NA MESMA MORADA
Eram várias e bem diferentes entre si,
Moravam juntas, viviam bem, quase sempre.
A mais sapeca ria e brincava com tudo,
Sorriso cativante, alegria contagiante.
Atraía amigos e alguns invejosos.
Costumava implicar com a introspectiva,
Que queria ficar reclusa, pensativa, nem ser vista.
A mais liberal não temia quase nada.
Queria tudo que tinha direito e o que não tinha também,
Seria capaz de enfrentar o mundo, sozinha ou acompanhada.
A “certinha” criticava, ameaçava, fazia terrorismos com ela. Difícil de aguentar.
A ponderada e mais vivida compreendia, avaliava, aconselhava. Sempre com um sorriso terno e um abraço carinhoso.
A caseira queria se enroscar nos lençóis, comer pipoca e assistir um filme na Netflix. Ora organizava tudo em modo turbo, ora não lavava nem um copo.
A aventureira queria atravessar o oceano em grandes projetos. Junto com a festeira, gostava de se arrumar, dançar e se divertir.
A cheia de energia, eletricidade pura, amava dias de sol, caminhar, pedalar, nadar…
Andava rápido, cabelos ao vento, vestidos esvoaçantes…
Amava boas conversas, gente inteligente, interação.
A tranquila era fã de dias de chuva e nublados para mergulhar num livro, na poesia.
Ficar o dia todo de pijama, de short, cabelos revoltos, deitar na rede, olhar o céu. Gostava também de roça, de bichos, de mato.
A mais filósofa questionava a vida e suas vicissitudes, se contrapondo à toda light que deixava a vida a levar…
A mais amorosa, que era extremamente dedicada a todos, à família, aos amigos, a Deus. Era muito querida.
A profissional, pontual, correta, trabalhava mesmo doente, muito dedicada e perfeccionista.
A mais “mulher” que gostava de se enfeitar, perfumar, maquiar, ser carinho, dar carinho, namorar.
Moravam juntas, num mesmo corpo, brigavam, às vezes, mas aprenderam a conviver entre si.
Todas tinham algo em comum: a extrema necessidade de amar e ser amada.
A vontade louca de abraçar o mundo com apenas dois braços e um grande coração, de ajudar, de estar presente. A tristeza e angústia em não ser capaz de fazê-lo.
Isso, por si só, as tornava uma, única, unidas num mesmo propósito: viver e ser feliz.
Alda M S Santos
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