A ALMA CHORA E AGRADECE
Fadigado o corpo luta para sobreviver à lama
Esgotada a alma chora
Chora por aqueles que se foram
Chora pelo descaso, pela insignificância da vida
Chora por si mesma…
Ao redor tudo é destruição
Quanto ouro vale uma vida?
Mais especificamente, quantas vidas são necessárias
Para pagar pela mineração?
Fundão, Feijão, decepção, repetição
Não foi aprendida a lição?
E a alma estremece, quase desiste, chora
E se entrega, agradecida, nos braços daquele que a acolhe
Uma alma que entende outra alma
Corações em sintonia, dor, alegria
E a alma chora, agradece…
Alda M S Santos
ARARAS URBANAS
Variadas peças, cores e tamanhos
Expostas numa grande arara urbana
Feita das grades sobre muros no centro da cidade
O cliente chega, pega, olha, até experimenta
Não há atendentes, não há provadores
Há alguns expectadores
Algumas peças seminovas
Outras um pouco surradas
Menos surradas que os clientes que por elas procuram
Não há marcas, sequer se preocupam com isso
O que precisam é que sirva
Não há sacolas, não embalam
Vestem umas sobre as outras
Não estocam nada, não guardam nada também
A marca que vejo ali é só uma: compaixão
Aliada à solidariedade e amor
Não há caixa, não há preços
Um cartaz diz apenas: DOAÇÃO
O cliente pega o que lhe serve
E vai embora…
Mas não vai para sua casa
Fica por ali mesmo, nesse espaço que tem sido seu lar…
Quando precisa de algo “novo”
Recorre novamente às araras urbanas
Você tem algo para doar
Para essas araras alimentar?
Alda M S Santos
SOS CORAÇÃO
O sol está alto no céu
E aquilo ali é uma cama
E está “feita” onde todos transitam
Cobertores embolados, papelões rasgados
Alguns ainda dormem
Sujos, barbados, vestidos da cor das ruas
Às vezes uma sacola com “tudo” o que têm na vida
Serve a eles de travesseiro
Guardam outras poucas peças de roupas
Talvez um pente ou uma escova de dentes
Um espelho quebrado, será?
Uma fotografia de outros tempos
Mas aquilo é uma cama!
Ali no meio do caminho
Exposta a todas as intempéries
Logo vai escurecer e esfriar, é inverno
Como pode um ser humano viver assim?
Dependentes da generosidade alheia
Será que levam ao pé da letra a passagem bíblica (Mt 6, 25-34)
Das aves do céu e dos lírios do campo
Que Deus alimenta, veste e cuida sempre?
Ou já em nada mais creem?
São muitas as histórias
São imigrantes que vieram e não encontraram emprego
Usuários de entorpecentes perdidos de si mesmos
Pessoas brigadas com familiares
Doentes da mente, do corpo, da alma…
Mas são pessoas!
E nós que temos também nossa cama
Nosso lar, nossas coisas, nossas conquistas
Até que ponto podemos ser considerados humanos
Se nada disso nos sensibilizar
Não nos fizer agir para isso tudo amenizar?
A humanidade pede socorro
SOS CORAÇÃO!
Alda M S Santos
CHORO POR NÓS
Eu choro por todos nós
Choro pela humanidade que se desumaniza
Que promove mais discórdia que concórdia
Que destrói o meio em que vive
Que transforma vida em morte
Eu choro por todos nós
Choro por pessoas que sofrem
Por pessoas que nada fazem para amenizar o sofrimento alheio
Que se acreditam superiores
Eu choro por todos nós
Choro pela humanidade que tanto tem
Que ignora o que falta ao semelhante
Mas que prefere reclamar
Opta por brigar pelo que não tem
Escolhe invejar o que é do outro
Eu choro por todos nós
Choro pela humanidade tão manipulada
Que, por opção, ignorância ou alheamento,
Escolhe o ódio pensando buscar o amor
Eu choro por todos nós
Choro por toda humanidade
Particularmente por quem tem o poder de fazer a diferença para o bem
E escolhe danificar a vida de tantos
Ou mesmo de um alguém
Eu choro…
Chorando, vou buscando um caminho diferente…
Alda M S Santos
#carinhologos
À BEIRA DE UM COLAPSO
A BEIRA dos rios
A BEIRA da devastação
A BEIRA da exclusão social
A BEIRA de um povo sempre tão sofrido
A BEIRA que agora sofre a revolta da natureza
A BEIRA negra, pobre, tantas vezes esquecida
A BEIRA da exploração, do tanto faz
A BEIRA africana, à beira-mar
BEIRA, Moçambique, à beira de um colapso
BEIRA, inundada, destruída, pede socorro!
Alda M S Santos
#somostodosmoçambique
fotos Google
E AS LÁGRIMAS SECARAM…
Sentada num canto ela dizia que já sofreu demais
Tanto chorou, e chorou, que hoje,
Por maior que fosse a dor, não tinha o alívio das lágrimas
Secaram todas, afirmava
Décadas e décadas vividas, evidenciadas em cada ruga
No corpo frágil que parecia muito leve
Para carregar tamanho peso…
Que será que carrega a pesar tanto?
Algo que fez, que deixou de fazer, ou permitiu que fizessem consigo?
Males que causou aos outros, a si mesma, arrependimentos,
Sonhos que não viveu, impediu que outros vivessem
Caminhos que não trilhou, portas que arrombou
Lições que não aprendeu ou não ensinou
Ou saudades, alegrias perdidas, não mais vividas?
Observo os mais velhos, e considero a sabedoria da natureza
Ao ir limitando a memória dos idosos
Um modo de poupar energia
E aliviar um pouco o sofrimento daquilo que não tem mais jeito,
Pois lágrimas e sorrisos, ambos podem fazer bem ou mal
Dependendo do modo que se olhe para eles,
E da expectativa que se tenha pela frente…
Alda M S Santos
TOQUE DE AMOR
Uma geme na cama, dormindo ou acordada
A outra, de frente para o corredor, sempre observa quem se aproxima
A primeira tem feridas nas pernas, artroses múltiplas
A outra, após AVC, não fala mais, não é alfabetizada
Comunica-se com gestos e com o olhar
Há ainda outra que canta e gosta de dançar, apesar das limitações
Todas moram num lar para idosos
São bem cuidadas, medicadas, alimentadas
Uma agradece baixinho, reduzindo os gemidos,
O abraço, o beijo, o carinho que recebe
A outra fala de amor com os olhos
Recebe e retribui os abraços
Devolve os carinhos no rosto delicadamente
Todos lá não só gostam do toque, do carinho, da atenção
Mas precisam dele para viver
Só notamos verdadeiramente a falta que o calor humano faz
Quando nos defrontamos com quem mais carece dele …
O toque carinhoso de outra pessoa
É o que nos faz sentir humanos, vivos…
Alda M S Santos
#carinhologos
PLANETA AZUL
Entre vegetais, minerais, animais
Astros e estrelas
Água, terra, ar, fogo, coração
Um gigante repleto de seres (des)animados solto no espaço
Nosso planeta azul não é mais tão azul assim
E somos a parte pensante por aqui
Somos a parte coração
Aquela capaz de amar, construir e destruir
A si mesmo e aos seus semelhantes
Só não sei afirmar ainda
Se essa é a notícia boa ou ruim
Para nós e para o planeta…
Alda M S Santos
ARTISTAS
Uma dupla de amigos “artistas”
Senhor Edilson, 75 anos, morador do Lar Frei Otto
Eu, uma professora “desenhista” e voluntária no lar
Eu desenho, ele colore…
A cada visita temos essa troca de carinho
Nós dois ficamos felizes…
Até a árvore que caiu lá fora e deixou o lar sem energia
Impedindo a distração com a TV não importou tanto
O tempo passa rápido quando fazemos o que gostamos
Aquilo que nos faz bem tem efeito cascata
O que fica de bom em cada um de nós
Transborda para todos a nossa volta…
Até a próxima, amigo Didi!
Alda M S Santos
VIRA-LATAS
Somos mestiços, oriundos de várias raças
Uma mistura que nos torna SRD
Sem raça definida, carregamos características de vários povos
Ora somos fortes, resistentes e adaptáveis
Pés-duros, confiáveis, amigos
Ora somos frágeis e de baixa autoestima
Acusados de tudo fazer, de virar latas por um pedaço de pão
De nos rebaixarmos para receber um carinho na cabeça
Dependentes da aprovação daqueles que consideramos mais, superiores
Mas carregamos conosco as misturas de uma raça não definida, híbrida
E o que de bom ou ruim isso possa acarretar
Com toda a força, fidelidade, inteligência, confiabilidade e resistência
De quem tudo já enfrentou
E de quem não se entrega assim tão facilmente
Um vira-latas morre lutando, acreditando na vida
Nunca deixando de amar…
Alda M S Santos
UM DIA DE CADA VEZ
Quando a felicidade estiver muito próxima da tristeza
Quando a força exigida para manter-se de pé
Estiver fragilizando ainda mais as pernas
Melhor deixar-se “cair”, reconhecer-se frágil
Talvez até impotente naquele momento
Sentar-se à beira da estrada, descansar de tantas dores e cobranças
Dos outros, de si mesmo, principalmente
Abastecer-se de fé e coragem, reconhecer-se humano
E quando a força for chegando aos poucos, se renovando
Levantar, voltar a seguir, um passo de cada vez, degrau por degrau
Lembrando do aprendizado que ficou para não cair ou derrubar novamente
Construindo pacientemente um novo caminho para si
Nem tão longo, nem tão difícil ou penoso
Abrindo os olhos para a luz que se apresenta à frente
Enxergando e vencendo apenas um dia de cada vez…
Alda M S Santos
O FOGO DE TODOS OS DIAS
“Tanta coisa nova aí sendo queimada e estão preocupados com velharias…”
Triste fala de um jovem sem educação ou “cultura”
Até que ponto podemos culpar quem pensa assim?
Estamos em chamas há tempos e ninguém se dá conta
Memórias são destruídas, histórias apagadas
Quem se importa?
Crianças são separadas das mães em nações de primeiro mundo
Políticos corruptos roubam a esperança dos cidadãos
Famílias inteiras viram cinzas destruídas, “queimadas” pelo tráfico
Quem se importa?
Religiosos de má índole queimam na chama da luxúria a fé dos fiéis
Intolerância, barbárie e preconceito de toda (des)ordem ceifam vidas
Saúde precária, educação idem, segurança zero
Pobreza, miséria, drogas e desesperança
Como culpar um jovem que não consegue valorizar um passado
Do qual não se sente parte
Se não vê preocupação ou investimento em seu presente
Aquele que ele queima nos baseados e no crack todos os dias
Aquele que ele sente queimar no estômago, na pele, nos medos?
Tudo para ele são chamas!
Quem se importa?
Nosso passado sendo lambido pelo fogo, destruído
Nosso presente sendo queimado, não construído
Nosso futuro, que será dele sem esperanças e estímulo?
Enquanto isso o que se apresenta como solução
É o olho por olho, dente por dente…
Estamos caminhando para um mundo cego e desdentado
A fala desse jovem mostra que nossa cultura está em luto há tempos
Mas quem se importa?
Para entender o passado, sentir-se parte dele, é preciso educação
Só assim é possível viver e lutar por um presente mais justo
E sonhar com um futuro mais humano e igualitário…
Alda M S Santos
AMAR AO PRÓXIMO
A preocupação excessiva em ganhar a grande guerra
Nos faz perder as pequenas batalhas do dia a dia
A preocupação com a conquista de uma felicidade eterna
Nos faz perder as pequenas alegrias diárias que irrigam nossa alma de amor
A preocupação em não fraquejar, em ser sempre forte
Nos faz sufocar com lágrimas presas que nos trariam grandes aprendizados, se liberadas
A preocupação em parecer sempre bem, sempre sorrisos
Nos impede de receber ou oferecer um carinho amigo, um abraço acolhedor
O cuidado excessivo em não contar com o ovo na barriga da galinha
Nos impede de comemorar pequenas vitórias
A preocupação em fazer um bem enorme e histórico
Não pode nos impedir de um bem pequeno todo dia
A preocupação em sempre agradar e satisfazer a todos
Não pode nos impedir de cuidar de nós mesmos
O amor que se doa, para ser verdadeiro começa em estar bem conosco mesmos…
Sinceridade e aceitação do que se é, independente dos outros
É fundamental nesse processo…
Amar é uma lição que se aprende de dentro para fora
Amar ao próximo começa conosco mesmos…
Alda M S Santos
#carinhologos
DANCA CIRCULAR
Dança Circular é um trabalho antigo e tradicional.
Através de movimentos em roda, em pé ou sentados, libera a energia, canta, interage e se diverte…
Com idosos é ainda mais produtivo, pois os faz resgatar a autoestima, a alegria e o prazer de viver, principalmente em grupo.
Independentemente de saudades ou problemas de saúde.
Foi o que fizemos no Abrigo Frei Otto Ssvp, com Luka Benjamim e #carinhologos
Alda M S Santos
💕❤️😍🙏
PEDRAS…PEDREIRAS…PEDREGULHOS
Pedras no meu caminho, que fazer?
Quando não me importam tanto, pequenas
Colocadas com intuito de me fazer perder tempo
Rotineiras, como um contratempo no trânsito
Não merecem muita atenção, desvio
Pedras no meu caminho, que fazer?
Quando atrapalham a caminhada, perturbam
Incomodam como alguém a fazer pouco de nós
Pego e jogo para longe de mim ou me afasto
Pedras no meu caminho, que fazer?
Quando impedem a passagem, grandes
Preocupantes, pesadas, difíceis de remover
Como um pesadelo reincidente e assustador
Com calma, tento escalar e transpor
Peço ajuda, uma mão amiga a me puxar
Pedras no meu caminho, que fazer?
Gigantescas, intransponíveis, como parte do ambiente
Com lascas cortantes como ingratidão ou abandono
Como uma doença incurável ou a perda de alguém
Sento na pedra, choro, reflito e oro…
Pedras no meu caminho, que fazer?
Penso em todas as vezes em que Ele nos salvou
Me salvou de outros abismos e me devolveu o chão
Agradeço, e a encaro com mais ânimo
Já não parece tão intransponível assim
Afinal, Ele sabe tudo de montanhas, escaladas
Ingratidão, abandono, amor e desamor
Pedras e “Pedros” de todos os tipos
Seres humanos…
Ele sabe de tudo e de todos!
Ele é maior que qualquer pedra, pedreira ou pedregulho!
Alda M S Santos
PEDRO NEGOU “SÓ” TRÊS VEZES
Diante de um medo profundo
Covardia, mau caráter, falha humana, fraqueza
Para cumprir o que diziam as escrituras
A razão em si não nos importamos tanto
O que ficou para todos nós foi que Pedro O negou três vezes
Diante do risco iminente de prisão e morte
Ele se acovardou, negou O amigo, O protetor
Que se encontrava em apuros
Aquele que o amou e o ensinou a amar acima de tudo
Somos tão bons para julgar!
E nós?
Quantas vezes o temos negado
Ao virar as costas a um necessitado
Ao dizer que uma criança carente é problema do governo
Ao abandonar nossos idosos ou não estender a mão, podendo fazê-lo
Ao priorizar nosso bem estar independente dos outros
Ao desistir de amigos e familiares
Ao abandonar quem em nós confiou
Quem muito de nós esperou?
Quantas vezes fugimos por medo ou covardia?
Quantas vezes seguidas mais destruímos que construímos
Nas nossas vidas e nas vidas dos outros?
Pedro negou Jesus três vezes somente
Quantas vezes O temos negligenciado em cada irmão que Ele habita?
Quantas vezes não nos misturamos na precariedade que Ele sempre encontra morada?
Afinal, somos “superiores”, já fizemos “nossa parte”
Nos salvamos. Será?
Seria menos vergonhoso se fôssemos Pedro!
Alda M S Santos
COISINHA BEIJOQUEIRA
-Já vem você né, coisinha?
Ela diz entre a braveza e a surpresa escondida num meio sorriso.
– Oi! Sou eu! Estava com saudades- digo, me aproximando devagar.
-Pode ficar aí. Não chega aqui, não!- diz ajeitando os cabelos.
– Quero ver você de perto. Só conversar. Sabe que te amo, amor da minha vida?
– É? Amor da minha vida?- um sorriso divertido abre as portas e eu chego.
– Como você está?- abraço a idosa e beijo suas bochechas.
Ela sorri, conta suas dores e fantasias, pergunta se fui de carro, pede para levá-la a minha casa.
Tento convencê-la a tomar um banho:
– Pra ficar mais linda, cheirosa!
– Você é a coisinha beijoqueira!
– Sim! Mas só beijo porque te amo! 💕
Ela sorri feliz em meio às suas lamúrias, mas nada de aceitar o banho…
Mas eu a amo assim mesmo!
Quanto sofrimento ela deve ter suportado nessa vida?
Não importa por quanto tempo dure o sorriso, o importante é despertá-lo!
Lá e cá!
Alda M S Santos
DIGAM O QUE QUISEREM, UM CARINHO SEMPRE FAZ BEM…
Digam o que quiserem, um carinho sempre faz bem
Na cadeira de rodas ela agora passa suas horas
Não fala, não anda, dependente dos outros para tudo
Cheguei, me abaixei, fiz “festa” por encontrá-la fora da cama
Beijei seu rosto de pele negra, enrugada, 92 anos, macia
Beijei também suas mãos, uma envolta em faixa para não arrancar as sondas
Falei que senti saudades, que a amava, que Jesus a protegia
Sorriu feliz, olhos úmidos, querendo falar comigo – “ela só quer, só pensa em namorar”,
Fiz muito carinho em seu rosto, relembrando canções que cantávamos
“Ela está feliz, sorrindo, gosta de você, não aceita carinho assim de todos”- diz uma cuidadora
Falei que éramos amigas e que ela já havia me contado do antigo namorado que ficava horas batendo papo com sua mãe
Dizia que ele era um homem branco como eu e muito bonito- sorria, sapeca, enquanto eu relatava os bons tempos dela
Pode parecer muito pouco, mas esse carinho e cuidado faz bem para quem recebe
Mas fico tão emocionada que acredito que faz melhor ainda mais para mim…
Esse alimento da alma é tão necessário quanto o pão do dia a dia que alimenta o corpo
Um carinho sempre faz bem e não tem contraindicações
Digam o que disserem…
Alda M S Santos
FAZEMOS O BEM, PROCLAMAMOS O BEM
“A mão direita não deve saber do que faz a esquerda”
“Não se deve fazer propaganda do bem que se faz”- ouvimos
A TV, jornais, outdoors, rádios, web, toda a mídia, em tudo se vê o mal propagado
Por que o bem deveria ficar calado, se esconder?
O mal tem vencido muitas vezes e adquirido adeptos, porque é amplamente divulgado
O bem precisa “aparecer” para poder contagiar…
Calado, inerte, compactua com aquilo que nada de bom produz
O Carinhólogos Solidários de BH divulga seu trabalho, sim!
E é assim que conseguimos doadores e ajudantes para nossos idosos
Atraímos novos membros, sensibilizamos corações…
Concordo, em parte, em manter sigilo, se a divulgação for apenas por vaidade pessoal
Mas se for para contagiar e propagar o bem
Nossa mão direita faz, alicia a esquerda, contamina de amor o corpo todo
Contagia a alma, grita aos quatro ventos
E agora convida você, suas duas mãos
Apela para o seu coração:
Vamos ajudar?
@carinhologossolidarios
@carinhologos
Alda M S Santos
APRENDIZADO
Observamos neles a gratidão nas mínimas coisas:
“Deus é muito bom, pois manda vocês para nos alegrar”
A fé inabalável em Cristo:
“Sinto dores, não enxergo mais, tenho 94 anos, e fico aqui enquanto Jesus quiser, ele sabe de tudo”
A capacidade de reflexão, resignação e até uma certa incompreensão dos males
“Não sei porque minhas vistas ficaram assim, nunca fiz mal a ninguém nessa vida”
O arrependimento perante certas atitudes que causaram infelicidade aos outros
“Nunca esperei passar por isso, causar mal a alguém no final da minha vida”
A certeza de que aqui se colhe o que se planta
“Nessa cadeira passo meus dias, mas não reclamo, se devo algo, pago”
E a cada visita aprendemos que ali estão seres humanos que acertaram, que erraram
Vindos de famílias destruídas, por si mesmos, pelos outros
E procuram viver com dignidade e esperança o que lhes resta de vida
Os sentimentos maiores notados ali são: resignação, arrependimento, fé, uma certa nostalgia
E amor, mesmo que em forma de saudade
A nós, não cabe julgar, mas levar todo amor e carinho que pudermos…
Alda M S Santos
#carinhologos
TERRENO ABANDONADO
Quem observa um jardim ou um terreno produtivo
Nem sempre imagina o trabalho que tudo aquilo dá
Saber arar a terra, o momento certo de plantar, irrigar, podar
Escolher as mudas certas para áreas de sol ou sombra
Ficar atento às plantas que ocupam todo o espaço e sufocam as demais
Controlar pragas e insetos invasores, nocivos
Irrigar adequadamente, cuidar para não invadir terreno alheio
Saber que as plantas mais danosas crescem com facilidade, se alastram
Flores raras são mais sensíveis e exigem atenção maior
Podemos admirar jardins e saborear frutas, mas não saber muito bem cultivá-los
Com a nossa vida pessoal se dá o mesmo processo
A diferença é que podemos contratar profissionais para hortas, pomares e jardins
Mas não podemos terceirizar o trabalho de escolhas das mudas, poda e cuidado de nossas vidas
Nosso “terreno” interno não se adapta com qualquer muda
Não reage bem à escuridão, luz excessiva ou falta de irrigação
Cada terreno tem características muito individuais que precisam ser respeitadas
Todo jardim florido, roça ou pomar produtivos
Têm sempre um jardineiro, um agricultor, um fazendeiro dedicado e atento…
Um terreno abandonado é igual a uma vida sem “dono”, sem cuidados
Conhecemos de longe, não têm brilho ou beleza
Nasce e cresce o que quer…
Alda M S Santos
PESSOAS E ABISMOS
Na vida há diversos tipos de pessoas
As que nos levam até à beira do abismo e nos abandonam lá
As que nos impedem de pular ou que são a rede a absorver nossa queda
E as que nos impedem de chegar à beira do penhasco…
Qual delas temos sido para os outros?
Pior que ser abandonado na beira do abismo, é abandonar alguém lá…
Alda M S Santos
E ELE ESPERAVA
Debaixo daquele dilúvio ele esperava
Olhos distantes, completamente encharcado por fora
Sozinho numa mesa de bar na calçada
Por dentro tudo parecia opaco, seco, sem vida
Um guarda-chuva ao lado esquecido
Que importava? Ele também estava esquecido por todos
Girava nas mãos o copo de pinga
Mexia-se apenas para pedir para enchê-lo novamente
Queria molhar-se tanto por dentro quanto por fora
E esperava…
Não se sabe pelo quê ou por quem
Se interpelado, sorria triste, com olhos vermelhos
“O mundo ainda acaba em água”…
Dias, semanas, meses e anos foram sedimentando a tristeza ali
Estava preso naquele calabouço “seguro”
Cuja fechadura só abria por dentro
Mas a chave tinha que vir de fora, da fé que não tinha mais em ninguém
Da fé em si mesmo afogada em mágoas
E mantinha sua vida parada no sinal vermelho daquela esquina…
E ele esperava…
Alda M S Santos
VOCÊ É ESTRANHO?
-“Você é estranho”? -uma menininha pergunta a um adulto que mexeu com ela.
Inocência pura! Certamente foi muito alertada a não dar atenção a desconhecidos.
Alerta de amor e cuidado nesse mundo recheado de maldades.
Para a infância seria suficiente?
E para os jovens e adultos?
Quem são verdadeiramente os estranhos?
Tantos conhecidos mostrando-se mais estranhos que alguém de quem não sabemos nada…
Um rosto sorridente, familiar, de convívio diário não garante proteção, segurança contra decepções ou crueldades.
Abusos físicos, sexuais, assédios morais, emocionais, atentados contra a vida de crianças e mulheres no próprio lar por rostos estranhos “conhecidos”, amados.
A verdade é que por mais que saibamos de alguém, sempre podemos ser surpreendidos,
Positiva ou negativamente!
A criancinha não está errada em perguntar: você é estranho?
Deveríamos fazer essa pergunta a nós mesmos diante de cada ser humano conhecido que convivemos.
O quanto há de estranho dentro de nós, dentro daqueles que “conhecemos”?
Você é estranho até que ponto?
Alda M S Santos
LINGUAGEM DO AMOR
O amor tem uma linguagem única, especial, original
Independente do tipo de amor…
Pode ser o vocabulário, o toque, uma canção, uma brincadeira, um olhar, um abraço diferente
E que será resgatado e reconhecido quando as palavras ou um dos outros faltarem
Sempre chamo as idosas do asilo de “amor da minha vida”
Faço carinho nos cabelos, beijo a testa, canto, “gasto”, como diz uma delas
Tenho, como os outros, um jeito só meu de demonstrar o amor
Uma das idosas de 92 anos que adorava cantar conosco
Alegre, brincalhona, receptiva aos carinhos
Sofreu AVC e perdeu a comunicação verbal, parecendo pouco interagir
Estava chorosa, mas sorriu com carinhos e canções conhecidos, respondeu com o corpo, reconheceu-nos
Percebemos cada dia mais que há muitas maneiras de expressar o amor
Eles sentem isso, nós sentimos isso!
Nós aprendemos e usamos a rica linguagem do amor!
Alda M S Santos
#carinhologos
#carinhologossolidarios
DE TUDO UM POUCO FAZEMOS NOSSO TUDO
Um pouco de tudo, de tudo um pouco
Recheamos de amor, sorrisos
Compreensão, abraços, beijos, solidariedade
Troca de calor, de empatia, de lágrimas, doação de amor
Prazer na presença, nas companhias
De pouco em pouco, de muitos poucos,
Amizade embebida de amor, carinho, saudade
Embrulhamos na embalagem do amor e nos fazemos felizes…
Um pouco de tudo, de tudo um pouco
Tornam, assim, parte de nosso tudo…
Alda M S Santos
#carinhologos
#carinhologossolidarios
DESUMANO, DEMASIADO DESUMANO
Uma vida jogada fora, desperdiçada de modo cruel
Desumano, demasiado desumano
Um ser humano, alcoólatra, cuidador de carros nas ruas
Calado, triste, educado, não incomodava ninguém
Onde dormia, bebia, comia, dependia da ajuda dos outros
Há poucos dias recusara ajuda do AA, acreditando não precisar
Uma briga, jogam álcool em seu corpo, ateiam fogo
Não resiste, parte cruelmente assassinado.
Grande ironia da vida, morrer pelo álcool
Curtido na maldade humana!
Uma raça onde a liberdade de um fere a do outro
Nesse mundo humano tão desumano
Ou seria, como diria Nietzche, “humano, demasiado humano”
Pois um animal não seria capaz de tal atrocidade!
Certamente ele está em paz agora!
Noutra dimensão…
RIP
Alda M S Santos
SEMPRE AMOR
Um grupo com um objetivo: levar alegria
A razão que trouxe cada um é variável
Todos parecem felizes, profissões variadas, vidas diferentes
Unidos no desejo de ajudar os outros, os idosos, particularmente
Olho para cada rosto desses palhacinhos, cada sorriso
Sei um pouco a história de alguns
Histórias de lutas secretas, sofrimentos, nem sempre vitoriosas
Muitos carregam angústias, frustrações e dores
Não doam o que lhes sobra, mas aquilo que mais precisam
Aquilo que valorizam, que sabem precioso
No prazer de levar amor, encontram uma razão a mais para lutar…
Para viver…
Alda M S Santos
#carinhologos
#carinhologossolidarios
HÁ ESPERANÇA NA HUMANIDADE
Um mendigo disfarçado de cuidador de veículos
Sujo, descalço, dormindo nos passeios a qualquer hora
Vive do que recebe da caridade dos que transitam por ali
Abandonado, largado, entregue ao mundo?
Mas é um ser humano!
Alcoolizado sempre, não sei se outros entorpecentes também
Sempre me compadeço de sua situação
Vejo-o todos os dias na rua da academia
Já perguntei uma vez se precisava de ajuda quando estava largado na calçada
Hoje vi uma mulher dando banho nele no meio da rua
Jogava água contida em algumas garrafas pet, ensaboava, esfregava
Ele aceitava a ajuda a contragosto, alcoolizado.
Um misto de sentimentos me invadiu
Feliz por alguém ter ajudado, uma mulher se arriscando
Triste por um ser humano precisar desse tipo de ajuda de desconhecidos
Envergonhada por eu mesma não ter tido essa coragem, essa iniciativa!
Orgulhosa dessa mulher que conheço e deu um exemplo de bondade…
O amor precisa ser convertido em ações!
Há esperança na humanidade!
Alda M S Santos
AMORES DA MINHA VIDA
“Que linda, amor da minha vida”!
Assim, arranquei um sorriso da idosa mais rabugentinha do lar dos idosos!
“Amor da minha vida!” – ela repetia e sorria…
Sempre mal- humorada e a espantar quem chegasse perto
Consegui, aos pouquinhos, me aproximar dela
Conversar, trocar umas palavras, fazer uns carinhos…
“Para de me alisar”!
“Não! Eu gosto de fazer carinhos em você”!- e a abraçava e beijava.
“Você fica me gastando”!
Está sempre dizendo que está morta, que foi para o outro lado…
Num lar desses percebemos os vários modos de lidar com a dor e solidão.
Uns são agressivos, outros muito doces e carinhosos
Há ainda aqueles que cobram presença, presentes,
Ou os revoltados com tudo e todos…
Não nos cabe julgar porque estão ali
Sempre conseguimos um modo de chegar até eles!
Nosso propósito é levar amor, carinho, atenção, roupas, alimentos, remédios
O que precisarem e conseguirmos
E um sorriso que recebemos é “pagamento” bastante!
Alda M S Santos
#carinhologos
MALDADE OU INFELICIDADE?
As décadas eram muitas, quase dez
E as mãos trabalhavam lentamente numa arte
“Não deu para arrumar isso aqui, mãe”
Um par de olhos úmidos o encarou, questionadora
“Está velho, esgarçado, puído, sabe o que é isso?”
Mais uma vez ela o observou, silenciosa,
Calmamente colando florzinhas na árvore de Natal.
“Está velho, coisa velha a gente joga fora, não compensa arrumar!”
Os olhos dela me encararam com muita tristeza e vergonha
Abaixou a cabeça, resignada e triste, continuando a colar…
Ele, me notando por perto, logo arrematou:
“Claro que é para coisas, não pessoas!”- e foi-se embora
“Depois a gente conversa!”
Mas o estrago já estava feito.
Frase maldosa ou infeliz?
Palavras não foram necessárias para traduzir
O que o olhar dela já havia dito: vergonha e decepção
Estava acostumada àquele tratamento.
O quanto vale nossas vidas?
Haverá mesmo alguém a cuidar de nossos idosos
De nós, quando chegarmos lá,
Com amor e bondade?
Alda M S Santos
COLO(RINDO) A ALMA
Nunca estamos cansados demais, tristes demais
Para alegrar um alguém, um coração carente
Uma alma já vivida e sofrida
Que, ainda assim, se alegra e agradece
E, ao preencher de cores os desenhos,
Enche de cores sua própria alma
Nos mostrando como lidar com a dor, as angústias, a saudade,
As decepções, a tristeza, o abandono, o desamor, o amor
A fé e a esperança com maestria e bondade
Com um sorriso terno no rosto, um abraço quente
E a alegria de uma boa conversa
Sem qualquer intenção de nos dar lições
Acaba dando mais que recebendo: muito amor
Alda M S Santos
#carinhologos
POR QUE O MUNDO NÃO PARA?
Porque o mundo insiste em girar
O Sol continua a nascer, a chuva a cair
O vento a balançar as folhas, os pássaros a cantar
Se eu estou aqui sem calor, sem voz, sem canto
Sequer sinto o vento ou a chuva a me molhar?
Parece uma afronta!
Porque o mundo insiste em girar
As pessoas a sair e a sorrir, a trabalhar
A se amarem, brigarem ou se odiarem
Guerrearem e se matarem…
Se eu estou aqui querendo que ele pare para eu descer
Ou que gire bem rápido e me lance para fora de órbita?
Por quê?
Será que está gritando algo para eu ouvir?
Terá que fazer um esforçozinho um pouco maior!
Alda M S Santos
TRAGÉDIA EM JANAÚBA
Além da dor daqueles que perderam um familiar,
Criancinhas inocentes num lugar que deveria ser seguro
Tendo vidas ceifadas ou machucadas por alguém que deveria protegê-las,
Que talvez também fosse um doente sem ajuda,
Como tantos por aí escondidos atrás de sorrisos,
Dói ainda saber que nos hospitais que deveriam socorrê-las
Faltam itens básicos como Dipirona, luvas, seringas, agulhas e afins…
Num país com uma das maiores cargas tributárias do mundo!
Não há palavras para expressar tamanha revolta!
Que Deus olhe por todos nós!
Alda M S Santos
BOMBA-RELÓGIO
Vida contada, morte anunciada
O que é viver sob uma espada
Na expectativa do fim, e nada temer?
Tantos vivem assim, esperando apenas
Que o relógio chegue a 00:00:00
Se dói, a dor irá embora.
Não temer o fim é sinal que a vida valeu
Ou que de nada vale?
Alívio total!
Alda M S Santos
ABANDONO
Qualquer abandono é compreensível
Até mesmo aceitável com o tempo,
Pais, filhos, amigos, familiares,
Aqueles nos quais mais confiou na vida.
Apenas um abandono não é aceitável nunca,
Sob pena de morte em vida:
O abandono de si mesmo!
Alda M S Santos
FAZER DE CONTA
A criança vive e experimenta o mundo
Num constante faz de conta
Faz de conta que é princesa,
Mamãe, professora, veterinária
Príncipe, super-herói, aviador,
Cientista ou astronauta…
Os idosos voltam ao faz de conta
Fazem de conta que toda dor e saudade não existem
Que decepções e abandono não doem
Que as boas lembranças bastam
E aproveitam qualquer forma de amor e carinho que se apresentam
A natureza é sábia ao apagar da mente deles muita coisa que fere
Será que fazer de conta que está tudo bem
Nesse “pequeno” intervalo entre infância e velhice
Apagar o que faz mal, desfocar o que dói
Não seria um modo sábio de viver?
Alda M S Santos
DIA DOS VOVÓS!
Nesse dia dedicado a homenagear os avós, planos de Saúde alertam: a saúde estará em xeque.
Em 2027 haverá um jovem até 18 anos para cada idoso acima de 59 anos na assistência à saúde.
Sem desconsiderar a economia pública ou privada de saúde, preocupo-me mais com a assistência psico/emocional desses idosos.
Nossos jovens estão preparados para lidar com um Brasil que envelhece?
Nossos idosos recebem a paciência, o carinho, a atenção, o amor, necessários a uma velhice saudável?
Mais que ser alimentados, medicados ou colocados para se aquecer ao sol, nossos vovós precisam do calor de nosso amor.
Políticas econômicas de saúde devem ser avaliadas.
Porém, a cultura de um país jovem deve também ser reavaliada!
Olhemos pelo lado positivo: se haverá um jovem para cada idoso, cada um de nossos velhinhos terá ao menos número suficiente para serem atendidos nessas necessidades.
Cuidemos para que a qualidade se equipare à qualidade!
Privilegiada, tenho vários vovós para amar.
Feliz Dia dos Avós!
Alda M S Santos
NOSSAS VERDADES
Vivo feliz só, sei me virar bem.
Não sou desse grupo, não faço parte, estou aqui por opção, não necessidade ou dependência.
Preciso estudar, sem estudo ninguém é nada.
Estou aqui aguardando só Ele me chamar.
Dizem idosas num asilo.
São mesmo verdades aquelas que acreditamos?
Ou apenas autodefesas?
Quantas delas criamos para nos proteger?
Quantas verdades não resistem ao primeiro aperto?
Quantas verdades nos “protegem” do amor?
Quantas “verdades” mostram-se frágeis num simples bate-papo ou momento de carinho?
Verdades não nos salvam, o amor nos salva!
Alda M S Santos
LIMITAÇÕES?
Mãos que sempre trabalharam
Que sempre amaram
Até há bem pouco tempo,
Hoje pouco conseguem.
Mas não é qualquer AVC que as imobiliza.
Orgulhosas apresentam o trabalho com um lindo sorriso:
“Consigo com a esquerda mesmo,
Com ajuda da moça bonita”!
Viva Dom Sebastian!
Alda M S Santos
#carinhologos
DORES
Uma sombra escura, uma luz que não clareia,
Um sorriso que não ilumina, uma palavra que nada diz,
Uma fome insaciável, uma sede não identificada,
Um silêncio inoportuno, uma distância forçada,
Uma mágoa contida, um olhar apagado,
Um amor não correspondido, um desejo represado,
Um sonho tão sonhado, não realizado,
Um tempo tão longo, tão improdutivo,
Uma realidade dura, crua, não digerível,
Uma esperança que morre, por fim.
Ausências, ausências, ausências…
Uma energia que se esvai e se esgota,
De onde tudo deveria brotar…
Alda M S Santos
ESCONDE-ESCONDE
Sabem aquela sensação de estar sempre só
Em meio a tantas pessoas?
Sentimento de não ser compreendido ou aceito,
De não encontrar seu reflexo em ninguém?
Tal culpa ou responsabilidade
Não pode ser imputada a ninguém.
Ninguém, exceto a nós mesmos.
Quando não nos encontramos em nós,
Não “permitiremos” que ninguém nos encontre.
Não chega a ser dolo, apenas culpa.
Não há intenção de nos esconder de nós mesmos,
Tampouco dos outros.
Apenas falta perícia para nos fazermos achar,
Habilidade de nos refletirmos em nós mesmos,
Para encontramos nosso reflexo no outro.
Brincadeira de esconde-esconde de adulto
Nem sempre é divertida!
Alda M S Santos
COMO SABER?
Vidas que caminharam juntas, em paralelas, se entrelaçaram.
Como saber significados que deixaram uma para a outra?
Como saber a importância que tiveram entre si?
Basta olhar o que ficou em cada uma delas, o que foi deixado no outro.
Vidas que se tocam, se amam, não se entrelaçam, e se vão, sem deixar sua marca.
Fica um jeito de ser do outro, um sorriso, um carinho, um conselho, uma palavra, uma lembrança…
Algo de pessoas que se amaram ficará sempre impregnado uma na outra, como um perfume suave…
Mas o melhor jeito de saber a importância que tiveram,
É a capacidade de se fazerem presentes, sempre, de alguma forma, principalmente nas adversidades,
Guardadinhas no coração…
Alda M S Santos
VALOR
Nossa vida passa a ter
Muito mais valor
Quando o sorriso dos outros
Depende dela.
Alda M S Santos
MEMÓRIAS
“Fomos Garotas de Copacabana. Viu como eu era bonita? Igual você!”
Ela ajeitava seus lençóis o tempo todo. O espaço que era só seu.
Foto acima da cama, com nome, data de nascimento: 20/09/1930.
Um pequeno armário com o crucifixo pendurado, poucos pertences e fotos, muitas fotos.
Todas espalhadas na cama. Mostrava e contava sua história.
“Minha irmã morreu no Rio. Não tenho mais pra onde ir.”
Toda uma vida, memórias registradas ali em preto e branco, em cores.
Uma Bíblia, um livro do Pe Marcelo, todos inchados de fotos, cartões de aniversário, cartas, envelopes…
“Para marcar onde li e pra Jesus proteger. Jesus protege, sabia? Está com minha irmã! ”
Sim, e conosco também!- respondi.
“O meu coração é só de Jesus. A minha alegria é a Santa Cruz.”
Cantava e me pedia para acompanhar. A companheira ranzinza do quarto reclamou.
“Vamos parar! Ela dá chinelada na gente”.
Fui lentamente até ela. Expulsou-me. Insisti. Devagar. Deixei, voltei.
No final, coloquei a faixa de Miss Guerreira, abracei a ranzinza, beijei suas bochechas, sorriu, ganhei um “obrigada, vai com Deus”!
Deixei-as com suas histórias em papel, poucos objetos e memórias, muitas se apagando.
E fui embora com as minhas.
Farão parte de minha história a partir de hoje.
Alda M S Santos