À FLOR DA PELE
Sensibilidade que fragiliza
Que arrepia a pele, aromatiza
Que desperta medos escondidos
Que faz brotar sonhos já banidos
Sensibilidade que pede mais amorosidade
Que luta pela vida com vontade
No silêncio pidão dos olhos a divagar
Na suavidade de um sorriso a encantar
Sensibilidade à flor da pele
Delicada feito rosa recém desabrochada
Forte pela tempestade já enfrentada
Sensibilidade à flor da pele
Basta um só olhar, um pingo de atenção
Para o mundo desaguar e aquecer o coração
Alda M S Santos
TUDO GERA LÁGRIMAS
Que há quando quase tudo
Nos toca, sensibiliza, emociona?
Se alguém querido diz algo que nos magoa
Nos debulhamos em lágrimas
Se a pessoa se toca, se justifica, se desculpa
As lágrimas rolam mais intensas ainda
Se alguém amado não nos valoriza, não se lembra de nós, choramos
Se tem carinho, cuidado, atenção, choramos também
Se os outros são desligados e indiferentes ao que fazemos, choramos
Se alguém demonstra gratidão, reconhecimento, as lágrimas brotam sem cessar…
O sol que arde, a chuva que cai
Alguém que sofre, outro que é feliz
O frio que martiriza, o calor que enerva
Uns que chegam, outros que se vão e deixam saudades
Uns que nos encantam, outros que nos decepcionam
A vida que segue indiferente a todos, implacável
Como ondas num mar gigante que vão e vêm
E as lágrimas sempre, sempre brotando…
Será que estão lavando o terreno das impurezas e parasitas
Para um novo broto renascer?
Alda M S Santos
PEDIDOS DE SOCORRO
O mundo pede socorro
Quem é capaz de ouvir?
Pedidos tão barulhentos quanto uma sirene
Ou tão silenciosos como uma lágrima que cai
Crianças precoces sempre de agenda lotada e irritadiças
Jovens perdidos em tantas “opções” de vida moderna
Trancados em seus quartos, “góticos”, marcas roxas debaixo de lenços
Idosos “protegidos” em suas fantasias e remédios
Sorrisos, lágrimas, saudades, abandono
Adultos espremidos entre a infância e a velhice
Solitários entre tantas obrigações e cobranças, entre tanta gente necessitada
Escondidos em suas tarefas, fugindo em seus smartphones
Atrás de amigos virtuais nas telas dos PCs na solidão da madrugada
Todos “gritando” por socorro
Quem é capaz de ouvir?
Cada qual gritando sua dor de um modo
No andar, no olhar, no se esconder, no se mostrar
Na solidão autoimposta, nas atividades excessivas
Nas rebeldias constantes, nas drogas lícitas ou ilícitas
Na irritação desmedida, nos vícios diversos
Quem é capaz de ouvir?
A dor atinge a todos, o grau é variável, de “normal” a patológico
No sentir e no demonstrar
Mas há sempre uma “droga” a nos salvar
Até que não haja mais salvação
Quem é capaz de ouvir?
“Ouvir” a dor do outro é um modo de nos enxergarmos também
E, talvez, conseguirmos nos salvar…
É preciso olhar devagar, demorar-se na dor do outro
Mergulhar fundo na própria dor
Até não mais temê-la, até conseguir diluí-la…
É preciso a pureza e confiança de uma criança para “herdar o reino do céu”
O mundo pede socorro
Quem é capaz de ouvir?
Alda M S Santos
BOSQUE PARTICULAR
Se nossa vida fosse resumida num bosque, numa mata
Como ela seria?
Quantas árvores frondosas, antigas
De copa acolhedora, troncos maciços, galhos grossos e retorcidos teríamos conservado?
Seria fechada, cheiro de terra úmida, cantos de pássaros
Insetos, vento soprando suavemente?
Teria nesgas de luz do sol a passar insistente entre os galhos e iluminando o chão repleto de folhas e frutos?
Haveria árvores novas crescendo felizes entre as matriarcas?
Seria uma mata convidativa ou amedrontadora?
Teríamos arrancado alguma árvore antiga ou impedido uma nova de crescer?
A majestade de uma mata está na diversidade, na segurança
Na capacidade de acolhimento que nos fornece gratuitamente
Conservar árvores antigas é manter a possibilidade de se recostar e descansar
Cultivar árvores novas é a capacidade de seguir em frente, de nos renovarmos sempre
Natureza que sempre ensina…
Alda M S Santos
ILHA DOS DESEJOS
Numa Ilha dos Desejos
Que buscamos?
Desejos que brotam, que crescem, sufocam, aumentam até o horizonte
Onde o mar encontra o céu
Numa linha azul que se funde, se confunde, degradè?
Ilha dos Desejos
Que buscamos?
Desejos que se suavizam, se arrefecem, se amortecem em ondas tranquilas
Até esmorecer e sumir na areia da praia?
Ilha dos Desejos…
Que encontramos?
Desejos despertados ou satisfeitos, realizados?
Olho para tanta beleza e impotência dessa ilha
Desse mar azul, céu anil, coqueiros ao sabor do vento
E constato, afinal, que a verdadeira Ilha dos Desejos
Capaz de fazer nascer e morrer todo e qualquer desejo
É aquela que só nós temos a chave
Mas que nem sempre controlamos a entrada:
Nossos corações!
Alda M S Santos
ESTAÇÃO DAS ÁGUAS
Não sei se é da época, das pessoas
Ou do que está mesmo dentro da gente
Uma palavra ríspida qualquer
Um mero descaso, pouco caso, mágoa
Até mesmo um gesto de carinho e cuidado
Sensibilizam, fragilizam, geram lágrimas…
Espírito de Natal, espírito próprio?
Sei lá!
Estação das águas….
Alda M S Santos
DIA INTERNACIONAL DO VOLUNTARIADO
Temos certeza que é algo trabalhoso de realizar
Que exigirá disponibilidade de tempo e dedicação
Sabemos que é algo bom e até fundamental para quem recebe
Muitas vezes, sendo o pouco com que podem contar
Imaginamos que seja prazeroso para quem realiza,
Mas que o trabalho voluntário é viciante
Só descobrimos quando começamos…
E queremos ajudar mais e mais e mais!
Chegamos a um ponto em que, se pararmos
Sofreremos de grave crise de abstinência
E percebemos que o tempo aparece, a dedicação aumenta
Ajudar, ser voluntário, fazer parte de algo assim
Levar carinho, atenção, distração
Em forma de doações materiais e emocionais
Nos faz valorizar muito o poder do carinho, de um abraço…
Nos faz valorizar ainda mais a vida
A nossa, a dos outros…
Alda M S Santos
#carinhologos
CONSTELAÇÃO
Tudo ainda parecia muito real dentro dela
Deitada na rede lá fora, encolhida, rosto banhado em lágrimas
Rezava, tomava um copo d’água e tentava afastar aquilo da mente
Pesadelos não são reais, repetia para si mesma sem parar
São apenas sua mente tentando trabalhar o que te faz mal, insistia ela
Na tentativa de neutralizar aquela imagem ruim.
Sabia que precisaria de tempo para voltar à realidade
Entender que pessoas que a amavam não seriam capazes daquilo.
Tentava identificar as constelações no céu
Eram tantas e tantas estrelas…
E como quando criança, queria acreditar que uma delas, apenas uma
Era alguém querido que lá de cima olhava por ela
E a protegia de todo mal.
Aos poucos ia se acalmando, despedia daquela estrela
Que de repente parecia brilhar mais que todas,
E voltava para dentro para dormir…
Alda M S Santos
METAMORFOSE
Fechados num casulo invisível, isolados do mundo de fora
Consumindo aos poucos as reservas acumuladas em si.
Assim são todos em processos de transformação.
Metamorfoseando-se!
Trancados em si mesmos, vão evoluindo para emergir um novo ser.
Muitos têm barreiras que impedem o acesso às boas reservas,
Acessam apenas o negativo, as culpas, angústias e medos,
Deixam de lado o amor recebido, doado, os sorrisos, as vitórias…
Aqueles momentos pelos quais vale uma vida inteira.
E, assim, as boas energias evaporam, não são aproveitadas Ficam frágeis, o casulo murcha.
Esse casulo doente precisa de interferência externa.
Precisa de um toque de amor,
De um sopro de vida…
Precisa de metamorfose!
Alda M S Santos
ANESTESIADOS
Estamos todos insensíveis,
Ou a sensibilidade mudou de cara?
Estamos todos inertes,
Ou nosso movimento é que é parado mesmo?
Estamos todos anestesiados por medo da dor,
Ou é pura covardia mesmo?
Estamos todos imunes à dor e sofrimento do outro,
Ou apenas estamos usando de autodefesa?
Seja como for, insensibilidade, inércia, imunização não são infalíveis!
Podem apenas mascarar um problema que cresce a despeito da analgesia.
Quando passar, chegará o momento da dor…
Quem estará preparado?
Alda M S Santos
SE EU NASCESSE DE NOVO
Se eu nascesse de novo, o que gostaria que fosse diferente?
Talvez não ter nascido no Brasil, terceiro mundo, corrupção…
Ter a beleza da Penélope Cruz, a fama da Júlia Roberts?
Ser a amada do Antônio Banderas ou casada com Denzel Washington?
Ser dona da fortuna do Bill Gates?
Loucuras à parte, conformo-me com meu tipo físico, minha “pobreza”,
Meu país, meu anonimato, minha profissão, minha família, minha vida…
Mas eu bem que poderia nascer com desejo menor de me envolver nas coisas alheias!
Se fosse difícil, que eu pudesse mesmo ter a capacidade de ajudá-las, não atrapalhar a elas ou a mim mesma.
Na impossibilidade, que eu ao menos não me importasse ou me frustrasse tanto.
Ou, ao contrário, que me importasse tanto, tanto para me tornar uma Madre Teresa de Calcutá!
Já que nada disso é possível, um pouquinho de (in)sanidade agora não me faria mal.
Alda M S Santos
SEDE DE QUÊ?
Sedentos estamos todos
A água disponível não é a ideal
Parada, corrente, concentrada, com ou sem sabor.
Inúmeras opções de cores e odores.
E precisamos apenas da velha e boa H2O:
Insípida, incolor e inodora.
Mas perfeita no que lhe cabe: saciar a sede!
Alda M S Santos
BEIJA-FLOR
Lindos, passam a vida a beijar
Nessa vida de carinhos
Alimentam-se por inteiro
A si mesmos e ao outro…
Tão perfeitos…
Tão lindos!
Cores e encanto.
Deixaram-me aproximar
Quis ser flor, fui flor
Senti a alegria da simplicidade e do amor.
Alda M S Santos
QUANDO TIVE SAUDADES
Quando tive saudades, teu canto ficou mais harmônico e doce…
Quando tive saudades, teu cheiro foi mais forte e inebriante…
Quando tive saudades, teu gosto foi mais saboroso e suave.
Quando tive saudades, teu toque foi mais aveludado e macio.
Quando tive saudades, a beleza que emanas foi mais encantadora…
Quando tive saudades, com sentidos potencializados,
Eu a matei!
Alda M S Santos
NOSSA LUZ
Nossos olhos captam tudo à nossa volta. Todos temos capacidade para enxergar de tudo.
Alguns de nós focam e percebem mais o lado escuro, triste, amargo de tudo que nos cerca.
Outros, mais seletivos, passam pela tristeza e nebulosidade para enxergar o brilho, as cores, a alegria.
Como não deveria deixar de ser, esses são mais felizes que aqueles, pois entram em sintonia com o que veem.
Já aqueles, atraem para si o nebuloso, o negativo e têm mais dificuldade para interagir com a luz.
Cuidemos de onde repousam nossos olhos. Eles são o canal que levam beleza e encantamento à nossa alma.
Alda M S Santos
O SOM DO SILÊNCIO
O som mais alto que existe é o do silêncio. Sim! A frequência de seus decibéis não é para qualquer audição! É preciso, além dos sentidos usuais, um sexto sentido para ouvi-lo!
Quando o silêncio fala, ele isola tudo dentro da gente. Forma-se um vácuo. Nosso interior parece oco. O eco é constante. Tudo é mais!
Nossa sensibilidade fica à flor da pele, da audição, da visão. Percepções fora de nós são potencializadas.
O som das folhas que pisamos arranha os tímpanos. O brilho do sol arde por dentro. A aspereza das palavras machuca. O olhar frio fere. Uma música fala.
E isso extravasa em nossos poros, em nosso olhar, em nosso silêncio.
Poucos percebem, pois o sentido mais apto a ler o silêncio é pouco usado, vem da alma. É ele que capta essa sensibilidade exacerbada, essa tristeza calada, essa angústia que aperta, esse grito que reflete no olhar num mudo pedido de socorro, no modo de andar, no sorriso sem brilho, nas palavras forçadas, nas lágrimas contidas.
Quase sempre esse silêncio é rompido quando encontra quem o lê, para além das palavras não ditas.
Quem lê o silêncio, sabe que não precisa falar. Palavras são desnecessárias. Os olhares se entendem. Um abraço sela o acordo: estou aqui!
Alda M S Santos