TERRENO
Há sementes de todos os tipos
Lançadas ao vento, no pensamento
Levadas por polinizadores diversos
Só brotam em terrenos que as cultivam
Sou um terreno seletivo
Ou sou aqueles que a tudo cultivo?
Alda M S Santos
JARDINAGEM
Posso promover mudanças por aqui
Plantar ou replantar meu jardim
Posso podar alguma flor, arrancar outras
Estabelecer prioridades de sol e sombra
Luz direta ou indireta, escuridão
O bom jardineiro conhece cada rosa ou folhagem
O tempo de adormecer e de desabrochar
A quantidade da rega, a qualidade do adubo
As mudas que podem ser feitas e distribuídas
Ou aquelas que já morreram, tempo esgotado
Natureza tem seus tempos, sua circularidade
Nascer e morrer fazendo parte do mesmo viver
Olho para meu jardim interno
É tempo de cuidar de minha plantação
Coloco meu avental, minhas luvas
E de coração aberto começo a jardinagem
Não importa a estação, sempre é tempo de renovação
Alda M S Santos
VAMOS VENCER!
Insisto na vida, não desisto, persisto
Mesmo por trás do dia embaçado pelas incertezas
Ainda que o amanhã pareça sem perspectivas
Ou que eu não tenha assim tanta destreza
Eu acredito que a humanidade irá vencer
Que saberá superar o egoísmo pesado e cruel
Penso que haverá sempre um colo protetor
Um alguém que nunca desistirá de ser amor
Tento não focar em tudo de ruim que vejo
Alimento meus pensamentos do broto bom
Deixo minha audição aberta para doces sons
Abraço a esperança que há no sorriso da criança
Estendo a mão àqueles que estão por perto
Ignoro os ventos, tempestades e vendavais
Observo o céu e todos os seus sinais
Aguardo o arco-íris, ele sempre vem…
Percebo que minha energia contagia meu entorno
Tento vibrar alegria, fé, luz, cores e magia
Se o mundo foi feito para a gente evoluir
Se estou por aqui, não desperdiço, vou conseguir
E se puder levar comigo uma legião de almas boas
Eu o farei, vamos agradecer, acreditar, caminhar, viver não é a toa….
Alda M S Santos
REINICIANDO
Tudo em preto e branco, branco e preto
Ou em tons acinzentados, desmantelados
A vida parece em modo de espera
E meio sem saber, humanos subjugados
Lá fora agora está quase tudo proibido
Ficar cá dentro muitas vezes parece castigo
Onde estão as cores, as flores, os amores
Tantos se perguntam, andam perdidos…
Beijo, abraço, um toque, uma visita? – pode não
Você não sabe que põe os outros em risco, cidadão?
Humanidade que tantas vezes pairou na superfície
Sente-se obrigada a aprofundar, mergulhar em si mesma
Desacostumada com a solidão, sente-se desafortunada
Tão habituada a usar máscaras de proteção de sentimentos
Se vê coagida a usar máscaras de barreira contra contaminação
Um sorriso amarelo que disfarçava dores, dizia “tudo bem”
Agora nada valem se não chegar aos olhos que é o que veem
Tantas dúvidas, medos, ansiedades e inseguranças
Enquanto uns questionam o que virá disso tudo
Há quem festeje, quer que o mundo seja formatado
E outros querendo apenas que ele reinicie
Dando nova oportunidade de fazer diferente
Reaprender a amar, confiar, ser mais gente
Que valha a pena…reiniciando….
Alda M S Santos
PEGADAS
Se daqui a um século
Tudo que existir de você
For aquilo que deixou registrado
Em palavras, versos quase apagados
Se seguissem suas pegadas
Aquelas impressas, leves ou pesadas
Conseguiriam ao menos de você fazer um esboço?
Em tudo que compôs, escreveu
Que iria sobressair como seu?
Paz, esperança, amor, tranquilidade
Medos, lutas, persistência, coragem, solidariedade
Qual seria seu retrato, seu moço?
Não é preciso um grande feito para se eternizar
Vários pequenos feitos também têm seu lugar
Suas pegadas, poetas, são suficientes
Para seu presente no futuro te eternizar?
Alda M S Santos
CHUVA LÁ FORA
Raios rasgam o céu e atravessam a janela
Trovões estremecem a porta, os tímpanos
Chuva forte no telhado, goteiras intensas
Enxurrada lava tudo
Ou suja tudo, diriam alguns
Cá dentro estamos seguros
As árvores se agitam nervosas
A terra se encharca, bueiros transbordam
O barulho lá de fora sobressai
E acalma o barulho cá de dentro
Uma boa chuva sempre molha
Até mesmo aqueles que dela se protegem
Ainda que não nos molhe por fora
Sempre nos irriga por dentro
E nos torna um terreno quente e úmido
Permitindo que algo de novo brote
E que faça o amanhecer em nós mais bonito…
Alda M S Santos
PLANETA AZUL
Entre vegetais, minerais, animais
Astros e estrelas
Água, terra, ar, fogo, coração
Um gigante repleto de seres (des)animados solto no espaço
Nosso planeta azul não é mais tão azul assim
E somos a parte pensante por aqui
Somos a parte coração
Aquela capaz de amar, construir e destruir
A si mesmo e aos seus semelhantes
Só não sei afirmar ainda
Se essa é a notícia boa ou ruim
Para nós e para o planeta…
Alda M S Santos
NO PONTO CERTO
Café, passado na hora, quentinho, cheiro delicioso e convidativo
Sementes, mudas, raízes, brotos, galhos, flores, frutos maduros
Depois de aparentemente prontos para consumo
Os grãos precisam ser colhidos
Colocados para secar, socar, torrar, moer
Para, ainda assim, passar por água fervente, ser coado
Até podermos saborear o delicioso cafezinho…
Colhê-los antes da hora seria perda de tempo, desperdício
Esperar demais ele seca, murcha, passa do ponto, apodrece e cai
Verde demais ou apodrecido não dá pó, não faz café
O mesmo se dá conosco
Todas as fases que passamos são para chegarmos ao ponto certo de “consumo”
Quantas vezes parecemos maduros e prontos
Não aceitamos a parte dolorosa do secar, torrar, moer
Sem saber que o melhor ainda está por vir?
Laranjas só dão suco se espremidas
Grãos de café só valem se maduros, torrados e moídos
Pessoas só chegam à alegria e sabedoria da maturidade
Quando são o “café” quente e animador para si e para os outros
Quando não negam e encaram as etapas dolorosas do viver
Como parte do se tornar “eu”.
Somos eternos cafezais num constante florir, frutificar, colher, secar, torrar, moer, repousar
E virarmos cafezinho saboroso
Verde, maduro, seco, no ponto certo…e a vida segue…
Qual seu ponto ideal?
Aceitam um café?
Alda M S Santos
NASCER DE NOVO
Quantas vidas temos? Sete, como os gatos?
Quantas mortes são necessárias para nascermos de novo?
Por quantos partos passamos para recomeçar?
“Nasci de novo”!- dizemos ao passar por um risco iminente de morte.
Ignoram as vezes que morremos e nem perceberam.
As vezes em que nos mataram, nos matamos, de tudo quanto é tipo de morte.
Não é só arma ou doença que matam!
Desconhecem as vezes que fizemos nosso próprio parto, calados, sofridos.
Sozinhos nas madrugadas, expulsamos placentas, damos a luz a algo novo.
Parto natural, após cada morte/vivência nova, dolorida, mas produtiva.
Parto cesariana, após um período longo e difícil de gestação.
Usando fórceps, quando quase desistimos, faltava força e coragem para renascer e continuar…
Tantos matam, se matam, gestam e renascem tão facilmente quanto respiram.
Mas renascer exige força e coragem!
Há os partos duplos ou triplos, quando o renascer traz outras vidas consigo.
Quantas vezes morremos, quantas renascemos? Quantas mortes evitamos?
Quem é capaz de dizer além de nós mesmos?
Certo é que um renascer é quase sempre muito difícil!
Até que chega um morrer do qual não conseguimos ou não queremos nascer de novo…
Alda M S Santos
FLORES NO CAMINHO
São flores, doces, lindas, coloridas
Enfeitam, perfumam, ocupam todos os espaços possíveis
Alegram os caminhos nem sempre fáceis ou justos
São vida!
Pelo olhar adentram a alma, invadem recônditos escuros
Deixam uma suave fragrância de vida onde passam
Abrem um sorriso iluminado onde tocam, em quem presenteiam
Fazem minar nos olhos gotas brilhantes como orvalho
Mas também precisam ser podadas, cortadas
Ou podem sufocar tudo a sua volta, matar por asfixia
A sabedoria consiste em identificar o momento certo da poda
E o quanto é possível cortar sem matar
E seguir o caminho …
Na esperança de novo broto, mais forte e mais bonito
Nos ciclos vitais da natureza que brotam dentro de nós
A primavera vem mais bonita para quem soube apreciar o inverno
Não somente tolerá-lo!
Alda M S Santos
O AMOR NA AUSÊNCIA
O amor é sentimento tão ímpar
Que é sempre identificado
Ainda que na sua ausência.
Onde ele encontra morada
Tudo é luz, brilho, resplandecer
Cor, forma, contágio, alegria
Visível até aos mais incrédulos
Onde ele não é percebido
Notamos as pegadas de sua ausência:
Secura, tons acinzentados, amargor
Opacidade, escuridão, tristeza
Lágrimas, espaços vazios, vácuos
Mas ele está lá, em forma de semente
Pronta para germinar à primeira gota d’água
Ao calor do primeiro raio de sol
Ao cuidado de um mínimo gesto de reciprocidade
Vira broto, desenvolve raiz, cresce
Torna-se flor, árvore frondosa
Sem precisar fazer sombra ou derrubar outras “árvores”…
Alda M S Santos
OUTONO
As folhas caem, o ar se veste de tons amarronzados,
A brisa suaviza, esfria, galhos ficam seminus,
O clima resseca, a natureza se protege para a temporada gelada.
Sábia, antevê tempos difíceis, reserva energia.
Para muitos, a beleza e alegria se perdem no outono,
Para outros, elas apenas ficam camufladas, protegidas, resguardadas.
Um outono verdadeiro é muito mais lindo que uma primavera forçada.
Quantas vezes precisamos ser outono, nos resguardar, fortalecer,
E insistimos em ser primavera, desperdiçando energia valiosa?
Quando encaramos de frente os outonos de nossas vidas,
O inverno torna-se menos pesado e retornamos com esplendor redobrado,
Deixando a primavera desabrochar no tempo certo,
Com novo brilho, novas cores, novas flores, novos amores,
Nova vida!!!
Alda M S Santos
TERRAS FÉRTEIS
Sempre acreditamos que devemos plantar em terra boa,
Sempre nos ensinaram que só colheremos frutos se a terra for fértil,
Porém, pode haver secura e rigidez à princípio,
É preciso disposição e coragem para investir.
Mas, depois de plantar, vamos cuidando…
Com água, húmus, adubo,
Sol, amor e carinho,
Porque mesmo em meio a toda aridez,
Pode haver vida!
Brotar vida,
E vida bela…
Para quem mantém o coração e os olhos abertos…
Alda M S Santos
SENTIMENTOS NÃO SE PRENDEM!
Não somos guarda-volumes, caixas-fortes ou depósito de sentimentos. Sentimentos existem para serem expressados, transformados, sublimados ou eliminados, nunca estocados.
Se forem sentimentos ruins, negativos, que nos fazem mal ou aos outros, precisamos trabalhar para transformá-los ou eliminá-los. É o caso do ciúme, da inveja, da raiva, da negatividade, da superioridade, da possessividade. É necessário investigar as causas, analisá-las a fundo, buscar substituição por sentimentos melhores tipo confiança, fé, bondade, compaixão e amor.
Se forem sentimentos nobres, mas que, de alguma forma, não têm feito bem, é preciso alguma ação sobre eles. É o caso da fé cega, da compaixão, da solidariedade, da alegria, do amor. Sim! Eles também podem fazer mal.
A fé cega costuma gerar superioridade e preconceitos para com os demais. Ela precisa transformar-se em ação, humildade e compaixão. A fé sozinha, sem ação, é inútil!
A compaixão e a solidariedade excessivas podem paralisar e tornar dependentes aqueles que delas necessitam. Oferecer ajuda é carregar no colo primeiro, em seguida dar as mãos, mas depois deixar livre para seguir. E não pode também paralisar a vida de quem ajuda.
A alegria contagia, faz vibrar, mas perto de quem está muito mal soa “ofensiva”, portanto, não deve ser escondida, mas dosada.
O amor sempre será positivo. Sempre. Para quem sente e para quem o recebe. Porém, há os casos em que o amor tem que vir com uma dose de cobrança, de firmeza, como no caso do amor paternal. Mas nunca deve se esconder atrás da severidade.
Há os casos em que ele ocupa um só coração, então, deve ser transformado em amizade ou “direcionado” para outro beneficiário.
Há ainda os casos “proibidos”, se é que existe amor proibido. Pode ser por um esporte, inadequado fisicamente para quem o aprecia, por um hobby, oneroso demais para se manter, por um objeto, viciante, por uma pessoa, inacessível. Nesses casos, há a sublimação. A força desse amor deve ser sublimada em outra atividade que lhe dê prazer. Um “amor” excessivo ao fumo, por exemplo, pode ser sublimado numa habilidade musical. O amor por uma pessoa inacessível pode ser sublimado numa energia de amor fraternal e solidária, e por aí vai…
Não estou querendo de modo algum simplificar. Apenas afirmo que sentimento preso e estocado não produz coisas boas, ao contrário, pode gerar doenças.
Precisamos nos cercar de pessoas alegres e sábias que, de uma forma ou de outra, sempre nos ajudam.
Podemos pensar que não somos responsáveis por sentimentos que brotam em nós. Não somos mesmo! Sentimento é vivo, nasce, cresce, se expande, está em constante movimento. Brota por algum motivo. Mas uma coisa é certa, podemos escolher o que fazer com eles, quais vamos alimentar, deixar crescer e manter como nossa marca registrada.
Que seja o amor!
Alda M S Santos
Minhas orquídeas:
Pode não haver flores todo o tempo, mas há vida!
Há raízes, folhas, força interna.
Cultivadas no interior,
Cedo ou tarde as flores aparecem,
mais maravilhosas que nunca.
Sabedoria da natureza à disposição de todos.
Alda M S Santos