APENAS UMA CARONA

Uma ida à cidadezinha, sol a pino. Calor de derreter os miolos, um senhor subindo a pé. 

Observo. Estranho. Mais velho, dificuldade no andar. 

Paro: “quer uma carona?”

Ele entra: “Que bênção! Estou com um cravo no pé me matando.”

Conta uns casos, fala de seu sitiozinho, seus bichos, do tempo… Simpatia interiorana. 

Andamos uns 2 km e ele desce, muito agradecido.

Pus-me a pensar. Se fosse na cidade, eu teria dado carona para um homem estranho? 

O que tem esse lugar que nos faz confiar nas pessoas? 

Ou o que tem nas cidades grandes que nos faz desconfiar? Nos impede de ser solidários?

Temos tanto medo de assédios de todo tipo, físicos, morais, financeiros, sexuais, que pensamos milhares de vezes antes de oferecer uma mínima ajuda. Pode ser algum maníaco com uma tara qualquer…

 E assim, vamos nos afastando das pessoas, nos distanciando de nossa humanidade. 

Vamos perdendo a capacidade de nos condoer com o sofrimento alheio, de atender às mínimas necessidades dos outros.

O que será que Deus vê em nós quando nos afastamos de um semelhante, desconfiados? 

“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” vale só para as cidadezinhas do interior? 

Estamos nos perdendo da essência humana. Triste constatação! 

Alda M S Santos