DESTINO OU CAMINHADA?
Nas vielas estreitas de nossa caminhada
Ou nas avenidas largas de nossa estrada
Na ânsia de alcançar o cume de nossos montes
Muitas derrapadas e quedas são ignoradas
Mal sabendo que parar para
reavaliar o já percorrido
E uma análise pontual do percurso que ainda falta
Bastariam para ver que a jornada é tão importante
Quanto aqueles que seguem conosco nessa viagem
O destino continua lá, a esperar, não vai embora
Chegar acompanhado daqueles a
quem apoiou e foi apoiado
Vale muito mais do que chegar sozinho, adiantado
Tendo deixado tantos caídos,
derrubados por nossa pressa ou indiferença
A leveza da chegada depende
Do quanto soube amealhar
ou abrir mão na jornada
Alda M S Santos
DESTINO
Sempre ele é citado, lembrado
Quando algo dá certo ou errado
O destino é apontado como o culpado
O viver é por vezes lamentado
Será que o destino está fora do nosso alcance
Mudar não nos caberia, não teríamos chance
Ou somos nós que fazemos nosso destino
Entre boas escolhas ou tantos desatinos?
Será ele que dá o trabalho que nos sustenta
Que nos faz chegar ao amor que nos alimenta
Serão as companhias dessa linda travessia
Impostas pelo destino, à nossa revelia?
Vim com uma missão, nisso eu acredito
Recebi dons, habilidades, o resto eu conquisto
Se há algo que seja pré-determinado, não ligo
Faço o que me cabe, sou amor, sou abrigo…
Alda M S Santos
SEMPRE A LUZ
Ora em tons de verde, florido, claro, quentinho
Ora cinzento, frio, escuro, fosco, triste
Mas a luz está sempre lá…
Quantas pegadas foram deixadas para trás
Quanto há dessa estrada a percorrer
Mais, menos… não sabemos
Mas a luz está sempre lá…a chamar
Quantas vezes quisemos voltar, parar, seguir
Sorrir, chorar, gritar, silenciar
Pular partes, sentar, desistir
Vencer tudo de uma vez só
Mas a luz estava sempre lá…a nos chamar
Vamos construindo passo a passo esse caminho
Lentamente, apressadamente, andando ou correndo
Mas a luz está sempre lá…
Sentimentos se alternando em nós, humanamente
Bem acompanhados, muitas vezes, agradecidos
Solitários e meio desamparados em outras, descrentes
Mas a luz está sempre lá…
Ela é nossa bússola, nosso guia
Aquela que nos traz de volta aos trilhos
Nas vezes em que, por imperícia, descarrilhamos
Ela é nosso objetivo
Sempre a luz…
Sempre a busca incessante pela luz
É ela que nos fortalece e anima
Quanto falta? Não sei…
Sei que sigo a minha Luz…
Alda M S Santos
(RETRO)VISÃO
Diante do vidro para-brisa se descortina o caminho
O olhar o tem à frente, independente se o vemos limpo ou embaçado
Claro, escuro, livre ou interrompido por desvios
Ele esta lá, quer pisemos fundo no acelerador da vida
Ou brequemos forte nos freios, desanimados
O olhar volta para o retrovisor, vê o caminho lá atrás
Ora bonito, florido, iluminado, feliz
Com abraços apertados e beijos doces
Ora escuro, empoeirado, esburacado, triste
Com dores, lágrimas, medos e decepções
Sentimos saudades, por vezes queremos voltar
Mesmo passado, nem sempre bom, ele carrega em si a prerrogativa de ser conhecido
Mas o caminho à frente se impõe no grande para-brisa, o novo
Desconhecido, apenas imaginado, gera insegurança e expectativas
E nesse vai e vem de olhares, a visão precisa se manter à frente
As dimensões desproporcionais entre retrovisor e para-brisa
Significam que é bom olhar para trás, vez ou outra
Trazer grudado no coração e na alma o que o passado agregou
O amor recebido ou perdido, os afetos doados, os aprendizados
Os buracos em que caiu ou que “jogou” alguém
As vidas que salvou, ou as que não conseguiu
Mas sabe que a vida segue é para frente…
Pisa mais calmamente no acelerador e segue
Todo cuidado é pouco,
Luz forte cega tanto quanto escuridão
Não quer deixar quem queira seguir junto sozinho no caminho
Não há pressa…
O presente acontece para quem não fica parado
E o futuro, se chegar, já será presente …
Alda M S Santos
SEM PLANO DE VOO
Na escuridão da noite que chega lentamente
Ela se despede temporariamente do sol
Tenta encontrar novas luzes brilhantes
Reacender outras já meio apagadas
Um vagalume que aparece meio receoso, certo de seu caminho
Mesmo sem plano de voo
Vênus que se apresenta radiante ao longe no céu
A Lua, orgulhosa e bela, que inspira os amantes
Mas também, solidária, acolhe os solitários
Quase pode ouvir o som de cada estrela que brilha no firmamento
Concentra-se nos sons diferentes do anoitecer
Esfria, abraça a si mesma se aquecendo
Fecha os olhos e, como os cegos, vê com o olfato, com a audição
Enxerga as doces lembranças guardadas na escuridão dentro de si, revive
Como vagalume, está acostumada a acender-se e enxergar a vida no escuro
Inspira fundo, expira, respira, suspira
Tenta não pirar…
Segue…não há necessidade de plano de voo
O destino é um só, o caminho a gente cria
Sabe que a luz é mais valiosa onde antes foi escuridão…
Alda M S Santos
ESTRADAS
Avistar uma estrada é vislumbrar caminhos
Antecipar destinos, sonhar com o novo, o inesperado
É ser atraído para novas conquistas, desbravamentos
É ter a alma rasgada, exposta
É ter sonhos costurados com a linha verde da esperança
Pode ser uma estrada pavimentada, moderna, movimentada, esburacada
Uma estrada de terra, isolada, cercada de mata nativa e alguns cavaleiros
Uma estrada no ar, entre a magia, brancura e maciez das nuvens de algodão
Uma estrada nas águas, sobre ou sob elas, submersos em expectativas, nadando de braçadas rumo aos sonhos
Uma estrada de ferro, com a fumaça e o apito do trem a traduzir nossa trilha sonora
Pouco importa…
Estamos numa estrada todo o tempo
A estrada da vida…
Tendo ou não consciência dela,
Nós a transitamos dia após dia
Estamos em paralelas com a estrada de alguns, cruzamos a estrada de outros,
Ajudamos, às vezes atrapalhamos o trânsito de algumas
Mas seguimos, fazendo nosso caminho…
Não saber o que vem à frente, qual o destino
Ou quando pode ser bruscamente interrompida
São motivos bastantes para fazê-la valer a pena…
Alda M S Santos
MILHAGEM
Dúvida: Onde troco minhas milhas de vida?
Existe um programa de milhagem que posso resgatar?
É que já tenho algumas acumuladas e não sei quando expiram.
Posso escolher destino, data, companhias?
Se não for pedir demais, pode ser só de ida?
Alda M S Santos
ESTÁ PESADO?
Engraçado observar o quanto as pessoas pesam
Não é preciso balança alguma, apenas um olhar atento.
Um senhor que parece puxar um caminhão invisível amarrado aos pés,
Uma mulher que aparenta ter alguém sentado sobre seus ombros,
Rapazes que carregam tristeza e ansiedade no rosto,
Meninas que trazem no caminhar o peso da beleza, ou “ausência” dela.
Crianças irritadiças em meio a inúmeras “obrigações”…
Como estamos todos pesados!
Pesam o desejo de crescer, de ser sucesso, de ter muitas coisas,
No menor período de tempo possível.
Pesam em nós as malas de ontem, problemas do passado,
Arriam nossos ombros acontecimentos do porvir,
Carregamos em nós o peso de sentimentos diversos,
Trazemos na bagagem o desejo secreto de agradar aos outros,
Sem, contudo, desagradar a nós mesmos,
E isso pesa mais ainda…
Pesos, pesos e pesos…
Precisamos esvaziar as malas, levar apenas o que for leve.
Passado deve ficar lá atrás, futuro lá na frente,
Presente bem aqui, levinho como uma borboleta…
Se está pesando ou desagradando, é hora de esvaziar as malas.
Deixar apenas o que dá prazer e alegria, ultraleves!
Sentimentos e pessoas boas não pesam…
Tocam em nós como o doce beijo de um beija-flor,
Sentimos apenas a leve brisa, frescor e perfume,
E a paz que deixa em seu lugar quando se vai…
Alda M S Santos
NA ESTAÇÃO
O trem partiu…
Ela ficou ali, sentada sobre as malas carregadas, como num filme antigo.
Seu bilhete ia só até ali.
Olha o trem se afastando lentamente
Tem medo, não queria ficar, queria seguir
Domina o impulso de correr atrás.
Esse não volta.
Será o fim da viagem?
A linha continua, não para ela.
Tantos já desceram, não os vê…
Outros tantos, queridos, seguem naquele trem…
Ficar parada ali não é opção
Estação é passagem, não destino
Olha para as demais linhas,
Há bifurcações, outros destinos,
Encaminha-se lentamente para o guichê.
Escolhe um destino desconhecido e aguarda.
Novos passageiros, nova viagem
Recomeços…
Alda M S Santos
HÁ RECEITAS?
Para estar de bem com a vida
Não há receitas, não há tutoriais.
Cada pessoa exige ingredientes diferentes
O “ponto” de cada massa é diverso
O tempo que se leva para “assar” é variável
Mas há ingredientes que são unanimidade:
Boas companhias, um lugar agradável e Deus.
Alda M S Santos