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poemas e reflexões da vida cotidiana

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Cicatrizes

Natural é querer viver…

NATURAL É QUERER VIVER…

O saudável é querer viver

O natural, até instintivo, é preservar a vida

A alegria em se renovar, em gerar brotos e buscar o sol

Em renascer em cores a cada decepção cinzenta

Em querer brilhar ainda que haja sombras

Em buscar oxigênio quando se sentir sufocar

Em estender raízes em busca de hidratação e nutrientes

Quando tudo parecer seco e sem esperanças

Perder umas folhas e galhos e manter raízes

É típico de tudo que vive, mesmo depois de parecer morrer …

O corpo se reabastece, fecha feridas, cicatriza, se fortalece

A mente se refaz em inúmeros circuitos, conecta-se com o bem

A alma resplandece de prazer, paz e luz

O coração clama por amor!

Uns momentos, horas, dias, temporadas de tristeza são normais

Talvez até necessários para tornar a vida mais valiosa

O que não é normal é desprezar o viver

Fazer dele um tanto faz como tanto fez

O que não é natural ou saudável é preferir o morrer

Isso é patológico, carece tratamento, não é fraqueza

É uma doença das mais cruéis: a da alma

Lutar pela vida é dever de todos nós

Pela nossa e pela dos outros que nos são caros

Ou simplesmente que estão por perto…

Somos todos responsáveis!

Alda M S Santos

#setembroamarelo

Feridas abertas

FERIDAS ABERTAS

Aquela ferida profunda no dedo

Machucou fundo, doeu, sangrou muito

Ora fratura, atinge nervos importantes

Limpamos, higienizamos, medicamos, repousamos

Isolamos como podemos do ambiente externo

Por vezes são necessárias suturas, enfaixamento para fechamento e cura

E ausência de limitação de movimentos e cicatrizes grandes posteriores

Mas tudo parece atingi-la em primeiro lugar

O dedo ferido “chama” para si todo atrito

Encosta em tudo que atiça novamente a ferida

E, frágil, sequelado, sangra novamente…

Algo em nós que foi machucado ou ferido

Sempre será frágil, sempre terá marcas profundas

Sempre necessitará de cuidados especiais e controle

Sempre será atingido por coisas aparentemente banais

Vale para feridas da carne, do coração, da mente ou da alma…

Alda M S Santos

Pingos nos “is”

PINGOS NOS “IS”

Racionalizar tudo que nos acontece, esclarecer

Colocar todos os pingos nos “is” da nossa história

Começo, meio e fim, se possível com “felizes para sempre”

A conta precisa bater, um mais um precisa ser dois, noves fora

Ler tudo, interpretar, fazer uma releitura dos fatos

Das faltas cometidas, das bolas fora, dos gols

Dos amores, desamores, mágoas causadas e sofridas

Histórias interrompidas antes do fim, pendentes

Mal explicadas, não compreendidas, não aceitas

Essa é nossa tendência: matematizar tudo

Mas nem tudo é débito ou crédito, ônus ou bônus

Podemos estar bem no vermelho, mal no azul

E há belas histórias sem nexo, sem fim, perdidas no tempo

Valorosas, sofridas ou tristes, alegres ou saudosas

Como aquelas em que o livro termina

E a história continua dentro da gente

Criando, inventando, mudando cenários, imaginando, sonhando…

Nem todo ponto final sinaliza um fim

Talvez seja apenas uma nova página, um novo recomeço…

Alda M S Santos

Má índole, oportunismo?

MÁ ÍNDOLE, OPORTUNISMO?

Chupim, Engana-tico-tico, Negrinho, os nomes são vários

A má índole é a mesma, se é que podemos atribuir essa “falha” a seres irracionais

O Chupim na época da reprodução, não constrói seu ninho

Aguarda o tico-tico fazer o seu com todo cuidado

E num momento em que ele se ausenta do ninho

Vai lá e bota seu ovo entre os ovos do tico-tico que estão sendo chocados

Tico-tico volta, não nota a diferença, alimenta e cria o Negrinho que nasce primeiro

Em detrimento de seus próprios filhotes que morrem de inanição

Pude ver isso no sítio! Até entre plantas e animais podemos encontrar aproveitadores e parasitas

A má índole e oportunismo, a falha de caráter atribuída aos humanos encontrada nos irracionais

Como muitos humanos, racionais, agem apenas querendo usufruir de um “ninho” pronto

Sem querer se dar ao trabalho de construir ou conquistar suas próprias coisas

Vivem de subtrair dos outros o que quer que seja

E quantos tico-ticos enganados por aí…

Qual deles tem menos “consciência” do que faz: humano ou pássaro?

Alda M S Santos

Na Chuva

NA CHUVA

Posso vê-la andando ali, devagar

Deixando a chuva cair, molhar tudo

Olha para cima, deixa a chuva molhar seu rosto, se entrega

Senta-se num banco na calçada

Tudo está fechado, é tarde

Coloca uma bolsa a seu lado, abraça a si mesma

Um ou outro transeunte em seu guarda-chuva passa e a olha displicente

Carros esporádicos espirram água para todos os lados

Um cachorro parece se compadecer e para a seu lado

Faz um carinho em sua cabeça, abraça-o

Ambos ficam ali por um bom tempo

Logo ele se vai atrás de uma cadelinha

Ela olha para cima, abre os braços

E se deixa lavar por inteiro.

Enfim, levanta e segue seu caminho lentamente

Ela faz parte daquela madrugada chuvosa, fria e triste

Olha para cima, me vê, percebe-se fora

E volta para dentro de mim

Juntas vamos para casa…

Alda M S Santos

Foto Google imagens

Cicatrizes reabertas

CICATRIZES REABERTAS

Cicatrizes aparentes costumam ser grosseiras, ásperas, rígidas

Cicatrizes escondidas são mais finas e delicadas

Ambas demonstram força e fragilidade

Fragilidade por ter se machucado,

Força por ter sobrevivido

Mas ambas deixam o indivíduo com medo do risco,

Sem coragem de andar “descalço”

Cicatriz reaberta demora mais a fechar,

Cicatriz reaberta é a dor de hoje potencializada,

Pela dor de ontem no hoje,

Pelo medo do hoje no amanhã!

Alda M S Santos

Madrugada

MADRUGADA

É madrugada!

A cidade inteira adormece! Silêncio!

Um cachorro late, outro responde,

Uma motocicleta ronca veloz, meu marido ressona levemente ao meu lado.

Sons do ventilador, do motor da geladeira sendo acionado e interrompido,

Sons do silêncio da madrugada.

E eu aqui, acordada!

Fui despertada por um sonho estranho.

Os barulhos em mim são mais altos que a geladeira, o ventilador, os cães ou motos.

Apreensão, medo, angústia, decepção, arrependimentos, uma tristeza lá no fundo.

Tento relaxar para pegar no sono novamente.

Meu marido parece sentir e me abraça ternamente.

Enumero o que pode ser real do sonho, o que é sinistro, surreal, armadilhas do meu subconsciente.

Revejo as pessoas no meu sonho. Elas são realmente assim? São capazes disso? 

Busco o que há de belo, de alegre, de amoroso e de pacífico em minha vida, tento contrapor.

Esse embate dura mais de uma hora. Mente agitada, alma comprimida.

Quando deixo as lágrimas rolarem, desaperto um pouco o coração, converso com Ele, tomo algumas decisões, consigo pegar finalmente no sono.

Acordo com o sol alto e parecendo ter levado uma surra.

À luz do dia nada é tão tenebroso quanto parece!
Felizmente! E a vida continua, feliz.

Alda M S Santos

Não há vacinas!

NÃO HÁ VACINAS!

Entre tantos os machucados e feridas

Das mais superficiais até as mais profundas

Daquelas que ficam secas até as que mais sangram

Das que causam dor aguda ou crônica

Que precisam suturas ou anestesias

Que causam pranto ou, num canto, solidão

Além do medo de se machucar novamente

Entre todos eles, o machucado mais doloroso

A ferida mais difícil de cicatrizar

Que demanda mais tempo e coragem

É aquela causada pelo (des) amor

Simplesmente, porque é de onde a gente menos espera o golpe

Pega-nos desprevenidos, distraídos, confiantes.

Aí atinge fundo, rasga, mutila, deixa marcas, cicatrizes.

Mas quando se convalesce, se recupera, fica mais forte

E recomeça tudo… Novos riscos!

Contra o (des)amor não há vacinas!

Alda M S Santos

Entre pingas e respingos

ENTRE PINGAS E RESPINGOS

São oito horas da manhã, terça-feira

Descalço, sem camisa, bermuda suja, larga e caindo

Pernas abertas, cambaleia de um lado a outro pela padaria

Fala alto, ri, ininteligível, fala para si mesmo. 

Tenta alcançar uma água tônica na prateleira

Trabalho difícil, exige muita concentração e equilíbrio

Itens em falta!

Quase cai sobre mim

Alcanço a água tônica e a entrego a ele

Sorri, sorriso vazio, de dentes e de alegria.

Um senhor o interpela

“Bêbado a essa hora, José?”

Ao que ele retruca alto e sorridente:

“Bê-ba-do, não! Tô fe-liz”! 

E sai porta afora medindo os cantos da rua.

Entre pingas e respingos vai vivendo 

Não tem sexo, idade, trabalho ou identidade, é um bêbado.

Tudo perdeu…

Mas, “tô feliz”!

Que tipo de vida ruim tem uma pessoa para se considerar melhor assim? 

Tô triste! Respinga em mim! 

Alda M S Santos

Autópsia

AUTÓPSIA

Se pudéssemos acompanhar uma autópsia dos nossos corações, o que veríamos? 

Tudo bem, sei que autópsia se realiza em seres que já morreram.

Mas, e se fizéssemos, se fosse possível? 

Será que haveria diferenças de um coração para o outro? 

Talvez alguns fossem mais moles, maleáveis, daqueles que levaram a vida mais tranquilamente, sem grandes sobressaltos ou estresses, amores leves, pacíficos.

Outros poderiam estar mais firmes, endurecidos, rígidos, de difícil manuseio. Foram se enrijecendo como autodefesa, meio usado para suportar o sofrimento, o desamor, as mágoas e solavancos da vida. 

 A maior parte acredito que se assemelharia a uma colcha de retalhos, pedaços grandes, pequenos, coloridos e disformes, ou a um terreno muitas vezes remexido, um asfalto muitas vezes reparado, uma árvore muitas vezes podada. 

Apresentaria áreas quase intocadas, por receio, finas, frágeis, delicadas, imaturas, sem alegria.

Outras partes estariam endurecidas por cima, capa de proteção, e amolecidas por dentro, cicatrização à força. 

Haveria ainda aquelas áreas estriadas, fortes, porém, flexíveis, que começaram a endurecer, mas seu “dono”, sempre corajoso, insistia no uso, não permitindo a rigidez ou a moleza excessiva. 

Quantas dessas partes tem nossos corações? Façamos essa autópsia em vida! 

Não queremos um coração imaturo, tampouco rígido. Um coração mole parece não ser opcional, ou vem de fábrica ou nada feito. 

Resta-nos o coração colcha de retalhos. Parece bonito, não? Colorido, enfeitado. Cada pedacinho um amor vivido, outro perdido, uma amizade autêntica, outra que se foi, pais, filhos, irmãos, cônjuges, uma vida que passou por nós, que ficou em nós. E que passa mais ligeira que um passo de dança, tão rápida quanto um sorriso.  

Quero que quando minha “autópsia” for realizada de verdade, seja onde for, espero que demore, meu coração tenha muitas lindas histórias para contar.

Alda M S Santos 

Cicatrizes

CICATRIZES

Sempre tidas como feias, indesejadas, até mesmo repulsivas, as cicatrizes podem despertar vários sentimentos. Tudo vai depender do nosso olhar. 

As cicatrizes são o que sobra após a cura de uma ferida que outrora esteve aberta, machucou, sangrou, doeu. 

Receptivos, aceitamos os cuidados, carinhos, lavamos, colocamos antissépticos, curativos, pomadas. Aguardamos a cura. 

Ela vem lentamente, até sobrar aquela marca mais forte ou uma simples linha tênue. 

Posteriormente, olharemos para ela e lembraremos de algo superado. 

Por que agimos diferente quando a ferida é no coração, na alma? 

Ela machuca, dói, sangra, gera lágrimas, tristeza, decepção, isolamento, até mesmo revolta. 

Por que nesses casos, diferentemente da ferida no corpo, nem sempre aceitamos ajuda, queremos resolver sozinhos, forçar e apressar a cura, ou ficamos cutucando a ferida, remoendo, dificultando a cicatrização? 

Quando a ferida for na alma, como no corpo, precisamos aguardar a cura vir aos poucos, de dentro para fora. Forçar a cicatrização de fora para dentro a tornará frágil e com risco de reabrir. Ferida reaberta é mais difícil de curar. E deixará uma cicatriz bem maior. 

Além disso, é fundamental que aceitemos as “pomadas”, os “curativos”, os “antissépticos” dos amigos. Claro que respeitando nossos limites e necessidade de tempo conosco mesmos.

Sempre é valioso lembrar que feridas e cicatrizes formam-se apenas em quem correu, subiu, caiu, amou, se arriscou, se decepcionou. 

Cicatrizes na pele são pequenas marcas…

Cicatrizes da alma são as saudades…

Ambas devem ser vistas como marcas de quem viveu e venceu…

Alda M S Santos 

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