FAZENDO MORADA
Em busca de paz, de tranquilidade
Deixo minha porta entreaberta
Não fecho e nem abro demais
O sol precisa entrar, iluminar o lugar
Abro bastante para só entrar o que for especial
E deixar sair o que já não está tão legal
Nela serei porteira atenta e criteriosa
Se for leve, perfumado, bonito e colorido
Encontrará passagem, morada certa, abrigo
Mas se for cinza, sisudo ou amargo
Peço para ir embora, não cabe, cria embargo
Descobri que para se ter paz e tranquilidade
Destino melhor sou eu mesma, minha verdade
Ainda que seja repleta de sonhos, na realidade
São meus, aqueles que cuido e alimento
Que me fazem bem, me dão alento
Abro as portas e deixo fazer morada
O que já é sorriso e empatia na chegada
Mas se não tiver o brilho e a docilidade
Se for só cobrança, cercear a liberdade
Vá em paz, aqui não roubará minha felicidade
Alda M S Santos
EM CASA, ONDE QUER QUE SEJA
No meio do mato, perdida na mata
Ouvindo os sons do silêncio
Em casa, onde quer que seja…
Numa estrada de terra, margeada de buganvílias
Sentindo o cheiro das cores intensas
Em casa, onde quer que seja…
Mergulhada nas águas de um rio gelado
Dependurada de ponta a cabeça numa árvore centenária
Em casa, onde quer que seja…
Numa casinha de pau a pique, numa barraca de lona
Num colchonete sob céu estrelado
Em casa, onde quer que seja…
Debaixo de uma tempestade, sem energia
Ouvindo o tamborilar das gotas insistentes na janela
Em casa, onde quer que seja…
Num jardim florido e colorido, entre abelhas e borboletas
Ouvindo as cigarras agitadas e o “motor”dos beija-flores
Em casa, onde quer que seja…
No deserto, numa região árida e seca, sob sol escaldante
Em busca de um oásis sonhado
Em casa, onde quer que seja…
A sensação de estar em casa em qualquer lugar
Surge quando estamos bem conosco mesmos
Quando acalmamos nossos gritos, fazemos as pazes com nossos silêncios
Nossa verdadeira casa é aquela que carregamos conosco
Como caracóis…
Se essa casa abala alicerces, trinca paredes, desmorona, em qualquer lugar nos sentiremos intrusos
Todos queremos estar sempre
Em casa, onde quer que seja…
Alda M S Santos
ERA UM LAR
“Uma casa não se assenta sobre a terra, mas se assenta sobre a mulher”- provérbio mexicano.
Até há bem pouco tempo foi um lar alegre, colorido, apaixonado
Pareciam uma família italiana
Grande, diversa, barulhenta, vibrante, animada
Amorosa, com brigas, atritos, silêncios e reconciliações
Firmadas numa base forte: a mulher, a mãe, a matriarca
Agora ela se foi, não teve escolha, foi levada
E o lar virou apenas uma casa
Cheia de paredes que não abafam os gritos constantes
Tijolos e concreto que evidenciam a dureza dos corações
Cores que não combinam e estão tão desbotadas quanto o desamor em escala cinzenta
Teto que não mais abriga as almas solitárias
Tristeza molhada que causou a queda das vigas de sustentação
Já foi todo tipo de comércio, descaracterizou-se
E de seus habitantes só se ouve berros raivosos
Os silêncios são conflitantes, tortuosos
Reconciliações? Ficaram perdidas entre as paredes derrubadas do lar
E misturadas aos destroços dos corações…
Uma casa linda, mas que não abriga corações!
Uma casa, bonita ou feia, grande ou pequena, para ser um lar precisa de um Morador Especial
E ouso completar o provérbio mexicano:
Um lar se assenta num tripé: uma mulher feliz, com Deus no coração, e uma família amorosa!
E fica a questão: que será de nossos lares quando formos embora?
Ou mesmo quando parecemos apenas sombra dentro dele?
Qual a base, a liga que une seus membros, a harmonia de sustentação?
A reconstrução de uma casa qualquer empreiteiro pode fazer
A reconstrução de um lar exige especialização
Em amor, respeito e doação !
Alda M S Santos
EM CASA
Sinto-me em casa quando posso ser quem sou
Sem constrangimentos, andar descalça, descabelada, ou não
Nua em pelo, de corpo e alma
Ou num moletom desbotado e nada sexy
Sem temer julgamentos ou represálias, sem falsos pudores
Com a certeza de ser aceita como sou
Dizer tudo que aprouver, ouvir sem resistência, com prazer
Ou silenciar, sem causar lacunas desagradáveis
Usar aquele baby-doll confortável que mais parece um abraço
Aqueles chinelos gastos como as memórias
Ouvir e cantar a música preferida bem desafinada, não importa
Esparramar na rede, ler um bom livro,
Entregar-me às boas memórias, às saudades, aos sonhos
Assistir um filme no sofá com um pote grande de pipoca
Ouvindo a chuva cantarolar feliz no telhado
Numa sintonia perfeita com minha alma
Aceitação total de quem sou, sem amargar culpas
Aceitando as pedras que aparecerem como oportunidade de superação
Sem ferir ou machucar ninguém, ajudando, se possível
Sabendo que Alguém lá em cima me ama e olha por mim
Isso é estar em casa!
Qualquer lugar ou pessoa que nos faça ser ou sentir diferente disso
São, no máximo, tolerados…
Estar em casa é um estado de espírito de graça
De simplicidade, harmonia e paz…
Alda M S Santos