felicidade atrai felicidade
De nada adianta mostrar tantas dores e cicatrizes
Vestir nosso manequim de cinza e seus matizes
Só servirá para atrair a maldade
Expor o que nos machuca atrai negatividade ou piedade
Mas deixar sob luzes ou melhor ângulo
Nossas marcas mais bonitas de um amor bem vivido
Nossos frisos nos rosto dos sorrisos de prazer
De uma vitória merecida, de uma conquista pessoal
De um trauma vencido, de saúde emocional
Só nos trará aquilo que merecemos como viventes dessa nau
Quem nos ama e conhece bem enxerga fundo
E o melhor que podemos extrair daqui não é material
É emocional e pessoal…
Alda M S Santos
QUE TE FAZ LEMBRAR DE MIM?
“Estava limpando o quintal
E ao ver os vasos de flores
Lembrei-me de você”- ela disse
Que delícia ser lembrada assim…
Maravilhoso seria se vivêssemos sempre desse modo
Deixando nos outros somente doces e belas lembranças
Flores, perfume, sorrisos, poesias e livros
Uma gargalhada, uma brincadeira, uma sapequice qualquer
Imprimindo nos outros marcas eternas
De carinhos, beijos, cuidado, abraços, delicadeza
Se ao se lembrarem da gente um sorriso saudoso vier à mente
Terá sido válida essa passagem por aqui…
Que te faz lembrar de mim?
Alda M S Santos
NOSSOS RASTROS
Nesse ora tão longo, ora tão breve caminho da vida
Seguimos as marcas deixadas por nossos antecessores
Em forma de pegadas, de palavras, de registros escritos
Um sentimento, um exemplo, um sinal qualquer a nos guiar
Nem todas as marcas são positivas, mas ensinam
Percebemos as que não levam a lugar algum
As que são voltas desnecessárias
As que levam para um beco sem saída
As que nos jogam num buraco perigoso
As que são certeiras e relaxantes
As trilhas que precisam ser reconstruídas
Algumas mudam, deixam de ser adequadas
Surgem outras mais tranquilas ou mais difíceis
A nós cabe o discernimento para fazer a melhor escolha
Não devemos nos esquecer que somos deles sucessores
Mas que somos antecessores daqueles que vêm atrás de nós
É uma caminhada feita há milênios
E outros quantos milênios virão?
Nossa tarefa é melhorar a trilha e as marcas sempre
Precisamos seguir…
Nem que seja para não decepcionar quem já foi
Ou quem ainda vem em nosso encalço seguindo nosso rastro…
O brilho de nossa luz…
Alda M S Santos
ONDE ESTÁ NOSSO CORAÇÃO
Não precisa procurar muito, bobagem ir longe
Parte de nosso coração sempre estará onde mais nos dedicamos
Onde derramamos nossos dons, nosso trabalho prazeroso
Nosso carinho, nossa amizade, nosso amor
Passe o tempo que passar, seja qual for a distância
Reencontrar pessoas, rever espaços
Lugares que passamos boa parte de nosso viver
Onde estão nossas digitais emocionais
Receber o carinho sempre tão especial
Daqueles pequenos seres que se doam sem medidas
Não tem como não sentir uma emoção, felicidade e saudade profunda…
Enquanto eu me emocionar numa escola
Enquanto me encantar com crianças aprendendo
Com o carinho tão espontâneo delas
Irei agradecer por ter podido ensiná-las e aprender com elas tanto tempo
Saberei que meu coração sempre estará “enterrado” ali…
E, principalmente, na marquinha especial que levam de mim no peito
E que eu trago delas comigo…
Vivemos nas marcas que deixamos nos corações alheios
E nas marcas que carregamos deles conosco…
Alda M S Santos
BOA OU DOÍDA LEMBRANÇA?
Que despertamos na memória das pessoas:
Boa, ruim, doída ou gostosa lembrança?
Uma tia baiana que nos “cedeu” sua cama de casal numa visita
E que vi apenas uma vez, faz aniversário hoje…
Lembrar dela é lembrar dessa delicadeza
Com toda sua simplicidade, deixou marca boa, de cuidado, há mais de 25 anos
Temos em nós diferentes marcas, boas ou ruins
Impressas na alma tal ferro em brasa, tal digital
Que nos fazem gratos, saudosos, tristes ou resignados
Qual será a marca que temos deixado na alma dos outros
Daqueles que passaram por nós e ficaram para trás por variados motivos?
Será que são agradecidos ou inconformados?
Será que se lembrarão das delicadas ações
Das “camas” que cedemos, da amizade, do amor, do sorriso, do carinho
Do pouco que tínhamos ou podíamos, e cedemos, como tia Maria Helena fez
Ou da sovinice, maus tratos, críticas, reprovações, lágrimas?
Deixamos como lembrança algo amargo que querem apagar,
Ou doce, digno de ser lembrado e saboreado?
Qual a marca que deixamos naqueles que conosco conviveram?
Alda M S Santos
ETERNIDADES QUE FAZEM DE NÓS SUA MORADA
Uma suave canção de ninar, braços suaves a nos embalar
Um brinquedo inseparável, cheiro de segurança quase palpável
Uma turma de amigos malucos, uma força a mais ao arrombar as portas pesadas do mundo adulto
Um primeiro amor impossível, uma paixão a nos ensinar as primeiras dores do coração
Um olhar, uma sintonia, almas que se encontram, se beijam, se afinam em deliciosa harmonia, parceria para a vida
Um choro, um pequeno ser, uma vida a nós entregue para cuidar e dia a dia nos refazer
Uma amizade, uma mão que se oferece, um olhar de apoio, aceitação que nos envaidece
São marcas, lembranças, memórias, saudades
Infância, adolescência, relacionamentos, maternidade, amizades
Pequenas grandes delícias que se eternizam em nosso ser
E nos fazem estar vivos quando tudo parecer morrer…
Alda M S Santos
PEGADAS
A cada passo dado, uma pegada é deixada
Mais profunda ou superficial, dependendo da estrutura do terreno
E da intensidade do caminhante nesta jornada
Olhamos para frente, quase nunca para trás
O caminho é longo, chuva insistente ou sol escaldante
Calor animador ou frio acolhedor, belo e florido, ou cheio de pedras
Mas os objetivos são estimulantes
Seguimos…
Se em algum momento quisermos voltar atrás, refazer aquele caminho
Não mais nos encaixaremos naquelas pegadas deixadas
Não nos reconhecemos ali
Antes tão justas e agradáveis como uma meia de lã
Aconchegantes e ternas como um abraço
Agora parecem ser de outra pessoa diferente de nós
Grandes, largas ou apertadas demais, machucam, não servem
São de outra pessoa!
Nós em outra época…
Sensação de não pertencimento nos acomete
As marcas na areia, na terra, na mata ou no asfalto
Não são diferentes das marcas que deixamos nos corações dos outros
Nas que são deixadas em nossos corações
Em nossa própria alma…
O tempo e a força ou delicadeza aplicada em cada passo
Farão com que essas pegadas sejam profundas, ternas e eternas
Ainda que não nos caiba mais do mesmo modo
Pegadas são importantes digitais gravadas na alma dos que se amaram
E esses se pertencem…
Alda M S Santos
O TEMPO
Se ignorássemos que o relógio trabalha do mesmo modo para todos
Acreditaríamos que ele privilegia alguns: passa mais devagar, mais acelerado ou até pare, dependendo da pessoa
Os mesmos 50, 60 ou 70 anos não têm o mesmo efeito para todos
Pesos diferentes para rostos, corpos, mentes e almas diferentes
A genética e a questão sócio-econômica pesam, bem sei
Mas não é o que faz a diferença maior entre as mesmas sessentonas, setentonas ou cinquentões
O efeito do tempo parece amenizado em alguns rostos, corpos e almas
Valem-se muitas vezes de preenchimentos estéticos, próteses, cirurgias, cremes e botox
Mas não há nada, nenhum recurso estético que mantenha tão bem um olhar brilhante e terno
Um sorriso lindo, um colo acolhedor, um corpo ágil e alma leve
Quanto uma vida recheada de amor, carinho e compaixão
Que acabam por aumentar o poder de atração e prazer na companhia de alguns
E reduzem uns 10 anos de rugas no rosto e de “peso”nas costas daqueles que não se entregam
Amor não vivido, gritos calados, sonhos desfeitos, culpas e medos têm efeito terrível no corpo e na alma
Mais que marcado por rugas, o rosto se torna opaco e sem brilho
As costas parecem carregar o mundo, o passo reduz, a boca só emite amargor
A vida bem vivida, em paz consigo mesma, com amor, sem excessivas cobranças
Tem o poder de fazer o relógio ser mais lento, andar ao contrário, quase parar
Melhor, tem o poder de fazer cada segundo se eternizar no tempo…
Alda M S Santos
AMOR TATUADO
Tatuagens têm a fama de serem eternas
Uma vez tatuado, sempre tatuado
Retirar é deixar outra marca muitas vezes bem feia
Tatuar por cima apenas disfarça a imagem anterior
Os amores de nossas vidas são assim
Uma vez amor, sempre amor
Pode apagar que fica lá uma sombra leve
Pode reescrever que usa as mesmas linhas
Talvez até as mesmas palavras, nuances, cores
Bom mesmo é deixar tatuado
Marcas do que viveu, do quanto amou
Algumas “tatuagens” são tão profundas que só a gente nota
E nunca gostaríamos de apagar!
Alda M S Santos
NOSSAS CASAS
Casas trazem em si as marcas dos que ali viveram
Uma foto antiga dos patriarcas na parede
Um assoalho surrado, uma porta gasta e encerada pela gordura da pele
Marcos das portas com linhas sinalizando alturas medidas ali
Uma toalha de crochê antiga na mesa
Batentes de janelas escritos a canivete sob o tom cinzento do fumo
Um crucifixo sobre um oratório com Nossa Senhora e uma vela acesa
Uma Bíblia sempre aberta nos Salmos
Uma gangorra que já muitos balançou
Numa árvore centenária muito querida
Caixas antigas com fotos e cartas amareladas
Um livro com uma rosa especial desidratada entre as páginas…
Somos uma casa de muitas moradas
Infinitas marcas trazemos em nós
A começar com o rosto sulcado de rugas
Quantas histórias, quanta vida!
Valorizemos as marcas deixadas em nossa “casa”.
Alda M S Santos
COMO SABER?
Vidas que caminharam juntas, em paralelas, se entrelaçaram.
Como saber significados que deixaram uma para a outra?
Como saber a importância que tiveram entre si?
Basta olhar o que ficou em cada uma delas, o que foi deixado no outro.
Vidas que se tocam, se amam, não se entrelaçam, e se vão, sem deixar sua marca.
Fica um jeito de ser do outro, um sorriso, um carinho, um conselho, uma palavra, uma lembrança…
Algo de pessoas que se amaram ficará sempre impregnado uma na outra, como um perfume suave…
Mas o melhor jeito de saber a importância que tiveram,
É a capacidade de se fazerem presentes, sempre, de alguma forma, principalmente nas adversidades,
Guardadinhas no coração…
Alda M S Santos
PASSAGEIRA
Nossa vida pode muitas vezes ser
Tal qual fogo de palha, tempestade de areia,
Chuva de verão, a luz de um raio,
O barulho de um trovão, as ondas do mar,
Um trem bala ou um avião a jato.
São rápidos, passageiros,
Mas sempre deixam seus rastros.
Gravam suas marcas indeléveis,
Nos outros, em nós mesmos.
Alda M S Santos
MARCAS IMPRESSAS
Sempre vemos algo que dizemos: isso me lembra fulano…
Pode ser o jeito de sorrir, de jogar o cabelo
O modo de andar, de se vestir
A delicadeza das atitudes, o abraço, o beijo,
A voz, as palavras doces,
A fisionomia sisuda, o mau humor, a ansiedade.
A atenção, o carinho, a preocupação,
A criatividade, a intensidade, as bochechas coradas
A animação ou desânimo, o jeito lento ou acelerado.
O modo de dançar, cantar ou encantar,
A fé, a coragem, a força de vontade,
O perfume, o olhar, o batom rosa, a barba por fazer, aquela bebida…
Quais serão as marcas que deixamos impressas por aí?
Podem ser infinitas!
Preferiríamos que fossem apenas as agradáveis!
Caminhemos com esse intuito!
Alda M S Santos
MARCADO A FERRO
Estava de camiseta estilo nadador
Ombros e braços à mostra,
Uma bela tatuagem de uma garota de longos cabelos nas costas
E um nome que não pude ver.
Malhava no aparelho ao lado do meu
“Nem precisa registrar assim, não é?”
O quê?
“A tatoo. É minha garota!”- disse aquele senhor mais velho.
Há outros tipos de registros, concordei.
“As pessoas escrevem suas histórias em nós de diversas formas”. – disse sorrindo.
Certamente! Umas escrevem a lápis, logo se apaga e não deixam marcas.
Outras escrevem à caneta, demora um pouco mais, mas também desmancham e deixam algumas marcas.
“E há aquelas que registram a ferro. Nunca mais conseguimos apagar”- ele completou.
Sim. Ficam impregnadas em nós. Registradas na pele, no coração e na alma. Nem que a gente queira consegue extirpar.
“É o caso dessa garota, minha filha, nem precisaria estar nas minhas costas. Ela se foi, mas está registrada a fundo lá dentro”.
Todos temos histórias registradas em nós!
“Você tem a pele limpa, mas certamente tem muitas histórias marcadas a ferro”.
Todos nós, senhor! Todos nós!
Alda M S Santos
MARCAS
Na desconhecida extensão de minha jornada
Vou imprimindo minha marca
Forte, leve, às vezes insegura
Só ou acompanhada,
Feliz ou nem tanto
Sempre carinhosa e intensa.
Até quando o Criador permitir…
Alda M S Santos